Salmo 50
Salmo 50
Neste Salmo de Asafe o Eterno é apresentado como Alguém que se relaciona com Seu povo de forma muito especial. Já na primeira frase Asafe nos mostra quem é o Senhor: “O El poderoso, o IHVH, falou e chamou a terra desde o nascimento do sol até ao seu ocaso” (Sl 50:1). Quem é Ele? Asafe nos diz ser Ele O El poderoso, aquele que, quando abre a sua boca traz à existência a terra e tudo o que nela há! Ele é Elohim (o D-us Criador), aquele de quem nos dizem as Escrituras ser o princípio e fim de todas as coisas! Ainda é chamado de IHVH (“Eu me torno aquilo que me torno”)! Isso significa que aqui o Eterno se apresenta como Aquele que se tornou nas coisas criadas, pois quando Ele as criou elas foram feitas a partir de Sua palavra! Não foi preciso utilizar-se de qualquer material pré-existente; Ele usa somente as palavras que saem de sua boca e assim tudo o que conhecemos simplesmente aparece! Aquilo que foi projetado na infinita mente do Altíssimo agora se materializa quando Ele as “chama” à existência! Por isso Asafe enfatiza quem Ele é!
Esta proclamação traz consigo também uma outra verdade: O Eterno tem por quartel-general Sião! É difícil entender a razão pela qual o Eterno escolheu justamente Sião para ser o local de onde Ele se manifesta ao mundo! Isto é ainda um mistério sobre o qual nada foi revelado, pois Ele mesmo escolheu Sião por sua habitação eterna. “Desde Sião, a perfeição da formosura, resplandeceu Elohim” (Sl 50:2).
Após as “apresentações” o Eterno agora diz com que propósito Ele se manifesta: o de julgar! “Virá o nosso Elohim, e não se calará; um fogo se irá consumindo diante dele, e haverá grande tormenta ao redor dele. Chamará os céus lá do alto, e a terra, para julgar o seu povo” (Salmos 50:3-4). A manifestação do Eterno é, no mínimo, esplendorosa! A visão de um fogo consumidor e da tormenta que o precedem nos dizem que aquele que vem após isso é tremendamente poderoso! O julgamento nos parece iminente e temeroso pois a visão de tal juízo é por demais assustadora. Ainda mais que isso terá início pelo próprio povo de D-us! O Eterno julgará seu povo com sua justiça, pois após eles serem julgados esta mesma justiça deverá ser aplicada àqueles que não o conheceram nem o serviram na terra! Imaginemos o seguinte: se o povo que serve ao Eterno será julgado, o que poderemos esperar daqueles que não o servem? Nada poderá descrever este momento de terror que sobrevirá à eles!
Primeiro virão os santos! Estes são pessoas especiais que fizeram um “concerto” com o Eterno. A palavra concerto (ou aliança) em hebraico é berith e significa “um pacto firmado com sangue”. Isso significa que alguém morreu para que estas pessoas pudessem servir ao Eterno com integridade total! O sangue que foi derramado expiou – perdoou – seus pecados e lhes permitiu terem ao Eterno como sua herança! “Ajuntai-me os meus santos, aqueles que fizeram comigo uma aliança com sacrifícios” (Sl 50:5). Outra coisa interessante que devemos notar é que os céus anunciarão a justiça do Eterno! “E os céus anunciarão a sua justiça; pois Elohim mesmo é o Juiz” (Sl 50:6). Nada poderá se comparar a isso, pois nós conhecemos a justiça terrena, humana e mundana! Esta manifestação será a da justiça que vem do alto, do próprio Criador que virá para colocar as coisas em seus devidos lugares. Não nos esqueçamos de que a justiça do Eterno está expressa em sua Palavra! Ele está “preso” aquilo que foi dito por Ele mesmo em sua Palavra e não poderá fugir daquilo que está revelado nas Escrituras! Nada além daquilo que está escrito poderá ser usado para julgar o homem! Portanto, cada qual responderá diante do Eterno baseado na justiça ou injustiça e que estiver ou não de acordo com a Sua Palavra! Tudo o que estiver dentro dos parâmetros de Sua Palavra será considerado como “justiça”; porém, o que fugir disso será tido como “injustiça”. Em que situação nos encontramos agora diante do Eterno?
Agora, o Eterno declara seus motivos para tal interpelação ao seu povo: “Ouve, povo meu, e eu falarei; ó Israel, e eu protestarei contra ti: Sou Elohim, sou o teu Elohim. Não te repreenderei pelos teus sacrifícios, ou holocaustos, que estão continuamente perante mim. Da tua casa não tirarei bezerro, nem bodes dos teus currais. Porque meu é todo animal da selva, e o gado sobre milhares de montanhas. Conheço todas as aves dos montes; e minhas são todas as feras do campo. Se eu tivesse fome, não to diria, pois meu é o mundo e toda a sua plenitude. Comerei eu carne de touros? ou beberei sangue de bodes?” (Sl 50:7-13). O que o Eterno diz aqui? Estaria Ele contra os sacrifícios que eram feitos por seu povo? Com o que ele estaria zangado (irado)? Asafe aqui é bem claro: o Eterno não os repreende pelos sacrifícios oferecidos, pois os mesmos haviam sido instituídos pelo próprio D-us de Israel! Como poderia Ele abominar algo que fora instituído por Ele mesmo? Porém, fica claro que o Eterno não precisa destas coisas, mas que elas apontavam para uma realidade ainda maior do que aquilo que eles estavam vendo! O Eterno não se contenta somente com os sacrifícios, pois para Ele o mais importante não era o sangue dos animais mas a condição sob a qual seus filhos se apresentavam para sacrificá-los. Era plenamente possível oferecer um sacrifício sem estar realmente arrependido por todos os males que aquela pessoa cometera! Não havia o peso do pecado, mas sim a certeza de que pecara e o oferecimento “ritual” de um sacrifício para que aquele pecado fosse perdoado. Isso tornara-se mecânico na vida de alguns de seus filhos. Isso nos traz para os nossos dias quando nós agimos da mesma forma: em nossos atos fazemos coisas que nos parecem Ter aparência de piedade: damos nossos dízimos e ofertas, louvamos ao Senhor, cumprimentamos aos nossos irmãos, ouvimos as mensagens que são pregadas do púlpito da igreja que frequentamos mas aquilo não causa mais “impacto” em nosso espírito a fim de transformar-nos à medida do Varão perfeito, Ieshua.
Agora segue-se o convite àquele cujo espírito se submete ao Eterno: “Oferece a Elohim sacrifício de louvor, e paga ao Altíssimo os teus votos” (Sl 50:14). A palavra “oferecer” nos mostra como devemos vivenciar aquilo que está escrito na Tanach (Velho Testamento)! A frase “sacrifício de louvor” nos lembra que nosso viver diário deve ser tão próximo de D-us e de Sua Palavra que nossa vida seja tida como um louvor ao Eterno! Isso implica que morreremos a cada dia para o mundo que nos rodeia, negando tudo aquilo que dele procede para que possamos viver de acordo com os preceitos que nos foram revelados pela Palavra do Eterno. Isso significa que os padrões aos quais deveremos obedecer são aqueles retirados da Palavra de D-us. O mundo nos transmite e ensina como devemos agir em determinadas circunstâncias. Mas a Escritura é a única que nos traz o padrão de D-us para nosso viver diário! Isso nos fará com que, caso façamos algum voto ao Altíssimo, teremos plenas condições de cumprí-lo, pois nosso relacionamento com D-us será de tal forma equilibrado que tudo o que fizermos estará de acordo com aquilo que o próprio D-us estará colocando em nossos corações. Isso nos dará uma condição muito especial neste relacionamento: “E invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás” (Sl 50:15). Três coisas nos são ditas aqui: que poderemos invocar ao Senhor quando necessário for. Isso pressupõe que Ele sempre estará por perto para o caso de D’Ele necessitarmos. E só se fica peto de quem se ama! Ninguém, fica próximo de outra pessoa a quem não ame, pois seria terrível Ter-se que viver ao lado de alguém que não temos prazer. A Segunda coisa é que Ele nos livrará! A palavra “livrar” demonstra que estamos em apuros, também nos diz que somos a parte mais fraca e que precisamos que Alguém, mais forte, poderoso, venha em nosso socorro! A consequência disso é que ao final do livramento recebido nós glorificaremos ao Eterno por seus feitos em nossas vidas! Realmente Ele se mostra para nós como um Pai que ama aos seus filhos e que quando necessário, intervém na história de sua vida a fim de preservá-los e cuidar deles!
Agora vem o outro lado da paternidade: “Mas ao ímpio diz Elohim: Que fazes tu em recitar os meus estatutos, e em tomar a minha aliança na tua boca? Visto que odeias a correção, e lanças as minhas palavras para detrás de ti. Quando vês o ladrão, consentes com ele, e tens a tua parte com adúlteros. Soltas a tua boca para o mal, e a tua língua compõe o engano. Assentas-te a falar contra teu irmão; falas mal contra o filho de tua mãe. Estas coisas tens feito, e eu me calei; pensavas que era tal como tu, mas eu te argüirei, e as porei por ordem diante dos teus olhos: Ouvi pois isto, vós que vos esqueceis de Elohim; para que eu vos não faça em pedaços, sem haver quem vos livre” (Sl 50:16-22). Este é um texto muito forte e que contém a descrição de como o Eterno trata de seus filhos desobedientes.
A palavra “ímpio” aqui em hebraico é rasha e significa “perverso, criminoso”. A palavra vem do adjetivo rshy’, “aquele que se comporta perversamente”. Esta raiz denota o comportamento negativo de pensamentos, palavras e ações más, um comportamento contrário não somente ao caráter de D-us mas também hostil à comunidade e que ao mesmo tempo revela a falta de harmonia existente no interior do homem. Esta pessoa, segundo Asafe, “recita” os estatutos do Eterno e tem a aliança do D-us vivo em sua boca! Isso não é impressionante? É lógico que tal pessoa não é simplesmente um homem qualquer, mas sim um homem cuja aparência é de piedade, mas que realmente não tem um relacionamento com o D-us Eterno! Esta pessoa ainda “odeia a correção” e nós sabemos que a correção faz parte da educação que leva ao sucesso de qualquer ser humano! Viver sem correção significa não ter um padrão que lhe traga os limites essenciais para viver-se em comunidade e também para relacionar-se com D-us! Outra coisa interessante é a conivência com o erro: “Quando vês o ladrão, consentes com ele, e tens a tua parte com adúlteros. Soltas a tua boca para o mal, e a tua língua compõe o engano. Assentas-te a falar contra teu irmão; falas mal contra o filho de tua mãe”. Essa pessoa concorda com tais coisas: roubo, adultério, engano, difamação, etc. Isso demonstra que o seu caráter ainda não foi transformado pelo relacionamento com D-us e Sua Palavra! E o pior é que nós julgamos que o Eterno é assim como nós! Asafe deixa claro que este tipo de pensamento é um traço da personalidade humana que tende a igualar-nos e nivelar-nos (certamente que esse nivelamento é “por baixo”) com D-us, e isso nos leva apensarmos que assim como nós agimos Ele também age! Quanto desconhecimento ainda temos de nosso D-us e Senhor! Só pelo fato de assim pensarmos demonstramos nunca Tê-lo conhecido de fato! Quem o conecte e entende a Sua Palavra sabe muito bem que seus padrões são muito mais elevados que os nossos! E é justamente por isso que seremos julgados pela Sua Palavra, pois é nela que estão contidos os padrões – que certamente temos todos condições de assimilar – que nos dirão no último dia quem realmente somos!
Quando Asafe finaliza este Salmo ele nos traz uma revelação incrível: “Aquele que oferece o sacrifício de louvor me glorificará; e àquele que bem ordena o seu caminho eu mostrarei a salvação de Elohim” (Sl 50:23). Agora somos lembrados que o ordenar bem o nosso caminho trará algo maravilhoso sobre nossas vidas: o Eterno nos mostrará o Ieshua de Elohim! Você sabe o que Asafe estava profetizando aqui? Ele nos dizia que quando seguimos uma vida segundo os padrões das Escrituras a consequência natural disso é que o próprio Criador nos mostrará Aquele que estava consigo na criação e que juntamente com Ele criou o Universo! Ele nos revelará Ieshua e nos conduzirá a um relacionamento de intimidade com Ele através desta Palavra, que vivenciamos a cada dia em nossas vidas e por isso podemos “oferecer-lhe sacrifício de louvor, glorificando-lhe assim O Nome”! Isso é o que realmente importa! Viver com o Eterno traz não somente a revelação de Sua Palavra, mas também traz consigo a revelação daquele que fora prometido, profetizado, anunciado por Moisés e pelos profetas, Ieshua Há Mashiach, fortalecendo-nos ainda mais em nossos laços de amor para com o Criador, o D-us de Israel.
Mário Moreno.