Mário Moreno/ julho 11, 2018/ Artigos

Pensando na Colheita

“Cada um se fartará do fruto da sua boca, e da obra das suas mãos o homem receberá a recompensa” (Mishlei/Provérbios 12:14).

O princípio evocado por Shlomo (Salomão) é de grande importância para a nossa saúde espiritual. Nem sempre nos damos conta do quanto as nossas palavras podem influenciar as nossas vidas, para o bem ou para o mal.

O princípio da reciprocidade, que na física é chamado de lei da ação e reação, é algo que a Bíblia atesta em inúmeros lugares, tais como:

“Se alguém leva em cativeiro, em cativeiro irá; se alguém matar à espada, necessário é que à espada seja morto” (Ap 13:10).

Como esse princípio da reciprocidade, da ação e reação, se aplica às nossas palavras? É aí que entra a sabedoria de Shlomo (Salomão) que nos diz que seremos alimentados espiritualmente a partir das nossas palavras e ações.

Isso pode acender a luz amarela para alguns tipos de pessoa: O primeiro tipo é aquela pessoa que se ocupa de se preocupar com o andamento da vida do outro. Ocupa-se de dar palpites sobre a vida espiritual de terceiros.

Saibam as pessoas que plantam palavras que de conteúdo constrangedor e julgador que em suas vidas espirituais colherão juízo e constrangimento. Isso significa que podem adoecer, sob o jugo da sua própria severidade, que se volta contra ele próprio.

Este princípio é válido em todos os tempos e lugares e também para todas as pessoas. Nós não somos impedidos de “falar” aquilo que desejamos, porém também não podemos impedir que os céus nos deem a devida retribuição pelas palavras que foram ditas – plantadas – no mundo espiritual e das quais receberemos a devida retribuição. “Mas eu vos digo que de toda palavra vã que os homens falarem hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado” Mt 12.36-37. Nesta categoria estão também enquadradas aquelas palavras “fúteis” ou sem “importância”; ou seja, as brincadeiras de mal gosto e também as “fofocas” que buscam “informar” aos demais como está vida de alguém.

O segundo tipo é aquele que se ocupa de falar da vida dos outros. O fruto que ele colherá de expor a vida do alheio é que sua própria vida será exposta, por consequência de suas próprias ações. E quando for exposto e cair na boca do povo, o que o livrará de colher o fruto daquilo que ele próprio plantou?

O mesmo vale para quem se ocupa de difamar os outros, ferindo sua reputação. Será ele próprio vítima do mesmo mal que planta. O que agride com lashon hará (língua má) será ferido por lashon hará. E isso é muito grave.

A tradição judaica é muito cuidadosa no que diz respeito a este tipo de postura. Vejamos o que ela nos diz sobre o “lashon hara”:

“As leis de lashon hará são muito longas para incluir em um artigo. Mesmo assim, publicamos abaixo um breve resumo de algumas das leis, na maior parte extraídas de Chafetz Chaim. Na verdade, Rabi Israel Meir Hakohen, mais conhecido como “Chafetz Chaim”, ganhou este nome inspirado no versículo dos Salmos: “Aquele de vocês que deseja vida (chafetz chaim)… guarde sua língua do mal…

1 – Lashon hará literalmente significa “conversa má”. Isso significa que é proibido falar negativamente sobre outra pessoa, mesmo se for verdadeiro.
2 – Também é proibido repetir qualquer coisa sobre outra pessoa, mesmo que não seja negativo. Isto é chamado rechilut.
3 – É proibido também escutar lashon hará. A pessoa deve repreender quem fala ou, se não for possível, deve afastar-se daquela situação.
4 – Mesmo se alguém já tenha ouvido o lashon hará, é proibido acreditar. Pelo contrário, a pessoa deve sempre julgar o próximo de maneira favorável.
5 – Apesar disso, pode-se suspeitar que o lashon hará é verdadeiro, e tomar as precauções necessárias para proteger-se.
6 – É proibido até fazer um movimento que seja pejorativo na direção de alguém.
7 – Não se pode sequer relatar um evento negativo sem usar nomes, se os ouvintes puderem descobrir quem está sendo mencionado.
8 – Em determinadas circunstâncias, como para proteger alguém de danos, é permissível ou até obrigatório partilhar informação negativa. Como há muitos detalhes nesta lei, deve-se consultar um rabino competente para aprender o que pode ser partilhado em qualquer situação específica”.

Quem pratica lashon hara cai neste verso: “Enredaste-te com as palavras da tua boca: prendeste-te com as palavras da tua boca” Pv 6.2.

O cuidado, portanto, com a própria língua não é apenas uma questão de justiça, é também uma questão de prudência. Não deixemos para nos lamentar, quando podemos prevenir.

Por isso é tão importante que tenhamos este tipo de conhecimento para que possamos evitar abrir nossa boca indevidamente. Não podemos – nem devemos – falar sobre outros de forma negativa praticando lashon hara. Mas, caso isso aconteça, devemos pedir perdão à pessoa ofendida e também ao Eterno para que não tenhamos de colher isso contra nós!

Mas há também o outro lado, porque a contra-partida também é verdadeira: Aqueles que plantam palavras amorosas, misericordiosas, e brandas, também colherão o amor, a misericórdia e a brandura.

Antes, portanto, de plantarmos nossas palavras, tomemos o cuidado de ter em mente aquilo que nós desejamos colher em nossas vidas.

Que o Eterno nos ajude a guardarmos nossos lábios de toda a maledicência em nome de Ieshua!

“O coração do sábio instrui a sua boca, e acrescenta doutrina aos seus lábios” Pv 16.23.

Adaptação: Mário Moreno.