Mário Moreno/ maio 11, 2020/ Artigos

Encontrar Eva

Nossa conversa concentra-se em dois versículos sobre mulheres, escritos pelo Rei Salomão, o mais sábio dos homens. No Livro dos Provérbios (Mishlê 18:22), ele declara: “Aquele que encontrou uma mulher encontrou o bem.”

Porém no Livro do Eclesiastes (Cohêlet 7:26) diz: “E acho a mulher mais amarga que a morte.”

Não admira que o verbo central destes versículos, “encontrar”, apareça de forma proeminente na criação de Eva, a mulher modelo: “E D’us disse: ‘Não é bom que o homem fique só; farei para ele uma companheira.’ Então D’us formou da terra todos os animais do campo e as aves do céu, e trouxe-os ao homem para ver por qual nome ele os chamaria, e o nome que o homem desse ao ser vivo, este seria seu nome. Então o homem nomeou todos os animais e aves do céu e as feras do campo, mas para si mesmo, Adam (Adão) não encontrou uma companheira.” (Bereshit 2:18-20)

É evidente que não era o bastante para D’us simplesmente criar Eva e presenteá-la a Adam; uma verdadeira esposa deve ser procurada e encontrada.

Após sua criação, Adam deu à esposa o nome genérico de “mulher”, que em hebraico é simplesmente o feminino da palavra “homem”.

Desta vez, osso de meus ossos e carne de minha carne, esta será chamada ‘mulher’, pois foi tirada do homem.” (Bereshit 2:23)

Tendo encontrado sua verdadeira alma gêmea, Adam nomeou-a a partir dele, reconhecendo a origem comum de suas almas.

Olhando-se para os dois versículos originais novamente, percebemos que no versículo “E acho a mulher mais amarga que a morte”, “mulher” aparece com o artigo definido. Isto sugere que alguém está relacionado com sua própria mulher como membro de um grupo genérico, e não como um indivíduo que compartilha a raiz de sua alma. Esta falta de união fundamental impede que alguém encontre o bem em seu relacionamento com a esposa.

Em contraste, no versículo “aquele que encontrou uma mulher“, “mulher” aparece sem o artigo definido. Isto implica que aquele que encontra sua verdadeira alma gêmea a nomeia por (isto é, a reconhece) pela sua fonte comum, como aconteceu na história da Criação, e portanto, “Aquele que encontrou uma mulher – encontrou o bem.”

Para ter certeza, visualizar o cônjuge de alguém como parte de si mesmo pode ser um sinal também de um ego exagerado. Neste caso, a pessoa vê seu cônjuge como meramente um apêndice de si mesmo, sentindo então que não há necessidade de relacionar-se com ela como sendo um indivíduo distinto. Sobre isto há uma alusão no versículo “E acho a mulher mais amarga que a morte”, no qual o marido egocêntrico vê apenas a si mesmo em sua esposa.

A maneira adequada de se ver a esposa como parte de si mesmo é sentindo suas raízes da alma compartilhadas, as quais, como já dissemos, é possível apenas quando se cultiva a verdadeira abnegação. Como explicaremos, a verdadeira individualidade de alguém origina-se na raiz de sua alma. Paradoxalmente, é apenas quando os cônjuges se relacionam um com o outro com esta consciência de sua origem comum, é que podem ver um ao outro como indivíduos realmente únicos.

Nossos Sábios nos ensinam que (Kidushin 2b) “é próprio do homem procurar a mulher“, pois ele está de fato buscando seu próprio flanco, ou costela, perdida (Bereshit Rabá 17:6). Espiritualmente, este flanco perdido é o nível inconsciente de sua própria alma.

Quando alguém aprende a relacionar-se (“encontrar”) com a esposa no nível de sua raiz da alma comum, ele “encontra” não apenas um bom casamento, como também a bondade inerente ao nível inconsciente de sua própria alma. Uma boa esposa, dessa forma, é aquela que torna seu marido consciente das profundezas de sua própria vontade de ser bom. Este é o significado mais profundo de “Aquele que encontrou uma mulher encontrou o bem.”

Em suma, ao referir-se à linguagem contrastante destes dois versículos, aqueles que apresentaram a dúvida acima ao noivo estavam insinuando a ele que o resultado da união, se bom ou mau, depende de sua atitude. As bênçãos do matrimônio dependem do abandono do egocentrismo e de uma reorientação positiva em direção à verdade interior e à realidade.

Sha´ul completa esse raciocínio dizendo: “Assim devem os maridos amar a suas próprias mulheres como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo. Porque jamais ninguém aborreceu a sua própria carne; antes, a alimenta e sustenta, como também o Senhor à congregação; porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e do seus ossos. Por isso, deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e serão dois numa carne” Ef 5.28-31.

Isso nos lembra que quando nos casamos há uma “fusão” físico/espiritual entre dois corpos e duas almas. Neste entrelaçamento as almas juntam-se e completam-se! Esse é o retrato do casamento ideal.

O cuidado é necessário para que possamos acertar em nossas escolhas quanto à união matrimonial, para que encontremos nossa Eva e não um problema que pode nos levar à morte!

Baruch Há Shem!

Tradução e adaptação: Mário Moreno.