Mário Moreno/ junho 19, 2020/ Artigos

E o IHVH olhou…

Neste artigo vamos tratar de uma passagem que está em I Crônicas 21 e que nos fará pensar muito naquilo que o Eterno viu e o que fez a seguir…

Dentro deste contexto, temos a praga no livro de Números —e como essa praga foi interrompida. Então desta vez, falaremos sobre a praga que foi interrompida em 1 Crônicas e como isso aconteceu. Espero e oro para que, de alguma forma, as palavras deste artigo possam trazer esperança e encorajamento (e talvez até revelação) a vocês nesses dias difíceis.

Em I Crônicas 21 ficamos sabendo sobre uma praga que foi enviada a Israel:

«Então enviou o IHVH a peste a Israel; e caíram de Israel setenta mil homens. Enviou Elohim um anjo a Jerusalém, para a destruir».

– e então lemos uma linha muito enigmática:

«Ao destruí-la, olhou o IHVH, e se arrependeu do mal».

que o IHVH olhou? As traduções geralmente inserem «la» aqui, e mesmo que não esteja claro o que isso significa, um leitor ainda pode supor que o Eterno tenha visto algum objeto —algum item concreto e tangível—. No entanto, quando lemos em Hebraico, é muito óbvio que a frase não especifica exatamente o que Ele viu. O Eterno olhou (ראה יהוה) – mas, o que Ele olhou? O que o interrompeu? Por que Ele interrompeu a praga e se arrependeu do mal? Hoje essa não é a pergunta mais vital para nós?

É claro que os comentaristas Judeus notaram essa omissão e fizeram essa pergunta há muito tempo. Por exemplo, esses são os comentários que encontramos em Midrásh Mekilta do Rabino Ismael:

 «Ao destruí-la, olhou o IHVH, e se arrependeu do mal» (I Crônicas 21:15). O que Ele olhou? Ele olhou o sangue do Aqedá de Isaque —e imediatamente Sua compaixão vence Sua ira, e Ele redime e livra—.

A que se refere esse comentário? Durante minhas aulas, eu normalmente contaria aos meus alunos sobre uma tradição haggádica que muitos cristãos não conhecem: em algum momento, existiu uma tradição no Judaísmo, afirmando que Isaque realmente foi morto ou queimado e depois ressuscitou dos mortos. Nestes midrashím, Isaque é explicitamente dito ser o cordeiro da oferenda queimada: אתה השה לעלה בני – «Você é o cordeiro, meu filho». «As cinzas de Isaque» e «o sangue de Isaque», embora contradigam o significado claro das Escrituras, são cuidadosamente preservados por essa tradição. Alguns midrashím afirmam claramente que Abraão ofereceu dois sacrifícios —ele começou com o sacrifício de seu filho e terminou com o sacrifício do carneiro— mas mesmo os comentários que não afirmam isso explicitamente, ainda compartilham a mesma intuição: o ponto comum importante é que «o sangue do Aqedá de Isaque» deve servir para sempre como expiação e advogado de Israel em cada geração. «E sempre que os descendentes de Isaque estão em apuros, Ele… vê o sangue de seu Aqedá, e a piedade O preenche, de modo que Ele afasta a ira de Sua raiva de Sua cidade e Seu povo» (1,57). De acordo com os midrashím, é exatamente o que Abraão está pedindo no Monte Moriá. Por exemplo, em Midrásh Bereshit Rabbah, R. Phineas disse em nome de R. Banai: «Ele orou: “Soberano do Universo. Considere como se eu tivesse sacrificado meu filho Isaque primeiro e depois este carneiro em vez dele”» (no lugar, tahat, sendo entendido como no verso «E Jotão seu filho reinou em seu lugar» (II Reis 15:7) onde o significado deve ser depois dele). Abraão continua (pelo menos no Midrásh): «Mesmo assim, seja feita a Vossa vontade, Ó Senhor nosso D-us, que quando os filhos de Isaque estiverem em apuros, Tu te lembrarás desse sacrifício em seu favor e serás preenchido de compaixão para com eles».

De acordo com a opinião acadêmica, em algum momento entre a metade do século II a.C. e o início da era Cristã, uma nova doutrina se estabeleceu: a expiação pelos pecados de Israel resultou tanto da auto-oferta de Isaque quanto do derramamento de seu sangue. Não só o Aqedá foi realmente considerado um sacrifício verdadeiro e genuíno, mas devido ao livre consentimento da vítima —uma característica única que o distingue e eleva acima de todos os outros sacrifícios— tornou-se «o sacrifício por excelência», cujos benefícios duradouros seriam sentidos para sempre. Desde aquela época, pensava-se que o sacrifício de Isaque desempenhou um papel único em toda a economia da salvação de Israel e que teve um efeito redentor permanente em prol do seu povo —e podemos ver isso claramente em nossa história em I Crônicas 21—.

Mas o que mais o Eterno poderia ter visto que o impediu de destruir Jerusalém?

Vejamos mais dois aspectos bíblicos aqui:

O primeiro diz respeito a Ieshua, pois assim como a tradição rabínica diz que o Eterno viu o sangue do sacrifício de Itshaq, eu digo que Ele viu o sangue do sacrifício de Ieshua! Ele viu seu filho sendo morto naquela cidade para que a humanidade pudesse ser redimida.

Ieshua foi crucificado em Jerusalém como está escrito: “Mas eles bradaram: Tira, tira, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso rei? Responderam os principais dos sacerdotes: Não temos rei, senão César. Então, entregou-lho, para que fosse crucificado. E tomaram a Ieshua e o levaram. E, levando ele às costas a sua cruz, saiu para o lugar chamado Calvário, que em hebraico se chama Gólgota, onde o crucificaram, e, com ele, outros dois, um de cada lado, e Ieshua no meio. E Pilatos escreveu também um título e pô-lo em cima da cruz; e nele estava escrito: IESHUA NAZARENO, REI DOS JUDEUS” Jo 19.15-19.

Um dos motivos pelos quais Jerusalém não foi destruída naquela ocasião é que a cidade seria palco do maior ato redentivo que a humanidade já havia visto: a morte do Ungido – Messias.

O outro aspecto é que a cidade de Jerusalém terrena é uma cópia da cidade de Jerusalém que está nos céus. “E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Elohim descendia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido” Ap 21.12.

Então a pergunta que fazemos é: como poderia o Eterno permitir uma destruição definitiva da cidade terrena que é uma cópia daquela que está na eternidade e que Ele a vê a todo momento?

Um outro detalhe que une Ieshua e Jerusalém é que Ele cumpriu uma boa parte de seu ministério na Jerusalém terrena, Ele também estará ligado à esta cidade da seguinte forma: “E nela não vi templo, porque o seu templo é o IHVH El Todo-poderoso, e também o Cordeiro. E a cidade não tem necessidade de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Elohim a alumiou, e o Cordeiro é a sua candeia” Ap 22.22-23. A cidade de Jerusalém celestial é iluminada pelo Cordeiro de Elohim – Ieshua – que dá a ela luz e faz com que as pessoas caminhem de acordo com aquela luz que emana do Cordeiro! Ieshua já havia declarado isso aos seus discípulos: “Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz da eternidade; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” Jo 8.12. Estas palavras são muito exatas pois nos mostram que Ele já havia dito que Sua vida conduziria o homem à eternidade – primeiro a eternidade que está dentro do próprio homem seria resgatada e salva, e depois ele seria conduzido para os portais do Gan Eden, que é o ligar para onde vão os salvos. Então O Ungido nos guiaria na terra e nos mostraria que Ele é o caminho para os céus. A eternidade que está em nós seria conduzida a uma dimensão eterna com o Criador, ou seja, retornaremos às nossas origens!

Por isso sabemos que naquele momento em que o Eterno olhou para Jerusalém e impediu a sua destruição Ele viu o futuro, não o futuro do presente, mas o futuro que estava na consumação dos dias, conforme seria mostrado ao seu servo Iochanan – João – em Apocalipse.

Por que estamos discutindo essa história hoje? Porque o cristianismo moderno, qualquer que seja sua forma, apartou-se do Judaísmo moderno, e por isso não podemos perder o ponto importante aqui: o que nasceu em Israel com o ministério e a morte e ressurreição de Ieshua não foi o Cristianismo, mas sim o Judaísmo messiânico que compartilhava a mesma intuição do desenvolvimento história bíblica da redenção — porque vemos o mesmo tema da morte redentora do Justo trazendo a salvação dentro da tradição judaica, onde um justo redime a muitos — mas com um personagem redentor diferente no centro. Creio que agora, com tudo o que foi dito, somos capazes de ler a história de 1 Crônicas sob uma luz diferente: O que o IHVH olhou?

Tire suas próprias conclusões…

Que o Espírito o Santo nos ajude a entendermos as Escrituras numa amplitude cada vez maior para podermos então vislumbrar a importância do Eterno atemporal e poder então resolver tomar atitudes que no futuro apontariam para a redenção final no Ungido Ieshua!

Baruch ha Shem!

Adaptação: Mário Moreno.