Mário Moreno/ dezembro 5, 2017/ Artigos

Santificação e profanação do Nome do Eterno

Kidush Hashem e Chilul Hashem

Este artigo é uma adaptação de um texto já conhecido no judaísmo.

Como podemos – e devemos – santificar o Nome do Eterno? A resposta é simples: cumprindo os seus mandamentos e especialmente um mandamento que nos chama a atenção: “Não tomarás o nome do IHVH teu Elohim em vão: porque o IHVH não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” Ex 20.7.

Este é o mandamento que deveria ser observado com cuidado e de uma forma muito especial que pudéssemos demonstrar com nosso respeito a Ele obedecendo este mandamento.

É notável como as pessoas de várias formas “profanam” o nome do Eterno diversas vezes ao dia e de diversas formas demonstram que não o conhecem e nem ao Seu Nome.

Detalhe: a Escritura diz que o Eterno não tomará por inocente aquele que profanar este mandamento!

A profanação do Nome de Hashem neste mundo é um dos pecados mais graves. Por causa do mau comportamento de uns poucos homens aparentemente religiosos, a sagrada Torah e seus seguidores podem ficar denegridos.

Toda vez que nos reunimos para orar, invariavelmente recitamos ou respondemos as palavras do Kadish: “Que Seu grande Nome possa ser engrandecido e santificado”.

Sempre que iniciamos o trecho diário da Kedushá evocamos: “Santifiquemos Seu Nome no mundo”. Durante as orações também enfatizamos nosso desejo de pertencer ao grupo dos que santificam o Nome Divino entre os homens, cumprindo a passagem da Torah (Vayicra 22:33): “Vocês não devem profanar Meu Nome sagrado e Eu devo ser santificado entre os filhos de Israel”.

O segundo parágrafo da prece Shemá Israel começa com o seguinte mandamento: “E amarás o Eterno”. Nossos sábios explicam esta passagem da seguinte forma: “Que o Nome de Hashem torne-se amado por intermédio de você”.

Em outras palavras, devemos viver um estilo de vida exemplar, que contribua para a adoração universal de D’us. Que intensifique a glória e o brilho da Torah, acrescentando respeito pela dignidade do Povo Judeu como um reino de sacerdotes e uma nação sagrada. Isto é o que significa fazer “Kidush Hashem” – santificar o Nome de D’us no mundo.

Esta é uma das razões pelas quais não pronunciamos a palavra D-us – e usamos esta grafia justamente para dizer que guardamos o mandamento enquanto escrevemos – e a substituímos por “Eterno” ou por “Ha Shem”, que significa “O Nome” como uma forma de nos referirmos a Ele mas sem violar o mandamento que foi dado para que saibamos respeitar o Rei do Universo.

O oposto da santificação é a profanação do Nome de D’us – o “Chilul Hashem”. Toda forma de chilul Hashem diminui a consciência da Presença Divina no mundo. Porém, se o profanador é um declarado “cumpridor” da Torah, ou pior, um suposto “sábio” da Torah, então o chillul Hashem não apenas enfraquece o respeito da Torah, mas fortalece a oposição e resistência dos não cumpridores. Dá argumentos aos zombadores e aumenta as chamas da revolta contra a religião.

Isso se aplica também a qualquer “líder” que supostamente conhece as Escrituras mas não é escrupuloso na sua obediência. A conduta fala mais alto do que muitas palavras e isso tem sido um parâmetro para que muitos não obedeçam as Escrituras. Nosso comportamento nos denuncia como “profanadores” e isso certamente é um grande incômodo aos céus, pois o Eterno deseja que os seus filhos possam imitá-lo em tudo e este é um mandamento que está explícito e que está entre “Os Dez Mandamentos” que foram colocados como um “padrão” na sociedade ocidental.

Chilul Hashem, a profanação do Nome de D’us, é responsável, direta ou indiretamente, pelo aumento da frivolidade, heresia e licenciosidade no mundo. Portanto, não devemos nos surpreender ao ler as duras palavras de condenação encontradas no Talmud (Yomá 86): “Para aquele que fez um chilul Hashem (profanou o Nome de D’us), mesmo a teshuvá, o Iom Kipur e sofrimentos não conseguem expiar completamente seu pecado, até o dia de sua morte”.

“Melhor cometer uma transgressão em segredo do que fazer um chilul Hashem em público” (Talmud Kidushin 40).

“Não há protelação na punição Divina para chilul Hashem, tanto se foi cometido intencionalmente ou não” (Talmud Kidushin 40).

“Se alguém rouba das outras nações, jura em falso e falece, sua morte não expiará seus erros por causa do chilul Hashem envolvido” (Tossefta Bava Cama 10).

“Aquele que profana o Nome de D’us em segredo é punido em público” (Pirkê Avot 4).

“Todos os erros são perdoados por D’us, porém chilul Hashem Ele pune imediatamente” (Sifri Haazinu).

Esta é apenas uma pequena seleção das severas condenações dirigidas por nossos sábios aos profanadores do Nome Divino. Embora seja óbvio que a vasta maioria dos judeus observantes e leais à Torah lida honesta e corretamente com seus semelhantes, uma minoria muito pequena é suficiente para sinistramente atacar a reputação de todos os judeus ortodoxos e – o que é pior – do judaísmo ortodoxo como estilo de vida.

O chilul Hashem de poucos indivíduos prove justificativas aos incrédulos e encoraja a profanação do estudo de Torah, da educação de Torah e da influência da Torah. Enganar e explorar nossos semelhantes, judeus ou não, conspirar, associar-se com elementos do submundo, todos estes são crimes abomináveis e execráveis por si só. Todavia, além do ultraje cometido existe ainda mais uma dimensão: a profanação do Nome Divino. Isto significa a profanação de tudo aquilo que deveria ser considerado sagrado por nós, bem como pelos perpetradores em si.

Suponha que eu tenha enganado meu vizinho e agora estou em uma congregação de homens e mulheres honestas e decentes para recitar o Kadish, que é a prece por “Kidush Hashem” no mundo. Que audácia! Que vergonha! Seria possível uma contradição maior do que um sujeito que cumpre rigorosamente as leis do Shabat e da cashrut e que, ao mesmo tempo, viola o espírito do Shabat e da cashrut com manipulações desonestas?

Os profanadores e violadores são apenas um punhado de pessoas inescrupulosas! Mas são necessários apenas uns poucos profanadores para dar a todos nos um nome extremamente ruim, ajudando e favorecendo nossos muitos adversários e hostilizando nossos poucos amigos.

Quanto mais proeminente o indivíduo se torna nos círculos judaicos ortodoxos, mais obrigado deve se sentir em ser cuidadoso em seus negócios com o mundo em geral. Nosso cumprimento da Torah e mitsvot é regulamentado pelo Shulchan Aruch Chôshen Mishpat – o código de justiça social – não menos que pelos outros códigos do Shulchan Aruch.

Nossa meta é esforçarmo-nos pelo “Kidush Hashem, a santificação do Nome de D’us. Para atingirmos esta meta devemos nos unir e marchar juntos, nós e nossos filhos “Nekiê capáyim uvar 1evav”, com mãos limpas e corações puros, em direção à vinda da gueula, rapidamente em nossos dias.

Resumo de texto escrito pelo Rabino Shimon Shwab zt”l (Alemanha e EUA, 1908-1995) em 1975, um dos grandes lideres judaicos desta geração. Impresso na integra pela C.I.S. Publishers em 1998 e publicado no informativo “Daily Halacha”, da Congregation IKLF de Spring Valley, Nova York.

Mário Moreno.