Mário Moreno/ setembro 18, 2017/ Parasha da semana

Vayelech

(E ele vai)

Dt 31.1-30 / Os 14:2-10 Mq 7:18-20 Jl 2:15-27 / Rm 10:1-17

        Na Parasha desta semana estaremos analisando mais uma porção do discurso de Moshe antes de sua partida para o IHVH. Suas palavras ecoam dizendo: “Depois foi Moshe, e falou estas palavras a todo o Israel, e disse-lhes: Da idade de cento e vinte anos sou eu hoje; já não poderei mais sair e entrar; além disto o IHVH me disse: Não passarás o Jordão. O IHVH teu Elohim passará adiante de ti; ele destruirá estas nações de diante de ti, para que as possuas; Iehoshua passará adiante de ti, como o IHVH tem falado. E o IHVH lhes fará como fez a Siom e a Ogue, reis dos amorreus, e à sua terra, os quais destruiu. Quando, pois, o IHVH vo-los der diante de vós, então com eles fareis conforme a todo o mandamento que vos tenho ordenado. Esforçai-vos, e animai-vos; não temais, nem vos espanteis diante deles; porque o IHVH teu Elohim é o que vai contigo; não te deixará nem te desamparará” (Dt 31:1-6). Moshe relembra a Israel que sua idade já é avançada; ele tem 120 anos e já não pode sair e entrar como antigamente; isso significa que Moshe já não tem mais permissão de ensinar ao povo a Torah – transmitindo-lhes aquilo que o Eterno lhe ordenava – e que ele devia, por ordem do Eterno, ceder seu lugar a Iehoshua. O Eterno – IHVH – havia sido muito claro com ele quando lhe disse: “Não passarás o Jordão”. Naquele instante Moshe sabia que se aproximava definitivamente o momento de sua morte e que o Eterno se tornaria para ele, no momento determinado, a morte. Em contrapartida Moshe diz a Israel que o Eterno – IHVH Elohim – passaria adiante deles a fim de destruir as nações que ali estavam. A palavra “destruir” vem do termo hebraico shamad que significa “exterminar, destruir”. Já a palavra “nações” vem do hebraico goi e significa “povo gentílico, nação gentílica”. Novamente temos aqui a informação de que o Eterno haveria de tirar os gentios da terra de Canaã a fim de dá-la aos seus legítimos donos – Israel.

Novamente o Eterno diz que Iehoshua irá adiante deles conforme a palavra do IHVH! Este verso é além de informativo, profético, pois apontava para um acontecimento que viria a ocorrer centenas e anos após, pois quando Ieshua veio à terra como homem, cumpriu seu ministério, foi crucificado, morreu e ressuscitou, Ele então através de sua vida abriu o caminho para que o Eterno – IHVH – pudesse então envia-lo novamente a fim de que seu povo seja novamente reunido para entrar na terra de Canaã – porém agora espiritual. Assim como Iehoshua levou o povo de Israel a herdar definitivamente Canaã, Ieshua fará com que o povo de D-us herde definitivamente a vida eterna e o mundo espiritual para sempre!

Moshe relembra ainda o povo quanto às dificuldades que certamente se apresentarão diante deles: “Esforçai-vos, e animai-vos; não temais, nem vos espanteis diante deles; porque o IHVH teu Elohim é o que vai contigo; não te deixará nem te desamparará”. A palavra “esforçai-vos” vem do termo hebraico hazaq e significa “ser forte, fortalecer, prevalecer, endurecer, ser corajoso, ser severo”. O Eterno – IHVH Elohim – lhes diz que uma de suas atitudes diante do inimigo deverá ser de força, endurecimento, coragem, severidade; é a atitude de não se curvar diante de uma situação que já foi declarada como favorável à eles; é querer a vitória – que já lhes fora dada por direito – a todo o custo. A palavra “animai-vos” vem do termo hebraico ´amets e significa “ser valente, forte, alerta, corajoso, duro”. Ela diz respeito a uma insensibilidade quanto ao que ocorre ao redor e uma busca pelo objetivo proposto. É uma palavra sinônima à anterior e fala de uma atitude contínua em face à situação que aparentemente lhes é desfavorável.

Moshe agora diz aos olhos do povo: “E chamou Moshe a Iehoshua, e lhe disse aos olhos de todo o Israel: Esforça-te e anima-te; porque com este povo entrarás na terra que o IHVH jurou a teus pais lhes dar; e tu os farás herdá-la. O IHVH, pois, é aquele que vai adiante de ti; ele será contigo, não te deixará, nem te desamparará; não temas, nem te espantes” (Dt 31:7-8). È extraordinário que Moshe diz agora, pois ele usa os mesmos termos usados acima para dizer a Iehoshua que tenha atitudes de força, endurecimento e coragem diante de situações desfavoráveis – aparentemente – pois o IHVH – IHVH – já houvera dado o veredito: esta terra pertence a Israel! Moshe diz ainda: “e tu os farás herdá-la”. A palavra “herdar” vem do termo hebraico nahala que significa “herança, legado, possessão”. A palavra tem basicamente a conotação de algo que pode ser passado adiante como herança; aquilo que pertence a alguém em virtude de um direito antigo. Iehoshua levaria o povo a tomar posse daquilo que estava sendo lhes passado em virtude de um direito antigo; a terra lhes fora prometida – através de um juramento – pelo Criador do Universo e eles agora estavam prestes a recebe-la definitivamente como sua possessão! O detalhe maior é que IHVH – iria adiante deles e por este motivo eles não deveriam temer nem se espantar. A palavra temer vem do termo hebraico iare´ e significa temer, ter medo, reverenciar. Já a palavra “espantar” vem do termo hebraico hatat que significa “(estar) quebrantado, aniquilado, com medo, aterrorizado”. As situações que se apresentariam diante deles poderiam sugerir respeito e até mesmo terror diante dos inimigos, que aparentemente seriam vistos como mais fortes, mais poderosos do que Israel. Mas O Eterno lhes diz: não os respeitem, não tenham reverência por eles, não se atemorizem, pois Eu estou ao lado de vocês!

Moshe honra Iehoshua

Moshe então chamou Iehoshua, e disse-lhe palavras de encorajamento: “Seja um baluarte da Torah e mitsvot. Você sobreviverá até que a Terra seja conquistada e dividida entre as tribos. D’us estará com você, não tema nem fraqueje.”

Moshe queria que Iehoshua começasse a ensinar o povo enquanto ainda vivia. Desta forma toda a nação o aceitaria.

Ouviu-se uma proclamação pelo acampamento: “O novo líder falará hoje!”

Benê Israel inteiro reuniu-se em honra a Iehoshua. Moshe providenciou um trono de ouro para seu sucessor, bem como uma coroa incrustada com pérolas, um turbante real, e um manto púrpura. Ao redor do trono, Moshe arrumou assentos para o Sanhedrin e para os cohanim. Ele vestiu Iehoshua com essas vestimentas reais, e entronou-o. Iehoshua chorava de constrangimento, porém Moshe forçou-o a permanecer sentado.

Moshe instruiu Iehoshua: “Seja forte na Torah, e valoroso ao lidar com o povo. Trate-os gentilmente. Se cometerem erros, não sinta ira contra eles.”

Ambos, Moshe e Iehoshua, ensinaram Torah naquele dia. Calev foi designado para explicar as palavras de Iehoshua ao povo. Iehoshua abriu com as seguintes palavras: “Bendito é D’us, Que nos deu a Torah através de Moshe.”

Hakhel – o rei e a leitura da Torah

Moshe explicou aos judeus a mitsvá que deve ser cumprida pelo rei e pela nação inteira a cada sete anos:

Quando os judeus se congregarem em Ierushalayim para a festa de Sucot, no ano posterior ao ano de Shemitá, devem reunir-se no início de Chol Hamoed (os dias intermediários da Festa) a fim de escutar o rei ler e explicar a Torah. Todos devem comparecer – homens, mulheres e crianças. A assembléia é anunciada com o soar de trombetas. Uma alta plataforma de madeira é erigida no ezrat nashim (átrio feminino) do Bet Hamicdash, onde o rei se senta.

Ainda de pé, o rei recebe um Sêfer Torah e recita as bênçãos apropriadas. Ele pode então sentar-se para lê-la. Ele precisa ler determinadas passagens do livro Devarim, inclusive o Shemá (5:4-8), e as bênçãos e maldições da parashát Ki Tavô.

Após proferir as bênçãos finais da leitura da Torah, ele recita sete bênçãos especiais, que são:

  1. Retsê: Aceita favoravelmente…

    2. Modim Anachnu: Curvamo-nos…

    3. Ata Bechartanu: Tu nos escolheste dentre os povos…

    4. Uma bênção pela continuidade do Bet Hamicdash, que termina em : Shochen Be Tsion – Aquele que habita em Tsion

    5. Uma bênção pela continuidade do reinado

    6. Uma bênção para que D’us aceite o serviço dos cohanim favoravelmente

    7. A tefilá do próprio rei, terminada em Baruch Shomea Tefilá – Bendito o que ouve as orações.
    Mesmo o maior dos sábios é obrigado a ouvir a leitura da Torah com atenção e reverência. O rei age como um representante de D’us, portanto, cada judeu deve aspirar vivenciar a leitura como se ela emanasse do Monte Sinai.

    O objetivo da mitsvá é fortalecer o povo judeu na observância da Torah e temor a D’us. A mitsvá de Hakhel foi cumprida por todos os reis justos e íntegros. Conta-se que o justo rei Agripa permanecia de pé durante a leitura da Torah. Os sábios valorizavam-no muito por isso.

    Quem é obrigado a comparecer a assembléia de Hakhel?

    Cada homem, mulher e criança judeus. Mesmo quem sabe o livro Devarim de cor deve comparecer e ouvir a leitura do rei de maneira respeitosa. O rei é o mensageiro de D’us. Ao ler para Benê Israel, é como se a Torah estivesse sendo dada novamente ao povo judeu.

    Por que as crianças pequenas devem comparecer? Algumas delas nem mesmo compreendem uma palavra da leitura da Torah! A Torah ordena que as crianças sejam trazidas para que D’us recompense os que as trouxeram.

    Mais ainda, a assembleia as impressionará. Anos depois, se lembrarão. Esta lembrança as ajudará a crescer como judeus tementes a D’us.

    As influências ambientais afetam o futuro desenvolvimento da criança, bem antes que sua educação formal tenha se iniciada. A assembleia nacional certamente causará uma profunda e positiva impressão sobre uma criança.

    Os comentaristas explicam: “Qual a recompensa dos pais por trazerem as crianças? As crianças serão educadas a temer a D’us e cumprir as mitsvot. Por conseguinte, elas trilharão as sendas da Torah, e esta é a maior recompensa para os pais.

    A mitsvá de Hakhel é a origem bíblica de porque levamos as crianças à sinagoga. (Somente sob a condição de que não atrapalhem o serviço religioso.)
    Lembrar-se de Hakhel as ajudará a crescerem como judeus tementes a D’us.

    Todos lembramos de cenas de nossa infância que nos marcaram profundamente. Mesmo não conseguindo captar os fatos, a memória permanece. Podemos nos lembrar de um Yom Kipur no qual todos oravam muito concentrados. Ou das alegres e barulhentas danças em Simchat Torah. E até uma criança bem pequena possui lembranças da noite mais especial do ano – a noite do Sêder de Pêssach. Essas impressões o ajudarão a adquirir o amor pelos desígnios da Torah.

  O relato nos informa ainda o que Moshe fez: “E Moshe escreveu esta lei, e a deu aos sacerdotes, filhos de Levi, que levavam a arca da aliança do IHVH, e a todos os anciãos de Israel” (Dt 31:9). A frase “esta Torah” quer dizer o conteúdo de escritos desde Bereshit (Gênesis) até este ponto, entregando-a aos sacerdotes para que dela cuidassem.

Uma parte deste conteúdo diz o seguinte: “E ordenou-lhes Moshe, dizendo: Ao fim de cada sete anos, no tempo determinado do ano da remissão, na festa dos tabernáculos, quando todo o Israel vier a comparecer perante o IHVH teu Elohim, no lugar que ele escolher, lerás esta lei diante de todo o Israel aos seus ouvidos. Ajunta o povo, os homens e as mulheres, os meninos e os estrangeiros que estão dentro das tuas portas, para que ouçam e aprendam e temam ao IHVH vosso Elohim, e tenham cuidado de fazer todas as palavras desta lei; e que seus filhos, que não a souberem, ouçam e aprendam a temer ao IHVH vosso Elohim, todos os dias que viverdes sobre a terra a qual ides, passando o Jordão, para a possuir” (Dt 31:10-13). Num período de sete anos – o fechamento de um ciclo – haveria a remissão, que aconteceria durante a festa de sucot! A palavra “remissão” vem do termo hebraico shemitâ com o mesmo significado. Vem da raiz shamat que significa “largar, deixar cair, soltar, deixar em pousio”. Esta palavra é usada no sentido da redução ou cancelamento de dívidas. Num período de sete anos, em sucot, haveria a redução ou cancelamento das dívidas do povo de D-us; não é estranho então que Ieshua nos dá a entender que seu retorno acontecerá numa festa de sucot! No fechamento deste ciclo haverá o cancelamento definitivo de nossas dívidas para com o mundo e estaremos para sempre com o IHVH! É interessante que já na Torah está estabelecido que haverá uma “renovação” e um “reinício” do estudo da Palavra, pois está dito assim: “quando todo o Israel vier a comparecer perante o IHVH teu Elohim, no lugar que ele escolher, lerás esta lei diante de todo o Israel aos seus ouvidos”. Este fato aconteceria em sucot e naquela data eles novamente ouviriam a leitura da Torah, dando início assim a um novo ciclo de estudos! Isso faria com que, aqueles que não haviam ainda aprendido pudessem dar início ao seu aprendizado sobre a Torah; os que já a conheciam receberiam novamente sua porção e seriam fortalecidos pelo seu estudo! Era justamente nesta ocasião que eles cumpriam a ordem: “Ajunta o povo, os homens e as mulheres, os meninos e os estrangeiros que estão dentro das tuas portas, para que ouçam e aprendam e temam ao IHVH vosso Elohim, e tenham cuidado de fazer todas as palavras desta lei; e que seus filhos, que não a souberem, ouçam e aprendam a temer ao IHVH vosso Elohim, todos os dias que viverdes sobre a terra a qual ides, passando o Jordão, para a possuir”. Pelo que vemos, todos os israelitas de todas as idades, classes sociais e sexo se reuniam juntamente com os estrangeiros, para ouvirem a Torah. Este é o momento em que eles são “nivelados” pela própria Torah que os faz iguais independente de qualquer diferença que haja entre eles, pois neste momento todos são Israel ouvindo a Torah!

Agora temos o momento crucial da vida de Moshe: o anúncio de sua morte! “E disse o IHVH a Moshe: Eis que os teus dias são chegados, para que morras; chama a Iehoshua, e apresentai-vos na tenda da congregação, para que eu lhe dê ordens. Assim foram Moshe e Iehoshua, e se apresentaram na tenda da congregação. Então o IHVH apareceu na tenda, na coluna de nuvem; e a coluna de nuvem estava sobre a porta da tenda. E disse o IHVH a Moshe: Eis que dormirás com teus pais; e este povo se levantará, e prostituir-se-á indo após os deuses estranhos na terra, para cujo meio vai, e me deixará, e anulará a minha aliança que tenho feito com ele. Assim se acenderá a minha ira naquele dia contra ele, e desampará-lo-ei, e esconderei o meu rosto dele, para que seja devorado; e tantos males e angústias o alcançarão, que dirá naquele dia: Não me alcançaram estes males, porque o meu Elohim não está no meio de mim? Esconderei, pois, totalmente o meu rosto naquele dia, por todo o mal que tiver feito, por se haverem tornado a outros deuses” (Dt 31:14-18). Agora o Eterno – IHVH – fala a Moshe: “Eis que os teus dias são chegados, para que morras”. O IHVH se tornará para Moshe agora o tempo exato de sua morte. Um detalhe interessante: Ele ordena que Moshe apresente-se já com seu sucessor na tenda da congregação, a fim de que Iehoshua receba de D-us as ordens. A palavra “tenda” vêm do termo hebraico ohêl e significa “habitação, lar, tabernáculo, tenda”. Já a palavra “congregação” vem do termo hebraico mô´ed que significa “sinal combinado, tempo determinado, estação determinada, local de assembleia, festa designada”. Eles foram para o tabernáculo que era o local de encontro em tempos determinados entre o Eterno e os homens!

A Torah diz ainda que IHVH apareceu na porta da tenda. A palavra “aparecer” vem do termo hebraico ra´â que significa “ver, olhar, inspecionar”. Isso significa que o Eterno foi visto pelo povo com a aparência de “coluna de nuvem”. A palavra “coluna” vem do hebraico ´ammûd e significa “coluna, pilar”. O que eles viram foi certamente uma nuvem em pé – aparentando um pilar – através do qual o Eterno falava com Moshe e Iehoshua! Há também uma outra declaração do Eterno a respeito de Moshe e também sobre o futuro do povo de Israel: “E disse o IHVH a Moshe: Eis que dormirás com teus pais; e este povo se levantará, e prostituir-se-á indo após os deuses estranhos na terra, para cujo meio vai, e me deixará, e anulará a minha aliança que tenho feito com ele. Assim se acenderá a minha ira naquele dia contra ele, e desampará-lo-ei, e esconderei o meu rosto dele, para que seja devorado; e tantos males e angústias o alcançarão, que dirá naquele dia: Não me alcançaram estes males, porque o meu Elohim não está no meio de mim? Esconderei, pois, totalmente o meu rosto naquele dia, por todo o mal que tiver feito, por se haverem tornado a outros deuses”. O Eterno diz que Moshe “dormirá” com seus pais. Esta palavra vem do termo hebraico shakab que significa “deitar-se, jazer”. Isso significa que Moshe agora partilharia da experiência que seus antepassados também partilharam: a morte física!

Acerca do povo de Israel o Eterno diz que se prostituiriam indo após outros deuses. Isso significa que eles abandonariam ao Eterno em sua relação de temor, respeito, amor e adorariam à outros deuses que nunca haviam visto anteriormente. Isso causaria a “anulação da aliança”. Em hebraico a expressão é parar berith que significa literalmente “quebra do pacto feito com sangue”. O termo parar foi traduzido por “anulará”, mas significa “quebrar, destruir, frustrar, invalidar”. Já a palavra aliança vem do hebraico berith que significa literalmente pacto com derramamento de sangue. Decerto que a aliança que o Eterno fez com Israel jamais poderá ser anulada completamente (vide Jr 31.31-37) e isso fez com que Israel se tornasse um transgressor que sempre tinha a oportunidade de retornar ao pacto através de seu arrependimento e retorno à obediência à Torah. Quando Israel desobedecia, o castigo vinha na forma de perseguições de outras nações, males, pragas e diversas formas que o Eterno usava para “punir” seu povo. Toda punição tem uma só finalidade: fazer com que o povo de D-us retorne para Ele! A forma de agir do IHVH sempre funcionou, pois não somente Israel, mas também a Igreja pecou muito contra o IHVH que sempre que houve o arrependimento e o retorno, deu-lhes o perdão!

Moshe agora ouve palavras que certamente não esperava: “Agora, pois, escrevei-vos este cântico, e ensinai-o aos filhos de Israel; ponde-o na sua boca, para que este cântico me seja por testemunha contra os filhos de Israel. Porque introduzirei o meu povo na terra que jurei a seus pais, que mana leite e mel; e comerá, e se fartará, e se engordará; então se tornará a outros deuses, e os servirá, e me irritarão, e anularão a minha aliança. E será que, quando o alcançarem muitos males e angústias, então este cântico responderá contra ele por testemunha, pois não será esquecido da boca de sua descendência; porquanto conheço a sua boa imaginação, o que ele faz hoje, antes que o introduza na terra que tenho jurado” (Dt 31:19-21). A palavra “cântico” vem do termo hebraico shir que significa “canção”. Nós bem conhecemos a instrumentalidade da música como instrumento de ensino e isso não foi diferente para o Eterno que se utilizou de uma canção para lembrar seu povo da forma como eles se conduziram e se desviaram d´Êle! Esta canção funcionaria como “testemunha” contra Israel. A palavra “testemunha” vem do hebraico ´ed com o mesmo significado, mas em sua raiz temos ´ûd que significa “voltar, repetir, tornar a fazer”. Isso porque a testemunha é aquele que reitera – repete – os fatos presenciados a fim de esclarecer uma questão. É justamente por isso que essa canção é importante, pois a cada vez que ela é cantada há uma repetição daquilo que Israel faria contra o Eterno. Após haverem pecado, eles cantariam conscientes de que o Eterno, conhecedor de tudo o que ocorrerá no futuro já havia lhes anunciado o que fariam; agora cantavam como testemunho da exatidão das palavras do único ser que é D-us: o Eterno!

A ordem do Eterno é cuprida e as últimas ordens de Moshe são dadas: “Assim Moshe escreveu este cântico naquele dia, e o ensinou aos filhos de Israel. E ordenou a Iehoshua, filho de Num, e disse: Esforça-te e anima-te; porque tu introduzirás os filhos de Israel na terra que lhes jurei; e eu serei contigo. E aconteceu que, acabando Moshe de escrever num livro, todas as palavras desta lei, deu ordem aos levitas, que levavam a arca da aliança do IHVH, dizendo: Tomai este livro da lei, e ponde-o ao lado da arca da aliança do IHVH vosso Elohim, para que ali esteja por testemunha contra ti. Porque conheço a tua rebelião e a tua dura cerviz; eis que, vivendo eu ainda hoje convosco, rebeldes fostes contra o IHVH; e quanto mais depois da minha morte? Ajuntai perante mim todos os anciãos das vossas tribos, e vossos oficiais, e aos seus ouvidos falarei estas palavras, e contra eles por testemunhas tomarei o céu e a terra. Porque eu sei que depois da minha morte certamente vos corrompereis, e vos desviareis do caminho que vos ordenei; então este mal vos alcançará nos últimos dias, quando fizerdes mal aos olhos do IHVH, para o provocar à ira com a obra das vossas mãos. Então Moshe falou as palavras deste cântico aos ouvidos de toda a congregação de Israel, até se acabarem” (Dt 31:22-30). Moshe diz a Iehoshua: “Esforça-te e anima-te; porque tu introduzirás os filhos de Israel na terra que lhes jurei; e eu serei contigo”. A palavra “esforça-te” vem do termo hebraico hazaq e significa “ser (tornar-se) forte, fortalecer, prevalecer, endurecer, ser corajoso, ser severo”. Já a palavra “anima-te” vem do hebraico ´amets e significa “ser valente, forte, alerta, corajoso, duro”. Isso significa que a postura de Iehoshua deveria ser um misto de força, coragem, severidade e persistência, pois ele seria o homem usado para levar o povo de Israel até a terra de Canaã!

Moshe acaba de escrever esta Torah e diz aos levitas que tomem este livro para que seja posto ao lado da arca da aliança como testemunho contra eles mesmos! A frase “arca da aliança” em hebraico é arom berith e significa literalmente “arca da aliança feita com sangue”. Esta arca foi feita de madeira de acácia e coberta totalmente com ouro. A acácia representa o homem que é completamente coberto de ouro (da divindade). Ele diz ainda sobre Israel: “Porque conheço a tua rebelião e a tua dura cerviz”. A palavra “rebelião” vem do hebraico merî e significa “ser rebelde, ser desobediente”. Já a palavra “dura cerviz” vem do termo qesheh ´orep, literalmente “duro de pescoço” ou seja, “obstinado”. Esta postura de rebelião e obstinação é tida contra IHVH, ou seja, a postura de Israel seria determinante para que o Eterno pudesse tornar-se bênção para eles – caso fossem obedientes – ou então em maldição – caso fossem desobedientes.

Moshe termina dizendo: “Ajuntai perante mim todos os anciãos das vossas tribos, e vossos oficiais, e aos seus ouvidos falarei estas palavras, e contra eles por testemunhas tomarei o céu e a terra. Porque eu sei que depois da minha morte certamente vos corrompereis, e vos desviareis do caminho que vos ordenei; então este mal vos alcançará nos últimos dias, quando fizerdes mal aos olhos do IHVH, para o provocar à ira com a obra das vossas mãos. Então Moshe falou as palavras deste cântico aos ouvidos de toda a congregação de Israel, até se acabarem”. A palavra “corromper-se” vem do hebraico shahat e significa “cova, destruição”. Já a palavra “desviareis” vem do termo hebraico tashahatun e significa “destruir, corromper, arruinar”. Isso significa que quando Israel deixasse ao Eterno eles literalmente cairiam numa cova e seriam destruídos. Novamente vemos que isso aconteceria porque eles se levantariam contra IHVH que se tornaria aquilo que eles precisavam e neste caso era a punição!

Assim acabam as palavras de Moshe para o povo de Israel. O legado que este homem deixou para a nação foi inestimável e até o dia de hoje são incontáveis as bênçãos que todos nós temos recebido por causa dele!

Que o Eterno nos ajude a sermos fiéis e obedientes à Torah para colhermos dela somente aquilo que é bom!

Que assim seja!

Mário Moreno