Mário Moreno/ fevereiro 12, 2018/ Parasha da semana

TERUMA

Um presente

Ex 25.1–27.19 / I Rs 5:26–6:13 / II Co 9:1-15

        Na Parasha desta semana falaremos sobre a construção do Tabernáculo de Moshe, os materiais utilizados e seus respectivos significados. Veremos a importância de cada coisa em seu devido lugar e a forma que o Eterno usou a fim de caracterizar, através de cada objeto, a forma de os objetivos do culto à Ele!

Nossa porção desta semana tem início com o verso que diz: “Então falou o IHVH a Moshe, dizendo” (Êx 25:1). A palavra que define o Eterno em hebraico é o tetragrama: IHVH e que significa: “Eu me torno aquilo que me torno”. Novamente o Eterno se apresenta com a perspectiva de tornar-se algo que seu povo neste exato momento necessita: seu tabernáculo! Agora a palavra do Eterno chega a Moshe como uma ordenança, a fim de que os filhos de Israel possam, cumprindo-a, serem grandemente abençoados! Mais uma vez o Eterno está levando seu povo a envolver-se com Ele de forma íntima e definitiva.

Porque D’us ordena ao povo de Israel que Lhe construa um Tabernáculo

Um príncipe viajou de um país distante para casar-se com a filha única do rei. Quando quis partir com ela, o rei disse: “Não posso deixá-la partir, ela é minha filha única. Por outro lado, ela também é sua esposa, e não tenho o direito de detê-la aqui. Por isso, pedir-lhe-ei um favor. Construa um quarto extra para mim, onde quer que se estabeleçam; de maneira que eu possa viver perto de vocês!” Igualmente, depois que D’us deu a Torah, Sua filha preciosa, ao povo judeu, pediu-lhes que construíssem um Tabernáculo (Mishcan), no qual Sua Shechiná (Divindade) residiria permanentemente na terra.

Três parábolas: A que se compara o Tabernáculo

D’us anunciou ao povo judeu: “Vocês são meu rebanho, e Eu sou o pastor. Assim como um pastor arma a tenda perto das ovelhas para cuidá-las, Eu desejo ter uma morada perto de vocês.”

“Vós, o povo judeu, sois Meu vinhedo e Eu, D’us, o guardador do vinhedo. Aquele que cuida do vinhedo normalmente vive em uma choupana perto do vinhedo, de onde possa observá-lo para assegurar-se de que não entrem ladrões. Construam, pois, uma choupana para Mim junto ao vinhedo.”

“Vós, o povo judeu, também sois meus filhos; e Eu, D’us sou vosso pai. É uma grande honra para os filhos viver em um lar próximo ao pai e também é uma honra para o pai viver perto dos filhos.”

As chaves das três parábolas

D’us é comparado:

1 – A um pastor

2 – A um vinhateiro

3 – A um pai

Por que não basta uma comparação? Por que é necessário haver três parábolas diferentes?

Na verdade, estes são três momentos diferentes da história do povo judeu. Em cada época, D’us manteve uma relação distinta com os judeus.

1 – Quando o Povo de Israel perambulou pelo deserto, D’us morava em um Tabernáculo parecido a uma tenda de pastor. Um pastor não vive em um lugar fixo. Segue o rebanho onde este vai para pastar e arma sua tenda perto das ovelhas para protegê-las e procurar-lhes comida.

Do mesmo modo, D’us “seguiu” o povo judeu pelo deserto. Como um pastor fiel, guardou-os dia e noite e estendeu Suas nuvens ao redor deles, e os alimentou com maná, aves, e água da fonte.

2 – Em Israel o rei Salomão construiu o Templo Sagrado para D’us, um edifício de pedra. Assim como o vinhateiro cuida do vinhedo, do mesmo modo D’us protegeu a Terra de Israel de todos os inimigos. Mesmo assim, o Templo Sagrado foi comparado apenas a uma “choupana” e não a um lugar permanente, pois não durou para sempre. D’us predisse que o Templo Sagrado continuaria existindo somente enquanto os filhos de Israel guardassem fielmente a Torah. Quando abandonaram as mitsvot de D’us, o Templo Sagrado, ambos o primeiro e o segundo, foram eventualmente destruídos.

3 – Quando Mashiach vier e D’us nos der o terceiro Templo Sagrado, esse será comparado a um “lar” – pois durará para sempre. Então todos verão que D’us é nosso pai e que somos Seus filhos.

O Tabernáculo como moradia Divina

Ao ouvir as palavras de D’us: “Que façam um Santuário para Mim, para que habite dentre eles”, Moshê ficou surpreso. “Como podes Tu, Cuja Glória preenche Céus e terra, habitar numa humilde moradia que erguemos para Ti?” – perguntou.

D’us respondeu: “Nem ao menos preciso do Tabernáculo inteiro como local de residência. De fato, confinarei Minha Shechiná à limitada área onde se localizará a arca.”

D’us, em Seu grande amor pelo povo judeu, restringiu Sua Shechiná ao Tabernáculo, próximo aos Seus filhos. O Tabernáculo físico de madeira, contudo, era apenas um símbolo para a verdadeira habitação da Shechiná – o coração de cada judeu.

Como é possível transformar o coração de alguém num Santuário para a Shechiná? Isto é alcançado devotando-se o coração à Torah e à serviço de D’us.

A importância do Tabernáculo para o povo judeu

De fato, o Tabernáculo (e mais tarde o Templo Sagrado) beneficiava o povo judeu de três maneiras:

  • Como resultado do serviço realizado da maneira como D’us prescreveu, o povo de Israel recebia proteção celestial contra quaisquer possível atacante.
  • O Tabernáculo era fonte de inspiração espiritual. Cada judeu que freqüentasse o Tabernáculo e o Templo Sagrado, era estimulado a incrementar a observância de Torah e mitsvot. O Santuário e o Templo eram permeados por uma atmosfera de temor a D’us, e observando os cohanim (sacerdotes) realizarem diligentemente o serviço, o povo judeu era motivado a aprimorar sua espiritualidade.
  • A nação inteira testemunhava constantemente milagres óbvios no Tabernáculo e no Templo Sagrado. Estes fenômenos sobrenaturais demonstravam-lhes o grande amor de D’us com Seu povo, que era como a relação de pai e filho.

Agora o Eterno fará com que o povo participe da construção do Tabernáculo dando o material necessário. “Fala aos filhos de Israel, que me tragam uma oferta alçada; de todo o homem cujo coração se mover voluntariamente, dele tomareis a minha oferta alçada” (Êx 25:2). A primeira coisa que notamos é que a palavra “oferta” em hebraico é terumâ! Esta palavra significa “contribuição, levantamento de ofertas”. A palavra vem de uma raiz (rûm) que significa altura, altivez; alto, para cima. Há ainda a idéia do louvor que nos introduz ao conceito de “altos louvores” e também de “ser exaltado”. Logo percebemos que estas ofertas para o Tabernáculo precisam ser dadas da forma correta, ou seja, para o alto, para D-us! O objetivo delas está implícito na própria palavra que nos fala de altos louvores sendo prestados a Ele a fim de que seja exaltado! Aqui há também o fato de que a oferta deveria ser voluntária, mostrando-nos que haveria uma disponibilidade nos corações de certas pessoas a fim de que sentissem a necessidade de ofertarem ao Eterno os materiais do Tabernáculo!

Entre os materiais que o Eterno destaca a fim de construírem o Tabernáculo alguns nos chamam mais a atenção: “E esta é a oferta alçada que recebereis deles: ouro, e prata, e cobre, e azul, e púrpura, e carmesim, e linho fino, e pêlos de cabras, e peles de carneiros tintas de vermelho, e peles de texugos, e madeira de acácia, azeite para a luz, especiarias para o óleo da unção, e especiarias para o incenso, pedras de ônix, e pedras de engaste para o éfode e para o peitoral” (Êx 25:3-7). Todos os materiais aqui listados não eram abundantes no deserto pelo qual caminhavam! Pelo contrário, havia uma grande escassez de riquezas e de materiais luxuosos entre eles, mas o Eterno agora lhes solicita que lhe seja dado aquilo que há de melhor! Toda a riqueza dada aos israelitas agora deveria de certa forma retornar ao Altíssimo! No verso 6 há uma palavra muito interessante: óleo (em hebraico, shemen) que significa “óleo, óleo de oliva já pronto”. O óleo tem vários usos distintos a saber:

  1. Era usado como óleo de cozinhar para ser misturado com farinha;
  2. Era usado de diversas maneiras como parte dos sacrifícios e da adoração. O próprio óleo era dado como oferta;
  3. Desempenhava funções simbólicas em cerimônias de consagração;
  4. Era usado no preparo de cosméticos e perfumes;
  5. Era importante no uso medicinal e
  6. Era usado como combustível para as lâmpadas.

Além do óleo haviam as especiarias – besem em hebraico – e que significa especiarias. A palavra tem também o sentido de doce, agradável. Elas eram usadas na purificação e no embelezamento e também a fim de mostrar riquezas e posses.

Os materiais necessários para a construção

D’us ordenou que quinze diferentes materiais fossem coletados para a construção do Tabernáculo e seus componentes. Cada material foi selecionado por D’us para conceder ao povo judeu um mérito ou bênção especial, ao doá-lo.

  • Ouro: D’us disse: “Que o ouro doado para o Tabernáculo expie o ouro erroneamente doado para o bezerro de ouro.”
  • Prata
  • Cobre

Há três tipos de oferta (tsedacá), que podem ser comparados ao ouro, prata e ao cobre. A oferta que a pessoa dá quando ela e sua família são ricas e as coisas vão bem é comparada ao ouro. Este tipo de oferta tem o mais poderoso efeito no Céu, comparável a um presente a um imperador. Apesar de ser dada sem nenhuma razão em especial, protege o doador de futuras eventualidades. Ze Hanoten Bari (Aquele que dá quando tem saúde), formando Zahav (ouro, em hebraico). Há, então, um segundo tipo de oferta, a oferta que a pessoa dá quando adoece. É menos efetiva, uma vez que é dada num momento de necessidade; sendo, portanto, comparada à prata. Se a pessoa adia a doação de oferta até que esteja gravemente doente (e, metaforicamente, está com a corda no pescoço, prestes a ser executado), o valor de sua oferta é reduzido a cobre.

Não obstante, uma pessoa não deve abster-se de dar oferta, sob qualquer circunstância. Sua oferta a precederá (no Mundo Vindouro), e lhe garantirá boa reputação.

  • Lã tingida de azul-turquesa com o sangue de uma criatura marítima chamada chilazon
  • Lã tingida de púrpura
  • Lã tingida de vermelho púrpura
  • Fino linho branco
  • Lanugem de cabras
  • Peles de carneiro tingidas de vermelho
  • Peles de Tachash multicoloridas

Que animal era o Tachash? Era um unicórnio com pele multicolorida. Existiu apenas naquela época, para que o povo judeu pudesse utilizar sua pele para fazer as tapeçarias do Tabernáculo. Depois disso, se tornou extinto.

  • Madeira de cedro de shitim (acácia)

Por que D’us prefere a acácia a todos os outros cedros?

O cedro de shitim foi escolhido por D’us porque não dá frutos. D’us queria dar exemplo a alguém que constrói uma casa. A pessoa deveria desta forma raciocinar: “Se até o Rei dos Reis construiu Seu palácio da madeira de uma árvore estéril, nós certamente não podemos utilizar a madeira de uma árvore frutífera para este propósito!”

Quando Ia´acov chegou ao Egito, plantou as árvores de shitim, pois sabia, graças a sua profecia, que os judeus os necessitariam mais adiante para construir o Tabernáculo. Ia´acov ordenou a seus filhos: “Quando saírem do Egito, levem junto a madeira de shitim que plantei.”

A viga mais comprida do Tabernáculo media cerca de 15 metros. Esta viga foi feita da madeira da árvore que Avraham nosso patriarca havia plantado em Beer Shêva! A famosa árvore, debaixo da qual servia seus hóspedes.

Quando os judeus cruzaram o Mar dos juncos, os anjos cortaram essa árvore e a levaram até o mar. Deixaram-na cair diante dos judeus e exclamaram: “Esta é a árvore que Avraham plantou em Beer Shêva! É debaixo dela que ele costumava orar a D’us!”

Quando o povo judeu ouviu isso, levantaram a árvore e a levaram consigo. Utilizaram-na como viga central do Tabernáculo.

  • Azeite de oliva (para acender a menorá)
  • Especiarias para o azeite de unção e o incenso
  • Duas pedras de ônix e doze tipos de pedras preciosas para o efod e o peitoral (partes da vestimentas do sumo-sacerdote)

 Já no verso 8 está dito: “E me farão um santuário, e habitarei no meio deles” (Êx 25:8). A palavra “santuário” em hebraico é miqdash e significa “lugar santo, santuário, parte sagrada”. Em conformidade com as palavras desta raiz (qdsh), miqdash denota aquilo que foi dedicado ao domínio do sagrado. Aqui refere-se à área física dedicada à adoração ao Eterno. O D-us Eterno estabelece que deve haver um lugar a fim de haja um encontro entre o Eterno e o homem: o miqdash! Este lugar foi previamente separado para uso exclusivo do Eterno. Ali é o seu domínio, o lugar onde o secular e o santo se encontram. Ali o Eterno determinou ser o lugar para que o homem receba sua Palavra e sua presença! Ele viria para aquele lugar a fim de ali habitar. A palavra “habitar” em hebraico é shakan e significa “habitar, tabernacular”. Ressalta a idéia de vizinhança e de proximidade. Mais uma vez vemos aqui o carinho demonstrado pelo Eterno a fim de estar próximo ao homem, de ser seu vizinho, de estar sempre perto dele a fim de socorrê-lo ou mesmo estar disponível para o homem que o ama! De certa forma isso soa de forma estranha, mas vejamos a coisa por este lado: o Eterno é o nosso Criador e consequentemente é o nosso Pai. Existem vínculos familiares fortíssimos entre nós e o Criador. Sendo assim ele – como todo pai – deseja ficar, estar, permanecer próximo de seus filhos. Isso é tão natural para nós, porque não seria para Ele? Por isso o Eterno providenciou um lugar a fim de estar junto dos seus amados. No passado isso ocorria assim e hoje nós temos o privilégio de ter o D-us Eterno tabernaculando em nós através de Ruach Elohim (O Espírito de D-us)! Ele continua estando próximo – e muito próximo – de nós! Isso não é maravilhoso?

Que aspecto tinha a arca

De todos os utensílios do Tabernáculo, D’us ordenou que a arca fosse construída primeiro. Instruiu que sua construção precede até mesmo a próprio Tabernáculo. A arca constava de três caixas abertas na parte superior; uma encaixava dentro da outra. A caixa menor era de ouro puro, e encaixava dentro de uma de madeira. A caixa de madeira encaixava dentro de uma caixa maior, que era feita de ouro. Desta maneira, a arca de madeira, era folheada a ouro por dentro e por fora, exatamente como D’us ordenara.

A caixa de ouro externa tinha um belo rebordo de ouro, semelhante a uma coroa. A arca onde as tábuas foram guardadas simbolizava a Torah, e os ornamentos representavam a Coroa do estudo da Torah.

O que a arca simbolizava

D’us conferiu ao povo judeu três “coroas” (posições de grandeza):

  • A coroa da Torah, que era representada pela arca.
  • A coroa do sacerdócio, que era representada pelo altar.
  • A coroa da monarquia, que era representada pela mesa.

A coroa do estudo da Torah sobrepõe-se aos dois ofícios. Somente um judeu nascido numa família real ou sacerdotal é elegível para posições de monarquia ou sacerdotal. A oportunidade de se tornar um grande sábio de Torah, contudo, é acessível a qualquer um.

A arca também representava o estudioso de Torah.

As arcas interiores e exteriores eram de ouro, para indicar que os sentimentos íntimos de um estudioso de Torah devem coadunar-se com sua conduta externa. Pobre do estudante de Torah que porta a Torah em seus lábios, enquanto seu coração é desprovido de temor a D’us!

A santidade da arca e seus milagres

D’us fez muitos milagres em relação a arca. Aqui estão alguns:

  • A arca com suas varas deveria ter realmente ocupado toda a área do Santo dos Santos, de parede a parede. Mas, quando o sumo-sacerdote ali entrava, havia espaço suficiente para que pudesse caminhar ao redor de toda a arca. A arca em si, milagrosamente, não ocupava nenhum espaço.
  • Quando os levitas carregavam a arca não sentiam o menor peso sobre os ombros. Não apenas isso, mas a arca até os levantava e os transportava!
  • D’us ordenou a Moshê que construísse uma segunda arca que sempre viajava adiante do povo de Israel durante os quarenta anos no deserto. Esta arca desprendia faíscas de fogo que matavam todas as serpentes venenosas e os escorpiões que apareciam no caminho.

As barras da arca

De ambos os lados da arca havia duas varas de madeira revestidas de ouro, que passavam por arcos e que possibilitavam o transporte da arca de um lugar a outro. D’us deu uma ordem especial: as barras deveriam permanecer nos anéis o tempo todo. Não podiam ser removidos nunca, nem mesmo quando o povo judeu acampava. A eterna presença das hastes na arca simboliza o conceito de que a Torah não está vinculada à lugar algum. Onde quer que os judeus fossem, voluntariamente ou não, sua Torah também iria com eles, pois o meio de seu transporte está sempre atado à esta.

 A cobertura da arca

A arca tinha uma coberta de ouro, chamada capôret. Era feita do mesmo bloco de ouro de que eram feitos os dois anjos, os keruvim. Por que esta cobertura se chama capôret? Capôret deriva da palavra capará, expiação, indicando que este ouro expia pela transgressão do povo judeu de ter doado ouro para a construção do bezerro.

 Os Keruvim – Os anjos de ouro

D’us ordenou a Moshê que pegasse uma grande pepita de ouro, e esculpisse tanto a cobertura da arca quanto os keruvim, anjos, que ficam sobre essa. Os keruvim não eram esculpidos como elementos separados e então soldados a cobertura; mas emergiam da própria cobertura. Encaravam-se mutuamente, estendendo as asas sobre a arca. Apesar de, maneira geral, ser proibido fazer estátuas, os keruvim eram exceção, uma vez que foram construídos sob uma ordem especial de D’us.

D’us anunciou a Moshê: “Minha Shechiná residirá entre os keruvim. Sempre que falar com você Minha voz emanará de lá.” Os keruvim nos dão uma lição sobre a proteção de D’us. A arca representa o estudo de Torah. D’us colocou anjos sobre a arca para demonstrar-nos que Seus anjos protegem aqueles que estudam a Torah. As faces dos keruvim pareciam-se com a de duas crianças. Quando o povo judeu visitava o Templo Sagrado nas Festividades, a cortina divisória que cobria o Santo dos Santos ficava aberta. Podiam então ver os keruvim que se encontravam abraçados. Dizia-se aos visitantes: “Vejam quão amados vocês são para o Todo-Poderoso!” Porém quando o povo de Israel não cumpria a vontade de D’us, as faces dos keruvim ficavam de costas uma para a outra. O milagre dos keruvim que abraçavam-se mutuamente em sinal de aprovação Celestial, e viravam a face quando D’us ficava desgostoso com o povo judeu, provava ao povo a Providência Especial de D’us sobre eles. Esta visão, portanto, inspirava-os à teshuvá (arrependimento).

No momento da destruição do Templo Sagrado, quando os povos invadiram o Templo, encontraram, surpreendentemente, os keruvim abraçados um ao outro. D’us estava, desta forma, demonstrando aos judeus que até a destruição foi motivada por Seu profundo amor por eles. Em Sua misericórdia, derramou Sua ira sobre paus e pedras, poupando assim o próprio povo da aniquilação.

Entre os móveis que estavam no tabernáculo destacaremos: “Depois porás na arca o testemunho, que eu te darei” (Êx 25:16). A arca era um dos (senão o mais) importantes objetos do Tabernáculo. Ali estavam contidas as tábuas da Torah, o maná e a vara de Arão. Isso nos ensina várias coisas. A primeira é que a arca era feita de madeira e recoberta com ouro! Veja que coisa linda, pois a madeira representa a humanidade (posta no Santo dos Santos), porém não uma humanidade qualquer, pois ela foi recoberta com o divino (que é o significado do ouro). A arca então nos fala que é possível ao homem estar no Santo dos Santos, porém não de qualquer forma! Nós não podemos (e nem devemos) presumir que é possível entrar de qualquer forma na presença do Eterno D-us de Israel. Para fazermos isso é necessário estar revertidos com aquilo que é divino! Ou seja, precisamos ter envolvendo nossa vida aquilo que é o próprio D-us, a fim de entrarmos na presença de D-us! Como está escrito: “Porque todos quantos fostes imersos no Ungido já vos revestistes do Ungido” (Gl 3:27).

Os objetos contidos na arca também nos falam sobre nossa própria vida. As tábuas da Torah nos falam sobre a Palavra que recebemos do Eterno, uma palavra que é pura e que foi escrita pelo próprio D-us Eterno. Isso nos dá a garantia de sua infalibilidade e de que tudo o que foi dito por Ele deverá cumprir-se! Já o maná nos fala sobre a provisão diária às nossas vidas. Este é o alimento (não só o espiritual) mas também aquilo que é físico e temporal, que sustenta nossa vida enquanto humanos e nos satisfaz os desejos de nosso corpo físico. Ele vem do alto (dos céus) e portanto de D-us a fim de que dependamos d´Ele em cada aspecto de nossa vida diária. Finalmente temos a vara de Arão e esta nos fala sobre a autoridade que nos é conferida pelo Eterno. Essa autoridade nos foi outorgada pela Palavra, mas somente é possível de ser adquirida num lugar: na presença do Eterno! Não é um autoritarismo ou uma atitude de imposição, mas sim autoridade, domínio, poder para vencer o mundo material e o espiritual. E isso somente poderemos adquirir quando o Eterno nos ungir para tal. Mas para isso precisamos entrar no lugar onde Ele está: o Santo dos Santos!

Uma outra coisa que fazia parte da arca está descrita aqui: “Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório” (Êx 25:18). A palavra “propiciatório” é kapporet em hebraico e significa “propiciatório, lugar de expiação”. A raiz kapar vem do árabe que significa “cobrir, ocultar”. O propiciatório era o que costumamos chamar de a tampa da arca! Era justamente o lugar onde o Eterno se manifestava. Justamente por esta razão é necessário que haja ali expiação, ou seja, ali o pecado de estar encoberto por algo que traga a santidade. Isso acontece a fim de que o Santo se encontre com o homem num lugar que esteja à sua altura, ou seja, que possa ter suas qualidades de santo, puro e limpo. Isso nos fala também que a tampa da arca cobria aquilo que estava dentro dela! Isso parece um tanto óbvio, mas não é, pois era necessário retirar a tampa a fim de enxergar-se o conteúdo da arca e também para ter-se acesso aos objetos. Mas para que isso era necessário primeiro entrar naquele lugar e ali permanecer a fim de realizarmos estes atos. Novamente chegamos à mesma conclusão: é necessário termos santidade para podermos, primeiro entrar no Santo dos Santos e depois para permanecermos ali na presença do Eterno!

A tampa tinha sobre si dois querubins de ouro! Em hebraico “querubim” é kerub. Esta palavra é usada para descrever o nome dos seres angélicos descritos como seres com asas. O verbo cognato acadiano significa “abençoar, louvar, adorar”. Aqui temos uma pequena descrição de onde o Eterno aparecia: entre os querubins. Estes seres atuam aqui como se fossem a “guarda de honra” do D-us Todo-Poderoso! Os querubins não são anjos, pois os anjos não possuem asas. Eles pertencem a uma ordem superior ma hierarquia dos seres celestiais. Geralmente este tipo de ser está envolvido com grandes confrontos e atua gerindo grandes áreas e até nações! Lúcifer antes de cair pertencia a esta ordem de seres celestiais. Nós convencionamos chamá-los de “anjos” porque recebemos uma tradição católico-romana que nos fala que os anjos tem asas! Isso não é verdade! As asas são atribuídas aos arcanjos, querubins e aos serafins. Por isso estes seres aparecem aqui, justamente no lugar onde o Eterno se manifestava! Outra coisa interessante é que eles deveriam ser feitos de ouro puro. A palavra “ouro” em hebraico é zahab, e significa isso mesmo: “ouro”. Sua raiz vem de zhb que denota também “brilhar, reluzir”. Os querubins, além de serem os “recepcionistas” do Eterno, eles deveriam também demonstrar um pouco de sua “glória”. Por isso eles eram de ouro. O ouro também nos fala sobre a divindade e estes seres eram assim feitos para dizerem que ali a divindade se manifestava.

Um outro móvel do tabernáculo era a mesa dos pães da proposição. “E sobre a mesa porás o pão da proposição perante a minha face perpetuamente” (Êx 25:30). Vejamos o por que do Eterno colocar no Tabernáculo uma mesa. A mesa – shulhan em hebraico é o lugar onde se deve comer. Após a destruição do Templo no ano 70 D.C. os judeus não tem mais o altar para os sacrifícios. Agora a mesa se transformou em seu “altar”. Ela já era um lugar reservado para a comunhão e agora é também o altar e isso demonstra-nos que o Eterno colocou uma mesa dentro do Tabernáculo para ter comunhão com o homem! E qual foi o instrumento determinado pelo Eterno para ter comunhão com o homem? Foi justamente o pão! A palavra em hebraico para “pão” é lechem e ela significa “comida, pão, cereal”. Novamente vemos quão maravilhoso é o amor do Eterno sobre nós. O pão representa duas coisas: a primeira é a própria palavra do D-us Eterno. Ela funciona como nosso alimento “espiritual” e supre toda a nossa necessidade. Uma outra coisa é que a Palavra é usada para termos comunhão com D-us. Um outro significado para o pão é o próprio Ieshua, pois Ele declarou: “E Ieshua lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede” (Jo 6:35). Aquilo que está representado no Tabernáculo somente aponta para uma realidade ainda maior e futura: a nossa comunhão com o Eterno através da Palavra e de Ieshua! A palavra traduzida por “proposição” vem do hebraico panîm que significa “rosto, presença”. Os pães além de representarem a presença do Eterno ali falavam em fazer-se isso (isto é, comer) em sua presença! Ali já estaríamos em contato com a Divindade e já teríamos iniciado desfrutar daquilo que Ele tem para nos dar: a Sua presença!

Outro objeto que nos fala muito no Tabernáculo vem descrito a seguir: “Também farás um candelabro de ouro puro; de ouro batido se fará este candelabro; o seu pé, as suas hastes, os seus copos, os seus botões, e as suas flores serão do mesmo” (Êx 25:31). Aqui está descrita a menorah, que foi traduzida por candelabro. O significado desta palavra está explícito em Zc 4.6: “Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito diz o Senhor dos Exércitos”. O que nos é dito aqui é que este objeto deveria ser feito de ouro puro a fim de demonstrar que a divindade estaria entre eles! Este objeto servia para iluminar o local onde estava posto. Ele nos fala sobre a luz de Ruach Há Qodesh, do Espírito Santo, que traz sobre nós entendimento, discernimento, sabedoria e tudo isso através de sua magnífica luz, desvendando-nos os segredos do Altíssimo!

Sua confecção seria assim: “Numa haste haverá três copos a modo de amêndoas, um botão e uma flor; e três copos a modo de amêndoas na outra haste, um botão e uma flor; assim serão as seis hastes que saem do candelabro” (Êx 25:33). A descrição é muito exata: serão sete hastes (da principal saem as outras) e nestas hastes três copos em forma de amêndoa! A palavra “amêndoa” em hebraico é shaqad que significa “vigiar, estar de vigília”. Aqui, “cálice em forma de amêndoa”. A Menorah teria sete hastes (indicando a totalidade) e de cada haste três amêndoas, que vigiam, estão em estado de alerta, pois é ali que a divindade se manifesta, ali ouve-se a voz do Altíssimo. Então é necessário ficarmos alertas, despertos, atentos, pois devemos ouvir e discernir o que o Espírito nos está dizendo! Os três nos falam (O Pai, O Filho e O Espírito) e nos dão as devidas instruções a fim de que vivamos uma vida vitoriosa na presença daquele que vive para sempre!

O Tabernáculo seria feito também de “Farás também as tábuas para o tabernáculo de madeira de acácia, que serão postas verticalmente” (Êx 26:15). As tábuas de acácia representam a vida humana, pois é com ela que o Eterno edifica seu reino! Elas deveriam ser postas na posição vertical (em pé) e não horizontal, pois o Eterno espera que estejamos na posição correta diante d’Ele!

O véu do Tabernáculo era composto assim: “Depois farás um véu de azul, e púrpura, e carmesim, e de linho fino torcido; com querubins de obra prima se fará” (Êx 26:31). Novamente vemos que quatro elementos estão envolvidos aqui, e quatro nos fala de universalidade, de todo o mundo. O acesso ao Eterno seria facultado à todos que entrassem no Tabernáculo com esse desejo! Os querubins desenhados no tecido lembram-nos que aquele lugar é sagrado e que está sendo guardado por seres de alto gabarito, pois é justamente ali que nos encontraremos com o D-us de toda a terra!

Agora vejamos outro objeto do Tabernáculo: “Farás também o altar de madeira de acácia; cinco côvados será o comprimento, e cinco côvados a largura (será quadrado o altar), e três côvados a sua altura” (Êx 27:1). O altar, em hebraico mizbeach, significa “altar, lugar de sacrifício”, está posto no pátio e tem a finalidade de receber a vida que expiaria o pecado do ofertante. Ele era feito de madeira de acácia (novamente nos falando sobre a humanidade), porém recoberto com cobre (que nos fala da força, durabilidade, perpetuidade). Era ali que o homem deveria deixar sua vida em sacrifício a fim de encontrar-se com a Divindade mais adiante! Sem a morte não há remissão de pecado e também é da morte que provém a vida! O Justo precisou ser colocado sobre o altar do D-us Eterno a fim de que a humanidade pudesse ser salva por causa de sua morte!

A entrada do Tabernáculo dava-se pelo pátio: “Farás também o pátio do tabernáculo, ao lado meridional que dá para o sul; o pátio terá cortinas de linho fino torcido; o comprimento de cada lado será de cem côvados” (Êx 27:9). O que vemos aqui? O pátio – local descoberto do Tabernáculo – com uma entrada (que é o mesmo lugar por onde se sai) e esta entrada está ao sul. Para chegarmos ao Eterno devemos caminhar para o norte! Você entende o que isso significa? Atualmente em nossas bússolas o norte representa o referencial de quem precisa ser guiado a algum lugar! Se você quer chegar ao lugar certo guie-se pelo norte! No Tabernáculo também era assim: se você quer chegar ao lugar certo caminhe para o norte! Ali, no final de sua caminhada está o Eterno. Ele e somente Ele é o referencial de toda a humanidade, e é através d’Ele que devemos nos guiar para atingirmos o local certo, a finalidade de nossa vida: estar sempre na presença d’Ele! O pátio é justamente a primeira etapa dessa nova caminhada iniciada pelo homem.

O Tabernáculo nos mostra o que e como devemos nos relacionar com o Eterno. Ele providenciou graciosamente um modelo a fim de estarmos entrando num relacionamento com Ele da forma correta, passo a passo, quando nós poderemos, através de nossa caminhada atingirmos o lugar que deseja o nosso coração: o Santo dos Santos e a presença final do D-us Eterno! Foi com essa finalidade que Ele nos criou; foi para isso que Ieshua morreu por nós, foi para isso que o Espírito Santo nos convenceu e nos resgatou! Caminhemos então para estar na presença do Eterno D-us de Israel para sempre! Que assim Seja!

Baruch Há Shem!

Mário Moreno.