Mário Moreno/ junho 21, 2019/ Artigos

A concepção de D-us do faraó

Depois disse o IHVH a Moshe: Entra a Faraó, e dize-lhe: Assim diz o IHVH: Deixa ir o meu povo, para que me sirva” Ex 8.1

Moshe apresenta-se perante o faraó e diz-lhe que Hashem, Eloke Israel o enviou, porque sabe que o faraó não iria perceber se ele dissesse somente Hashem.

O faraó entende que força (Elokim) é que os judeus chamam Hashem.

O faraó disse: “Quem é o Eterno para que eu o escute e envie Israel? Não conheço o Eterno, nem deixarei sair Israel”. Quer dizer, ele recusa três coisas: 1) Que D-us existe 2) Que D-us fala e 3) Que temos que servir a D-us.

Estes três pontos destacam-se da seguinte forma:

  1. O Eterno existe e Ele Reina sobre o universo espiritual e físico e isso fica patente aos olhos de todos;
  2. O Eterno fala com seu povo, apesar de não ter um corpo físico Ele se comunica com os seus;
  3. As orientações do Eterno nos foram dadas com uma finalidade: obedecermos aos seus mandamentos.

Moshe diz-lhe que é obrigatório servir Hashem nosso D-us, e diz-lhe também que se não o servirem, D-us pode zangar-se com eles.

No entanto, o faraó continua sem perceber e diz “Nirpim” — Sois preguiçosos e mandriões. Ele não utiliza o Shem Hashem, mas sim Elokim. A fala de Faraó denuncia sua ignorância plena do mundo espiritual e muito mais do Eterno!

O faraó não percebe que Hashem e Elokim são dois termos diferentes que se referem a dois conceitos diferentes acerca de D-us; o faraó pensa que é um só conceito: os judeus chamam a Elokim “Hashem”, como poderiam tê-lo chamado “mesa” ou “cadeira”. E assim como há um D-us do mar, outro das montanhas, etc, também existe o deus dos hebreus, que eles chamam Hashem.

Este “desconhecimento” de faraó faz com que ele trate as ordens do Eterno com desdém! Ele ignora a bondade e a severidade do Eterno; não discerne que existem momentos em que o Eterno fala com amor e muito menos com um pulso forte e de forma severa.

Quando as pragas começam (capítulo 8), só aí é que o faraó menciona o Shem Hashem; não por ter entendido o conceito, mas porque agora acredita que esse D-us existe e por isso pede que lhe peçam para parar com as pragas. Outro ponto que se deduz é que o faraó está a reconhecer que se ora a D-us e que esse D-us tem poder. Parece que neste momento o Faraó passa a entender a diferença entre a “bondade” do Eterno que se manifestou a ele através dos pedidos de Moshe e a severidade que se manifestou através das punições que tinham a função de gerar arrependimento para que as ordens do Eterno fossem cumpridas.

Moshe respondeu-lhe: “Para que saibas que não há outro como Hashem Elokenu”. Quer dizer, não é como tu pensas, que existem muitas forças e que Hashem é apenas mais uma, tal como os outros deuses. Não, não há outro como Ele.

Depois (8:21), o faraó diz-lhes que vão e sirvam Hashem no Egito; quer dizer, agora permite-lhes que mesmo no Egito sirvam a Hashem. Mais adiante o faraó pede-lhes que saiam e também que orem por ele. Vê-se a si mesmo sob a influência de Hashem, apesar de ver o serviço a Hashem como algo para benefício próprio (como um amuleto). É notável perceber que há uma mudança de postura em Faraó, mas isso acontece a nível emocional e não espiritual. Ele sente-se “ameaçado” pelos sinais produzidos por Moshe e tenta “entender” que os juízos vindos sobre o Egito podem ser algo produzido por outras forças “naturais”, mas também entende que os céus estão agindo de forma a puní-lo e a todo o Egito conjuntamente.

Seguidamente o faraó diz “Hashem Hu haTzadik” —D-us é o justo. Isto é um grande avanço: já não se refere a Hashem apenas como uma força, mas sim como Tzadik — justo.

Se perguntarmos que termo é melhor para definir D-us: Juiz, Misericordioso, Todo-poderoso, o Criador, a maioria das pessoas pensam que o conceito de D-us como Todo-poderoso é o mais elevado. Na verdade, Tzadik é mais elevado que os anteriores, porque o Todo-poderoso é apenas força e não contém nada de ético.

Depois o faraó diz: “Kolot Elokim”. Não diz Elokeichem, mas sim Elokim; quer dizer, já não é só o deus dos hebreus, mas sim “O D-us”. O faraó entende que há um D-us e que Ele controla, mas ainda não entende que é Hashem. Para ele, Hashem continua a ser um nome próprio, não um conceito.

Moshe respondeu-lhe: “Porque de Hashem é a terra” (não diz Elokim). Quer dizer, não é como o faraó pensa, que Elokim é todo o conceito e que Hashem é o nome próprio. Moshe diz-lhe que Hashem é a definição mais elevada de D-us e Elokim é um conceito que abrange apenas um pouco do que Hashem é. No entanto, o faraó ainda não compreende, fá-lo apenas para seu próprio interesse e benefício. Não o faz por ter compreendido que Hashem é digno de louvor.

O faraó ainda não está disposto a que todos sirvam a D-us. Está de acordo com que alguns vão servir a D-us, mas o resto deve continuar a servi-lo a ele.

Na praga dos gafanhotos, o faraó dá mais um passo à frente e diz “Pequei contra Hashem”; mas sua confissão ainda é superficial. Quer dizer, agora vê-se em dívida com Hashem, ou seja, ele também deve a Hashem. Mas a sua intenção continua a ser apenas o seu próprio bem-estar.

Depois da escuridão diz-lhes para irem, mas para deixarem o gado. Quer dizer: sirvam, mas de forma limitada. Por isso é que não quer que levem tudo. Moshe diz-lhe que serviremos a Hashem com tudo. Se Hashem no-lo pede, damos-Lhe tudo. (Mais à frente veremos que D-us pede somente um cordeiro). No entanto, devemos estar dispostos a servi-Lo com tudo o que temos. A resistência de Faraó leva-o a achar que ele pode ceder um pouco e tudo se resolverá; não entendeu que com o Eterno não se barganha!

Depois da última praga, vemos que o faraó finalmente cede, e parece ter entendido. Aceita que sirvam a D-us com tudo, mas acrescenta algo que deita tudo por terra: “E abençoa-me também a mim”. Quer dizer, continua a ver-se como importante e não está disposto a que tudo seja somente para D-us.

No fim o faraó está muito mudado. Se o compararmos com o faraó do princípio vemos várias mudanças. Já reconhece Hashem, reconhece que temos que o servir e que o seu bem-estar depende dEle (“Uberachtem gam oti”).

Mas ainda não entendeu que somente Hashem é digno de louvor. Também não percebeu que Hashem hu haElokim — Hashem é o mais importante. Também não reconhece D-us, agindo apenas para não continuar a ser castigado. Mas continua a ser o mesmo ditador malvado que era antes, cheio de egoísmo, que não lhe deixa espaço para conceber D-us.

Esta concepção fica clara quando após a última praga Faraó é informado que o povo está “perdido” no deserto; ali ele vê uma oportunidade de reaver o povo que fora recentemente liberto. Novamente esquece-se de que este povo foi liberto não pelas forças do ocaso, mas sim pela mão poderosa do Eterno.

Isso ficaria claro quando os egípcios finalmente foram derrotados no Iam Suf – Mar dos Juncos – e a derrota do Faraó é definitiva!

Hoje precisamos aprender a olharmos para o Eterno e sua Palavra da forma correta, pois caso contrário poderemos incorrer no erro de achar que o Eterno é nosso Serviçal e que podemos manipulá-lo da forma como desejamos, inclusive não obedecendo às suas ordens e decretos!

A concepção de Faraó de quem é o Eterno estava baseada em seus conceitos e também em sua visão da Divindade. Seu “mundo” era muito pequeno em relação ao Eterno e sua ignorância em relação ao Eterno o colocava numa posição de grande desvantagem.

Nossa necessidade é termos um relacionamento com o Eterno e consequentemente com Ieshua para que possamos entender que a obediência nos levará a uma aprofundamento cada vez maior no reino espiritual e colheremos não punições mas sim milagres que nos darão a certeza de que o caminho para a eternidade já foi pavimentado e temos tudo para alcançar a vitória em nome de Ieshua!

Adaptação: Mário Moreno.