Mário Moreno/ dezembro 11, 2017/ Parasha da semana

Mikketz

(No fim)

Gn 41.1–44.17 / I Rs 3:15–4:1 / Mt 27:15-46

 

Nesta Porção da Torah estaremos falando sobre a grande revelação dada a Faraó, rei do Egito, quanto aos sete anos subsequentes de fome. Esta revelação – que veio através de um sonho – fez com que o Faraó se perturbasse, pois não havia homem capaz de interpretar este sonho, até que aparece Iosef, o hebreu! Através de Iosef o Eterno dá a Faraó a solução deste grave problema e o constitui vice-rei do Egito. Veremos ainda como os sonhos de Iosef cumprem-se de forma plena e detalhada!

Ao descrever os talos saudáveis no “sonho do trigo” do faraó, diz a Torá: “E vejam, havia sete sadias e boas espigas de grão crescendo num único talo” (Bereshit 41:5)

É interessante notar que a respeito das magras espigas de grão, a Torá não menciona que cresciam num único talo. Não parece provável que esta diferença fosse inconsequente, pois sabemos que cada detalhe mencionado na Torá é importante e não deve ser deixado de lado. Assim, permanece a dúvida: por que a Torá descreve as boas espigas como crescendo em um só talo e omite este detalhe a respeito das espigas doentes?

O Otzar Chaim propõe uma solução engenhosa para esta discrepância. Explica que podemos, de fato, aprender uma importante lição desta diferença na descrição: que aquilo que é bom e significativo tende a se fundir e ficar junto. Entretanto, aquilo que é mau e sem propósito não pode tolerar a harmonia e a concordância. Por esta razão, as espigas boas e saudáveis cresciam em um único talo. Devido à boa e pura disposição das espigas, era

natural que se unissem para crescer em um só talo. Por outro lado, as espigas mirradas e doentes, naturalmente mostrando desarmonia, “escolheram” crescer em talos diferentes, porque na verdade, qualquer união do mal é apenas para o avanço das necessidades e desejos individuais.

É interessante notar que, quando alguém pesquisa o passado dentro de alguns milhares de anos da história judaica, percebe que esta mensagem é especialmente verdadeira. O povo judeu jamais representou mais que uma ínfima fração da população mundial. Apesar disso, o povo judeu permaneceu, tem sobrevivido, e continua a ser ouvido neste mundo. Como isto é possível?

A lógica diria que o povo judeu, com todas as provações e sofrimentos destes anos, deveria ter desaparecido há muito. Mais especificamente, encontramos na história judaica casos de pequenos grupos de judeus enfrentando inimigos maiores e mais fortes. Mesmo assim, o povo sempre emerge vitorioso.

Poucos judeus derrotando um numeroso inimigo pode ser encontrado na história de Chanucá. Um pequeno número de soldados judeus levantou-se em rebelião contra o poderoso exército grego e conseguiu expulsa-los da Judéia. Este feito milagroso, provavelmente mais que qualquer outro evento, serve como um microcosmo da história judaica. Onde, então, está o segredo de nosso sucesso?

Poderia parecer que a resposta se encontra nos conceitos acima mencionados.

Quando um número de indivíduos se reúne para fazer o bem, naturalmente formarão um grupo coeso. Na história de Chanucá, a missão de restaurar a ordem e a paz no Templo Sagrado e na terra da Judéia levou à formação de um grupo unido. E como diz um velho adágio, “cinco palitos unidos são mais fortes que dez palitos separados”.

Os Macabeus, reunidos com o propósito do bem, puderam derrotar o exército grego que era composto simplesmente por indivíduos, cada um procurando realizar seus próprios desejos. Ocorre o mesmo com a nação judaica como um todo. Quando empreendemos uma missão sagrada, instintivamente formamos uma força invencível, que nos possibilita sobrepujar nossos adversários. Este é o segredo de nosso sucesso.

Não é minha intenção diminuir a natureza miraculosa da vitória dos Macabeus.

Não há dúvida de que a derrota dos gregos não teria acontecido sem a intervenção Divina. Estou apenas propondo o meio através do qual ocorreu o milagre. Por isso, entre as outras lições de Chanucá, podemos também extrair este importante ensinamento da Festa das Luzes.

Ao acendermos a Menorá e avistarmos todas as velas acesas – e percebermos, que embora cada vela individual emite apenas um pequeno brilho, todas as velas juntas formam uma espetacular exibição de fogo e luz – podemos então lembrar a mensagem de Chanucá: a sobrevivência do povo judeu.

Nosso relato começa com o Faraó tendo um sonho que lhe deixa aterrorizado: “E aconteceu que, ao fim de dois anos inteiros, Faraó sonhou, e eis que estava em pé junto ao rio. E eis que subiam do rio sete vacas, formosas à vista e gordas de carne, e pastavam no prado. E eis que subiam do rio após elas outras sete vacas, feias à vista e magras de carne; e paravam junto às outras vacas na praia do rio. E as vacas feias à vista e magras de carne, comiam as sete vacas formosas à vista e gordas. Então acordou Faraó. Depois dormiu e sonhou outra vez, e eis que brotavam de um mesmo pé sete espigas cheias e boas. E eis que sete espigas miúdas, e queimadas do vento oriental, brotavam após elas. E as espigas miúdas devoravam as sete espigas grandes e cheias. Então acordou Faraó, e eis que era um sonho. E aconteceu que pela manhã o seu espírito perturbou-se, e enviou e chamou todos os adivinhadores do Egito, e todos os seus sábios; e Faraó contou-lhes os seus sonhos, mas ninguém havia que lhos interpretasse” (Gn 41:1-8). A seqüência dos fatos é impressionante: as vacas e espigas demonstrando a forma e o tempo exato daquilo que seria feito pelo Eterno e que assolaria todo o mundo conhecido de então! A reação de Faraó é aquela que chamaríamos de “previsível”: chamem aos meus sábios para desvendar esse negócio (sonho)! A Escritura nos afirma no verso 8 que o espírito de Faraó perturbou-se! A palavra espírito em hebraico é ruah e significa vento, espírito, sopro. A perturbação de Faraó vem do mais íntimo de seu ser! O que acontecia com aquele homem era que a sua parte espiritual estava profundamente aterrorizada com o sonho que ele havia tido! Isso não era algo simples ou tudo como “normal”, pois o Faraó chegou ao ponto de perturbar-se profundamente somente por causa de um sonho! D-us estava nisso fazendo com que o Faraó fosse profundamente atingido em seu espírito a fim de exaltar seu próprio nome e também para dar a Iosef aquilo que lhe era de direito – conforme promessa feita à ele pelo próprio D-us – e isso em breve aconteceria! Então Faraó envia e manda chamar seus adivinhadores para que pudessem interpretar seus sonhos. A palavra “enviar” em hebraico é pa’am e significa “empurrar, impelir”. Outra coisa é que a palavra “adivinhadores” em hebraico é hartem e significa “mago, adivinho, escriba”. Ela descreve algum tipo de ocultista. Sua função seria a de interpretar os sonhos de Faraó. A palavra “interpretar” é patar e esta palavra é empregada somente para a interpretação de sonhos! Isso significa que as ordens de Faraó foram veementes, pois ele ordena que seus servos tragam imediatamente seus ocultistas a fim de interpretarem seus sonhos! Notamos, pelos termos aqui utilizados, que Faraó estava realmente muito perturbado com a noite anterior que ele havia passado! Somente um problema havia: ninguém conseguiu interpretar esses sonhos de Faraó!

Como a origem destes sonhos era de D-us, somente Ele poderia dar a interpretação destes sonhos! E os ocultistas de Faraó não conheciam o D-us dos hebreus e por isso não poderiam receber o privilégio de os interpretarem!

Ao ver e ouvir o que acontecia, um homem lembra-se de seu passado: “Então falou o copeiro-mor a Faraó, dizendo: Das minhas ofensas me lembro hoje: estando Faraó muito indignado contra os seus servos, e pondo-me sob prisão na casa do capitão da guarda, a mim e ao padeiro-mor, então tivemos um sonho na mesma noite, eu e ele; sonhamos, cada um conforme a interpretação do seu sonho. E estava ali conosco um jovem hebreu, servo do capitão da guarda, e contamos-lhe os nossos sonhos e ele no-los interpretou, a cada um conforme o seu sonho” (Gn 41:9-12). O relato de suas lembranças é muito preciso: ele lembrou-se de um homem que era hebreu. A palavra “hebreu” em hebraico é ibri e significa “hebreu”. Esta palavra era usada para não israelitas e sua conotação pode ser também para designar “alguém que não é livre em solo livre”, por não ser natural da terra. Iosef encontrava-se no Egito, não sendo, porém, natural do Egito! Ele era hebreu, ou seja, “alguém que vem dalém”, “alguém que vem do outro lado”. E havia um outro detalhe: a sua condição era de um escravo – servo – do capitão da guarda. A palavra usada para designar a condição de Iosef em hebraico é ebed e significa “escravo, servo”. A palavra vem da mesma raiz que abad, que significa trabalhar, servir, e tem o sentido de “adorar (obedecer) à D-us através do trabalho”. Isso demonstra-nos que a condição de Iosef naquela prisão tinha um propósito de adoração – em obediência – às determinações do Eterno! Parece muito difícil de acreditar que isso possa acontecer, mas é um fato: Iosef estava preso e à serviço de pessoas ímpias com o objetivo de glorificar e obedecer ao Eterno!

Isso fez com que Iosef agora fosse lembrado, pois certamente naquele homem havia algo de especial para que lhe fossem dadas as interpretações dos sonhos daqueles homens!

        Quando Faraó escuta este relato de seu copeiro, sua reação é imediata: ele quer conhecer Iosef, o homem em quem há algo de tão extraordinário! “Então mandou Faraó chamar a Iosef, e o fizeram sair logo do cárcere; e barbeou-se e mudou as suas roupas e apresentou-se a Faraó” (Gn 41:14). Faraó mandou chamar Iosef. A palavra “mandar” em hebraico é shalah e significa “enviar, mandar embora, ir”. Novamente fica claro aqui a urgência de Faraó em resolver esta questão! A Iosef é dada a oportunidade de apresentar-se diante de Faraó a fim de que ele pelo menos tente interpretar os sonhos de Faraó! Quando eles se avistam – Faraó e Iosef – o D-us Eterno honra à Iosef e lhe dá o coração de Faraó, pois Iosef falou com sabedoria e prudência, em obediência àquilo que o Eterno estava lhe dando naquele momento! “E Faraó disse a Iosef: Eu tive um sonho, e ninguém há que o interprete; mas de ti ouvi dizer que quando ouves um sonho o interpretas. E respondeu Iosef a Faraó, dizendo: Isso não está em mim; D-us dará resposta de paz a Faraó” (Gn 41:15-16). A palavra de Iosef impacta a Faraó imediatamente: a palavra “responder” em hebraico é ‘anâ e significa “responder, corresponder, testemunhar, falar”. Aquilo que Iosef estaria comunicando a Faraó seria algo que primeiro lhe seria ministrado pelo Altíssimo! E isso no seu devido tempo. A frase “no devido tempo” em hebraico é ‘et ‘itti e significa “no devido tempo, prontamente”. Iosef tinha uma profunda convicção de que o Eterno haveria de responder-lhe de forma precisa e imediata naquilo que lhe era tão importante! Iosef disse-lhe que a resposta de D-us lhe seria de paz. A palavra que define o Eterno aqui é Elohim e esta é a designação para o “D-us Criador”; a palavra “paz” aqui é shalom e significa “paz, prosperidade, bem, saúde, inteireza, segurança”. Iosef diz a Faraó que o próprio Criador do Universo lhe daria a resposta e que esta resposta seria-lhe algo que acrescentaria à ele paz, prosperidade, segurança, etc… Iosef bem conhecia ao D-us que ele servia, por isso ele foi tão seguro em sua afirmação!

Após o relato de Faraó à Iosef sobre seu sonho, vem então a interpretação de Iosef: “Então disse Iosef a Faraó: O sonho de Faraó é um só; o que D-us há de fazer, mostrou-o a Faraó. As sete vacas formosas são sete anos, as sete espigas formosas também são sete anos, o sonho é um só. E as sete vacas feias à vista e magras, que subiam depois delas, são sete anos, e as sete espigas miúdas e queimadas do vento oriental, serão sete anos de fome. Esta é a palavra que tenho dito a Faraó; o que D-us há de fazer, mostrou-o a Faraó” (Gn 41:25-28). Iosef afirma a Faraó que seu sonho é um só. Em hebraico, é echad que significa “único, uma só unidade”. Iosef diz a Faraó que Elohim – o Criador – haveria de fazer. A palavra “fazer” em hebraico é asâ, que significa “fazer, fabricar, realizar”. Faraó saberia agora quais seriam as realizações do Eterno e que atingiriam a terra do Egito e consequentemente também o seu povo!

A palavra dita a Faraó por Iosef foi tão densa e equilibrada que impressionou grandemente à Faraó e aos seus servos. Iosef além de interpretar os sonhos de Faraó ainda dá a eles uma possível solução para o problema que adviria após os “tempos de fartura”. A Iosef é dada, de forma completa e plena, toda a solução para o grave problema e também ser-lhe-ia dado o privilégio de executar o plano de D-us para si mesmo e para o povo do Egito! O Eterno coloca um servo seu à serviço – e como o “braço direito” – do Faraó a fim de realizar seus projetos naquela terra estranha e no meio de um povo que não O conhecia!

E disse Faraó a seus servos: Acharíamos um homem como este em quem haja o espírito de Elohim?” (Gn 41:38). As palavras de Faraó ecoam pelo seu palácio e praticamente selam o destino de Iosef! Faraó pergunta a seus servos – em hebraico ebed e significa “escravo, servo”. A palavra vem da mesma raiz que abad, que significa trabalhar, servir, e tem o sentido de “adorar (obedecer) à D-us através do trabalho” –quem eles poderiam achar que tivesse em si mesmo o espírito de D-us? Quando ele faz esta declaração ele está falando sobre ruach Elohim – o Espírito do Criador. É interessante notarmos que o próprio rei do Egito reconhece que em Iosef – e não em seus adivinhos ou magos – está o Espírito do D-us Criador e consequentemente somente ele é teria sido capaz de dar-lhes a solução para aquilo que estavam procurando!

Agora Faraó dá seu veredicto final: “Tu estarás sobre a minha casa, e por tua boca se governará todo o meu povo, somente no trono eu serei maior que tu. Disse mais Faraó a Iosef: Vês aqui te tenho posto sobre toda a terra do Egito. E tirou Faraó o anel da sua mão, e o pôs na mão de Iosef, e o fez vestir de roupas de linho fino, e pôs um colar de ouro no seu pescoço. E o fez subir no segundo carro que tinha, e clamavam diante dele: Ajoelhai. Assim o pôs sobre toda a terra do Egito. E disse Faraó a Iosef: Eu sou Faraó; porém sem ti ninguém levantará a sua mão ou o seu pé em toda a terra do Egito. E Faraó chamou a Iosef de Zafenate-Panéia, e deu-lhe por mulher a Azenate, filha de Potífera, sacerdote de Om; e saiu Iosef por toda a terra do Egito” (Gn 41:40-45). Agora Faraó dirige-se à Iosef não como a um escravo ou um bandido qualquer, mas com todo o respeito que o Eterno, em poucos minutos creditou à Iosef por sua obediência em todo o seu proceder. Faraó percebeu que ele estava diante de um homem diferente; ali estava um servo do D-us Eterno em quem ele certamente poderia confiar!

Como, em tão pouco tempo, D-us havia mudado a situação de Iosef! A pouco ele era um presidiário; agora já era vice-rei do Egito! A vida de Iosef estava tendo uma tremenda reviravolta, e isso aconteceu só por um motivo: ele foi obediente ao Eterno e nunca duvidou das promessas que lhe tinham sido feitas por D-us! Faraó dá à Iosef a autoridade sobre a terra do Egito para que ele proceda conforme lhe aprouver. Não nos esqueçamos de que essa autoridade já havia sido conferida à Iosef na eternidade. Agora chegara o momento dessa autoridade alcançar a Iosef e manifestar-se em sua vida! O D-us de Iosef ainda vivia! E agora chegara o tempo de seus caminhos manifestarem-se à toda a humanidade através de Iosef! Quantas vezes nós somos levados à situações que nos oprimem e até nos constrangem. Isso acontece porque o Eterno precisa provar nossos corações a fim de ter certeza de que nós continuaremos a servi-lo independente daquilo que aconteça conosco ou ao nosso redor! Independente de qualquer coisa que aconteça, nós continuaremos a crer nas promessas do Eterno e jamais deixaremos de sonhar os seus sonhos e de abrigar em nossos corações a fé de que Ele intervirá na história – não só na nossa, mas também na história da humanidade – e manifestar-se-à no momento exato a fim de cumprir os Seus desejos e propósitos em e através de nossas vidas!

Outra coisa que deveremos considerar é que a confiança de Faraó foi tão grande para com Iosef que ele até mudou-lhe o nome: de agora em diante ele se chamaria Zafenate-Panéia, que significa “Salvador do mundo”! Faraó vê a dimensão daquilo que seria feito por Iosef e ele mesmo profetiza que Iosef seria grande no Egito! Tudo isso aconteceu quando Iosef era ainda jovem: ele tinha apenas trinta anos! É interessante notarmos que aos trinta anos o homem judeu é considerado maduro e pronto para exercer seu ministério! Foi justamente nesta época que Iosef foi elevado ao posto de vice-rei do Egito! Agora ele estava pronto para cumprir o seu chamado; havia em seu corpo físico, na sua alma e em seu espírito o equilíbrio e a maturidade necessários para que o Eterno pudesse utilizar-se de sua vida a fim de mudar os rumos da história da humanidade!

Calcule a alegria e satisfação de Iosef pela chegada deste momento em sua vida! Ele certamente sonhara com isso – será? – e por isso esperara por tanto tempo que quando isso acontece ele quase não acredita! E o inferno deve ter trabalhado muito para que Iosef não acreditasse na veracidade das promessas do Altíssimo para ele! Ele certamente teria sido levado à pensar em muitos momentos que o D-us de seus pais o havia abandonado! De que lhe adiantaria tamanha fidelidade e temor, se nada de mais estava acontecendo? Os anos se passaram e nada acontecia, mas num dado momento, finalmente o Eterno se manifesta e diz: “Meu filho, chegou a sua hora!” Agora, nem mesmo os demônios mais poderosos do inferno poderiam mudar a ordem que havia sido dada no céu! Iosef receberia o que lhe fora prometido!

Através da administração de Iosef houveram grandes colheitas no Egito, além de fartura, que logo se transformaria em prosperidade para Faraó. “E nos sete anos de fartura a terra produziu abundantemente. E ele ajuntou todo o mantimento dos sete anos, que houve na terra do Egito; e guardou o mantimento nas cidades, pondo nas mesmas o mantimento do campo que estava ao redor de cada cidade. Assim ajuntou Iosef muitíssimo trigo, como a areia do mar, até que cessou de contar; porquanto não havia numeração” (Gn 41:47-49). Ficou evidente para Faraó e os seus súditos que a decisão tomada por Faraó foi a mais correta possível: tudo o que Iosef fizera – até agora – tinha produzido resultados extraordinários! Eram as mãos de D-us guiando as mãos de Iosef a fim de levá-lo ao sucesso!

Foi justamente no Egito que aconteceu com Iosef aquilo que ele certamente muito desejara: o nascimento de seus filhos! O Eterno dá a Iosef dois filhos que refletem o seu estado interior. “E nasceram a Iosef dois filhos (antes que viesse um ano de fome), que lhe deu Azenate, filha de Potífera, sacerdote de Om. E chamou Iosef ao primogênito Manassés, porque disse: D-us me fez esquecer de todo o meu trabalho, e de toda a casa de meu pai. E ao segundo chamou Efraim; porque disse: D-us me fez crescer na terra da minha aflição” (Gn 41:50-52). Através do nascimento destas duas crianças algo fica muito claro: Iosef estava passando por um processo de cura de sua alma e também de consolidação de sua fé no D-us de seus pais! O primeiro filho recebe o nome de Manassés, que em hebraico significa “que me faz esquecer”. Todas as lembranças e recordações são plenamente “esquecíveis” até o momento em que nós precisemos que elas sejam curadas. Em Manassés Iosef acreditava estar “esquecendo” das coisas que lhe haviam ocorrido no passado! Logo adiante veremos que isso não era tão verídico quanto Iosef imaginava ao dar esse nome ao menino. Outro aspecto é que Iosef havia vencido em terra estranha! Isso seria motivo de grande orgulho para qualquer homem e Iosef externa esse fato chamando seu outro filho de “Efraim”, que em hebraico significa “duplamente frutífero”. Certamente Iosef quis dizer que ele havia recebido uma “porção dobrada” das bênçãos do Eterno sobre sua vida! No final deste verso Iosef fala que o Eterno o fez crescer na terra de sua aflição. A palavra “aflição” em hebraico é oni, e significa “aflição, pobreza”. Essa palavra indica o estado de sofrimento ou castigo resultante da aflição.

Iosef nos ensina que a nossa vitória virá justamente na terra onde somos afligidos! É justamente ali que o Eterno quer nos dar a plena afirmação e a vitória total para que aqueles que compartilharam nosso sofrimento e pesar venham a ver e a crer que o Eterno é poderoso para reverter qualquer situação, por mais terrível e desesperadora que pareça! O fato de Iosef Ter tido filhos na terra do Egito simboliza a nação de Israel tendo seus filhos em terras estranhas e eles ali frutificando e sendo como um padrão para os demais: “Tu, pois, ó filho do homem, toma um pedaço de madeira, e escreve nele: Por Judá e pelos filhos de Israel, seus companheiros. E toma outro pedaço de madeira, e escreve nele: Por Iosef, vara de Efraim, e por toda a casa de Israel, seus companheiros” (Ez 37:16).

O Eterno colocou Iosef numa posição tão elevada que o mundo conhecido de então tinha de vir até Iosef para comprar dele os víveres necessários para a produção de pão, e consequentemente aquilo que garantiria a sua existência até que o período de fome acabasse!

A notícia sobre a fartura no Egito chegou até Canaã – terra onde moravam os irmãos e o pai de Iosef – e são justamente eles que novamente aparecem na vida de Iosef! Novamente o Eterno fará com que os sonhos de Iosef se realizem; o sonho torna-se realidade na vida de Iosef! “Vendo então Ia´aqov que havia mantimento no Egito, disse a seus filhos: Por que estais olhando uns para os outros? Disse mais: Eis que tenho ouvido que há mantimentos no Egito; descei para lá, e comprai-nos dali, para que vivamos e não morramos. Então desceram os dez irmãos de Iosef, para comprarem trigo no Egito. A Benjamim, porém, irmão de Iosef, não enviou Ia´aqov com os seus irmãos, porque dizia: Para que lhe não suceda, porventura, algum desastre. Assim, entre os que iam lá foram os filhos de Israel para comprar, porque havia fome na terra de Canaã” (Gn 42:1-5). Agora os irmãos de Iosef irão se defrontar com seu irmão Iosef – agora conhecido como Zafenate Panéia e neste encontro irá acontecer algo extraordinário: seus irmãos irão inclinar-se diante dele – conforme ele havia sonhado à muitos anos atrás! “Iosef, pois, era o governador daquela terra; ele vendia a todo o povo da terra; e os irmãos de Iosef chegaram e inclinaram-se a ele, com o rosto em terra” (Gn 42:6). A Escritura nos informa que Iosef era o shallit, que significa “dominador, autoridade”. A forma árabe da palavra deu origem ao título “sultão”. Os irmãos de Iosef fizeram então algo inesperado: eles inclinaram-se. A palavra “inclinar-se” em hebraico é shahah e tem o sentido de “ser abatido”, “ser humilhado” e “ter a arrogância extraída à força”. Eles nada sabiam sobre aquele homem à quem se inclinavam e agora o Eterno estava realmente extraindo sua arrogância à força! Como são belos os caminhos que o Eterno usa para fazer cumprir sua Palavra! Os arrogantes irmãos de Iosef que o desprezaram tanto a ponto de venderem-no à um bando de mercadores, agora se inclinam diante do homem a quem desprezaram! Certamente faziam isso de forma involuntária, não sabendo que Zafenate Panéia era o mesmo Iosef a quem venderam aos mercadores árabes!

Quando Iosef os vê, algo acontece dentro dele. “E Iosef, vendo os seus irmãos, conheceu-os; porém mostrou-se estranho para com eles, e falou-lhes asperamente, e disse-lhes: De onde vindes? E eles disseram: Da terra de Canaã, para comprarmos mantimento” (Gn 42:7). A palavra “conhecer” em hebraico é nakar e significa “reconhecer, estar familiarizado, conhecer, discernir”. É incrível como a memória de Iosef pode ser preservada a tal ponto que quando ele olha para seus irmãos imediatamente os reconhece! Houve nele o discernimento sobre aqueles homens e a familiaridade foi tamanha que o reconhecimento foi realmente imediato! Mas Iosef agora os trata de forma a não dar-se a conhecer à eles. Certamente eles não haviam mudado tanto e por isso foram reconhecidos por Iosef; já com Iosef as coisas tinham sido diferentes e ele havia sido transformado num príncipe do Egito, o que fez com que seus irmãos não o reconhecessem!

Na mente de Iosef foram repassados em poucos instantes os fatos que o relacionavam àqueles homens. “Então Iosef lembrou-se dos sonhos que havia tido deles e disse-lhes: Vós sois espias, e viestes para ver a nudez da terra” (Gn 42:9). A palavra “lembrar-se” em hebraico é zakar e significa “pensar, meditar, dar atenção, lembrar, relembrar, recordar”. Certamente Iosef agora se lembra não somente dos fatos mas também das promessas que o Eterno lhe havia feito através de seus sonhos. Ele constata que o que havia sonhado há anos passados agora torna-se a sua realidade diante de seus olhos. O Eterno fê-lo recordar-se de tudo! Agora não existe mais o sonho, há somente a visão da realidade diante de si e deforma inacreditável! Iosef continua fazendo seu papel a fim de não ser reconhecido pelos irmãos e ele lhes diz que são espiões para certamente “medir” a sua reação ante a acusação.

E eles lhe disseram: Não, senhor meu; mas teus servos vieram comprar mantimento. Todos nós somos filhos de um mesmo homem; somos homens de retidão; os teus servos não são espias. E ele lhes disse: Não; antes viestes para ver a nudez da terra. E eles disseram: Nós, teus servos, somos doze irmãos, filhos de um homem na terra de Canaã; e eis que o mais novo está com nosso pai hoje; mas um já não existe. Então lhes disse Iosef: Isso é o que vos tenho dito, sois espias; nisto sereis provados; pela vida de Faraó, não saireis daqui senão quando vosso irmão mais novo vier aqui. Enviai um dentre vós, que traga vosso irmão, mas vós ficareis presos, e vossas palavras sejam provadas, se há verdade convosco; e se não, pela vida de Faraó, vós sois espias. E pô-los juntos, em prisão, três dias” (Gn 42:10-17). Aqui temos um diálogo entre Iosef e seus irmãos: de um lado a acusação de serem espiões; de outro a defesa sendo elaborada através da história da família. Eles dizem a Iosef que são de uma família de doze irmãos – eles estão em dez no Egito – e que o irmão mais novo está com seu pai e um deles já não existe! Mal sabem eles que este que eles dizem que não existe mais está diante deles! A reação de Iosef é mandar prendê-los como espiões! Ficaram presos por três dias para que Iosef pudesse pensar naquilo que fria com eles.

No terceiro dia eles foram soltos e Iosef faz-lhes uma proposta: “E ao terceiro dia disse-lhes Iosef: Fazei isso, e vivereis; porque eu temo a D-us. Se sois homens de retidão, que fique um de vossos irmãos preso na casa de vossa prisão; e vós ide, levai mantimento para a fome de vossa casa, e trazei-me o vosso irmão mais novo, e serão verificadas vossas palavras, e não morrereis. E eles assim fizeram. Então disseram uns aos outros: Na verdade, somos culpados acerca de nosso irmão, pois vimos a angústia da sua alma, quando nos rogava; nós porém não ouvimos, por isso vem sobre nós esta angústia” (Gn 42:18-21). Iosef diz-lhes temer à D-us. Aqui ele usa a palavra yare’ que significa “temer, reverenciar, honrar, respeitar” em conexão com outra palavra hebraica que é Elohim! Mas parece que seus irmãos não entenderam aquilo que ele dissera e nem mesmo acharam isso estranho! Quando um egípcio diria que reverencia, honra, respeita ao Criador dos Céus e da Terra? Nunca! Mas isso passou desapercebido por eles, vindo então sobre todos eles um sentimento de culpa por aquilo que tinham feito com Iosef! Em sua proposta Iosef ficaria com um deles até que o irmão mais novo voltasse com eles a fim de ser comprovada a veracidade daquilo que diziam! Quando eles se declararam “culpados” queriam realmente dizer que eram asham que em hebraico significa “ficar desolado, ser culpado, reconhecer a ofensa, transgredir”. Eles agora reconhecem o peso daquilo que, anos atrás haviam feito contra Iosef; dizem ainda que viram a angústia de sua alma. A palavra “alma” em hebraico é nephesh e significa “alma, vida, pessoa”. A palavra nos fala sobre aquilo que está ligado à alma, os sentimentos de alguém.

Agora, quando os irmãos de Iosef estão em dificuldades eles então lembram-se de suas transgressões e tem a consciência de que esta é a retribuição do Eterno por seus pecados contra seu irmão, pois no momento em que a angústia veio sobre a alma de Iosef, ferindo profundamente seus sentimentos e marcando para sempre sua vida, eles nem sequer atentaram para o que estava acontecendo. Muitas vezes nós somos participantes de determinados acontecimentos que nos marcam profundamente em nossos sentimentos, alterando até mesmo nossos hábitos e costumes de tão profundas são as marcas! A reação de Iosef, após tantos anos de ausência foi tremenda, pois ele poderia ter tido um “acesso de ira” e naquele momento poderia ter se vingado de seus irmãos, mas não foi isso que ele fez! Após ouvir aquilo que fora dito por seus irmãos acerca dele, sua reação é imediata: “E retirou-se deles e chorou. Depois tornou a eles, e falou-lhes, e tomou a Simeão dentre eles, e amarrou-o perante os seus olhos” (Gn 42:24). Iosef sai da presença de seus irmãos para chorar. A palavra usada aqui no hebraico é baká e significa “chorar, lamentar, derramar lágrimas”. Tem o sentido de “chorar por motivo de alegria ou tristeza, o que inclui remorso, lamento, queixa e arrependimento”. Iosef chora por não poder – ainda – revelar-se à seus irmãos e também por causa de suas lembranças que o assolavam e certamente pressionavam sua alma a fim de que ele tomasse alguma atitude!

Agora, os irmãos de Iosef retornam para Canaã e no caminho tem uma surpresa: dentro dos sacos que continham o trigo que haviam comprado estava junto o dinheiro com o qual eles pagaram o trigo! Quando eles fazem esta descoberta, temem muito e se perguntam: o Que o Criador nos está preparando?

Quando chegam à sua casa eles imediatamente reúnem-se com seu pai a fim de explicar-lhe o que ocorrera no Egito. Ia´aqov fica muito triste com as novas trazidas por seus filhos e quando lhe é dito que eles precisam levar a Benjamim para que Simeão seja liberto, então Ia´aqov entra em pânico! “Ele porém disse: Não descerá meu filho convosco; porquanto o seu irmão é morto, e só ele ficou. Se lhe suceder algum desastre no caminho por onde fordes, fareis descer minhas cãs com tristeza à sepultura” (Gn 42:38). A reação de Ia´aqov já era esperada: ele nega-se a enviar seu filho mais novo com os outros, pois dizia que eles o fariam descer à sepultura em sua velhice com tristeza. A palavra traduzida por “cãs” é sêbâ e significa “velhice”. Quando Ia´aqov fala sobre a tristeza a palavra usada aqui é yagon e significa “lamento, tristeza, aflição”. O sentido básico da palavra é o de uma aflição mental resultante do sofrimento. Ia´aqov temia que acontecesse algo com Benjamim e isso viesse a lhe acrescentar um tipo de sofrimento que não seria esquecido jamais e assim ele terminaria seus dias indo para o sheol, que em hebraico é a designação para “mundo dos mortos”.

Novamente, o Eterno faz com que a situação do momento obrigue o homem a caminhar em direção aos seus propósitos: a fome agora obriga aos irmãos de Iosef a retornarem ao Egito! “E a fome era gravíssima na terra” (Gn 43:1). A palavra “gravíssima” em hebraico é kabad e significa “ser pesado, duro, pesaroso, glorioso, grande”. O que estava acontecendo com a terra era simplesmente o cumprimento dos sonhos de Faraó. A fome era pesada – insuportável – dura, trazendo pesar à todos a quem atingia, pois ela estava mostrando-lhes a sua “glória”!

Ia´aqov então ordena aos seus filhos que desçam ao Egito e comprem mais mantimentos para todos. Porém Judá interpela o pai e lhe explica que não é possível voltarem ao Egito sem a companhia de seu irmão mais novo – Benjamim – pois se assim o fizerem certamente haverão de morrer, pois eles haviam dito a Iosef que o levariam a fim de provarem a sua inocência e também para libertarem Simeão!

Finalmente Ia´aqov concorda com a viagem e então envia para Iosef alguns “presentes”: “Então disse-lhes Israel, seu pai: Pois que assim é, fazei isso; tomai do mais precioso desta terra em vossos vasos, e levai ao homem um presente: um pouco do bálsamo e um pouco de mel, especiarias e mirra, terebinto e amêndoas” (Gn 43:11). Ia´aqov pensou que, enviando estes presentes para Iosef eles seriam melhor recebidos por ele e poderiam desta vez Ter sucesso em sua longa mas necessária viagem ao Egito!

Cada um dos presentes que Ia´aqov envia para Iosef tem um significado profético:

  • tsari – bálsamo – ele nos fala sobre cura, sobre restauração e sobre uma unção que preparava para a morte.
  • debash – mel – o mel fala sobre a força e a doçura. Certamente Ia´aqov esperava que o coração de Iosef estivesse repleto de força e doçura ao encontrar com seus filhos!
  • nekot – aromas, especiarias. Estes elementos serviam para o embelezamento externo da pele e para a confecção de perfumes.
  • hot – mirra. A mirra nos fala sobre o sofrimento. Certamente Ia´aqov queria que houvesse um fim em seu sofrimento quanto aos seus filhos. Ele envia mirra para Iosef sem saber que, para o próprio Iosef chegaria brevemente o fim de seu sofrimento quanto à sua família!
  • botnin – pistácea – Esta planta era resinosa e estava sempre verde, mantendo-se “viva” mesmo fora de seu tronco. Isso falava muito sobre a vida de Iosef, que, mesmo sendo arrancado do “tronco” familiar continuava verde e abençoando muitas vidas que dele se aproximavam.
  • shaqued – amêndoas. A palavra está ligada com o verbo “vigiar”, “guardar”. A ideia básica é “estar alerta”. Certamente estes eram aspectos que estavam sempre presentes na vida de Iosef, mas muito mais agora, quando sua vida iria realmente tomar um rumo totalmente diferente! Isso nos fala também da vigilância que o Eterno tem sobre sua Palavra a fim de cumprí-la! Iosef ainda não sabia o quanto a Palavra que o Eterno lhe havia dito se cumpriria de forma cabal em sua vida!

Quando Ia´aqov despede seus filhos, ele os abençoa assim: “E o Elohim Todo-Poderoso vos dê misericórdia diante do homem, para que deixe vir convosco vosso outro irmão, e Benjamim; e eu, se for desfilhado, desfilhado ficarei” (Gn 43:14). Percebemos que há uma certeza mas também uma resignação muito grande nas palavras de Ia´aqov. Ele certamente sabe que os caminhos do Eterno não podem ser deixados de lado!

Então, após terem feito a viagem, eles apresentam-se diante da face de Iosef e novamente o que acontece é extraordinário: “E os homens tomaram aquele presente, e dinheiro em dobro em suas mãos, e a Benjamim; e levantaram-se, e desceram ao Egito, e apresentaram-se diante de Iosef. Vendo, pois, Iosef a Benjamim com eles, disse ao que estava sobre a sua casa: Leva estes homens à casa, e mata reses, e prepara tudo; porque estes homens comerão comigo ao meio-dia. E o homem fez como Iosef dissera, e levou-os à casa de Iosef. Então temeram aqueles homens, porquanto foram levados à casa de Iosef, e diziam: Por causa do dinheiro que dantes voltou nos nossos sacos, fomos trazidos aqui, para nos incriminar e cair sobre nós, para que nos tome por servos, e a nossos jumentos. Por isso chegaram-se ao homem que estava sobre a casa de Iosef, e falaram com ele à porta da casa, E disseram: Ai! senhor meu, certamente descemos dantes a comprar mantimento; e aconteceu que, chegando à estalagem, e abrindo os nossos sacos, eis que o dinheiro de cada um estava na boca do seu saco, nosso dinheiro por seu peso; e tornamos a trazê-lo em nossas mãos; também trouxemos outro dinheiro em nossas mãos, para comprar mantimento; não sabemos quem tenha posto o nosso dinheiro nos nossos sacos. E ele disse: Paz seja convosco, não temais; o vosso D-us, e o D-us de vosso pai, vos tem dado um tesouro nos vossos sacos; o vosso dinheiro me chegou a mim. E trouxe-lhes fora a Simeão” (Gn 43:15-23). Os filhos de Ia´aqov agora sentem-se angustiados por não saberem o que está acontecendo, nem o que lhes acontecerá, pois os fatos narrados acima não dão certeza alguma de seu futuro. Eles ainda tentam explicar ao administrador da casa de Iosef os fatos, mas isso não é importante para ele, pois a única coisa que ele diz é que sintam-se em paz. A palavra que ele usa aqui é shalom, que significa “paz, prosperidade, bem, inteireza, saúde, segurança”. Eles deveriam sentir-se assim pois Elohim – o D-us Criador – lhes havia dado um tesouro e eles o deveriam recebe-lo!

Agora chega o momento mais importante: Iosef chega à sua casa para almoçar com os irmãos! “Vindo, pois, Iosef à casa, trouxeram-lhe ali o presente que tinham em suas mãos; e inclinaram-se a ele até à terra. E ele lhes perguntou como estavam, e disse: Vosso pai, o ancião de quem falastes, está bem? Ainda vive? E eles disseram: Bem está o teu servo, nosso pai vive ainda. E abaixaram a cabeça, e inclinaram-se” (Gn 43:26-28). Agora os irmãos de Iosef, novamente diante dele, procedem da mesma forma como o “sonhador” havia sonhado muitos anos atrás: eles inclinam-se diante dele duas vezes! Iosef conversa com eles de forma amigável e pergunta sobre o restante da família – ele pergunta sobre Ia´aqov – e após a resposta eles novamente inclinam-se! Os sonhos não abandonados transformam-se em grandes e belas realidades diante de nossos olhos quando menos esperamos! Nós – assim como Iosef – nunca devemos desistir ou sequer abrirmos mão daquilo que nos foi prometido pelo Eterno D-us de Israel! Se Ele prometeu certamente o fará cumprir! Por isso, sonhemos os sonhos do Eterno e vejamos seu cumprimento diante de nossos olhos e o resultado disso será, além de tudo a cura de nossas almas!

Agora chega o momento que Iosef vê a Benjamim e o abençoa: “E ele levantou os seus olhos, e viu a Benjamim, seu irmão, filho de sua mãe, e disse: Este é vosso irmão mais novo de quem falastes? Depois ele disse: D-us te dê a sua graça, meu filho. E Iosef apressou-se, porque as suas entranhas comoveram-se por causa do seu irmão, e procurou onde chorar; e entrou na câmara, e chorou ali” (Gn 43:29-30). Certamente este egípcio não era um homem comum, pois ele tem uma forma diferente de tratar as pessoas e aqui isso é demonstrado quando ele se dirige à Benjamim dizendo: “D-us te dê a sua graça, meu filho”. EM hebraico Iosef diz que Elohim – o D-us Criador – dê a Benjamim sua hanan, que significa “ser gracioso, compadecer-se”. A raiz desta palavra vem de hen, que significa “favor, graça”. Ora, Iosef ministra a Benjamim algo que ninguém havia feito para ele ou para seus filhos! Ele o trata como se fosse um de seus próprios filhos aos olhos de seus irmãos que devem ter ficado muito surpresos com isso!

Inclusive, quando eles se assentam para almoçarem como Iosef, a porção servida à Benjamim é muito maior do que a dos outros! É tão grande que causa espanto! “E assentaram-se diante dele, o primogênito segundo a sua primogenitura, e o menor segundo a sua menoridade; do que os homens se maravilhavam entre si. E apresentou-lhes as porções que estavam diante dele; porém a porção de Benjamim era cinco vezes maior do que as porções deles todos. E eles beberam, e se regalaram com ele” (Gn 43:33-34). Quando os irmãos de Iosef foram convidados a assentarem-se à mesa eles foram colocados em cada lugar segundo a sua idade! Isso deve novamente ter-lhes parecido muito estranho, pois parecia que eles eram intimamente conhecidos e não conseguiam entender o que lhes sucedia! Porém, com Benjamim, tudo era diferente e sua porção muito maior do que a dos outros!

Agora, os irmãos de Iosef precisam ir embora para Canaã e Iosef ordena que lhe sejam preparados os mantimentos para irem embora e levarem novamente o dinheiro. Somente que agora algo mais é feito com o saco de Benjamim: a taça do próprio Iosef é colocada ali para incriminá-lo e fazê-lo ficar no Egito!

O texto nos diz o seguinte: “E deu ordem ao que estava sobre a sua casa, dizendo: Enche de mantimento os sacos destes homens, quanto puderem levar, e põe o dinheiro de cada um na boca do seu saco. E o meu copo, o copo de prata, porás na boca do saco do mais novo, com o dinheiro do seu trigo. E fez conforme a palavra que Iosef tinha dito. Vinda a luz da manhã, despediram-se estes homens, eles com os seus jumentos. Saindo eles da cidade, e não se havendo ainda distanciado, disse Iosef ao que estava sobre a sua casa: Levanta-te, e persegue aqueles homens; e, alcançando-os, lhes dirás: Por que pagastes mal por bem? Não é este o copo em que bebe meu senhor e pelo qual bem adivinha? Procedestes mal no que fizestes. E alcançou-os, e falou-lhes as mesmas palavras. E eles disseram-lhe: Por que diz meu senhor tais palavras? Longe estejam teus servos de fazerem semelhante coisa. Eis que o dinheiro, que temos achado nas bocas dos nossos sacos, te tornamos a trazer desde a terra de Canaã; como, pois, furtaríamos da casa do teu senhor prata ou ouro? Aquele, com quem de teus servos for achado, morra; e ainda nós seremos escravos do meu senhor. E ele disse: Ora seja também assim conforme as vossas palavras; aquele com quem se achar será meu escravo, porém vós sereis desculpados. E eles apressaram-se e cada um pôs em terra o seu saco, e cada um abriu o seu saco. E buscou, começando do maior, e acabando no mais novo; e achou-se o copo no saco de Benjamim. Então rasgaram as suas vestes, e carregou cada um o seu jumento, e tornaram à cidade” (Gn 44:1-13).

Agora, após uma bem-sucedida visita ao Egito juntamente com uma bela recepção do próprio vice-rei, acontece algo terrível: Benjamim é apontado como um ladrão que roubara o próprio Iosef! Quando eles retornam à casa de Iosef, agora já não como “convidados” mas sim como ladrões, algo acontece com eles: “E veio Judá com os seus irmãos à casa de Iosef, porque ele ainda estava ali; e prostraram-se diante dele em terra. E disse-lhes Iosef: Que é isto que fizestes? Não sabeis vós que um homem como eu pode, muito bem, adivinhar?” (Gn 44:14-15). Agora toda a família de Ia´aqov prostra-se novamente diante de Iosef! A palavra “prostrar-se” em hebraico é napal e significa “cair, prostrar-se, ser lançado fora, fracassar”. Certamente estes foram os sentimentos que perpassaram a alma de cada um deles naquele momento!  Nada seria mais terrível do que ser acusado injustamente! E isso era tão sério que as palavras seguintes de Iosef devem ter-lhes soado como um pesadelo! “E disse-lhes Iosef: Que é isto que fizestes? Não sabeis vós que um homem como eu pode, muito bem, adivinhar?” A palavra “adivinhar” em hebraico é nahash e significa “aprender por experiência, observar com diligência, adivinhar, praticar adivinhação, ler a sorte, tomar como presságio”. É lógico que Iosef dissera esta palavra não em seu sentido literal, pois ele conhecia ao D-us Eterno e não necessitava “adivinhar” qualquer coisa! Tudo havia sido tramado por ele a fim de descobrir o que estava realmente no coração de seus irmãos!

Agora, já no fim de sua viagem, eles têm um dilema em suas mãos, pois não podem voltar à sua terra sem Benjamim; de outro lado Iosef lhes propõe que a pessoa que foi pega com seu copo lhe seja dada como servo! Eles agora passam por um momento de terrível angústia de sua alma, pois quando se é acusado injustamente o sofrimento que sobrevem é muito grande e os pensamentos que percorrem nossa mente são geralmente de abandono! É como se eles estivessem pensando o seguinte: “Teria o D-us de nosso pai nos abandonado à nossa própria sorte justamente aqui no Egito? Nós nada fizemos que pudesse nos incriminar, porém aqui estamos nós como cativos, sendo acusados por algo que não fizemos!”

Novamente suas lembranças devem ter vindo à tona e eles certamente devem ter se lembrado de Iosef em sua angústia!

O desfecho deste grande momento de D-us para a vida de seus servos será visto em nossa próxima Haftará.

Que o D-us Eterno nos ajude a nunca desistirmos de nos relacionarmos com Ele aconteça o que acontecer! Não devemos nunca nos esquecer que somente o Eterno é capaz de fazer cumprir cada um dos sonhos que Ele mesmo plantou em nossos corações!

Então que Ele os faça cumprir à seu tempo determinado!

Mário Moreno.