Mário Moreno/ agosto 10, 2017/ Parasha da semana

Ekev

(Porque)

Dt 7:12–11.25 / Is 49:14 – 51:3 / Hb 11:8-13

Na Parasha desta semana estaremos estudando a continuação do discurso de Moshe que relembra aos filhos e Israel as determinações que lhes haviam sido dadas no deserto enquanto estavam peregrinando.

O texto nos diz o seguinte: “Será, pois, que, se ouvindo estes juízos, os guardardes e cumprirdes, o IHVH teu Elohim te guardará a aliança e a misericórdia que jurou a teus pais; e amar-te-á, e abençoar-te-á, e te fará multiplicar; abençoará o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, o teu grão, e o teu mosto, e o teu azeite, e a criação das tuas vacas, e o rebanho do teu gado miúdo, na terra que jurou a teus pais dar-te. Bendito serás mais do que todos os povos; não haverá estéril entre ti, seja homem, seja mulher, nem entre os teus animais. E o IHVH de ti desviará toda a enfermidade; sobre ti não porá nenhuma das más doenças dos egípcios, que bem sabes, antes as porá sobre todos os que te odeiam. Pois consumirás a todos os povos que te der o IHVH teu Elohim; os teus olhos não os poupará; e não servirás a seus deuses, pois isto te seria por laço. Se disseres no teu coração: Estas nações são mais numerosas do que eu; como as poderei lançar fora? Delas não tenhas temor; não deixes de te lembrar do que o IHVH teu Elohim fez a Faraó e a todos os egípcios” (Dt 7:12-18).

O texto, além de mandamentos traz também promessas que alimentam as esperanças do povo de Israel neste período de conquistas. Nosso texto inicia-se falando sobre o ouvir e obedecer aos juízos do Eterno. A palavra “juízos” vem do termo hebraico mishpat que significa “justiça, ordenança, costume, maneira” e ela nos fala sobre as determinações práticas que o Eterno deu ao seu povo para que tivessem conhecimento e as cumprissem! Novamente o Eterno é chamado aqui de IHVH Elohim e isso significa que aquele que se tornara o Criador de Israel está envolvido diretamente na cessão destes juízos ao seu povo. O verso ainda nos diz que quando o povo de D-us o obedece então o Eterno também guarda a aliança e a misericórdia que jurou aos nossos pais! Quanto Moshe cita aqui a “aliança” ele está falando sobre berith, que significa “pacto com derramamento de sangue”; já a palavra “misericórdia” vem do termo hebraico hesed que significa “bondade amorosa, misericórdia”. O pacto que foi feito pelo Eterno com Abrão é um reflexo do grande amor que ele mesmo manifesta ao seu povo, pois nós sabemos que numa aliança – pacto – estão envolvidas duas partes e que o rompimento desta aliança se dá quando uma das partes “fere” os termos contratados, e isso nunca foi feito pelo Eterno! E há ainda algo mais, pois quando Israel “rompeu” o contrato, o eterno sempre aguardou que houvesse arrependimento para conceder-lhes o perdão e conseqüentemente o reatamento da aliança! A Isso chamamos de “misericórdia”, que é a bondade amorosa do Eterno em ação!

No verso 13 temos mais consequências da bondade amorosa do Eterno, que combinada com a obediência traz bênçãos e multiplicação! A palavra “abençoar” vem do termo hebraico barak e significa “dar poder a alguém para ser próspero, bem-sucedido e fecundo”. Já a palavra “multiplicar” vem do termo hebraico rabâb que significa “ser numeroso, tornar-se numeroso”. Novamente percebemos que a obediência traz consigo uma “unção” que nos dá condições de sermos prósperos (na área espiritual), sucesso (na área financeira) e fecundidade (na área física e espiritual, fazendo com que sejamos pessoas capazes de gerarem outros, tanto física quanto espiritualmente).

Um outro detalhe é que o Eterno desviaria dos israelitas as enfermidades. Aqui a palavra que define o Eterno é IHVH e isso significa que o Eterno se tornaria aquilo que seu povo precisasse que Ele se tornasse! Já a palavra “enfermidades” vem do termo hebraico holî e significa “doença, enfermidade”. A palavra nos fala sobre doenças com origem física (p. ex., uma queda) ou patológicas. É interessante notarmos que o Eterno se tornaria a saúde para o seu povo e se tornaria as enfermidades para aqueles que se opusessem a Israel! Um outro aspecto interessante é que os israelitas “consumiriam” seus inimigos! A palavra “consumir” vem do termo hebraico akal e significa “comer, consumir, devorar, queimar, alimentar”. Este termo nos dá a ideia de que o povo de Israel estaria passando por algum lugar e que o povo local – que deveria ser dali desarraigado – seria como a grama ou como árvores que seriam “comidas” por Israel a fim de delas se alimentarem! Um outro detalhe é que estas nações seriam dadas a Israel pelo IHVH seu D-us! Novamente surge aqui a combinação de duas palavras hebraicas IHVH Elohim. Isso nos informa que Aquele que se tornou o Criador de Israel é quem estava coordenando esta ação ofensiva de seu povo! Nada poderia detê-los, pois os inimigos estavam sendo “entregues” em suas mãos pelo Criador do Universo! E isso incluía também nações fortes e poderosas, homens com grande estatura e grande habilidade militar, cidades fortificadas, etc… Porém, nada disso poderia deter os filhos de Israel nessa empreitada! Enquanto houvesse obediência, as guerras de Israel seriam todas vencidas por eles, pois eles estariam lutando sob as ordens de Seu Criador, o Eterno!

Esta postura do Eterno fica ainda mais clara nas seguintes palavras: “Das grandes provas que viram os teus olhos, e dos sinais, e maravilhas, e mão forte, e braço estendido, com que o IHVH teu Elohim te tirou; assim fará o IHVH teu Elohim com todos os povos, diante dos quais tu temes. E mais, o IHVH teu Elohim entre eles mandará vespões, até que pereçam os que ficarem e se esconderem de diante de ti. Não te espantes diante deles; porque o IHVH teu Elohim está no meio de ti, Elohim grande e terrível. E o IHVH teu Elohim lançará fora estas nações pouco a pouco de diante de ti; não poderás destruí-las todas de pronto, para que as feras do campo não se multipliquem contra ti. E o IHVH teu Elohim as entregará a ti, e lhes infligirá uma grande confusão até que sejam consumidas. Também os seus reis te entregará na mão, para que apagues os seus nomes de debaixo dos céus; nenhum homem resistirá diante de ti, até que os destruas. As imagens de escultura de seus deuses queimarás a fogo; a prata e o ouro que estão sobre elas não cobiçarás, nem os tomarás para ti, para que não te enlaces neles; pois abominação é ao IHVH teu Elohim. Não porás, pois, abominação em tua casa, para que não sejas anátema, assim como ela; de todo a detestarás, e de todo a abominarás, porque anátema é” (Dt 7:19-26). Novamente vemos que o Eterno já havia se posicionado ao lado de Israel para fazer desta nação um povo invencível! O Eterno usaria até mesmo as forças da natureza a fim de fazer com que seu povo obtivesse a vitória! A Torah nos diz que o Eterno enviaria vespões – grandes vespas – para atuarem como “soldados” suplementares do exército de Israel a fim de impor uma grande derrota aos inimigos deles. E o IHVH é muito claro quando diz: “Não te espantes diante deles; porque o IHVH teu Elohim está no meio de ti, Elohim grande e terrível”.

Apear desta palavra tão positiva, existem também ressalvas que nos dizem: “As imagens de escultura de seus deuses queimarás a fogo; a prata e o ouro que estão sobre elas não cobiçarás, nem os tomarás para ti, para que não te enlaces neles; pois abominação é ao IHVH teu Elohim. Não porás, pois, abominação em tua casa, para que não sejas anátema, assim como ela; de todo a detestarás, e de todo a abominarás, porque anátema é”. Aqui a palavra “imagem” vem do termo hebraico pasîl e significa “ídolo, imagem”; já a palavra deuses vem do termo hebraico Elohim! As nações gentílicas consideravam que os seus deuses eram também aqueles que os haviam criado! As imagens esculpidas por mãos humanas estavam também recebendo a glória do Criador do Universo sem sequer terem feito obra alguma! Novamente o homem estava trocando a criatura pelo Criador e dando a esta a glória que só é devida ao IHVH! A ordem quanto à esta prática é bem clara: destruir os ídolos totalmente! O Eterno nos diz que tal prática é chamada de “abominação”. Esta palavra vem do termo hebraico tô´ebâ e significa “costume abominável, coisa abominável”. Qualquer pessoa que consentisse ou mesmo possuísse qualquer coisa desta natureza – ou mesmo ligada a elas – também se tornaria abominável aos olhos do Eterno! Ou seja, isso significa que o envolvimento de qualquer forma com a idolatria ou qualquer atividade que a ela se relacione é considerado pelo Eterno como um costume abominável e deve ser odiado – não só pelo IHVH mas também pelos homens – e não pode nem deve ser possuído pelos crentes no Messias!

Novamente temos aqui a ordem que vem acompanhada de diversas explicações do por que obedecer. “Todos os mandamentos que hoje vos ordeno guardareis para os cumprir; para que vivais, e vos multipliqueis, e entreis, e possuais a terra que o IHVH jurou a vossos pais. E te lembrarás de todo o caminho, pelo qual o IHVH teu Elohim te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não. E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da boca do IHVH viverá o homem. Nunca se envelheceu a tua roupa sobre ti, nem se inchou o teu pé nestes quarenta anos” (Dt 8:1-4). A ordem é guardar os mandamentos que lhes haviam sido dados. A palavra “mandamentos” vem do termo hebraico mitsvâ e significa “mandamento”. A palavra refere-se aos termos de um contrato. Novamente é dito a Israel que a obediência aos termos do contrato traria sobre eles vida e multiplicação. Além disso eles “entrariam” na terra que o IHVH jurou dar a seus pais. Novamente aqui a palavra que define o Eterno vem do termo hebraico IHVH! Ou seja, enquanto obedecessem eles certamente viveriam tais promessas em suas vidas diariamente! O Eterno explica o motivo pelo qual eles foram levados ao deserto: “para te humilhar, e te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias os seus mandamentos, ou não”. O Eterno também lembra-os que ocorreram milagres menos “espetaculares” entre eles. Um deles foi que a roupa e os calçados do povo nunca envelheceram em quarenta anos de caminhada! Isso nos dá a entender algo extraordinário: que enquanto o povo caminhava pelo deserto suas roupas e seus calçados – quando necessário – cresciam com eles e se “amoldavam” à suas necessidades, nunca entretanto entrando num estado de envelhecimento e decomposição. Nós não somos capazes de imaginar o que significa isso, pois em nosso mundo moderno usamos por muito pouco tempo nossas roupas e calçados! Entretanto, enquanto Israel esteve no deserto eles não tinham acesso à lojas de roupas e calçados para “mudarem seu guarda roupa” conforme as estações do ano e também conforme a flutuação da “moda”. Mesmo assim eles puderam agora comprovar que o cuidado do Eterno para com eles havia sido tão grande e extremo que até mesmo nos aspectos mais “banais” o Eterno cuidara deles!

A guarda dos mandamentos os levaria à Canaã por causa da promessa que havia sido feita aos patriarcas Avraham, Itshaq e Ia´aqov. “E guarda os mandamentos do IHVH teu Elohim, para andares nos seus caminhos e para o temeres. Porque o IHVH teu Elohim te põe numa boa terra, terra de ribeiros de águas, de fontes, e de mananciais, que saem dos vales e das montanhas; terra de trigo e cevada, e de vides e figueiras, e romeiras; terra de oliveiras, de azeite e mel. Terra em que comerás o pão sem escassez, e nada te faltará nela; terra cujas pedras são ferro, e de cujos montes tu cavarás o cobre. Quando, pois, tiveres comido, e fores farto, louvarás ao IHVH teu Elohim pela boa terra que te deu” (Dt 8:6-10). Novamente o Eterno lembra Israel para que guarde os mandamentos! Novamente aqui a palavra “mandamentos” vem do termo hebraico mitsvâ e significa “mandamento”. A palavra refere-se aos termos de um contrato. Tais “termos do contrato” haviam sido dados por IHVH Elohim! Aquele que se tornara o Criador de Israel bem sabia o que seria necessário para que a sua criação pudesse alcançar suas promessas! E isto está registrado na Torah! A terra que eles herdariam era totalmente diferente do deserto por onde vagavam até então. É interessante notarmos que nesta porção o Eterno avisa Israel que a terra de Canaã possui ferro e cobre! Essa informação somente sria totalmente confirmada nos tempos do rei Salomão, quando a industria siderúrgica foi implementada de forma muito ativa em Israel.

Outro detalhe que acompanha esta argumentação é “não te esqueças”. “Guarda-te que não te esqueças do IHVH teu Elohim, deixando de guardar os seus mandamentos, e os seus juízos, e os seus estatutos que hoje te ordeno; para não suceder que, havendo tu comido e fores farto, e havendo edificado boas casas, e habitando-as, e se tiverem aumentado os teus gados e os teus rebanhos, e se acrescentar a prata e o ouro, e se multiplicar tudo quanto tens, se eleve o teu coração e te esqueças do IHVH teu Elohim, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão; que te guiou por aquele grande e terrível deserto de serpentes ardentes, e de escorpiões, e de terra seca, em que não havia água; e tirou água para ti da rocha pederneira; que no deserto te sustentou com maná, que teus pais não conheceram; para te humilhar, e para te provar, para no fim te fazer bem; e digas no teu coração: A minha força, e a fortaleza da minha mão, me adquiriu este poder. Antes te lembrarás do IHVH teu Elohim, que ele é o que te dá força para adquirires riqueza; para confirmar a sua aliança, que jurou a teus pais, como se vê neste dia. Será, porém, que, se de qualquer modo te esqueceres do IHVH teu Elohim, e se ouvires outros deuses, e os servires, e te inclinares perante eles, hoje eu testifico contra vós que certamente perecereis. Como as nações que o IHVH destruiu diante de vós, assim vós perecereis, porquanto não queríeis obedecer à voz do IHVH vosso Elohim” (Dt 8:11-20). O detalhe aqui é que o Eterno fala novamente ao homem para que ele não se esqueça! É notável como o homem tem a capacidade de esquecer-se rapidamente das coisas que já passaram! É justamente por isso que o IHVH lhes ordena que façam diferente, trazendo sempre à memória os fatos ocorridos entre eles! O Eterno diz ao seu povo que o distanciamento d´Ele produziria o materialismo, que é a confiança nas coisas visíveis como meio de sustentação da vida, e isso certamente traria um “relaxamento” natural nos israelitas, produzidos pelo conforto e pela riqueza!

Um outro aspecto é que o Eterno deu a Israel uma “unção” para o sucesso; porém isso deveria ser visto como uma dádiva advinda da obediência do povo, levando-os sempre ao aperfeiçoamento de sua obediência e não ao “relaxamento” de sua relação com o Eterno! O verso 18 nos diz: “Antes te lembrarás do IHVH teu Elohim, que ele é o que te dá força para adquirires riqueza; para confirmar a sua aliança, que jurou a teus pais, como se vê neste dia”. Aqui a palavra “força” vem do termo hebraico hayil que significa “poder, força, vigor; capaz, valente, virtuoso, valor; exército, riquezas, bens, posses”. Tudo aquilo que Israel possuía agora era proveniente de algo que lhe fora dado pelo Eterno. E isso está traduzido na palavra “força” que é o vigor físico e mental para trabalhar e obter o sucesso financeiro e material necessário para a manutenção de uma vida digna! Isso não significa que todo o israelita deveria ser rico, mas que o Eterno já havia disponibilizado aos seus filhos um vigor, um poder que os impeliria ao trabalho e faria com que aqueles que trabalhassem bem e continuassem a caminhar dentro do padrão de obediência dado pelo Eterno alcançariam então muitas posses materiais! Esta palavra tem em sua própria raiz esta conotação de alcançar bens materiais, e isso aconteceria porque o Eterno estaria confirmando a aliança feita com os patriarcas. A aquisição de riquezas através da obediência sempre levara algum tempo, e enquanto estas pessoas caminhavam na direção da “riqueza” elas eram ensinadas pelo Eterno a lidarem com o dinheiro de forma a não permitirem que o mesmo se tornasse o seu Elohim!

Ser humilde e agradecer

“D’us está levando vocês a uma terra muito especial. Tem água abundante, e é famosa por sete produtos: trigo e cevada – dos quais pode-se fazer pão – bem como deliciosas frutas: uvas, figos, romãs, azeitonas e tâmaras.

“O sabor das frutas irá variar de uma tribo para outra. Por exemplo, as uvas na terra de Efrayim terão sabor diferente das uvas de Naftali. Se você experimentar as mesmas frutas de todas as tribos de Erets Israel, será como experimentar iguarias de doze países diferentes!

“E não é só isso! A terra é rica em ferro e cobre. Vocês terão os minerais necessários para edificar prédios e confeccionar ferramentas. Tornar-se-ão ricos.

“Mas enquanto se distraem com todas estas descobertas e maravilhas, poderão esquecer D’us. Para impedir que isso aconteça, devem bendizê-lo toda vez que forem comer ou beber.

“Não fiquem orgulhosos, pensando: Minha força e meu talento fizeram-se ter sucesso. Lembrem-se que tudo vem de D’us.

“Vocês poderão pensar: ‘A razão pela qual D’us nos concedeu todas estas maravilhas é porque somos tsadikim.’ Não é por isso que D’us deu-lhes Erets Israel. Lembrem-se de que pecaram muitas vezes e deixaram-No aborrecido. Estão sendo tarzidos a esta terra porque D’us assim prometeu aos descendentes de Avraham, e chegou a hora das nações que vivem no país serem expulsas por causa de sua perversidade.”

Moshe ensinou aos judeus que o sucesso não deveria torná-los orgulhosos.

O Bircat Hamazon

A Torah ordena: “Bendiga D’us após ter comido e sentir-se satisfeito.”

A Torah obriga um judeu a recitar uma bênção se ele comeu pão até ficar saciado. Nossos Sábios instituíram que deve-se recitar bircat hamazon (graças após a refeição) mesmo se comeu apenas um kezayit (pedaço do tamanho de uma azeitona) de pão.

Bircat hamazon consiste de quatro partes:

1 – Bircat Hazan – a bênção Àquele que alimenta todas as criaturas: Moshe instituiu esta bênção quando os judeus receberam o maná.
O milagre do maná caindo dos céus enquanto os judeus estavam no deserto demonstrou abertamente a eles que D’us, em Sua bondade, cuida de todas as criaturas. Mais tarde, quando eles comeram os frutos de seu próprio trabalho na Terra, entenderam que o pão deste mundo era concedido pelo mesmo atributo Divino de bondade. Por isso,nesta primeira bênção, reconhecemos que, embora os seres humanos trabalhem para assegurar seu sustento, ainda assim é D’us que provê o alimento a todas as criaturas.

2 – Bircat Ha’arets – a bênção sobre a Terra: Iehoshua introduziu esta segunda bênção quando ele e o povo mereceram entrar na Terra, pelo desejo ardente de Moshe e sua geração. (O texto original de Iehoshua era: “Tu nos deste um legado, um bem desejável, e um grande País.” Completamos isso desta forma: “Tu deste aos nossos pais…”)
Nesta bênção mencionamos a mitsvá do berit milá, pois pelo seu mérito D’us concedeu Erets Israel ao povo judeu. Também Lhe agradecemos por Sua Torah, dessa maneira expressando o propósito definitivo da posse de Erets Israel: estudar e cumprir os mandamentos de D’us.

3 – Bircat Ierushalayim – a bênção da paz para Jerusalém e o Bet Hamicdash: O Rei David e Salomão estabeleceram a terceira bênção, que pede pela continuação da liderança da Casa de David e pela paz em Jerusalém e o Bet Hamicdash (Seguindo-se à destruição, completamos o texto e pedimos a D’us para reconstruir Jerusalém.)

4 – Hatov Vehamaitiv – a bênção Àquele que é bom e faz o bem: esta bênção foi adicionada por nossos sábios para celebrar o milagre que aconteceu na cidade de Bethar após a destruição do Bet Hamicdash.
Que pecados precipitaram a destruição de Bethar? Conforme as opiniões na Guemara (Yerushalmi Ta’anis 4:5), a prostituição era muito difundida lá: conforme outros, o povo jogava bola. A segunda opinião insinua que os habitantes jogavam bola no Shabat, desse modo profanando a honra do Shabat; ou que desperdiçavam o tempo em divertimentos fúteis, em vez de se ocuparem com o estudo de Torah.
Meshech Chochma explica que o Bircat hamazon foi estruturado para expressar nossos agradecimentos a D’us, por distinguir nossa nação com Sua Providência individual.

D’us assegurou a sobrevivência de nosso povo com o milagre declarado do maná no deserto, e demonstrou novamente Sua Providência na forma de milagres realizados no Bet Hamicdash. A destruição do Bet Hamicdash, e posteriormente de Bethar, pode ter provocado a suspeita de que D’us não estava mais com Seu povo. Por esta razão, o milagre que ocorreu em Bethar foi uma bondade recebida como sinal da presença de D’us entre nós, mesmo estando no exílio, e por isso foi incorporada no Bircat Hamazon.

Pelos nossos padrões, a geração que chegou a Erets Israel era justa. Moshe os reprovou por não terem ainda atingido os padrões de perfeição deles exigidos, proporcionais às revelações declaradas que vivenciaram (Or Hachaim, Aitz Yosaif).

Moshe disse: “Após comerem o bastante para ficarem satisfeitos, bendigam D’us pela boa terra que Ele lhes deu.” Esta é a mitsvá de bensh (recitar Bircat Hamazon)”, após uma refeição com pão.

Para cumprir a mitsvá corretamente, devemos ser cuidadosos ao pronunciar cada palavra, claramente. (É uma boa idéia usar sempre um Sidur, mesmo se soubermos a oração de cor.) Crianças muito pequenas para pronunciar todo o Bircat Hamazon, podem pronunciar uma bênção mais curta: “Bendito seja o Misericordioso, nosso D’us, Rei do Universo, o dono do pão.”

O que acontece quando alguém faz uma refeição e se esquece da bênção? Se ela lembrar-se dentro de um prazo de 72 minutos após o término da refeição, ainda poderá orar. É muito importante agradecer, mesmo após ter passado algum tempo desde que comeu seu pão.

Nossos sábios decretaram que devemos falar a berachá (bênção) apropriada antes e depois de ingerir qualquer alimento. Se um judeu come sem uma berachá, é como se tivesse roubado o alimento de Seu Dono: D’us. É importante pronunciarmos cada palavra da berachá claramente, especialmente as palavras D’us, Elo-kei-nu. Enquanto recitamos a berachá, é importante refletir na infinita bondade de Hashem que nos fornece vida a cada instante.

Derech erets ao se alimentar

Algumas destas regras encontram-se na Guemara; outras, em Sefer HaRokeach (Sefer Ha Rokeach contém dinim, as leis. Foi escrito pelo Rokeach, Rabi Elazar de Worms, Alemanha, na Idade Média).
Não é correto alimentar-se em pé. A pessoa deve sempre sentar-se para comer.
Mesmo se você comer em pé, deve sentar-se para orar.

  • Não converse enquanto estiver mastigando.
  • Nunca reponha a comida na travessa sobre a mesa, se já mordeu um pedaço. Nem deveria oferecer a outra pessoa.
  • Não ofereça um copo a outra pessoa se já bebeu nele.
  • Não lamba os dedos!
  • Não é educado morder uma fruta ou qualquer outro alimento maior que um kezaitz (equivalente ao tamanho de um ovo). Aquele que o faz parecerá uma pessoa gulosa que está devorando a comida. A maneira refinada de comer é cortar pedaços não maiores que um kezaitz.
    Da mesma forma, não é educado jogar comida de qualquer jeito, a fim de não desprezá-la e para que não se estrague.
  • Apanhe qualquer alimento que observar estar jogado no chão.
  • Não é correto alimentar-se na rua.
    No passado, o Beit Din costumava julgar pelas declarações de testemunhas. Se os juízes soubessem que uma testemunha fora vista comendo na rua, declaravam: “Ele não serve para ser nossa testemunha”, pois agiu de maneira imprópria.
  • O Zohar diz que antes de uma bênção, a pessoa deve remover (ou cobrir) quaisquer facas que estejam sobre a mesa. Uma mesa é como o misbeach, o altar onde se realizavam os sacrifícios a D’us, trazendo paz ao mundo. Nenhum utensílio de ferro podia tocar o misbeach. Por isso, uma faca, instrumento usado para matar, não deveria estar sobre a mesa durante a bênção. (Esta regra aplica-se apenas aos dias de semana. No Shabat, Rosh Chôdesh ou yom tov, podemos deixar facas sobre a mesa).
  • O pão deve ser deixado sobre a mesa no momento em que se recitará o Bircat Hamazon.

Por que devemos nos preocupar com tantas regras quando comemos?
Sempre que nos alimentamos, seja o que for que façamos, estamos na presença de um Rei muito mais poderoso que qualquer outro rei ou governante neste mundo: o Rei dos reis. Não deveríamos nos comportar de forma correta em todas as ocasiões, sabendo que estamos diante de Sua presença?

Nesta Parashá aprenderemos sobre a mitsvá de temer a D’us. Se nos comportamos corretamente à mesa, demonstramos que tememos a D’us. Não somos como não-judeus que se esquecem de D’us quando comem ou bebem. Os judeus lembram-se dele e agem com derech erets (boas maneiras) antes, durante e após a refeição.

Agora a palavra leva Israel a ouvir e refletir sobre o que encontrará além do Jordão! “Ouve, ó Israel, hoje passarás o Jordão, para entrares a possuir nações maiores e mais fortes do que tu; cidades grandes, e muradas até aos céus; um povo grande e alto, filhos de gigantes, que tu conheces, e de que já ouviste. Quem resistiria diante dos filhos dos gigantes? Sabe, pois, hoje que o IHVH teu Elohim, que passa adiante de ti, é um fogo consumidor, que os destruirá, e os derrubará de diante de ti; e tu os lançarás fora, e cedo os desfarás, como o IHVH te tem falado. Quando, pois, o IHVH teu Elohim os lançar fora de diante de ti, não fales no teu coração, dizendo: por causa da minha justiça é que o IHVH me trouxe a esta terra para a possuir; porque pela impiedade destas nações é que o IHVH as lança fora de diante de ti. Não é por causa da tua justiça, nem pela retidão do teu coração que entras a possuir a sua terra, mas pela impiedade destas nações o IHVH teu Elohim as lança fora, de diante de ti, e para confirmar a palavra que o IHVH jurou a teus pais, Avraham, Itshaq e Ia´aqov” (Dt 9:1-5). A palavra informa a Israel que eles possuiriam nações maiores e mais fortes do que eles! A palavra “nações” vem do termo hebraico goi que significa “povo, nação gentílica”. Fica evidente que os habitantes de Canaã são gentios, povos que não conhecem e nem reconhecem ao IHVH como D-us e isso os faria com que tais povos fossem julgados através de Israel! As cidades de Canaã são descritas como fortalezas e os seus habitantes como “gigantes”! É estarrecedor pensar-se em entrar numa terra como esta para conquista-la! Porém o Eterno diz a seu povo que Ele é um “um fogo consumidor, que os destruirá, e os derrubará de diante de ti”. Isso agora soa de maneira muito positiva, pois o Eterno diz a Israel que Ele mesmo faria o trabalho de “vencer” os seus inimigos. Israel teria somente de entrar e possuir a terra! Quando a vitória final acontecesse Israel não deveria julgar que tal vitória lhes sobreveio em virtude de sua bondade e justiça, mas isso aconteceria somente por causa de uma palavra que fora dita aos patriarcas! É incrível como o Eterno prende-se à sua própria palavra fazendo com que ela se cumpra de forma literal pelos séculos a fio!

Ao contrário do que pensamos Israel é chamado de “obstinado”. “Sabe, pois, que não é por causa da tua justiça que o IHVH teu Elohim te dá esta boa terra para possuí-la, pois tu és povo obstinado. Lembra-te, e não te esqueças, de que muito provocaste à ira ao IHVH teu Elohim no deserto; desde o dia em que saístes do Egito, até que chegastes a esse lugar, rebeldes fostes contra o IHVH” (Dt 9:6-7). Neste texto a palavra “obstinado” vem do termo hebraico qasheh que significa “duro, cruel, obstinado, rígido”. Moshe lembra aos israelitas que eles provocaram ao Eterno de tal forma que a sua ira manifestou-se contra eles! Por isso eles são levados a “pensarem” naquilo que aconteceu! A palavra “pensar” vem do termo hebraico zakar que significa “pensar, meditar, dar atenção, lembrar, relembrar, mencionar, declarar”. Novamente aqui o Eterno é chamado de IHVH Elohim! É dito ainda sobre eles serem “rebeldes” contra o IHVH. A palavra “rebeldes” vem do termo hebraico marad e significa “ser rebelde, revoltar-se”. O contexto é muito claro e demonstra que o povo de Israel é duro em si mesmo não se curvando facilmente, porém eles deveriam parar e meditar sobre as coisas que lhes aconteceram no deserto quando seus antepassados provocaram o seu Criador de tal forma que quase foram destruídos! Isso aconteceu por causa da revolta contra o IHVH que foi encontrada entre eles e isso foi o principal motivo para os acontecimentos trágicos ocorridos no deserto!

Moshe então lembra-os os fatos ocorridos: “Pois em Horebe provocastes à ira o IHVH, tanto que o IHVH se indignou contra vós para vos destruir. Subindo eu ao monte a receber as tábuas de pedra, as tábuas da aliança que o IHVH fizera convosco, então fiquei no monte quarenta dias e quarenta noites; pão não comi, e água não bebi; e o IHVH me deu as duas tábuas de pedra, escritas com o dedo de Elohim; e nelas estava escrito conforme a todas aquelas palavras que o IHVH tinha falado convosco no monte, do meio do fogo, no dia da assembléia. Sucedeu, pois, que ao fim dos quarenta dias e quarenta noites, o IHVH me deu as duas tábuas de pedra, as tábuas da aliança. E o IHVH me disse: Levanta-te, desce depressa daqui, porque o teu povo, que tiraste do Egito, já se tem corrompido; cedo se desviaram do caminho que eu lhes tinha ordenado; fizeram para si uma imagem de fundição. Falou-me ainda o IHVH, dizendo: Atentei para este povo, e eis que ele é povo obstinado; deixa-me que os destrua, e apague o seu nome de debaixo dos céus; e te faça a ti nação mais poderosa e mais numerosa do que esta. Então virei-me, e desci do monte; o qual ardia em fogo e as duas tábuas da aliança estavam em ambas as minhas mãos. E olhei, e eis que havíeis pecado contra o IHVH vosso Elohim; vós tínheis feito um bezerro de fundição; cedo vos desviastes do caminho que o IHVH vos ordenara. Então peguei das duas tábuas, e as arrojei das minhas mãos, e as quebrei diante dos vossos olhos. E me lancei perante o IHVH, como antes, quarenta dias, e quarenta noites; não comi pão e não bebi água, por causa de todo o vosso pecado que havíeis cometido, fazendo mal aos olhos do IHVH, para o provocar à ira. Porque temi por causa da ira e do furor, com que o IHVH tanto estava irado contra vós para vos destruir; porém ainda por esta vez o IHVH me ouviu. Também o IHVH se irou muito contra Aharon para o destruir; mas também orei por Aharon ao mesmo tempo. Porém eu tomei o vosso pecado, o bezerro que tínheis feito, e o queimei a fogo, e o pisei, moendo-o bem, até que se desfez em pó; e o seu pó lancei no ribeiro que descia do monte. Também em Taberá, e em Massá, e em Quibrote-Hataavá provocastes muito a ira do IHVH. Quando também o IHVH vos enviou de Cades-Barnéia, dizendo: Subi, e possuí a terra, que vos tenho dado: rebeldes fostes ao mandado do IHVH vosso Elohim, e não o crestes, e não obedecestes à sua voz. Rebeldes fostes contra o IHVH desde o dia em que vos conheci. E prostrei-me perante o IHVH; aqueles quarenta dias e quarenta noites estive prostrado, porquanto o IHVH dissera que vos queria destruir. E orei ao IHVH, dizendo: IHVH Elohim, não destruas o teu povo e a tua herança, que resgataste com a tua grandeza, que tiraste do Egito com mão forte. Lembra-te dos teus servos, Avraham, Itshaq, e Ia´aqov. Não atentes para a dureza deste povo, nem para a sua impiedade, nem para o seu pecado; para que o povo da terra donde nos tiraste não diga: Porquanto o IHVH não os pôde introduzir na terra de que lhes tinha falado, e porque os odiava, os tirou para matá-los no deserto; todavia são eles o teu povo e a tua herança, que tiraste com a tua grande força e com o teu braço estendido” (Dt 9:8-29). Alguns pontos importantes deste discurso precisam ser destacados:

  1. No verso 14 o Eterno intenta destruir Israel e fazer de Moshe uma nação mais poderosa do que eles. Ali a palavra “nação” vem do termo hebraico goi que significa “povo, nação gentílica”. Isso demonstra que já havia um plano traçado na Eternidade para que os gentios pudessem receber a revelação do Eterno de forma a reconhecerem o Senhorio do Eterno D-us de Israel!
  2. Na continuidade do relato, agora no verso 16, Moshe declara que o povo se havia desviado do IHVH D-us. Aqui a palavra “desviar” vem do termo hebraico hata´e significa “errar, sair do caminho, pecar, tornar-se culpado”. Já os termos que definem o Eterno vem da combinação IHVH Elohim! Fica claro que o pecado da idolatria fez com que Israel se tornasse culpado diante daquele que se revelara – e também demonstrara – ser o Criador de Israel!
  3. A reação de Moshe é comentada aqui, quando ele lança-se sobre seu rosto e implora ao Eterno que não puna a Israel por causa de seu pecado. A palavra “pecado” é o mesmo termo hebraico hata´e significa “errar, sair do caminho, pecar, tornar-se culpado”. Já a palavra que define o Eterno é IHVH, o que demonstra que os israelitas haveriam de receber conforme aquilo que haviam feito!
  4. No verso 23 o relato é sobre a ordem do Eterno em entrar na terra para possuí-la, porém o povo comportou-se de forma rebelde e desobediente. A palavra “rebeldes” vem do termo hebraico marâ que significa “ser rebelde, ser desobediente”; o sentido é provocar com desafio ou afronta. Esta “rebelião” foi dirigida contra IHVH Elohim e eles não creram naquilo que o Eterno lhes havia dito! A palavra “crer” vem do termo hebraico ´amam e significa “confirmar, sustentar; estabelecer-se, ser fiel, estar certo, crer em”. O que acontecera com Israel fora uma perda do foco, pois eles deixaram de confirmar aquilo que o Eterno havia lhes dito, não sendo fiéis às palavras do IHVH e isso os levou à rebeldia e a incredulidade!
  5. Por fim, no verso 26 temos o pedido de Moshe para que o povo não fosse destruído. Aqui o Eterno é chamado de Adonai IHVH e o povo de Israel é chamado de ´am, termo hebraico que significa “povo, nação”. Este termo é usado exclusivamente para referir-se ao povo de Israel. Percebemos que aqui o Eterno torna-se o IHVH, o dono ou possuidor de Israel, que é também a sua herança. A palavra “herança” vem do termo hebraico nachala e significa “herança, legado, possessão”. Este termo nos fala sobre um legado material, terreno. Isso indica que Israel seria para o Eterno o seu legado enquanto estivesse no planeta terra! É justamente por isso que Moshe intercede por eles de forma tão incisiva!

Agora temos o relato de Moshe recebendo do Eterno os dez mandamentos: “Naquele mesmo tempo me disse o IHVH: Alisa duas tábuas de pedra, como as primeiras, e sobe a mim ao monte, e faze-te uma arca de madeira; e naquelas tábuas escreverei as palavras que estavam nas primeiras tábuas, que quebraste, e as porás na arca. Assim, fiz uma arca de madeira de acácia, e alisei duas tábuas de pedra, como as primeiras; e subi ao monte com as duas tábuas na minha mão. Então escreveu nas tábuas, conforme à primeira escritura, os dez mandamentos, que o IHVH vos falara no dia da assembléia, no monte, do meio do fogo; e o IHVH mas deu a mim; e virei-me, e desci do monte, e pus as tábuas na arca que fizera; e ali estão, como o IHVH me ordenou. E partiram os filhos de Israel de Beerote-Bene-Jaacã a Moserá; ali faleceu Aharon, e ali foi sepultado, e Eleazar, seu filho, administrou o sacerdócio em seu lugar. Dali partiram a Gudgodá, e de Gudgodá a Jotbatá, terra de ribeiros de águas” (Dt 10:1-7). Os fatos interessantes no relato são que por duas vezes o Eterno dá as “dez palavras” (ou Dez mandamentos) a Moshe, e isso representa que os dez mandamentos não são somente para Israel, mas também para os gentios. O outro detalhe interessante é que Moshe faz uma arca e nela coloca as tábuas. Nós sabemos que a arca representa o homem, pois foi dentro dele que o Eterno colocou as suas palavras! O salmista diz assim: “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” (Sl 119:11).

Então temos também o relato que segue, agora sobre a tribo de Levi e a sua função dentro do povo de Israel. “No mesmo tempo o IHVH separou a tribo de Levi, para levar a arca da aliança do IHVH, para estar diante do IHVH, para o servir, e para abençoar em seu nome até ao dia de hoje. Por isso Levi não tem parte nem herança com seus irmãos; o IHVH é a sua herança, como o IHVH teu Elohim lhe tem falado” (Dt 10:8-9). A informação é que a tribo e Levi fora “separada” a fim de levar a “arca da aliança” e para estar diante do Eterno e para, em seu nome, abençoar ao povo de Israel. Quando falamos da “arca da aliança” estamos falando na realidade de um objeto visível que representaria a aliança feita entre Avraham e o Eterno. Aqui a palavra “aliança” vem do termo hebraico berith que significa “aliança ou pacto com derramamento de sangue”. Novamente a palavra que define o Eterno vem do termo hebraico IHVH. Os levitas serviriam ao IHVH e abençoariam ao povo em seu nome! A palavra “abençoar” vem do termo hebraico barak que significa “dar poder a alguém para ser próspero, bem-sucedido e fecundo em tudo aquilo que fizer”. Isso nos mostra que os levitas estariam encarregados de conduzir a arca – que representa a vida do homem – e eles deveriam então ministrar ao povo de Israel as palavras que liberariam o poder para que eles tivessem prosperidade, sucesso e fecundidade em nome daquele que se tornaria aquilo que eles precisassem! É também dito que os levitas não tem herança entre as tribos! A palavra “herança” vem do termo hebraico nachala e significa “herança, legado, possessão”. Este termo nos fala sobre um legado material, terreno. Ou seja, a tribo de Levi não teria bens materiais com que se preocupar, mas sim administraria aquilo que o Eterno estaria lhes dando e seria sustentada por seus irmãos que lhes trariam os dízimos e ofertas para que, através deles, os levitas pudessem tirar o seu sustento!

Em meio à toda esta argumentação surge então um pedido: “Agora, pois, ó Israel, que é que o IHVH teu Elohim pede de ti, senão que temas o IHVH teu Elohim, que andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao IHVH teu Elohim com todo o teu coração e com toda a tua alma, que guardes os mandamentos do IHVH, e os seus estatutos, que hoje te ordeno, para o teu bem? Eis que os céus e os céus dos céus são do IHVH teu Elohim, a terra e tudo o que nela há. Tão-somente o IHVH se agradou de teus pais para os amar; e a vós, descendência deles, escolheu, depois deles, de todos os povos como neste dia se vê. Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz. Pois o IHVH vosso Elohim é o Elohim dos deuses, e o IHVH dos senhores, o Elohim grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita recompensas” (Dt 10:12-17). O Eterno pede ao seu povo que o tema e que ande em seus caminhos e que eles o amem! É dito ao povo que circuncidem o prepúcio de seus corações e não endureçam a sua cerviz! A palavra “circuncidar” vem do termo hebraico mûl que significa “circuncidar, deixar-se circuncidar, ser cortado fora”. Já a palavra “prepúcio” vem do termo hebraico orlâ e significa “prepúcio, incircunciso”. Os israelitas deveriam ter também em seus corações um pacto com a vida! É este o significa da circuncisão e não seria suficiente este ato físico, mas seria também necessário que houvesse um pacto feito no coração humano!

Esta seção termina com as seguintes palavras: “Ao IHVH teu Elohim temerás; a ele servirás, e a ele te chegarás, e pelo seu nome jurarás. Ele é o teu louvor e o teu Elohim, que te fez estas grandes e terríveis coisas que os teus olhos têm visto. Com setenta almas teus pais desceram ao Egito; e agora o IHVH teu Elohim te pôs como as estrelas dos céus em multidão” (Dt 10:20-22). Moshe decolara que o eterno é o louvor de Israel e o seu D-us! Aqui a palavra “louvor” vem do termo hebraico tehillâ que significa “louvor, atos dignos de louvor”. Já a palavra que define o Eterno vem do termo hebraico Elohim que significa “D-us Criador”! Moshe demonstra que Israel deveria servir ao IHVH e somente o seu Criador seria digno de receber atos de louvor! Ninguém mais poderia ocupar esta posição nem mesmo receber tal tipo de homenagem, pois somente Elohim – que criara todo o universo – estaria em condições de receber de seu povo escolhido o louvor!

Na última parte de nosso texto temos o seguinte: “Mas a terra que passais a possuir é terra de montes e de vales; da chuva dos céus beberá as águas; terra de que o IHVH teu Elohim tem cuidado; os olhos do IHVH teu Elohim estão sobre ela continuamente, desde o princípio até ao fim do ano. E será que, se diligentemente obedecerdes a meus mandamentos que hoje vos ordeno, de amar ao IHVH vosso Elohim, e de o servir de todo o vosso coração e de toda a vossa alma, então darei a chuva da vossa terra a seu tempo, a temporã e a serôdia, para que recolhais o vosso grão, e o vosso mosto e o vosso azeite” (Dt 11:11-14). O relato sobre Canaã fala sobre uma terra com várias características e também fala sobre o Criador tendo cuidado desta terra! As palavras que definem o Eterno vem do termo hebraico IHVH Elohim! Já a palavra “cuidado” vem do termo hebraico darash e significa “procurar com cuidado, indagar, exigir”. Esta é a terra sobre a qual os olhos do Eterno estão durante todo o ano e enquanto Israel obedecesse aos mandamentos eles receberiam inclusive como “prêmio” pela sua obediência a estabilidade e a exatidão dos recursos naturais advindos de sol e chuva na medida necessária para eles! Novamente vemos que Aquele que se tornara o Criador de Israel estaria condicionando tais coisas à obediência de seu povo à sua Torah!

O Eterno ainda aconselha Israel dizendo: “Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma, e atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por frontais entre os vossos olhos. E ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te; e escreve-as nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas; para que se multipliquem os vossos dias e os dias de vossos filhos na terra que o IHVH jurou a vossos pais dar-lhes, como os dias dos céus sobre a terra” (Dt 11:18-21). O Eterno aconselha a Israel que ponha as suas palavras no coração e na sua alma. A palavra “palavras” vem do termo hebraico dabar que significa “falar, declarar, conversar, ordenar”. Já a palavra “alma” vem do termo hebraico nepesh e significa “vida, alma, criatura, pessoa, mente”. Os israelitas deveriam colocar em seus sentimentos justamente aquilo que eles haviam “conversado” com o IHVH! Estas palavras fazem parte do diálogo travado entre o povo de Israel e o IHVH! E é justamente isso que o povo teria de colocar como um “guarda” em seus corações e estas mesmas palavras deveriam também ser atadas às suas mãos e na fronte, entre os olhos. Este mandamento transformou-se num objeto chamado tefilin, que é uma pequena caixinha de couro contendo estas mesmas palavras dentro dela. Estas palavras deveriam ser ensinadas pelos israelitas a seus filhos em todo o tempo. A palavra ensinar vem do termo hebraico lamad que significa ensinar. Este termo traz a idéia de treinar, bem como de educar. É impressionante como o Eterno traz ao seu povo instruções claras para que eles não deixem de cumprir tudo aquilo que está escrito em sua Torah! Aqui, o cumprimento deste mandamento faria com que o povo de Israel se multiplicasse na terra!

A Parasha termina com a promessa da terra e com as suas fronteiras prefixadas pelo IHVH. “Porque se diligentemente guardardes todos estes mandamentos, que vos ordeno para os guardardes, amando ao IHVH vosso Elohim, andando em todos os seus caminhos, e a ele vos achegardes, também o IHVH, de diante de vós, lançará fora todas estas nações, e possuireis nações maiores e mais poderosas do que vós. Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé será vosso; desde o deserto, e desde o Líbano, desde o rio, o rio Eufrates, até ao mar ocidental, será o vosso termo. Ninguém resistirá diante de vós; o IHVH vosso Elohim porá sobre toda a terra, que pisardes, o vosso terror e o temor de vós, como já vos tem dito” (Dt 11:22-25). Esta promessa cumpriu-se quase que totalmente, pois não houve uma perfeita obediência da parte do povo de Israel e justamente por isso o Eterno nunca pode dar-lhes a totalidade da terra que Ele mesmo prometera aos patriarcas.

Que isso nos ajude a termos persistência em obedecermos ao IHVH de tal forma que Ele possa cumprir em nossas vidas tudo aquilo que nos prometeu!

Baruch Há Shem!

Mário Moreno