Mário Moreno/ agosto 11, 2017/ Artigos

Shabat e a Ceia do Senhor

Na última ceia de Ieshua com os seus discípulos, houve um momento em que o Mestre se revela a eles, falando-lhes sobre o fato de Êle ter de padecer na estaca de execução e por isso declara-lhes o Seu desejo para aquele momento: Êle lhes diz: “Desejei muito comer esta páscoa convosco, antes que padeça” (Lc 22.15). Ieshua na realidade estava dizendo aos discípulos que Êle ansiava por um momento de comunhão com os seus antes da sua morte, desejava partilhar de seu afeto, de seu amor, de sua companhia, pois logo após este momento Êle seria entregue na mão dos seus executores. Este é o lado bem “humano” de Ieshua…

Chegou, porém, o dia dos ázimos, em que importava sacrificar a páscoa. E mandou a Kefa e a Iochanan, dizendo: Ide, preparai-nos a páscoa, para que a comamos. E eles lhe perguntaram: Onde queres que a preparemos? E ele lhes disse: Eis que, quando entrardes na cidade, encontrareis um homem, levando um cântaro de água; segui-o até à casa em que ele entrar. E direis ao pai de família da casa: O Mestre te diz: Onde está o aposento em que hei de comer a páscoa com os meus discípulos? Então ele vos mostrará um grande cenáculo mobilado; aí fazei preparativos. E, indo eles, acharam como lhes havia sido dito; e prepararam a páscoa. E, chegada a hora, pôs-se à mesa, e com ele os doze apóstolos. E disse-lhes: Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça; porque vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no poder soberano de Elohim. E, tomando o cálice, e havendo dado graças, disse: Tomai-o, e reparti-o entre vós; porque vos digo que já não beberei do fruto da vide, até que venha o poder soberano de Elohim. E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o restauração da aliança no meu sangue, que é derramado por vós. Mas eis que a mão do que me trai está comigo à mesa. E, na verdade, o Filho de Adam vai segundo o que está determinado; mas ai daquele homem por quem é traído! E começaram a perguntar entre si qual deles seria o que havia de fazer isto” Lc 22.7-23

Ieshua declara explicitamente que aquele era um momento em que eles estariam juntos celebrando, pois Pessach era uma festa de celebração pela libertação do povo de Israel do cativeiro egípcio, e ali Ele estava com eles vivenciando aquele momento e também estava dizendo que através de sua morte todos os homens seriam libertos e que eles deveriam realmente relembrar e celebrar sua libertação do poder das trevas no momento da Ceia de Pessach, pois esta libertação ocorreria através da morte expiatória de Ieshua. Esta Celebração em Pessach é uma Festa ao Senhor que nós celebramos como um memorial à vitória do Ungido sobre a morte e o inferno por ocasião de sua ressurreição. Ieshua mesmo declara: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22.19b). Na Ceia de Pessach não existe nada de místico ou de sobrenatural; o pão não se transforma no corpo de Ieshua e o vinho não se transforma no sangue de Ieshua, mas são memoriais (são símbolos que nos fazem lembrar de algo) à morte e ressurreição de Ieshua o Ungido.

Na realidade quando a Igreja celebra a “Ceia do Senhor” isso acontece de uma forma que não corresponde à realidade da Escritura, pois aqui em Lucas estamos lendo a narrativa da Ceia em Pessach; já no texto de I Co 11.22-30 que diz:

Porque eu recebi do IHVH o que também vos ensinei: que o Senhor Ieshua, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o restauração da aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha. Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem”.

Este relato refere-se ao que aconteceu com Ieshua em Pessach, porém tem uma aplicação ainda mais ampla; porém este texto é lido a cada mês nas Igrejas quando é celebrada a Ceia do Senhor. Este “evento” é celebrado via de regra uma vez ao mês. Mas como de onde entendemos que a frequência seria mensal? Quem nos ensinou isso? Isso é um mistério e faz parte da tradição cristã?

Então, qual deve ser a “frequência” que esta festa deve ser celebrada? Vejamos o que nos diz Sha´ul: “Portanto, meus irmãos, quando vos ajuntais para comer, esperai uns pelos outros” I Co 11.33. Neste verso temos a resposta, pois ele refere-se ao “tempo” em que os judeus ajuntavam-se para comer. Mas com que frequência isso ocorria? Isso ocorria uma vez por semana, na festa que conhecemos como Shabat. É justamente nesta festa que os judeus fazem uso do pão e do vinho e Sha´ul toma esta forma da celebração do shabat para usá-la com uma nova aplicação: um memorial da morte do Ungido e uma preparação para o evento que um ia celebraremos juntos: o grande Shabat da terra!

Então, cada vez que celebramos um shabat isso funciona como um treinamento, pois precisamos aprender a ter comunhão uns com os outros, precisamos aprender a festejar ao Senhor com júbilo no coração, pois quando chegarmos à presença do Eterno, encontraremos uma grande festa preparada para nós. Isso ocorre sempre num ciclo de sete dias pois está ligado à plenitude; é o fechamento de um ciclo e a abertura de um novo que traz consigo todo um “mazal” (derramar; unção) que estará disponível para nós durante aqueles seis dias e no sétimo, fecha-se o ciclo e temos o recomeço!

A Ceia do shabat é a ocasião desta festa, e em qualquer festa o sentimento dominante é de profunda alegria pelo motivo que está sendo festejado. Aqui festejamos pela fé nossa ida à presença do Eterno; lá festejaremos a própria presença de um D-us Santo e maravilhoso, que preparou para o homem remido momentos memoráveis na sua presença! Lá estaremos com Ieshua, e a Escritura nos diz que o veremos face a face, poderemos contemplar as marcas dos cravos em suas mãos e lhe dizer: “Mestre, aqui estamos nós, os que na terra vivemos por causa do Teu nome e que ansiávamos por te ver e por estar contigo“. E Êle nos dirá: “Vinde benditos de Meu Pai, recebei por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mt 25.34). Nós o veremos, não como o Cordeiro que foi morto, mas como o Leão da Tribo de Judá, aquele que vive para sempre, o Vencedor da Morte. Celebremos então ao Senhor nesta noite com alegria e júbilo, pois fomos resgatados por seu santo e eterno amor!

Mario Moreno.