Mário Moreno/ janeiro 9, 2018/ Artigos

Graça parte II

Dando continuidade ao nosso artigo anterior precisamos esclarecer alguns pontos que ainda são críticos no conhecimento das Escrituras.

Vamos analisar algumas formas de pensamento referentes à “graça”.

O Pacto da Lei

D-us tinha servos fiéis que o adoravam isoladamente como Enos, Enoque, Noé, Jó, etc. Porém, D-us não tinha um povo exclusivamente seu, um povo para o adorar como D-us. Em Abraão D-us formou um povo para si, o povo de Israel. O Senhor D-us viu que precisava fazer um pacto (testamento) com seu povo, e levantou o seu servo Moshe para através dele estabelecer um pacto com Israel. E a Lei é este Pacto (Aliança, Acordo, Concerto, Testamento). D-us fez este pacto somente com o povo de Israel, e não com os outros povos existente na época, que obviamente não eram obrigados a guardar a Lei, que era um pacto entre D-us e Israel somente (Êxodo 6:4;19:5;34:27), e a Lei não justifica ninguém (Gálatas 3:11).

Esta é uma das ideias sobre a “graça”. E nela percebemos que segundo o pensamento deste escritor, o Eterno tem um padrão e este padrão está sendo dado a Israel através deste “pacto”. A afirmação deque ninguém mais era obrigado a guardar a Lei está explícita em suas palavras.

Bem vejamos o que nos diz as Escrituras:

“E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu e teve a Caim, e disse: Alcancei do IHVH um varão. E teve mais a seu irmão Abel: e Abel foi pastor de ovelhas, e Caim foi lavrador da terra. E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao IHVH. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura: e atentou o IHVH para Abel e para a sua oferta, mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o seu semblante” Gn 4.1-5.

Esta passagem nos mostra que havia uma “transmissão” via oral do conhecimento entre as famílias. Portanto se todos os homens nasceram a partir de Adam e Chava, então a “Lei” dada pelo Eterno aos nossos primeiros pais alcançou a todos os habitantes da terra! A teoria de que ninguém precisava obedecer à Lei por falta de conhecimento cai por terra. O conhecimento estava sendo transmitido não somente oralmente, mas o Eterno passa a colocar no coração do homem a distinção entre o pecado e a santidade, o certo e o errado, o bem e o mal. E isso é inegável em todos os tempos e lugares onde o homem habita.

Graça na Torah

Para demonstrarmos que não existiu um “pacto da Lei” que veio a ser substituído pela “graça” gostaria de mostrar algo muito interessante aos nossos leitores.

Quando o homem pecou ele foi excluído da presença do Eterno e expulso do Gan Eden. Antes disso o Eterno tomou uma providência em relação ao homem: “E fez o IHVH Elohim a Adão e a sua mulher túnicas de peles, e os vestiu” Gn 3.21. Para que o homem pudesse ser “vestido” o Eterno MATOU um animal. Vamos raciocinar: quando alguém morre em meu lugar, chamamos a isso de “graça”. O animal morreu para que o pecado de Adam e Chava fosse “coberto”; inclusive sua pele serviu para que a cobertura física se efetivasse. Isso significa que a “graça” existiu desde o primeiro momento da história do homem; não houve e não há um período definido em que as “eras” se desenvolvem.

Depois do animal ter morrido então nossos pais foram expulsos do Gan Eden, porém não antes de terem seu pecado “coberto” pelo animal que morreu para que eles fossem perdoados. Esta atitude nos mostra que a “graça” sempre esteve presente na história da humanidade, o que contraria a teoria de que a história foi “fatiada” em eras. É notável que o Eterno ensinou isso ao homem, ou seja, o padrão que ele deveria usar deste momento em diante para que houvesse o perdão de seus pecados.

O sacrifício do animal limpo seria então a alternativa para o pecado do homem até que viesse o Ungido que resolveria essa questão de uma vez por todas.

Levítico: a normatização dos sacrifícios

A pergunta mais comum que me fazem é: “Por que o Eterno criou normas para os sacrifícios?”

A resposta é simples: As normas são para que o homem não caia na tentação de fazer o culto ao Eterno da forma como ele acha correta. Caim fez isso e foi duramente repreendido pelo Eterno. As normas dadas pelo Eterno têm a finalidade de mostrarem ao homem o caminho pelo qual ele deve seguir enquanto está servindo ao seu Criador.

Vejamos algumas considerações sobre o serviço sacerdotal no Templo:

“O trabalho no Tabernáculo e no Templo centrava-se no serviço de refinamento da submissão da natureza física, que traz e eleva até a conversão de escuridão em luz. Portanto, um dos trabalhos que havia no Templo era o serviço dos Corbanót (sacrifícios). Trazer um sacrifício não era apenas um ato físico. Ao contrário, a participação dos Cohanim e dos Leviyim nos seus serviços, sua música e seu cântico demonstrou que a principal importância do sacrifício era espiritual.

Na esfera pessoal, do serviço de um homem para D’us, a idéia de um sacrifício expressa-se através do versículo: “Um homem que aproximar de vocês um sacrifício ao Eterno, do animal, do gado, etc.” [leviticos I:2], onde a princípio cabe perguntar: se a intenção era simplesmente elucidar as leis do Corban, deveria ter dito: “Um homem de vocês que aproximar um sacrifício ao Eterno, esta e aquela será a lei da oferenda de um sacrifício e seus estatutos;” por que está escrito “Um homem que aproximar de vocês etc.?” A transposição da frase mostra-nos que a intenção do versículo não é apenas descrever os detalhes de como trazer sacrifícios no serviço espiritual da alma do homem.

O termo Corban [cuja origem em hebraico é Carov = perto] tem por objeto a aproximação das forças e dos sentidos. Assim podemos interpretar o versículo da seguinte maneira: “Se um homem quer se aproximar da Divindade, então de vocês será o sacrifício para o Eterno; de vocês e em vocês depende a questão de ser um sacrifício para D’us, ou seja, ser próximo do Todo Poderoso. A responsabilidade, e a possibilidade de ser uma oferenda ao Eterno, de aproximar-se da Divindade, depende da própria pessoa”.

Novamente, quando um animal morria em lugar do pecador ele – o pecador – estava sendo alvo da graça do Eterno que impedia que ele enquanto pecador viesse a sofrer ainda mais sanções por conta do pecado. O processo de levar o animal para refazer a conexão com o Eterno não mudou: havia a convicção do pecado, o arrependimento e a sua “caminhada” até o local apropriado onde ele levava o sacrifício para que seu pecado fosse perdoado. E mais: enquanto ele se deslocava até o santuário as pessoas que o viam certamente sabiam que algo de errado havia ocorrido para que esta pessoa estivesse indo a caminho do Tabernáculo ou do Templo acompanhada de um determinado animal. As pessoas certamente olhavam e pensavam: “Qual foi o pecado desta pessoa para estar levando o sacrifício ao sacerdote?” Imagine o sentimento e o constrangimento de ser observado por pessoas as vezes desconhecidas mas que tinham a noção de que este homem/mulher havia pecado e por isso levava o animal para o sacerdote.

O melhor era que o pecador não precisava morrer sem a redenção, pois quando se arrependia e levava o sacrifício esta pessoa já fazia também com base na promessa que o Eterno havia dado aos nossos primeiros pais: “E disse o IHVH Elohim à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi. Então o IHVH Elohim disse à serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a besta, e mais que todos os animais do campo: sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida. E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente: esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor terás filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará” Gn 3.13-16.

Ou seja, a promessa da semente da mulher que pisaria na cabeça da serpente sempre foi entendida como a promessa do Redentor! E isso foi passado de geração em geração até a chegada do Ungido, Ieshua.

Por este motivo as pessoas eram salvas: pela esperança que tinham no Redentor! Caso contrário não podemos crer que houve qualquer pessoa nos céus, pois para aqueles que dizem que a salvação veio SOMENTE através de Ieshua, então homens como Noach, Iov, Avraham, Itshaq, Ia´aqov, etc… estão TODOS NO INFERNO! O que é um absurdo afirmar, mas para quem é dispensacionalista e pensa desta forma o raciocínio deve ser este.

Podemos afirmar então que a obediência aos mandamentos da Torah juntamente com a esperança pelo Redentor salvou a vida daqueles que precederam a vinda de Ieshua à terra!

Isso é tão verdadeiro que aparecem algumas passagens na Brit Hadasha que nos informam:

“E eis que lhes apareceram Moshe e Elias, falando com ele. E Pedro, tomando a palavra, disse a Ieshua: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, façamos aqui três tabernáculos, um para ti, um para Moshe e um para Elias” Mt 17.3-4.

“E aconteceu que o mendigo morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Avraham; e morreu também o rico e foi sepultado” Lc 16.22.

Estas duas passagens em especial nos informam que homens que viveram antes de Ieshua estão nos céus! Como conciliar isso com a teoria das dispensações que eliminam uma à outra? Impossível; ou a Palavra do Eterno está errada ou a teoria do dispensacionalismo está errada!

A Graça x atos de conduta

Uma outra teoria que circula livremente nos meios cristãos é que a graça aboliu a Torah e portanto a pessoa pode fazer o que quiser; se pecar o Eterno em nome de Ieshua nos perdoará!

Esta teologia diz que depois da vinda do Messias tudo está liberado. Agora podemos comer de tudo, viver uma vida desregrada, fazer o que der vontade, enganar, etc…

Tudo isso está implícito nesta teologia que busca uma “flexibilização” para os mandamentos do Eterno. É interessante que tais pessoas não se importam em negar a Torah, mas buscam nela subsídios para seu ministério, como por exemplo:

– Dízimo

– Ofertas

– Sacerdócio do homem

– etc…

Vejamos a forma como pensam os teólogos defensores da “graça”:

D-us sabendo que o povo de Israel jamais cumpriria toda a Lei, enviou seu Filho, que tornou-se homem e judeu, para cumpri-la pelo povo. Jesus ao iniciar seu ministério terreno disse: “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim revogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que os céus e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido” (Mateus 5:17,18).

Jesus disse que não veio revogar ou destruir a Lei, mas sim cumprir a parte que o povo de Israel jamais conseguiu cumprir, e que por este motivo já havia se tornado uma maldição para os judeus (Gálatas 3:13). Se Jesus veio para cumprir a Lei, então devemos crer que Cristo já cumpriu a Lei. Pensar diferente é dizer que Cristo falhou na sua missão, pois ele mesmo disse: “Eu não vim para revogar, vim para cumprir” (Mateus 5:17).

Jesus disse que o Pacto da Lei não seria revogado sem que fosse cumprido, sendo que Jesus era o único capacitado e encarregado para esta missão impossível ao homem: cumprir a Lei. A Lei foi revogada (após ser cumprida) por causa de sua fraqueza e inutilidade. (Hebreus 7:18,19) Jesus é vencedor, levou até ao fim sua missão, cumpriu a Lei, revogou-a e ainda estabeleceu um NOVO TESTAMENTO, ou seja, o Pacto da Graça. O fim da Lei é Cristo (Romanos 10:4).

Vamos dividir em parágrafos o que este teólogo escreveu.

É estranho afirmar que o Eterno institui uma lei que não pode ser cumprida pelo homem e que somente Ieshua seria capaz de cumpri-la! Não consigo entender um Ser tão sábio, tão imenso e que faria algo que o homem não pudesse alcançar!

O texto citado de Mt 5.17-18 fala que até que os céus e a terra passem – acabem – nada seria omitida da Torah! Esta é a interpretação! Em outro detalhe: quando a Torah se tornou maldição para o homem? Quando ele a desobedeceu! Isso fica muito claro em toda a Escritura! Mas isso não significa que o homem seja incapaz de cumpri-la, pois as bênçãos vem sobre o ser humano quando ele obedece. A obediência pressupõe obediência a Torah, o que põe por terra esta teoria.

Ele fala que “A Lei foi revogada (após ser cumprida) por causa de sua fraqueza e inutilidade”. Novamente pergunto: por que o D-us Eterno faria algo transitório? Se a Torah foi revogada então isso inclui os “Dez Mandamentos” e por este raciocínio matar, roubar, adulterar, dizer falso testemunho, cobiçar, etc… não são mais pecados! Por este raciocínio o homem pode fazer o que quiser sem ser imputado como culpado por qualquer de seus atos.

Obs: o verso que diz: “O fim da Lei é Cristo” (Romanos 10:4) utiliza-se de uma palavra “fim” – que está relacionada à finalidade, propósito, alvo. Em português estes significados existem, porém esta palavra significa também “cessação”; algo que chega ao fim. A Torah aponta para o Ungido. É isso que significa o verso, não que o Ungido trouxe a cessação da Torah!

Por isso podemos afirmar que toda esta teoria não passa de uma forma equivocada de interpretação das Escrituras.

Graça de Ieshua

Muito se fala que Ieshua trouxe a graça ao mundo. Mas vamos analisar algumas de suas palavras e concluiremos.

“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de maneira nenhuma entrareis no Reino dos céus. Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo, e qualquer que disser a seu irmão raca será réu do Sinédrio; e qualquer que lhe disser louco será réu do fogo do inferno. Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua oferta. Reconcilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo, que de maneira nenhuma, sairás dali, enquanto não pagares o último ceitil. Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher doutro para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela” Mt 5.20-28.

Pergunta: onde está a graça de Ieshua aqui? Faço esta pergunta por que tanto se fala que Ele trouxe a graça, mas aqui os mandamentos da Torah são intensificados ainda mais. Se não vejamos:

– Não matar – este é o sexto mandamento da Torah. Ieshua não o aboliu, mas o intensificou dizendo que “matar” é muito mais do que tirar a vida de alguém; para Ele até o fato de se encolerizar contra alguém já é enquadrado como “matar”.

– A entrega da oferta – é um mandamento da Torah, mas nada é dito sobre ter algo contra o irmão. Na Torah as ofertas eram entregues independente dos sentimentos para com o próximo. Mas Ieshua agora “amarra” as duas coisas, dizendo que se alguém tem algo contra o irmão, a oferta deve ser deixada, o problema resolvido e depois a oferta será entregue!

– Adultério – este é o sétimo mandamento da Torah. O adultério era configurado por uma relação extra-conjugal entre em homem e uma mulher casados. Ieshua intensifica isso e amplia tirando somente do nível físico e incluindo a intenção na prática deste pecado. O adultério passa a ser toda a intenção de estar com outra mulher que não seja a esposa!

Novamente perguntamos: onde está a graça aqui? Que mandamento foi abolido por Ieshua nestas palavras?

A resposta é: nenhum! A prática de Ieshua com estas palavras é conhecida como “cercas da Torah”, ou seja, Ele instituiu normas que vão além das Escrituras para proteger o homem do pecado!

O desconhecimento dos teólogos do judaísmo fez com que eles interpretassem as Escrituras a seu bel prazer, ou seja, de acordo com a tradição greco-romana recebida por eles. Essas interpretações foram espalhando-se ao redor do mundo e fazendo assim que houvessem diversas distorções não somente nas pregações dos líderes como também na vida de seus ouvintes, pois este tipo de interpretação produziu e ainda produz crentes sem compromisso com o Eterno e consequentemente sem compromisso com suas congregações e com seus líderes.

A graça não é um simples “argumento” que faz com que o homem seja “liberto do jugo da Torah”, pois a Torah não é um jugo; ela é o prazer do homem e nela devemos meditar dia e noite. Estas palavras foram ditas a Iehoshua pelo Eterno: “Não se aparte da tua boca o livro desta Torah; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e então prudentemente te conduzirás” Js 1.8.

Tenho uma pergunta: quem disse estas palavras? O texto nos diz que foi o Eterno. “E sucedeu depois da morte de Moshe, servo do IHVH, que o IHVH falou a Josué, filho de Num, servo de Moshe, dizendo” Js 1.1. Se o Eterno disse isso, então este é um conselho excelente! Por que Ele daria este conselho a Ieshoshua e depois aboliria tudo o que foi escrito como uma norma de conduta para seu povo? Se eu preciso meditar na Torah dia e noite é por que ela contém ensinos que certamente precisam ser assimilados e vividos para o meu próprio bem!

Bem, gostaria de terminar este artigo pedindo aos meus leitores que possamos ser honestos: precisamos repensar nossos padrões e nossa teologia urgentemente!

Os “grandes líderes” da nação infelizmente foram ensinados de forma a assimilarem isso não se preocupando em pensar naquilo que está escrito; eles apenas repetem!

Que a restauração, necessária para a volta de Ieshua, nos alcance rapidamente fazendo que os céus liberem o Ungido e possamos estar para sempre com Ele!

Que assim seja e se cumpra!

Mário Moreno.