Mário Moreno/ agosto 3, 2020/ Artigos

Vendedores de azeite

Vamos falar sobre uma passagem muito conhecida nas Boas Novas: a parábola das virgens. Além de tudo o que já ouvimos, vamos buscar esclarecer algo intrigante sobre as virgens loucas.

E as loucas disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam. Mas as prudentes responderam, dizendo: Não seja caso que nos falte a nós e a vós; ide, antes, aos que o vendem e comprai-o para vós. E, tendo elas ido comprá-lo, chegou o esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta. E, depois, chegaram também as outras virgens, dizendo: Senhor, senhor, abre-nos. E ele, respondendo, disse: Em verdade vos digo que vos não conheço” Mt 25.8-12.

Neste texto a figura central é o azeite!

Mas antes de falarmos sobre isso é preciso falar sobre um outro assunto: onde o azeite era levado? “Mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas lâmpadas” Mt 25.4. Há algo de muito curioso aqui: a palavra “vasilha” vem do termo hebraico “keli” que significa: “armadura, armas, saco, bagagem, instrumento, vasos, utensílios”. No livro de Deuteronômio temos o seguinte: “Não haverá trajo de homem na mulher, e não vestirá o homem vestido de mulher: porque, qualquer que faz isto abominação é ao IHVH teu Elohim” Dt 22.15. Nesse verso a palavra “trajo” vem do termo hebraico “keli” e nos mostra que a “roupa” citada aqui é uma espécie de “armadura” e está ligada também a unção que o homem carrega.

Sha´ul nos informa sobre isso: “Portanto, tomai toda a armadura de Elohim, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes” Ef 6.13. A armadura – keli – está ligada a uma situação de guerra que precisa ser administrada diariamente. Esta armadura diz respeito a uma “unção” espiritual que além de nos proteger faz com que possamos lutar contra as forças malignas que nos assediam.

Voltando então em nosso raciocínio podemos afirmar que o que as virgens prudentes carregavam era uma unção que fazia com que elas pudessem estar aptas para responder ao chamado do Noivo e entrar na presença d´Ele pois carregavam uma luz que não se apagara.

Foi dito sobre Ieshua que sua missão seria a de “resgatar” a luz da eternidade que está dentro de cada homem e mulher que assim o desejarem. Mas onde está escrito isso? “Porque Elohim amou a eternidade de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” Jo 3.16. Perceba que o que o Eterno amou e enviou Ieshua para buscar foi a Eternidade que está dentro de cada ser humano. Ele não veio salvar o “mundo”, mas sim o sopro de vida eterna que está dentro de cada ser humano e que faz de cada um de nós parte integrante do Criador, pois uma centelha da eternidade habita dentro do ser humano e deve ser resgatada – quando a pessoa assim o deseja – para retornar ao seu Criador.

Dez virgens

Quem eram estas virgens? Qual é o conceito de virgem ou virgindade em hebraico?

“O verbo בתל (btl) não é usado na Bíblia, mas em árabe esse verbo existe no significado de separar ou separar. Ele vem com dois derivados:

O substantivo feminino בתולה (betulah), que significa “donzela virgem” ou melhor, “jovem em idade de casamento” (Levítico 21:13, Deuteronômio 22:19). Parece que, na Bíblia Hebraica, nossa palavra às vezes pode ser usada para uma virgem, mas geralmente mais para uma mulher jovem e vigorosa. Em Joel 1:8, uma betulah é instruída a lamentar seu marido falecido. Em Ester 2:17, um grande grupo delas passa a noite com o rei. E o profeta Ezequiel reclama que as irmãs Oholah e Oholibah estavam se prostituindo no Egito, onde seus peitos de betulah eram manuseados (Ezequiel 23:3).

O substantivo feminino בתולים (betulim), que significa “virgindade“. Esta palavra ocorre cerca de nove vezes na Bíblia (Deuteronômio 22:15, Juízes 11:37)”.

A “virgem” está ligada com a Noiva. Havia uma obrigatoriedade de que a Noiva deveria ser virgem. Existem vários textos que tratam sobre isso e a Noiva é a Nação de Israel.

Então estas “dez virgens” são na realidade a totalidade da nação de Israel em todo o mundo. O número de “dez” está ligado a Keter – coroa. O que todas deveriam receber neste caso seria a coroa de salvação. Mas algo aconteceu que uma parte delas – cinco – acabam não tendo óleo suficiente para adentrar e se ver diante do Noivo.

O que fazer numa situação destas? A resposta é: comprar o azeite! O que o azeite representa além da Presença do Espírito o Santo – como um selo – na vida das pessoas? Vejamos o que nos diz a tradição judaica:

“Como o azeite de oliva é um símbolo do saber judaico e a Torah é nossa fonte de sabedoria, pode-se dizer que o azeite é um símbolo da Torah. Por essa razão, o azeite está presente em tantos rituais judaicos. O acendimento da Menorá, que simbolizava a difusão da luz da Torah, era um dos serviços mais importantes realizados no Templo Sagrado de Jerusalém. Era da maior importância que o azeite usado fosse ritualmente puro porque representava a Torah e esta, por ser a Sabedoria Divina, tem de ser mantida em seu estado de pureza. É bem verdade que se a maioria do Povo Judeu estivesse em estado de impureza ritual, seria permitido recorrer ao azeite ritualmente impuro para acender a Menorá. Mas isso seria em último caso.”

Então podemos dizer que haviam cinco “virgens” que não tinham nem a presença do Espírito o Santo e nem o conhecimento e vivência da Torah em suas vidas! Por isso suas lâmpadas estavam se apagando…

Então o que dizer do azeite que estas virgens possuíam? “Assim como pureza e impureza ritual são conceitos que transcendem o intelecto humano, também o conceito de “Torah pura” significa uma Torah que é estudada e cujos mandamentos são cumpridos com o entendimento primordial de que sua verdadeira essência não pode ser inteiramente entendida intelectualmente. Uma Torah pura significa uma Torah que se origina em D’us, e não no homem – uma Torah que é estudada e cumprida com a compreensão de que se trata da Sabedoria e Vontade Divinas, não do homem. Como a Sabedoria do Infinito não pode ser plenamente compreendida pela mente finita do homem, nenhum ser humano pode dominar totalmente a Torah. Uma Torah não adulterada é aquela que é corretamente entendida como sendo a Divindade absoluta, cujas leis não foram alteradas para se adequar à aptidão intelectual ou aos desejos dos homens. Sua pureza é comprometida quando o homem muda seu conteúdo e suas leis em seu próprio benefício. Quando isso acontece, a Torah deixa de ser a Sabedoria Divina absoluta e se torna uma mistura de sabedoria Divina e humana: sua pureza fica, pois, comprometida”.

O que isso significa? Significa que aquelas virgens tinham um azeite que não era totalmente puro e isso fez com que suas lâmpadas estivessem se apagando.

Mas há um outro detalhe que é incrível: elas vão buscar o azeite de alguém que o vende!

O vendedor de azeite

Quem é esta pessoa? Que tipo de azeite ele vende? Qual é o resultado desta “aquisição”?

Em primeiro lugar vamos identificar o vendedor de azeite. Conforme o texto da tradição judaica nos mostrou existem pessoas que “adulteram” as Escrituras e que estão literalmente “vendendo” o azeite – a unção e a presença do Espírito o Santo – para outras pessoas mas sem ensinar-lhes que para manter isso é necessário ter um relacionamento com Ele.

Esta categoria de pessoas é muito conhecida: são aqueles que desejam receber muitas bênçãos sem ter que comprometerem-se com a obediência da Palavra. Estas pessoas buscam por cura, sucesso e por resolução de seus problemas mas sempre num nível “raso”, ou seja, sem ter um envolvimento com o Espírito o Santo que os leve a terem um padrão que faça com que tenham de abrir mão de práticas e valores que não correspondem com a Verdade.

O vendedor de azeite é justamente este “atalho” para receber os benefícios físicos e espirituais que a pessoa deseja. Vai à Sinagoga, congregação ou a igreja sempre em busca de algo; suas necessidades não tem fim!

Em todos os tempos e lugares sempre houveram os “vendedores” de azeite que estavam dispostos a dar algo a alguém em troca de uma boa remuneração.

Um outro detalhe: as virgens tiveram luz para encontrarem o vendedor de azeite, mas não para entrar na presença do Noivo. Isso fez com que perdessem o tempo do chamado feito pelo Noivo para entrarem na casa d´Ele e desfrutarem do casamento.

O outro lado da moeda: comprando a unção

E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito o Santo, lhes ofereceu dinheiro, dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito o Santo. Mas disse-lhe Pedro: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Elohim se alcança por dinheiro. Tu não tens parte nem sorte neste negócio, porque o teu coração não é reto diante de Elohim. Arrepende-te, pois, dessa tua iniquidade e ora a Elohim, para que, porventura, te seja perdoado o pensamento do teu coração; pois vejo que estás em fel de amargura e em laço de iniquidade” At 8.18-23.

Este é um caso muito interessante… Um homem chamado Shime´on – Simão – vê os milagres que Ieshua fazia através de seus discípulos e desejou “comprar” esta unção – que é associada com o azeite – e pelo que parece sua intenção era a de ser “reconhecido” através desta unção. A notoriedade é algo muito bom por um lado e perigosa por outro. Esta condição pode gerar o orgulho e a arrogância que são dois tipos de sentimentos que geram posturas terríveis.

Shime´on não havia entendido que a unção do Espírito é dada a cada um de acordo com a necessidade e não para a exaltação de quem quer que seja. A unção gera responsabilidade a quem a possui e faz com que esta pessoa esteja consciente de sua pequenez e não o contrário.

Tais pessoas estão dentro do mesmo padrão que as “virgens” que ficaram sem azeite; eles precisam de “projeção” de um “palco” para mostrarem ao mundo quem são e para isso usam qualquer artifício, até mesmo “comprar” a unção para si a fim de crescer em suas atividades ministeriais e assim destacar-se entre seus pares.

O fim destas pessoas é o mesmo que tiveram as virgens: a rejeição! Ieshua falou de tais pessoas dizendo: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos diabos? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” Mt 7.22-23.

Esta é uma palavra que ninguém deseja ouvir, ainda mais vinda do próprio Ieshua! Mas, infelizmente é uma realidade que já vivemos e que ainda viveremos de uma forma muito intensa.

Ainda existem muitas pessoas que desejam “comprar o azeite” e isso as conduz a caminhos muito perigosos; elas buscam um “atalho”, ou seja, uma forma de receberem algo mais rápida e facilmente.

Para tudo o que fazemos em nossas vidas existe um “retorno”, ou seja, cada decisão que tomamos nos conduz a uma resposta que poderá ser boa ou não. Isso depende de nossas decisões. Se isso é real em nossa vida “secular” imagine a nossa responsabilidade quanto às coisas espirituais!

Por isso o conhecimento é tão importante, pois somente baseado nele poderemos tomar decisões acertadas e somente então colher os frutos destas decisões ao longo de nossa vida.

A rejeição

Então, quando estas cinco virgens chegaram na casa do Noivo – elas sabiam onde Ele vivia – e bateram em sua porta ouvem algo muito desagradável: “E ele, respondendo, disse: Em verdade vos digo que vos não conheço” Mt 25.12. Esta frase se repete novamente quando Ieshua diz: “E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” Mt 7.23.

O tratamento que estas “virgens” recebem é o mesmo que foi dado a pessoas que diziam ter um relacionamento de serviço a Ieshua mas que o faziam de forma completamente errônea, pois vivam uma vida de pecado sem arrependimento.

Este fato nos mostra que estas virgens estão neste mesmo caminho e não conseguem entrar na presença do Noivo mesmo “comprando” o azeite que julgavam ser adequado para tal.

Esta situação demonstra que é necessário haver não somente um conhecimento das Escrituras mas também um relacionamento com o Ungido através das mesmas. Somente o conhecimento não resolve e nem mesmo a vivência – prática – sem conhecimento não leva a lugar algum.

O homem sempre pode “comprar” o azeite que ele deseja; o do “conhecimento” que lhe traz títulos e honra, mas que esbarra na falta de vivência e na incredulidade da ação do Espírito o Santo em nossos dias. Por outro lado, temos aqueles que “vivem” o mover do Espírito de forma intensa sem um conhecimento das Escrituras e fazem coisa que são contrárias à estas Escrituras que pregam e ensinam. Dois opostos que não levam a nada. Cada um vende uma qualidade de “azeite” diferente, mas que não resiste e sua luz se dissipa em pouco tempo.

Conclusão:

A situação ideal é buscar o azeite (unção) direto da fonte e assim viver as Escrituras sempre obedecendo e aguardando o momento em que o Noivo – Ieshua – virá para nos buscar e então entraremos em sua presença para a grande Festa de Casamento.

Que assim seja!

Baruch ha Shem!

Mário Moreno.