Mário Moreno/ novembro 1, 2017/ Artigos

Contando cabeças

O que é “contar cabeças?” Esta é uma expressão que raramente – ou nunca – é ouvida entre nós, mas vamos examinar uma interessante conexão entre esta expressão e a redenção do homem.

A contagem do povo de Israel foi feita durante algumas ocasiões no deserto e cada uma delas tinha uma finalidade.

A contagem é feita tribo a tribo, segundo os líderes de cada tribo em particular. A contagem incluiria todos os homens que tivessem de vinte anos para cima e que estão aptos para a guerra. “Da idade de vinte anos para cima, todos os que em Israel podem sair à guerra, a estes contareis segundo os seus exércitos, tu e Aharon” (Nm 1:3). Os designados das tribos foram os seus príncipes – os responsáveis legais por cada tribo – para através deles serem identificados aqueles que fariam parte desta contagem: “Estes, pois, são os nomes dos homens que estarão convosco: De Rúben, Elizur, filho de Sedeur; de Simeão, Selumiel, filho de Zurisadai; de Iehuda, Naasson, filho de Aminadabe; de Issacar, Natanael, filho de Zuar; de Zebulom, Eliabe, filho de Helom; dos filhos de Iosef: De Efraim, Elisama, filho de Amiúde; de Manassés, Gamaliel, filho de Pedazur; de Benjamim, Abidã, filho de Gideoni; de Dã, Aieser, filho de Amisadai; de Aser, Pagiel, filho de Ocrã; de Gade, Eliasafe, filho de Deuel; de Naftali, Aira, filho de Enã. Estes foram os chamados da congregação, os príncipes das tribos de seus pais, os cabeças dos milhares de Israel” (Nm 1:5-16). As pessoas incluídas nesta contagem deveriam também estar aptas para a guerra. Esta palavra vem do termo hebraico tsaba e significa “lutar, servir”. Este termo denota os membros maduros da comunidade que estão aptos para tudo, inclusive para a guerra.

Esta contagem foi feita ajuntando-se toda a congregação numa data específica. “E reuniram toda a congregação no primeiro dia do mês segundo, e declararam a sua descendência segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais, pelo número dos nomes dos de vinte anos para cima, cabeça por cabeça” (Nm 1:18). Aqui, a palavra “reunir” em hebraico é qahal e significa “assembleia, grupo, congregação”. A LXX traduziu esta palavra por eklesia e também sinagoge! Esta palavra (qahal) denota uma reunião em assembleia com propósitos religiosos. A palavra nos fala dos representantes do povo! Isso nos indica que neste evento as pessoas seriam identificadas uma a uma e reconhecidas como pertencentes às tribos, mas também seriam consideradas parte da nação de Israel! Já a palavra “congregação” é o termo edâ e significa “congregação, assembleia, multidão, povo, enxame”. Há ainda a palavra “cabeça”, que em hebraico é gulgolet e significa “cabeça, crânio, pessoa”. Aqui a palavra indica que esta contagem, apesar de parecer genérica e impessoal, é também única pois trata cada indivíduo de forma separada, como uma unidade no todo. Cada pessoa forma quando se junta ao seu companheiro da mesma tribo, forma uma tribo e o total das tribos forma a nação!

Os israelitas são contados pela quarta vez

Esta era a quarta vez que os judeus eram contados.

  1. Inicialmente, a Torah registra que os membros da família de Ia´aqov que desceram ao Egito era de setenta.
  2. A Torah declara que seiscentos mil homens deixaram o Egito.

Essas cifras indicam que o povo judeu multiplicou-se de maneira milagrosa no Egito. Devido à Providência Especial de D’us, o pequeno clã de Ia´aqov, a despeito de planos inimigos para exterminá-lo, tornou-se miraculosamente uma nação que compreendia milhões de almas.

  1. Após o pecado do bezerro de ouro, a onze de Tishrei de 2448, os israelitas foram contados pela terceira vez.

O censo foi tomado como um sinal do amor nutrido por D’us e Sua preocupação com os judeus – mesmo após o pecado.

  1. Agora, o primeiro de Iyar de 2449, quase sete meses após o último censo, o povo foi contado novamente.

Mas qual é a conexão entre esta “contagem” e o processo de redenção da humanidade? A conexão vem através de uma palavra em hebraico que foi traduzida por “cabeça”: gulgolet!

A conexão está na Brit Hadasha, no texto que diz: “E, chegando ao lugar chamado Gólgota, que significa Lugar do Crânio” Mt 27.33. A palavra usada para “Gólgota” é a mesma usada na Torah: gulgolet! Então podemos afirmar que Ieshua foi pregado numa estaca de execução com o objetivo de “redimir o crânio” que é justamente o lugar onde no homem é posta a coroa! O crânio morto em que Ieshua foi pregado quando recebeu as gotas do sangue do Ungido literalmente ressuscitou! A redenção então foi operacionalizada justamente no mesmo lugar em que o homem perdeu a sua coroa: na cabeça!

É muito importante lembrarmos que a cabeça, além de ser o local onde o homem pensa, julga, define e decide é também o local que o Eterno escolheu para que ele fosse “ungido” e separado para si, pois a unção que separa uma pessoa para o sacerdócio é feita na cabeça! Assim como a redenção é operacionalizada através da cabeça também a separação para o ministério é feita com um derramar de azeite na cabeça do homem!

Os homens que foram contados no deserto certamente foram contados como aqueles que estavam sendo separados para a redenção; então através da contagem eles estavam sendo apontados como aqueles que haveriam de carregar e levar a redenção a suas famílias, como sacerdotes que eram. A única forma de quebrar isso seria através da desobediência, pois através dela a pessoa estaria dizendo: “Eu não quero ser redimido pelo Eterno, rejeito a coroa de salvação e também rejeito a unção d´Ele para me tornar sacerdote em meu lar”! Vários exemplos vão ocorrer ao longo da Torah nos quais homens se rebelam contra “Moshe” – na realidade a rebelião não era contra Moshe e sim contra o Eterno – mas eles precisavam de um “alvo” para despejarem sua indignação e desobediência. E quando isso ocorria, estas pessoas acabavam perdendo as três coisas que foram citadas acima: redenção, salvação e sacerdócio!

É notável como o livre arbítrio do homem o impulsiona a perder a eternidade de forma tão estúpida, pois a rebelião – em qualquer nível – iguala o rebelde ao Adversário de nossas almas e consequentemente traz a esta pessoa a recompensa que ele recebeu: a perdição eterna!

Redimindo a eternidade

A redenção do homem é ainda hoje muito mal interpretada, pois fala-se muito sobre o Eterno amando ao “mundo” e desejando a redenção do “mundo” e isso não é verdade. É claro que as atuais traduções de nossas Bíblias cooperam para isso, mas vamos desvendar algo relacionado à redenção do homem agora.

O verso mais conhecido acerca da redenção é Iorranan 3.16 que diz: “Porque Elohim amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Mas, qual seria a tradução real deste verso? Vejamos a seguir: “Porque Elohim amou a eternidade de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.

Então quando lemos este verso com a tradução correta podemos pensar: “Mas que ‘eternidade’ Ieshua veio resgatar?” A eternidade é tido por nós como o reino espiritual onde vivem os seres espirituais e onde não há morte. Pois bem, o conceito de “imortalidade” está ligado à eternidade e é justamente isso que Ieshua veio resgatar. Ele veio buscar a eternidade que está dentro de nós; Ele não veio para resgatar o mundo, veio para resgatar a eternidade que cada ser humano recebe ao ser concebido por seus pais. Então o verso passa a ter sentido quando entendemos que o Eterno Criador amou a eternidade que está em cada ser humano e por isso enviou Ieshua! A “fé” – confiança – que cada pessoa deposita em Ieshua é que faz com que a redenção seja operada e isso livra o ser humano da destruição! Isso é o que significa a palavra “perecer” em hebraico e estes conceitos ficam ainda mais evidentes quando nos lembramos que Ieshua morre no “Lugar do crânio” para ressuscitar o homem que estava morto em seus próprios pecados e sem a perspectiva da vida eterna.

Os demais versos de Iorranan falam por si só: “Porque Elohim enviou o seu filho para a eternidade não para que condenasse a eternidade, mas para que a eternidade fosse salva por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito filho de Elohim. E a condenação é esta: Que a luz veio para a eternidade, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más” Jo 3.17-19.

Vamos destacar algo aqui:

– a salvação é universal. Isso fica claro pela contagem dos israelitas – foram quatro – e o quatro é o número do mundo, ou seja, a salvação abrangeria todos os seres humanos no planeta terra em todas as épocas!

– a vinda de Ieshua tem com resultado a salvação e não a condenação da eternidade que está em cada ser humano. Mas como fazer para ser salvo? O texto nos fala sobre “crer” – confiar – no nome do unigênito filho de Elohim. Este nome é IESHUA.

– a condenação vem quando o ser humano ama mais as “trevas” do que a luz. Esta palavra “trevas” nas escrituras falam do sistema implantado após o pecado pelo Adversário para guiar o homem rumo à perdição. Este sistema valoriza o pecado, os prazeres imediatos da carne e a complacência do homem para consigo mesmo.

Todas estas características nos mostram que há um padrão para a salvação: Ieshua. Tudo o que foge disso é rejeitado como forma de se alcançar a redenção. É claro que após a salvação entra em cena todo um processo de “limpeza” nas três áreas do homem – corpo, alma e espírito que chamamos de “descontaminação” do sistema criado e implantado pelo Adversário para afastar o homem do Criador. E este processo leva anos para fazer efeito e trazer resultados efetivos para o Eterno.

Assim como a contagem no deserto, a redenção em Ieshua é feita homem a homem, mostrando a individualidade do trato do Eterno para com cada um de nós. Isso também deixa claro que cada homem é responsável por aparecer diante do seu Criador para se posicionar ou a favor do projeto de redenção, para que a eternidade que está dentro dele possa retornar para o seu Criador ou contra o projeto de redenção, alinhando-se assim com o Adversário e recebendo a mesma punição que ele e seus seguidores já receberam de forma preventiva, pois a real punição ainda virá de forma definitiva. Isso está expresso em Apocalipse e diz: “E vi um grande trono branco, e ao que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e os céus, e não se achou lugar para eles. E vi aos mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de Elohim, e foram abertos os livros: e foi aberto outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, conforme as suas obras. E deu o mar os mortos que nele estavam; e a morte e o inferno deram os mortos que neles estavam; e foi julgado cada um segundo as suas obras. E o inferno e a morte foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte. E quem não foi achado escrito no livro da vida, foi lançado no lago de fogo” Ap 20.11-15.

Dois são os caminhos que a eternidade que está dentro do homem pode tomar: a vida eterna ou a morte eterna. A escolha sempre é pessoal cada um de nós precisa inclusive tomar cuidado para que a escolha pela eternidade ao lado do Eterno se mantenha firme. O adversário sempre esteve furioso para tentar ferir ao Eterno através do homem, pois ninguém pode de fato ferir ao Criador. Isso seria impossível. Mas, quando o Adversário leva um ser humano para o inferno ele está de fato ferindo ao Eterno, que criou aquela pessoa para passar a eternidade com Ele, retornando assim ao lugar de onde saiu. Mas o pecado seduz o homem de tal forma que muitos – a grande maioria – prefere abrir mão da Eternidade por um pouco de prazer…

Quando o Eterno mandou Moshe fazer a contagem Ele certamente desejava que os 600.000 – seiscentos mil – homens ali contados fossem contados como aqueles que venceriam a alcançariam suas coroas de vida eterna… mas nem todos trilharam este caminho e muitos se perderam. Rebeldes que induziram outros a rebelarem-se. Joio no meio do trigo, revelando a realidade de quem eram seus “comparsas” que necessitavam apenas de um pretexto para revelarem-se como parte dos rebeldes…

Naquele dia revelar-se-ão os obedientes que trilharam o caminho mais difícil, mais longo, mais demorado, mas o caminho que os aperfeiçoou e que os conduziu à salvação. Esperamos que possamos ser tidos entre os fiéis e que alcancemos a promessa da vida eterna fazendo com que, a eternidade que está em nós possa retornar para o nosso Criador e possamos viver eternamente com Aquele que é de fato a nossa Origem: O Eterno!

Baruch há shem!

Mário Moreno.