Mário Moreno/ janeiro 10, 2018/ Parasha da semana

Va’era

(Apareci)

Ex 6.2–9.35 / Ez 28.25–29.21 / Ap 16:1-21

        Na Parasha desta semana seremos introduzidos á primeira e maior era de milagres de que relata a Escritura. Aprenderemos como Moshe e Aharon usam, sob o comando do Eterno D-us, a autoridade que lhes fora conferida e como Faraó e o Egito são gradativamente “minados” em sua resistência para libertarem o povo escolhido do Senhor!

A Escritura inicia esta seção nos mostrando como O Eterno (Criador) se apresenta a Moshe: “Eu sou o IHVH” (IHVH – tetragrama). “Falou mais Elohim a Moshe, e disse: Eu sou o IHVH” (Êxodo 6:2). A conversa entre Moshe e o Eterno tem início de uma forma esplêndida, pois D-us “apresenta-se” a Moshe, dizendo ser Ele aquele que “se transforma de acordo com a necessidade deles naquele momentoEU ME TORNO AQUILO QUE ME TORNO!” O Eterno já inicia sua conversa com Moshe mostrando-lhe que, aconteça o que acontecer, Ele poderá se manifestar como Aquele que supre qualquer necessidade de seu povo!

O Eterno informa a Moshe que apareceu (se manifestou) aos patriarcas como El Shaddai (O Todo-Poderoso). Esta palavra é composta de she que significa “que, quem” e da palavra day “bastante, suficiente”; daí she-day “aquele que é (auto) suficiente. Mas Ele afirma ainda que pelo seu nome não fora conhecido! Vamos relembrar algo aqui: o nome revela a personalidade de quem o possui! O que o Senhor está dizendo a Moshe aqui é que os patriarcas conheceram apenas uma faceta de seu caráter, mas o que ele Moshe e o povo hebreu estavam recebendo agora era muito mais do que os patriarcas receberam!

O Senhor declara: “E eu apareci a Avraham, a Itshaq, e a Ia´aqov, como o El Todo-Poderoso; mas pelo meu nome, o IHVH, não lhes fui perfeitamente conhecido”. (Ex 6.3). Ele afirma que não foi “perfeitamente conhecido”. A palavra traduzida por “conhecido” é yada, que significa “conhecer, saber”. Era usada para designar a relação íntima entre homem e mulher, além de indicar também o relacionamento entre o homem e a divindade!

O Senhor diz a Moshe, nas entrelinhas: “Moshe, os patriarcas não tiveram comigo a intimidade que Eu queria que eles tivessem alcançado! Eles procuraram conhecer somente parte de minha personalidade”! Ao ler esta frase tenho a impressão de que o Eterno espera alguém que possa “entrar” dentro d’Ele e tirar de seu coração tudo o que há para ser conhecido pelo homem! Ele busca homens que extrapolem o lugar comum e que saiam da posição em que tantos outros se encontram: a passividade!

Agora O Eterno afirma que “estabeleceu” seu concerto com os patriarcas. Mas o que significa isso? A palavra “estabelecer” em hebraico é kûn que significa “apontar, fixar, estabelecer”. O sentido da raiz é de criar algo, havendo a certeza de que esse algo de fato existe! Nesta passagem o Senhor refere-se ao “berith” (aliança ou pacto feito com sangue), dizendo que Ele apontou, fixou o berith com uma finalidade: a de dar aos hebreus a terra prometida! O berith entre o Senhor e o povo dele ainda não era um fato quando Avraham então recebe esta palavra, que a partir daí coloca um marco, um referencial da existência de um acordo entre as duas partes! A função do pacto era a de garantir mediante o derramamento de sangue que o que o Senhor havia prometido seria cumprido! Ou seja, a aliança feita entre as partes pressupunha que haviam obrigações a serem cumpridas e também privilégios a serem adquiridos. As obrigações consistiam de que haveria fidelidade por ambas as partes e que não haveria “quebra” da aliança em nenhuma circunstância! Já os privilégios nos falam de, do lado do Senhor, de ter para si um povo que se mantenha firme, digno e limpo para poder serví-lo! Do lado humano, os privilégios consistiriam em ter direitos legais (adquiridos) para reivindicar que o Senhor cumprisse tudo o que foi prometido na aliança (também tudo o que não foi dito na ocasião, mas faz parte da mesma)!

Ele afirma também algo que é determinante na relação entre D-us e seu povo: “E também tenho ouvido o gemido dos filhos de Israel, aos quais os egípcios fazem servir, e lembrei-me da minha aliança” (Êxodo 6:5). A palavra “lembrar-se” em hebraico é zakar e significa “dar atenção a, meditar, pensar”. Agora então chega o momento em que o Eterno dá início ao cumprimento de forma plena da promessa e da aliança que havia sido feita com o sangue de um animal entre Ele e Avraham!

Fica então explícito, da parte do Eterno, que Ele havia ouvido o gemido do povo e que Ele mesmo os resgataria das mãos de Faraó! No verso 6 está escrito assim: “Portanto dize aos filhos de Israel: Eu sou o IHVH, e vos tirarei de debaixo das cargas dos egípcios, e vos livrarei da servidão, e vos resgatarei com braço estendido e com grandes juízos” (Êx 6:6). A palavra “tirarei” em hebraico é natsal e significa livrar, resgatar, salvar. Ela tem o sentido básico de “puxar para fora”. Há também o problema das “cargas”. Esta palavra em hebraico é sebel e significa “fardo, carga”. Em sua raiz esta palavra trata de sofrer castigos e penalidades. Na seqüência Moshe usa também o verbo “resgatar”, que em hebraico é ga’al e significa “redimir, vingar, resgatar, livrar, cumprir o papel de resgatador”. O sentido original da raiz é o de cumprir o papel de resgatador, redimindo portanto seu parente da dificuldade ou perigo! Isso não nos soa familiar? O Senhor guardou para si alguns atributos que são, além de divinos, proféticos, pois apontam para outra pessoa que os trará em si para estabelecer os desejos do coração deste mesmo Senhor! Ele é o único que chama sobre si o privilégio de ser o remidor e vingador de nossas vidas! Em outra passagem o Senhor diz: “Minha é a vingança!” Ou seja, o Senhor nos diz que não nos preocupemos com aquilo que nos é feito por quem quer que seja, pois isto é algo que Ele mesmo cuidará!

Então surge a figura do go’el, que é o “resgatador”. Sobre essa figura está dito: “Ele é o parente vingador do sangue. A vida ceifada pelo assassino agora é “cobrada” pelo go’el. Este sistema de execução deve ser distinguido dos conflitos sangrentos, pois o go’el era um executor sem culpa, não devendo ser morto por isso! Isso nos lembra que, o nosso parente mais próximo veio para nos resgatar, tomando para si a figura do go’el! Mas, perguntaríamos, quem é o nosso parente mais próximo? A resposta parece óbvia: o próprio D-us! Ele mesmo encarregou-se de vingar a “morte” do homem, vindo como homem a fim de vingar todo o sangue derramado por Satanás e seus seguidores! O interessante é que Ele (Yeshua) não poderia ser morto por isso! Mas foi! Porém, a morte não teve capacidade de “segurá-lo” e vencê-lo, pois ela estava diante do próprio Criador, por isso ele venceu-a proclamando assim nossa inteira libertação!

O ato libertador do Senhor seria apresentado “com braço estendido e com juízos grandes” (Ex 6.6). Isso aconteceu, pois “braço estendido” significa “poder manifesto”. E isso é o que mais vemos neste episódio, pois aqui o poder do Eterno é apresentado de forma clara e inequívoca! O Egito contempla as várias formas do poder manifesto do Eterno! E é vencido por esse poder! Aleluia! Mas além do poder estariam em pauta também juízos. A palavra “juízos” em hebraico é shepet e significa “julgamento no sentido penal, ou seja, de castigo”. As pragas agirão como castigo através das manifestações de poder do Eterno usando a natureza e a espada para infringir sofrimento aos egípcios. Estes seriam contra os deuses egípcios e também contra o próprio Egito que se elevava sobre todos os povos da terra oprimindo, matando, escravizando. Por isso o Eterno agora avisa: é chegada a hora do acerto de contas entre mim e o Egito! E vou aproveitar para também libertar meu povo e glorificar meu nome!

O complemento dessa palavra é que mostra a verdadeira intenção do Eterno por trás disso tudo: “E eu vos tomarei por meu povo e serei vosso Elohim; e sabereis que eu sou o IHVH vosso Elohim, que vos tiro de debaixo das cargas dos egípcios” (Ex 6.7). Aqui está explícito que o Senhor escolheu este povo e que o tomará para si como uma propriedade particular e única em toda a terra! Veja a correlação entre as duas coisas: tomar por povo e ser o seu D-us! Isso é maravilhoso, principalmente porque através disso eles teriam um relacionamento íntimo com Ele! O livramento da mão dos egípcios seria somente um aspecto que, ainda que pareça relevante, para o Senhor é algo mínimo e de fácil conclusão, pois para Ele não existe o tempo e o que iria acontecer no mundo natural já estava feito na Sua presença!

O Criador promete ainda: “E eu vos levarei à terra, acerca da qual levantei a minha mão, que a daria a Avraham, Itshaq e a Ia´aqov, e vo-la darei por herança, eu o IHVH” (Ex 6.8). Aquele que havia criado o mundo e que conhecia todos os caminhos existentes nele, agora diz ao povo que Eles mesmo seria o “guia” da nação e os conduziria à terra que sob juramento prometera aos patriarcas! O ato de “levantar a mão” na antiguidade referia-se a fazer um juramento solene. Esta é uma palavra muito forte, pois o Eterno jurara (…acerca da qual levantei a minha mão…), e como se não tivesse alguém maior por quem jurar, jurou por si mesmo… O Eterno ainda declara que daria a terra por herança ao povo! Quem pode dar algo a alguém? Quem é dono! Parece tão óbvio, mas na prática as coisas são diferentes. Mas não aqui! Agora o dono do mundo diz que dará ao seu povo uma terra que ele mesmo demarcou os limites para lhes servir como habitação perpétua! Ele chama a essa terra de “herança”, que em hebraico é morash, que significa “possessão”, ou literalmente, “as possessões do meu coração”. Mas o que seria isso? Parece-me que há algo no coração do Eterno que era físico mas ainda não conhecido por seu povo, e é algo excelente, pois são “as possessões do meu coração (D-us)”. Nós cremos que aquilo que está no coração de D-us, que são seus sentimentos acerca de nós, quando se tornam fatos reais vem justamente para nos abençoar espiritualmente, além de nos trazer a riqueza material! Esta palavra herança traz combinada consigo outra palavra que é reshet, que em hebraico significa rede e é um instrumento usado para apanhar caça! Emprega-se esta palavra para descrever pessoas que são pegas numa armadilha por seus inimigos! O termo seguinte é yesh cuja raiz traz a idéia de bens materiais, riquezas. Percebamos ainda que esta palavra traz em si a raiz do nome “Ieshua”. Ou seja, a herança que nos é dada pelo Altíssimo consiste em algo que está no coração d’Ele, conjugada com uma rede para apanharmos nossos inimigos, e que por fim redundará na materialização desse desejo na terra! Isso é herança! E o Eterno termina dizendo que Ele é IHVH!

Isso poderia tornar-se em uma grande bênção para os filhos de Israel! Porém, havia um problema: “Assim falou Moshe aos filhos de Israel, mas eles não lhe deram ouvidos, por causa da angústia de espírito e da dura servidão” (Ex 6.9). Havia um peso muito grande sobre o povo, que era a “angustia de espírito”! A palavra “angústia” em hebraico é qotser, que significa “impaciência”. Também significa “apertamento de espírito”, i.é, “aflição”, “abatimento”. O cativeiro juntamente com o duro jugo imposto pelos egípcios faz com que o povo de Israel sinta-se assim! Já há entre eles a impaciência gerada pelo contínuo trabalho escravo e a opressão espiritual da qual eles são vítimas! Todo o contexto da escravidão remonta a um “ensurdecimento” por parte do povo! Eles pareciam ter perdido a lucidez espiritual para enxergar o livramento que já havia sido prometido e que em breve se tornaria realidade! Isso acontece também conosco! Algumas vezes as tribulações são tão grandes que nós chegamos a quase desfalecer! E este estado nos impede de ver quão próxima está a vitória…

Novamente Moshe tenta argumentar com o Eterno nas bases humanas e com os fatos que lhe são pertinentes. Seu argumento era o seguinte: “Moshe, porém, respondeu perante o Senhor, dizendo: Eis que os filhos de Israel não me têm ouvido: como, pois, me ouvirá Faraó a mim, que sou incircunciso de lábios”? (Ex 6.12). Moshe diz ser “incircunciso” de lábios! Mas o que isso significa? A palavra “incircunciso” em hebraico é arel, e significa “incircunciso”, mas isso quando fala de algum órgão do corpo quer dizer que esse órgão não funciona direito! Ou seja, Moshe está dizendo ao Senhor: “O teu povo não me tem ouvido porque eu não falo bem”! Alguns argumentam que Moshe tinha um problema de gagueira, e por isso ele faz esse tipo de argumentação! Parece que Moshe havia se esquecido de que o Eterno é o Criador de todas as coisas e que já lhe deu Aharon como seu porta-voz! Até aqui Moshe ainda espera que o Eterno abra mão dele e chame outro para essa tarefa! Mas o Senhor não desiste dele! O Senhor olha para este homem não em bases humanas, mas com olhos que penetram e conhecem o futuro, sabendo que Moshe, e somente Moshe poderá levar à cabo a tarefa que lhe foi designada. O Eterno nunca se engana em suas escolhas! Assim acontece também conosco e com nossos ministérios que, vez por outra, sentimos o peso da missão que nos foi confiada e temos a nítida impressão que não passaremos daquele momento! Parece que o mundo está ruindo sobre nossas cabeças e que tudo irá acabar em instantes! Mas espere! O Eterno ainda tem tudo sob controle!

Até aqui, temos somente o diálogo entre o Eterno e Moshe. Nada de mais aconteceu. Agora o Senhor diz a Moshe: “Tu falarás tudo o que eu te mandar; e Aharon, teu irmão, falará a Faraó, que deixe ir os filhos de Israel da sua terra” (Ex 7.2). Veja que o Senhor exige de Moshe fidelidade total na transmissão daquilo que será dito a ele! Não podem haver interferências nem distorções na palavra que chegar até Moshe! Porém, o Senhor avisa: “Eu, porém, endurecerei o coração de Faraó e multiplicarei na terra do Egito os meus sinais e as minhas maravilhas” (Ex 7.3). Quando D-us fala sobre “endurecer” o coração de Faraó, nós podemos ver duas coisas: a palavra endurecer é qashah. Ela fala sobre o efeito subjetivo exercido por um jugo excessivamente pesado, que é duro de suportar. Fala também de uma resistência rebelde que um animal tem ao jugo! A raiz desta palavra nos fala de dureza, crueldade, obstinação, rigidez.

Então poderemos compreender a razão porque Faraó agiu de forma negativa, não liberando o povo de Israel para irem, pois seu coração estava sob um “JUGO” do Eterno que lhe provocava a dureza, fazendo-o ser cruel e obstinado! Faraó sabia que a sua atitude deveria ser a de obedecer a Moshe, porém ele sempre fazia de forma diferente. Ele parecia “arrepender-se” de ter dito que deixaria o povo ir e voltava atrás!

Moshê e Aharon mostram sinais ao faraó

D’us disse a Moshê e Aharon. “Agora volta ao faraó e diz: “D’us te ordena: Deixa os judeus irem embora.”
“Se o faraó pede um sinal de que sou Eu que o envia, que Aharon pronuncie as palavras: “Cajado – transforme-se em serpente.” Então transformarei o bastão de Aharon em serpente.”

Com efeito, aconteceu que quando Moshê e Aharon foram ver o faraó, este lhes pediu um sinal. Aharon jogou o cajado ao solo e pronunciou essas palavras. E o cajado se transformou em serpente.
O faraó começou a rir. “Acham que me deixarei impressionar por este truque? Não sabeis que nós, os egípcios, somos todos mágicos? Também podemos fazer o mesmo truque!”

O faraó chamou seus magos. Estes jogaram os cajados ao solo e cada um se converteu em serpente! Logo todos os magos voltaram a converter as serpentes em cajados. Então D’us fez um milagre que os egípcios não puderam copiar:
A serpente de Aharon voltou a transformar-se em cajado e engoliu a todos os outros cajados! O faraó sabia que acabara de presenciar um milagre, algo que nenhum mago poderia fazer. Mas era perverso e teimoso. Disse: “Não escutarei a Moshê e Aharon apesar disso!”

Por que o cajado de Aharon se converteu em serpente

Por que D’us converteu o cajado de Aharon em serpente e não qualquer outra coisa?

D’us deu a entender ao faraó: “Tu pronunciaste palavras más, tal como a serpente no Gan Éden (o paraíso) quando disseste: “Não sei quem é D’us.” Por isso, serás castigado como a serpente o foi.”

Quando finalmente Moshe entram novamente a Faraó para pedir-lhe que deixe o povo ir, acontece algo extraordinário: a vara de Aharon torna-se uma serpente! “Então Moshe e Aharon foram a Faraó, e fizeram assim como o Senhor ordenara; e lançou Aharon a sua vara diante de Faraó, e diante dos seus servos, e tornou-se em serpente” (Êxodo 7:10). A palavra aqui traduzida por “serpente” é tannin e significa “dragão, monstro marinho, serpente” e denota qualquer réptil grande! O que aconteceu então? A vara de Aharon (que fala de sua posição e de sua autoridade) agora se transforma num grande réptil! Certamente era uma serpente, mas de um tamanho descomunal!

Faraó não parece espantar-se com a autoridade que lhe é demonstrada. Ele chama os seus magos, que fazem o mesmo! Parece que houve um empate aqui! Mas algo diferente acontece: a serpente que provinha da vara de Aharon come (tragou) as outras serpentes! Aqui há algo interessante, pois notamos na natureza que, somente os mais fortes comem ou devoram os mais fracos. E novamente isso é verdade: a serpente de Aharon é fruto de um milagre e por isso “devora” as outras, que são simplesmente fruto de “mágicas” e por isso não poderiam subsistir diante de algo vindo de D-us! A unção dada aos servos de D-us “quebrou” o jugo dos egípcios, provando-lhes que aquele que estava ao lado de Moshe e Aharon eram (e ainda são) maiores do que os magos e mágicas do Egito!

Agora começa a sessão de juízo através das pragas impostas ao Egito! Cada uma destas pragas tem a finalidade de julgar não somente o povo do Egito e seus governantes, mas também aos deuses egípcios! Vejamos então cada uma delas e as conseqüências impostas tanto no mundo material quanto no espiritual.

As Dez Pragas

Quando Moshê e Aharon saíram do palácio do faraó, D’us disse a Moshê: “Vá novamente ver o faraó amanhã cedo. Irás encontrá-lo junto ao rio por onde passeia todas as manhãs. Adverte-o de que disse: “Não sei quem é D’us.” Mas se não escutas a D’us logo começarás a saber quem é, pois Ele trará um terrível castigo! Transformará a água do Nilo em sangue.”

Moshê advertiu o faraó, mas este não se importou. D’us mandou a primeira praga: sangue.

A ordem das dez pragas

Esta é a ordem das prgas que D’us enviou ao Egito:

  • Sangue
  • Rãs
  • Piolhos
  • Animais selvagens
  • Morte dos animais (peste)
  • Sarna
  • Granizo
  • Gafanhotos
  • Trevas
  • Morte dos primogênitos

Por que D’us enviou as pragas nesta ordem em particular: primeiro o sangue, depois rãs, piolhos, etc.? Uma resposta é que D’us atuou como general que vai a uma guerra contra seu inimigo.

Sangue:
Antes de entrar na cidade inimiga, o general e seu exército envenenam os poços de água dos inimigos para que não tenham mais água potável. Do mesmo modo, D’us primeiro cortou os suprimentos de água dos egípcios.

Rãs:
Logo o general ordena aos tocadores de trombeta e tambores que toquem os instrumentos tão forte que o barulho assuste o inimigo.
De maneira análoga, D’us trouxe as rãs, cujo coaxar incomodou terrivelmente os egípcios.

Piolhos:
O general ordena que os soldados disparem flechas sobre os inimigos para matar os soldados e assustar o restante deles.Do mesmo modo, D’us castigou aos egípcios com piolhos que os picaram como flechas.

Animais selvagens: Antes do ataque, o general convoca outros exércitos para que se unam na luta. Igualmente, D’us chama os animais selvagens para que se reúnam e lutem contra os egípcios.

Morte dos animais (peste):
Antes da batalha, o general envia mensageiros especiais que encontram formas de destruir os animais do inimigo. D’us trouxe uma praga especial: a peste, que atacou os animais dos egípcios e lhes causou a morte.

Sarna: O general busca formas de destruir soldados no campo inimigo, para que restem menos guerreiros para lutar. Igualmente, D’us causou a doença dos egípcios, fazendo com que tivessem sarna.

Granizo: O general bombardeia a cidade com armas e mísseis. D’us enviou tempestades de granizo sobre os egípcios.

Gafanhotos: Por último, o general e seu exército entram na cidade inimiga e a destroem. Da mesma forma, os gafanhotos destruíram todos os campos que restaram depois da praga do granizo.

Trevas:
O general joga muitos dos seus inimigos na prisão. D’us causou uma escuridão tão grande que aprisionou os egípcios, pois os impediu de moverem-se.

Morte do primogênito: O general mata os líderes do inimigo que se julgam imortais e superiores, D’us com isto envia um recado de Quem realmente manda.

A primeira praga é aquela dirigida contra as “águas do Egito”. “Disse mais o IHVH a Moshe: Dize a Aharon: Toma tua vara, e estende a tua mão sobre as águas do Egito, sobre as suas correntes, sobre os seus rios, e sobre os seus tanques, e sobre todo o ajuntamento das suas águas, para que se tornem em sangue; e haja sangue em toda a terra do Egito, assim nos vasos de madeira como nos de pedra. E Moshe e Aharon fizeram assim como o IHVH tinha mandado; e Aharon levantou a vara, e feriu as águas que estavam no rio, diante dos olhos de Faraó, e diante dos olhos de seus servos; e todas as águas do rio se tornaram em sangue, e os peixes, que estavam no rio, morreram, e o rio cheirou mal, e os egípcios não podiam beber a água do rio; e houve sangue por toda a terra do Egito” (Êx 7:19-21).  Aqui há uma transformação das águas do Egito em sangue! A água do Egito provinha basicamente do Rio Nilo, que era também considerado um deus pelos egípcios, sendo reverenciado como o doador da vida. Há também um deus que rege este fenômeno, chamado de Hapi (Osíris também tinha esta mesma atribuição). Nota-se claramente que o rio que alimenta e traz vida ao Egito “morre”! Agora a principal fonte de vida é transformada em sangue! Água que transforma-se em sangue! Para o homem o sangue é sua vida, mas nesse caso, ninguém poderia “beber” sangue e continuar vivo! Os deuses “doadores” da vida do Egito estão sob juízo e agora espera-se que façam algo para “reverter” o sangue em água! Mas nada acontece! Até os magos de Faraó fazem o mesmo (não entende-se o motivo para essa “mágica), mas nada puderam fazer para reverter o que havia sido transformado em sangue! Isso nos mostra que, apesar do poder dos “deuses” do Egito, eles agora nada podem fazer contra o Criador! No confronto de poderes, o D-us de Israel prevalece facilmente!

A segunda praga é a das rãs, que invadem cada canto do Egito e trazem um incômodo muito grande aos seus habitantes! Novamente a praga não pode ser contida pelos magos de Faraó, que novamente conseguem “repetir” a praga, mas não contê-la! Aqui o juízo é dirigido contra uma divindade conhecida por Ecte, o deus-rã dos egípcios! Este é julgado e, a pedido de Faraó, Moshe ora ao Criador para que a praga cesse e as rãs morram! (Ex 8.8) É impressionante notarmos que os egípcios pedem que seu deus seja retirado do meio deles! Novamente os poderes dos deuses egípcios de nada valem quando confrontados com o Eterno D-us de Israel! A solução veio, mas não imediatamente: conforme o pedido de Faraó, no dia seguinte as rãs apareceram mortas em todos os domínios de Faraó! O que nos parece isso: o deus Ecte, além de vencido, aparece morto na pessoa de milhares de rãs que se espalham por todo o reino do Faraó virando montões que cheiram mal! Após ser vencido pelo Eterno este deus se transforma em lixo fedorento (e quem sabe no futuro adubo!).

A terceira praga são os piolhos. O juízo é contra o deus Khepra (divindade inseto), e os piolhos aparecem de uma forma muito interessante: “Disse mais o IHVH a Moshe: Dize a Aharon: Estende a tua vara, e fere o pó da terra, para que se torne em piolhos por toda a terra do Egito. E assim fizeram. Aharon estendeu a sua mão com a vara, e feriu o pó da terra, e houve piolhos nos homens e nos animais; todo o pó da terra se tornou em piolhos em toda a terra do Egito” (Êx 8:16,17). O pó da terra do Egito se transforma em piolhos que agora atormentam homens e animais! Nas duas pragas anteriores os magos de Faraó fizeram o mesmo (!). Mas não agora, pois a Escritura nos diz: “Também os magos fizeram assim com os seus encantamentos para produzirem piolhos, mas não puderam. E havia piolhos nos homens e nos animais” (Êx 8:18). Os magos não puderam transformar pó em insetos! Isso é atribuição somente do Eterno! Isso foi tido então por eles como milagre! Agora eles definitivamente creram que o D-us Eterno estava agindo em juízo contra todos eles!

A quarta praga é a dos animais selvagens que realmente “inundariam” o Egito! O deus Uatchit nada poderia fazer! Só que agora o Eterno faria diferente: “Mas naquele dia separarei a terra de Gósem, em que o meu povo habita, a fim de que nela não haja enxames de moscas, para que saibas que eu sou o IHVH no meio desta terra” (Êx 8:22). O Senhor “brinca” com os egípcios, pois lhes mostra que faria separação entre seu povo e os egípcios! Ele mesmo daria aos insetos os limites por onde poderiam voar livremente sobre os egípcios! As moscas enviadas foram de tal magnitude que a “terra foi corrompida destes enxames” (Ex 8.24). Novamente os magos e os egípcios sentiram-se impotentes ante à nova ameaça que lhes é trazida pelo servo de D-us Moshe! Novamente Faraó roga a Moshe que ore ao Senhor para que as moscas sejam-lhe retiradas. É estranho, pois no primeiro encontro entre Faraó e Moshe, o soberano do Egito dizia não conhecer ao Senhor! Ainda há um longo caminho a ser percorrido antes da libertação do povo, mas Faraó já reconhece o poder do Eterno como soberano em toda a terra!

A quinta praga seria enviada contra os animais do Egito com uma pestilência gravíssima! Aqui está sendo levado à juízo o deus egípcio Amom, que era conhecido na figura de um carneiro! Amom não foi poderoso o suficiente para impedir que a pestilência atingisse os seus protegidos. A praga foi tão grande sobre os animais do Egito que todos eles morreram! Mas novamente o Eterno fez separação entre seu povo e os egípcios, pois aqui nenhum dos animais dos israelitas morreu! “Fez, pois, o IHVH isso no dia seguinte; e todo gado dos egípcios morreu; porém do gado dos filhos de Israel não morreu nenhum” (Ex 9.6). Amom além de não conseguir proteger os animais da peste, não consegue também evitar a morte deles! Faraó não crê naquilo que ouve, que somente o gado dos egípcios foi atingido e manda averiguar, pois não crê que somente eles foram atingidos e os israelitas protegidos! Novamente os egípcios subestimam à D-us e seu poder!

A sexta praga foi a das úlceras sobre os homens e sobre o restante do gado do Egito. Esta praga atingiria também o deus Imhotep (D-us curandeiro), que não pode conter as úlceras. E elas vieram a aparecer de um modo bem interessante: “Então disse o IHVH a Moshe e a Aharon: Tomai mãos cheias de cinza do forno, e Moshe a espalhe para os céus diante dos olhos de Faraó; e ela se tornará em pó fino sobre toda a terra do Egito, e haverá tumores que arrebentarão em úlceras nos homens e no gado, por toda a terra do Egito. E eles tomaram cinza do forno, e apresentaram-se diante de Faraó; e Moshe a espalhou para os céus, e ela se tornou em tumores que arrebentavam em úlceras nos homens e no gado. Os magos não podiam manter-se diante de Moshe, por causa dos tumores; porque havia tumores nos magos, e em todos os egípcios”. (Ex 9.8-11). A cinza que também era oferecida aos deuses egípcios agora se transforma em tumores ou úlceras que arrebentam causando dor e mal cheiro aos homens e animais do Egito. Aqueles que tinham perfeita saúde agora tem seus corpos cobertos de erupções malignas e fedorentas! E nenhum dos deuses egípcios foi capaz de protegê-los da catástrofe anunciada por Moshe. Inclusive, os magos de Faraó, que disputavam a princípio com Moshe, agora não podem parar diante dele! Isso nos mostra novamente que o Eterno julgou o Egito, seus líderes, seus magos e religiosos, seus deuses, condenando-os à todos! Não houve escapatória, a não ser os judeus que novamente foram preservados desta praga.

A sétima praga foi a da saraiva (chuva de pedras), que teve por objetivo o trazer dano às plantações do Egito (toda a erva do campo)! Vejamos como foi isso: “E Moshe estendeu a sua vara para o céu, e o IHVH enviou trovões e saraiva, e fogo desceu à terra; e o IHVH fez chover saraiva sobre a terra do Egito. Havia, pois, saraiva misturada com fogo, saraiva tão grave qual nunca houvera em toda a terra do Egito, desde que veio a ser uma nação” (Ex 9.23,24). Aqui os céus estavam trazendo sobre o Egito o juízo como nunca antes se vira! Novamente estava sendo julgado um deus egípcio chamado Nute. Nute era conhecida como a deusa do céu, porém não pode deter a praga que veio do céu! A deusa protetora do céu não mostrou-se forte o bastante para enfrentar o Varão de Guerra, o Senhor D-us Todo-Poderoso do Universo! Sabe qual foi a consequência dessa praga? Veja o relato do próprio Moshe sobre isso: “E a saraiva feriu, em toda a terra do Egito, tudo quanto havia no campo, tanto homens como animais; feriu também toda erva do campo, e quebrou todas as árvores do campo. Somente na terra de Gósen, onde se achavam os filhos de Israel, não houve saraiva” (Ex 9.25,26). A palavra Gósem em hebraico é goshem e sua raiz dá origem à duas outras palavras: gashem que significa “chuva, aguaceiro” e também gashash que significa “sentir com as mãos, afagar”. Agora as colheitas diversas que o Egito possuía estão destruídas! O que mais seria preciso para “quebrar” o coração de Faraó?

Por que os egípcios mereceram as pragas

Todos os castigos de D’us são justos. Ele castigou o povo egípcio com as dez por terem sido extremamente cruéis. Cada uma das pragas tinha um motivo que correspondia a cada um dos tratamentos que os egípcios deram ao Povo de Israel.

Sangue: Os egípcios obrigavam os judeus a trazer-lhes água do rio; assim, D’us transformou a água em sangue. Outra razão pela qual D’us fez que o primeiro castigo fosse relacionado ao rio Nilo foi porque os egípcios pensavam que o Nilo era um “deus”. Ao converter a água em sangue, D’us mostrou-lhes que Ele tinha poder sobre o rio.

Rãs: Os egípcios ordenavam aos judeus: “Tragam-nos rãs, caracóis e insetos. Queremos divertir-nos com estes animais.” Ao obrigar os judeus a trazerem rãs, D’us castigou os egípcios com estes animais.

Piolhos: os egípcios costumavam ordenar aos egípcios: “Varram os pisos de nossas casas e ruas, e arem os nossos campos”. D’us transformou todo o pó do Egito em piolhos, para que os judeus não tivessem mais que varrer!

Animais selvagens: Os egípcios também diziam aos judeus: “Precisamos de leões, tigres e ursos para nossos zoológicos e circos. Capturem estes animais para nós!” Era apenas uma desculpa cruel para enviar os judeus ao deserto e aos bosques, mantendo-os afastados de suas famílias e correndo alto risco de vida. D’us castigou os egípcios por este ato, fazendo que desabasse sobre eles animais selvagens.

Peste: Os egípcios também obrigaram os judeus a serem pastores do gado para enviá-los a campos distantes e mantê-los afastados das famílias. Como castigo, D’us matou os animais dos egípcios com uma peste.

Sarna: Outra cruel idéia dos egípcios era dar ordens confusas aos judeus nas casas de banhos: “Aqueça-me a água! Traga-me água fria!” De modo que D’us afligiu os egípcios com bolhas de sarna que doíam tanto que já não podiam tomar banhos, quentes ou frios! Outra razão pela qual os egípcios foram castigados com horríveis bolhas foi porque consideravam os judeus uma classe social inferior. Um egípcio nunca comia junto a um judeu. Assim, D’us castigou os egípcios com bolhas dolorosas com aspecto tão desagradável que ninguém queria aproximar-se deles.

Granizo: Outro ato de maldade dos egípcios consistia em ordenar aos judeus: “Planta-me um jardim! Planta-me algumas árvores!” D’us destruiu, pois, os jardins e bosques dos egípcios com granizo.
Gafanhotos: os egípcios também ordenavam aos judeus: “Colham grãos para nós, favas e plantas”, por isso estes foram comidos pelos gafanhotos.

Trevas: Os egípcios também ordenavam aos judeus levar velas e tochas por eles, nas ruas escuras. Também encerravam os judeus em cárceres escuros. Por este motivo D’us também causou a escuridão. Além disto entre os judeus havia reshaim (malvados), que não mereciam ser libertados do Egito. Esses judeus perversos morreram durante a praga das trevas, de maneiras que os egípcios não pudessem vê-los e exclamar com alegria: “Vejam, os judeus também estão sendo castigados, como nós!”

Morte do primogênito: D’us castigou os egípcios matando os filhos primogênitos, pois o Faraó havia dado a ordem: “Matem a todos os primogênitos varões judeus!” Os egípcios também eram cruéis com o povo judeu que era chamado de “primogênito de D’us”. Por isso, D’us matou seus filhos mais velhos.

Vemos agora o quadro quase completo, e que nos mostra quase todo o panteão de deuses do Egito completamente vencido e humilhado! Não houve sequer um deles capaz de “medir forças” com o Eterno!

Daqui por diante resta somente a última e decisiva cartada contra os poderes do Egito. Mas isso é assunto para a nossa próxima Parasha!

Mário Moreno.