Mário Moreno/ agosto 28, 2019/ Artigos

Contexto escriturístico de Tito e a Torah

Data em que os fatos se passam

Esta Escritura – seu relato – provavelmente ocorreu em meados de 66 EC. Nesse período alguns judeus em Israel já começaram uma guerra contra o Império Romano que resultará na invasão de Jerusalém e a destruição do Templo em 70 EC.

Dada esta questão de pequenas rebeliões por parte de alguns judeus, qualquer judeu já era mau visto por Roma, e portanto havia uma necessidade de demonstrar uma diferença circunstancial dos demais judeus.

Como sabemos os judeus Messiânicos não se envolveram nessa Guerra contra Roma, e assim posteriormente (depois de 135 EC, época da segunda revolta), ficaram conhecidos como “traidores”.

Talvez isso nos ajude a compreender o motivo de Sha’ul instruir no Capítulo 3 sobre a prontidão de cooperar com o governo de uma forma honrosa, com obediência, sem serem insubordinados. Longe da forma tradicionalmente compreendida, de que devemos honra ao Governo. O que Sha’ul estava falando era que não deviam se envolver em brigas.

Motivo da Carta

Sha’ul havia recebido alguma notícia de que Titus estava com problemas na Congregação. Titus havia sido enviado a Creta, a fim de ajudar Sha’ul num empreendimento que estava deixando todos os discípulos apreensivos.

Após a morte de Ia´aqov HaTzadik em 63 EC, houve uma debandagem muito grande de discípulos, que se desviaram dos ensinamentos, corrompidos pela ganância de serem líderes. Segundo Sha’ul: “A razão de tê-lo deixado em Creta foi para que você pudesse se dedicar aos assuntos ainda não resolvidos e indicar líderes congregacionais em cada cidade…” (1:5).

O problema com lideranças gananciosas e dominadoras por meio de força e pressões psicológicas já estavam em alta nessa época (1:7ss). A preocupação de Sha’ul era que o Ensinamento fosse passado de forma metodologicamente correta:

“Você deve sustentar com firmeza a Mensagem Verdadeira de acordo com o Ensinamento; para que mediante o Ensino Correto, seja capaz de exortar, encorajar e também refutar quem se opõe a ela” (1:9).

Nessa época já existiam pelo menos 3 facções, ou divisões que haviam partido do desvirtuamento dos judeus Messiânicos. Todas elas estão bem encubadas, mas em breve vão buscar o título para si de “Verdadeiras” de forma separada. A primeira era a dos Ebionitas, que é chamada nessa carta de “os da circuncisão”.

Segundo Sha’ul eles não eram judeus de nascimento (Gl 2:15; ver o contexto inteiro), haviam sido forçados à circuncisão, e forçavam a circuncisão como meio de salvação (ver At 15:1ss). Eles se opunham a Sha’ul, chamando-o de “apóstata”, e por não compreenderem os seus escritos os distorciam (II Pe 3:15,16).

A segunda eram os cristãos, que surgiram através de desvios teológicos que os levaram a abandonar o judaísmo com Ieshua. Esses abandonaram alguns princípios da Torah e ostentavam para si serem o “Verdadeiro Israel”. E segundo Jerônimo no IV séc. EC:

“Os judeus insistem em uma interpretação literal das Escrituras… mas nós sabemos que a interpretação espiritual é muito superior”.

E a terceira era o Gnosticismo Cristão que surgiu em Alexandria.

Mas o foco de Sha’ul é tratar diretamente dos “da circuncisão”, os ebionitas, pois eles eram os seus mais ferrenhos opositores. E o conselho de Sha’ul a Titus é o seguinte: “Por esse motivo, você deve ser SEVERO ao repreender quem seguiu o falso ensinamento deles, para que voltem a ter confiança no que é sadio e não deem mais atenção aos mitos judaicos ou aos mandamentos de homens que rejeitam a VERDADE”.

Entender que Sha’ul está aqui dizendo que ao seguirem preceitos humanos e mitos, coisas inventadas, na realidade estão recusando ou rejeitando a própria Verdade; então Sha’ul lança mão da Torah, que é identificada com a Verdade – que é Ieshua – (Sl 119:142 e Jo 17:17).

Instruindo o discípulo

Sha’ul dá a Titus a instrução correta de como a liderança deveria ser selecionada. Como deveria ser a conduta de cada pessoa em referência à congregação (Ver capítulos 1 e 2). Instrui também a se impor como convém, não deixando que ninguém o desprezasse só por qualquer coisa que pudesse ser usada como pretexto para não ouvirem suas palavras (2:15).

O ponto Máximo da Mensagem

Sem palavras eu quero citar o próprio texto da Carta:

“… A Graça de Elohim, que traz liberdade, apareceu a todo ser humano. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e aos prazeres mundanos e a viver de maneira controlada, justa e piedosa nesta era, enquanto aguardamos o cumprimento da nossa esperança infalível: o aparecimento da glória do nosso Grande Elohim e Libertador Ieshua, o Messias. Ele se entregou por nós afim de nos libertar de toda a iniquidade e purificar para si mesmo um povo particularmente seu, desejoso de praticar o que é bom. É isso que você deve ensinar…” (2:11-15). É necessário explicar que a “iniquidade” está ligada aos pecados que são cometidos de forma linear, ou seja, não são ocasiões “acidentais” em que simplesmente há um deslize e transgredimos a Torah. O que acontece aqui é algo sistemático e que sempre se repete, o que leva esta prática a trazer sobre a pessoa outros pecados que se intensificam na medida em que são cometidos. Ieshua veio libertar o homem desta “escravidão” ao pecado que é cometido de forma repetitiva e que traz consigo outras práticas que levam a uma piora na vida espiritual da pessoa dia a dia.

Confiram que Sha’ul lança mão desta forma de interpretação para dizer que o Eterno quer um povo separado, “uma propriedade exclusiva”, como a Torah especifica que deve ser o povo de IHVH, e depois cita por meio de interpretação também buscando a semelhança das palavras. O que é Bom segundo a citação??? Confira (Pv 4:2)! Onde é feito uma interpretação com a palavra “Tov”, (Bom). No Talmud Babilônico é feita a mesma analogia (Berachot 5A).

Conselhos finais

Os conselhos finais são os mais importantes! Sha’ul dá instrução a não ficar debatendo questões referentes as Halachot, ou seja, discussões inúteis referentes a como viver a Torah segundo a tradição judaica. Sabemos que os judeus messiânicos tinham uma forma diferente de ver a Halachá. Sha’ul deixa claro também que discutir méritos, ou superioridade por causa de genealogias não levariam a lugar algum (3:9). As genealogias tem sua importância na medida em que conectam as famílias com sua herança judaica, mas isso não pode servir de parâmetro para medir a importância espiritual de alguém.

Por fim ele conclui que uma pessoa que seja advertida por duas vezes que permanece no erro de interpretar incorretamente as Escrituras, deve ser largada de mão, testificando em si mesma que está pervertida (3:10-11).

Sha’ul conclui a carta dizendo que estava para enviar para Creta Ártemas ou Tíquico, para substituí-lo por um tempo até que o próprio Titus conversa com ele (Sha’ul) pessoalmente (3:12). E que Titus não só ajudasse, mas recebesse bem dois reforços para a Comunidade, Zenas e Apolo, descritos como especialistas na Torah (3:13).

E por fim Sha’ul diz:

“Que o nosso povo aprenda a se dedicar à prática de Boas Obras, que verdadeiramente suprem necessidades, e assim não fiquem improdutivos” (3:14).

Estas palavras nos servem de alento e também soam como um alerta pois apontam para erros cometidos ainda hoje que geram os mesmos problemas descritos na carta enviada por Sha´ul a Titus.

O que fazer então? Certamente precisamos, como líderes, estar atentos a tudo o que ocorre em nossas congregações a fim de que possamos extirpar do meio delas todos ensino que não está de acordo com as Escrituras e também buscar dar instrução e formação para que tenhamos líderes fortes e confiáveis!

Seguindo o exemplo de Sha´ul tenhamos discípulos que possam tornar-se grandes líderes e que eles gerem muitos outros líderes confiáveis e capazes para conduzirmos nossa geração ao momento final da redenção em Ieshua!

Baruch ha Shem!

Adaptação: Mário Moreno.