Mário Moreno/ fevereiro 28, 2020/ Artigos

O que significa “Adam”?

 

Adam não significa Homem

A palavra hebraica “adam” não indica apenas um homem. A primeira vez que “adam” ocorre é em Gênesis 1:26, quando Elohim diz: “façamos adam” – e a explicação no próximo versículo, “homem e mulher os criou”, esclarece a natureza deste ser humano. Encontramos a mesma ideia posteriormente: “Homem e mulher os criou; e os abençoou e chamou o seu nome adam” (Gn 5:2). Assim, Gênesis se refere primeiro a adam no singular, mas depois diz que Elohim “os” criou homem e mulher.

Esta é uma questão muito intrigante, pois não fomos acostumados a pensarmos em termos de uma criação dual, ou seja, dois em um! Por isso vem a pergunta:

Um ser ou dois?

Seria então um ser ou dois? Um número de passagens rabínicas vê o primeiro ser humano como realmente composto de ambos os sexos. Assim, o midrash Bereshit Rabá diz: “homem e mulher foram originalmente indivisíveis, ou seja, adam foi criado primeiramente… hermafrodita”. No midrash Levítico Rabá lemos: “No tempo em que o Santo, Bendito Seja Ele, criou o Homem, Ele o criou como Andrógino”. Assim, do pó da terra, Deus forma um ser humano que é masculino e feminino.

Vejamos a etimologia da palavra para entendermos melhor esta questão:

A raiz דמם (ddm) tem tudo a ver com o início – ou melhor, a simplicidade de onde surge a complexidade – de ficar quieta antes que o ruído comece a ser monocromático antes do início da visão em cores. O verbo דמם (damam) significa ficar parado, o substantivo דממה (demama) denota calma e דמה (dumma) denota uma pessoa silenciada. O substantivo דומה (duma) descreve o silêncio da morte, substantivo דומיה ou דמיה (dumiya) o silêncio da espera e o substantivo דומםה (dumam) o silêncio da inércia ou inatividade.

O verbo דמה (dama) descreve a criação de uma imagem (estática). Os substantivos (דמות) (demut) e דמין (dimyon) significam “semelhança”. O verbo דמה (dama) significa “parar, estacionar ou prender”. Substantivo (domi) significa “uma parada”. O que quer que o verbo não utilizado דמן (dmn) possa ter significado, o substantivo דמן (domen) denota recusa e מדמנה (madmena) um poço de esterco.

O verbo não utilizado אדם (‘dm) pode significar “produzir ou começar a produzir”. Substantivo (adão) é uma das poucas palavras para o homem, mas significa literalmente provavelmente “produto” ou semelhança feita a partir do solo; homem como unidade corporal da humanidade. Esta palavra nunca é usada no plural, e seu equivalente feminino, a saber, אדמה (adama), denota solo arável ou terra argilosa.

Vermelho é a primeira cor que um bebê aprende a ver e vermelho ou vermelho é realmente a cor do rudimento: verbo אדם (adom ou adem) significa ser vermelho, adjetivo אדם (‘adom) significa vermelho, substantivo אדם (‘odem) denota um gema avermelhada, possivelmente quartzo, substantivo אדם (‘edom) denota um tipo de guisado vermelho, adjetivo אדמדם (‘adamiddam) significa avermelhado e adjetivo אדמוני (admoni) significa vermelho ou avermelhado.

O onipresente substantivo דם (dam) significa “sangue”; a sede da vida.

Vendo através da raiz

O que estas raízes nos mostram? Quando tomamos uma palavra hebraica, geralmente sua raiz nos traz uma grande amplitude na significância daquela palavra.

A palavra “Adam” que veio a significar “homem” e também “Adão” traz consigo além de diversos significados um ensino teológico muito extraordinário: a mulher estava dentro do homem, um ser criado perfeito, à imagem e semelhança do Criador e que quando foi retirada do lado do homem torna-se não somente sua parceira, mas também seu complemento! Por isso a sistemática é que quando os complementos se unem eles voltam a ser um!

Quando tomamos inicialmente a raiz temos conexões com um ser parado, estático, inclusive por conta da morte. E isso certamente refere-se a Adam como um ser inerte feito de barro, mas que ainda necessitava do sopro divino para tornar-se “alma vivente”. A raiz continua agora apontando para a “imagem” e também para alguém que “produz”. Mas como poderia algo morto ser assim? Mesmo ainda sem vida Adam já carregava algo muito importante em si: ele fora moldado pelo Criador; as mãos dAquele que trouxe o universo à existência o tocaram e fizeram com que ele já carregasse uma porção da eternidade naquele barro que tomara a forma humana. Já havia uma “imagem” celestial refletida ali; o que faltava era a infusão da vida naquele ser para se tornar vivo de fato!

Adam ainda é terra argilosa que foi moldada com dedos hábeis que fizeram com que cada detalhe pudesse ser pensado, cada órgão colocado no lugar certo para cumprir as funções necessárias para a manutenção da vida. Quem poderia ter a capacidade de fazer com que detalhes – minúsculos – pudessem ser inseridos dentro de um ser – ainda de barro moldado na forma de um ser humano – viessem a trabalhar em conjunto e com uma harmonia impossível de ser entendida fora dos padrões divinos?

Esta é a “coroa da Criação”, Adam. Ele é ligado à cor vermelha, que também é a cor do sangue, que carrega em si – no código genético de cada ser humano – a marca do nome de Eterno – IHVH [10-5-6-5] – e isso está expresso no DNA de toda a humanidade para que não haja qualquer dúvida de onde viemos!

Então o sangue – dam – precisa de algo mais para tornar-se de fato “vivo”. Quando é acrescentada a esta palavra “dam” a letra “alef” temos então o nome “Adam”, o ser criado mais próximo do seu Criador. A letra alef representa o Eterno que é “Um”. Então quando ao “sangue” foi acrescida a presença do Eterno – através do “sopro” – então o sangue transforma-se no homem dual, ou seja, aquele que também carrega dentro de si a mulher, que será não somente sua companheira mas também o seu complemento que fechará um ciclo de vida e morte.

Agora temos em um, dois. E quando estes dois unem-se dão origem a mais vidas, todas elas provenientes do mesmo casal, mas são diferentes, identidades únicas em toda a história e em cada lugar do mundo. A mulher no início veio do homem, agora o homem – ser humano – vem da mulher! Aquela que estava “embutida” dentro do homem carrega consigo os mecanismos para que a vida provenha agora dela. A ela foi atribuída então a função de dar continuidade a humanidade em conjunto com o homem.

Já ao homem fica a atribuição de cuidar não somente da terra, mas também da família, que agora surge dele e de sua esposa como a fusão de dois seres que geram outro e outro num ciclo de multiplicação que trazem à existência seres nunca iguais à sua matriz humana.

Adam também ficou encarregado de suprir sua família com espiritualidade, pois na viração do dia a voz do Eterno Criador vinha para conversar com ele e instruí-lo acerca de todos os padrões que seriam necessários para que a vida pudesse ser mantida e também para que não houvesse a perda de sua verdadeira identidade celestial como está escrito: “E ouviram a voz do IHVH Elohim, que passeava no jardim pela viração do dia: e escondeu-se Adão e sua mulher da presença do IHVH Elohim, entre as árvores do jardim” Gn 3.8.

A finalidade de Adam

Quando o homem perde sua identidade – aquele que veio dos céus e que deve voltar para lá – ele corre então o risco de perder definitivamente a volta à casa do pai – o Olam Haba (Mundo vindouro). Por isso ao homem foi dada a função de guiar sua família em direção ao Seu Criador. O homem foi o primeiro a ter um relacionamento com o Eterno e por isso recai sobre seus ombros a responsabilidade de ser o sacerdote que conduz – e por vezes reconduz – sua família aos braços do Ungido, que é Aquele que foi dado aos homens como o Redentor final: “Porque Elohim enviou o seu filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” Jo 3.17.

Por isso, Adam não pode perder sua identidade nem por um instante; devemos saber que como “homens” cada um de nós está ligado aos céus de forma tão intensa que até mesmo nosso DNA carrega o nome do Eterno! Por isso vamos levar nossa família de volta ao nosso Criador através do Ungido, Ieshua!

Que cada um de nós não percamos de vista o “autor e consumador” de nossa fé nesta caminhada rumo ao Olam Haba!

Baruch ha Shem!

Mário Moreno.