Mário Moreno/ novembro 27, 2017/ Parasha da semana

Vayishlach

(Ele envia)

Gn 32.3 – 36.43 / Ob 1:1–21 / Hb 11:11-20

Quando Shimon e Levi atacam a cidade de Shechem e subjugam os habitantes para salvar sua irmã Dinah, a Torah muda de tom para descrevê-los como sendo “os dois filhos de Ia´aqov” (Bereshit 34:25). Nesta altura certamente já estamos bem informados sobre a genealogia deles. Rashi comenta que ao repetir o óbvio, a Torah está destacando o fato de que, embora obviamente eles fossem filhos de Ia´aqov, não estavam agindo como tal, pois não procuraram seu conselho a respeito desta questão.

Se nos perguntassem qual a qualidade essencial para que alguém seja considerado “agindo como um filho”, nossa primeira idéia seria provavelmente honrando os pais ou cuidando de suas necessidades. Mas Rashi aparentemente está nos revelando algo diferente. Os fatores mais básicos para ser considerado como “um filho” é que busque o conselho de seus pais.

De fato, se examinarmos a etimologia da palavra hebraica para filho, “ben”, temos a mesma impressão. Quando Nôach nasceu, a Torah o declara fazendo referência a seu pai Lemech. “E ele teve um filho (ben)”. Rashi comenta que a palavra ben está relacionada à forma radical “baná” significando construir, e que a partir de Nôach finalmente a palavra foi reconstruída. Na noite de sexta-feira e nos serviços matinais de Shabat nos referimos aos que estudam Sua Torah como “filhos’ e “construtores”. Por isso entendemos que o papel de um filho é construir algo sobre os princípios do pai; transformar em realidade suas idéias.

Assim, a Torah sutilmente repreende Shimon e Levi por agirem sem o conselho e consentimento de seu pai. Seu relacionamento era meramente biológico, pois não estavam agindo em concordância com sua vontade.

A Torah chama aos Filhos de Israel “filhos de D’us”. Como filhos de D’us, devemos nos inspirar para realizar todas nossas ações consultando nosso pai, através de Sua Torah, para verdadeiramente construirmos este mundo sobre Seus princípios.

Nesta Porção da Torah estaremos falando sobre o encontro de Esav e Ia´aqov em seu retorno à sua parentela. Veremos a forma maravilhosa como o Eterno tratou com Ia´aqov e com seus temores a fim de curar sua alma ferida e também veremos o amor que restaura o homem àquilo que é seu por direito (sua terra).

Ia´aqov envia seus mensageiros que o precederiam para avisarem e prepararem a Esav a fim de que eles não fossem tidos como invasores e também para que o coração de seu irmão Esav fosse “preparado” para sua chegada. “E enviou Ia´aqov mensageiros adiante de si a Esav, seu irmão, à terra de Seir, território de Edom. E ordenou-lhes, dizendo: Assim direis a meu senhor Esav: Assim diz Ia´aqov, teu servo: Como peregrino morei com Labão, e me detive lá até agora” (Gn 32:3-4). Ia´aqov ordena a seus servos que vão a Esav com uma mensagem específica. A palavra “ordenar” é tsawâ e significa “ordenar, incumbir”. A raiz da palavra indica a instrução de um pai para seu filho; de um rei para seus servos. Isso nos mostra que o relacionamento de Ia´aqov para com seus servos era muito agradável, porém firme. Não havia abuso de autoridade – autoritarismo – e também não havia a desobediência – insubordinação – mas havia um relacionamento em que os servos procuravam obedecer e atender ao seu senhor para que todas as coisas pudessem caminhar de forma agradável, sem maiores problemas.

Após o encontro com Esav, os servos de Ia´aqov voltam com o relato daquilo que aconteceu. E os mensageiros voltaram a Ia´aqov, dizendo: Fomos a teu irmão Esav; e também ele vem para encontrar-te, e quatrocentos homens com ele” (Gn 32:6). A palavra “mensageiros” em hebraico é malak e significa “mensageiro, representante, anjo”. A palavra é inadequada para descrever a série de tarefas desempenhadas pelo malak. Em primeiro lugar sua função era de levar uma mensagem; em segundo, de desincumbir-se de uma tarefa específica e também deveria representar de um modo mais ou menos oficial aquele que o enviara. Eles retornam à Ia´aqov com um relato daquilo que presenciaram: o próprio Esav os recebera e vinha até a eles com um “exército” de quatrocentos homens! Mas, qual seria o motivo para que Esav viesse com todo esse aparato para encontrá-lo? O que estaria passando pela cabeça de Esav? Teria ele ainda grandes ressentimentos pelo que Ia´aqov no passado havia feito à ele? Essas e outras perguntas devem ter passado pela mente de Ia´aqov quando recebe essa notícia.

Mas, o primeiro sentimento que vem à tona em Ia´aqov nos é revelado: “Então Ia´aqov temeu muito e angustiou-se; e repartiu o povo que com ele estava, e as ovelhas, e as vacas, e os camelos, em dois bandos” (Gn 32:7). A palavra “temer” em hebraico é yare, e significa “temer, ter medo, reverenciar”. Ia´aqov sabia que esse momento seria de uma profunda expectativa e ansiedade, pois não haveria como prever como seria o encontro entre ele e Esav!

Agora Jaó faz aquilo que lhe era peculiar: ele ora à D-us! “Disse mais Ia´aqov: Elohim de meu pai Abraão, e Elohim de meu pai Isaque, o IHVH, que me disseste: Torna-te à tua terra, e a tua parentela, e far-te-ei bem; menor sou eu que todas as beneficências, e que toda a fidelidade que fizeste ao teu servo; porque com meu cajado passei este Jordão, e agora me tornei em dois bandos. Livra-me, peço-te, da mão de meu irmão, da mão de Esav; porque eu o temo; porventura não venha, e me fira, e a mãe com os filhos. E tu o disseste: Certamente te farei bem, e farei a tua descendência como a areia do mar, que pela multidão não se pode contar” (Gn 32:9-12). Aqui Ia´aqov trata de vários aspectos aos quais o Eterno já lhe prometera cuidar. Ele somente “traz à lembrança” o que o Senhor lhe havia dito.

Versículo 32:11

Não sou merecedor.

AGINDO COM PRUDÊNCIA

Um certo chassid era notório por sua extrema humildade e auto-anulação.

Perguntaram-lhe certa vez: “O Talmud não diz que um erudito de Torah não deve se diminuir demais? Que embora deva ser humilde, tem que reter pelo menos ‘a oitava parte de um oitavo de orgulho’?”

Replicou o chassid: “Vamos assumir que você está certo, e que quando eu enfrentar a corte celestial de fato decidam que sou um Erudito de Torah.

‘Hum,’ exigirá o juiz sobrenatural, ‘o que temos aqui? Vejo um erudito de Torah. Onde está sua oitava parte de um oitavo?!’ Vamos assumir ainda, meu amigo, que como você reivindica, fui de certa forma deficiente nesta área.

“Isso de certa forma me colocaria num beco sem saída. Mesmo assim, estou bem confiante que de certa forma conseguirei reunir suficiente evidência de ego e orgulho em minha vida para satisfazer a exigência talmúdica.

“Que tal a seguinte possibilidade: apresento-me perante a corte celestial para prestar contas de minha vida e dizem-me: ‘A oitava parte de um oitavo podemos ver muito bem, mas onde está o erudito de Torah?’ Veja você, prefiro arriscar-me com a primeira situação…”

Ele principia chamando lembrando que D-us foi o Elohim – Criador – de Abraão e consequentemente dele também e que o seu nome é o Senhor – IHVH – o que demonstra que o Eterno se tornaria aquilo que ele precisasse! A petição de Ia´aqov é por livramento! A palavra “livrar” em hebraico é natsal e significa “livrar, resgatar, salvar”. Daí a ideia de salvação ou de um livramento pessoal literal. Ia´aqov estava “antecipando” o que poderia acontecer em seu encontro com Esav e então já clamava ao Eterno para que o livrasse! Ele também lembra ao Eterno que Ele mesmo lhe prometera fazer-lhe bem e que faria a sua descendência como a areia do mar. A palavra “descendência” é zerá e significa “descendência física”; seriam os filhos que nasceriam a partir dele e então se tornariam numerosos em toda a terra. Mas como seria isso possível se algum mal acontecesse à ele ou a qualquer um de seus familiares? É justamente por isso que Ia´aqov clama ao Eterno por esse tipo de livramento!

Ia´aqov agora lembra-se das estratégias que aprendeu e tenta aplacar a ira de seu irmão enviando-lhe “presentes” que antecedem a sua chegada. “E passou ali aquela noite; e tomou do que lhe veio à sua mão, um presente para seu irmão Esav: duzentas cabras e vinte bodes; duzentas ovelhas e vinte carneiros; trinta camelas de leite com suas crias, quarenta vacas e dez novilhos; vinte jumentas e dez jumentinhos; e deu-os na mão dos seus servos, cada rebanho à parte, e disse a seus servos: Passai adiante de mim e ponde espaço entre rebanho e rebanho. E ordenou ao primeiro, dizendo: Quando Esav, meu irmão, te encontrar, e te perguntar, dizendo: De quem és, e para onde vais, e de quem são estes diante de ti? Então dirás: São de teu servo Ia´aqov, presente que envia a meu senhor, a Esav; e eis que ele mesmo vem também atrás de nós. E ordenou também ao segundo, e ao terceiro, e a todos os que vinham atrás dos rebanhos, dizendo: Conforme a esta mesma palavra falareis a Esav, quando o achardes. E direis também: Eis que o teu servo Ia´aqov vem atrás de nós. Porque dizia: Eu o aplacarei com o presente, que vai adiante de mim, e depois verei a sua face; porventura ele me aceitará. Assim, passou o presente adiante dele; ele, porém, passou aquela noite no arraial” (Gn 32:13-21). Ia´aqov envia três emissários adiante dele a fim de presentearem a Esav com aquilo que ele mesmo escolhera. Ia´aqov porém passa a noite naquele mesmo lugar, decerto pensando se sua estratégia seria ou não bem sucedida! Em pouco tempo Ia´aqov saberia qual seria enfim o seu destino e se as promessas do Eterno haveriam de cumprir-se em sua vida!

Naquela noite acontece algo que definitivamente mudaria a vida de Ia´aqov: ele encontra-se com o Criador e sua vida é mudada radicalmente! “Ia´aqov, porém, ficou só; e lutou com ele um homem, até que a alva subiu. E vendo este que não prevalecia contra ele, tocou a juntura de sua coxa, e se deslocou a juntura da coxa de Ia´aqov, lutando com ele. E disse: Deixa-me ir, porque já a alva subiu. Porém ele disse: Não te deixarei ir, se não me abençoares. E disse-lhe: Qual é o teu nome? E ele disse: Ia´aqov. Então disse: Não te chamarás mais Ia´aqov, mas Israel; pois como príncipe lutaste com D-us e com os homens, e prevaleceste. E Ia´aqov lhe perguntou, e disse: Dá-me, peço-te, a saber o teu nome. E disse: Por que perguntas pelo meu nome? E abençoou-o ali. E chamou Ia´aqov o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a D-us face a face, e a minha alma foi salva” (Gn 32:24-30). Vejamos alguns pontos interessantes do encontro entre Ia´aqov e o Eterno.

Ia´aqov fica “”, em hebraico bad que significa “sozinho, por si mesmo”. O conceito fundamental é “ficar separado ou isolado”. Nós percebemos que é necessário estar a sós com o Eterno a fim de que Ele tenha plena liberdade em nossas vidas! O verdadeiro encontro com o Eterno ocorre na solidão! É ali e somente ali que o Eterno pode vir e apresentar-se à nós de maneira plena a completa. E quando o encontramos, tem início uma “luta” onde queremos e precisamos que o Eterno se compadeça de nós e nos toque até mesmo fisicamente! A conversa entre Ia´aqov e o Eterno reflete bem sua intimidade: “…E disse: Deixa-me ir, porque já a alva subiu. Porém ele disse: Não te deixarei ir, se não me abençoares”. Aqui sabemos que o Eterno veio por causa de Ia´aqov e necessitava que houvesse uma atitude por parte deste a fim de que lhe fosse reivindicado aquilo que ele viera trazer. É por isso que Ele diz: “Deixa-me ir, porque já a alva subiu”. D-us não precisa pedir permissão para homem algum a fim de ir ou vir. Mas aqui é diferente. Ele veio por causa de Ia´aqov e Ia´aqov precisa agir e reivindicar aquilo que está em seu coração.

A resposta de Ia´aqov a esta pergunta é: “…Não te deixarei ir, se não me abençoares”. A palavra “abençoar” é barak e significa “dar poder à alguém para ser próspero, bem sucedido e fecundo”. Ia´aqov precisava de uma confirmação quanto àquilo que já vinha ocorrendo em sua vida! Era necessário que ainda mais se manifestasse na vida de Ia´aqov esse poder para ser bem sucedido em tudo. Seu sucesso precisava vir agora em relação à Esav e isso estaria garantido se Ia´aqov pudesse receber do Eterno a certeza de que esse poder lhe havia sido concedido!

Então acontece: o nome de Ia´aqov – enganador, suplantador – é mudado para Israel – aquele que luta com o Criador e prevalece – pois Ia´aqov lutara com Elohim [o Criador] e alcançara aquilo que tanto precisava! A escritura diz que o Eterno abençoou-o ali! Por isso o nome do lugar chamou-se Peniel, pois ele viu à D-us face a face. A palavra “ver” em hebraico é ra’â e significa “ver, olhar, inspecionar”. Ia´aqov (agora Israel) tivera um encontro com seu Criador e sua vida haveria de mudar, pois ele confessa que “minha alma foi salva”. A palavra “salva” é natsal e significa “livrar, resgatar, salvar”. A palavra tem o sentido de “arrastar para fora ou então puxar para fora”. Isso nos fala sobre os temores e traumas de Ia´aqov que, naquele encontro com o Eterno foram-lhe arrancados e curados! Agora Ia´aqov certamente seria um outro homem, curado e restaurado pelo Eterno!

Mas além da marca espiritual na alma de Ia´aqov houve também uma marca física em seu corpo: “E chamou Ia´aqov o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a D-us face a face, e a minha alma foi salva. E saiu-lhe o sol, quando passou a Peniel; e manquejava da sua coxa” (Gn 32:30-31). Isso nos mostra que muitas vezes nossos “encontros” com o Eterno nos marcarão de forma inconfundível, inclusive fisicamente, pois, quando olharmos para aquela “marca” nos lembraremos de nosso encontro com o Senhor e também nos lembraremos de suas promessas para nossa vida!

Na seqüência temos o tão esperado encontro entre Esav e Ia´aqov. Vejamos o que ocorreu quando os dois irmãos, separados por distâncias físicas e por anos de saudades, que agora certamente deverão determinar a intensidade positiva ou negativa deste encontro. Foi assim que tudo ocorreu: “E levantou Ia´aqov os seus olhos, e olhou, e eis que vinha Esav, e quatrocentos homens com ele. Então repartiu os filhos entre Lia, e Raquel, e as duas servas. E pôs as servas e seus filhos na frente, e a Lia e seus filhos atrás; porém a Raquel e José os derradeiros. E ele mesmo passou adiante deles e inclinou-se à terra sete vezes, até que chegou a seu irmão. Então Esav correu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu pescoço, e beijou-o; e choraram” (Gn 33:1-4). A Escritura nos informa que Ia´aqov quando chegou à presença de Esav inclinou-se à terra sete vezes. A palavra “inclinar-se” em hebraico é shahah e significa “inclinar-se”. Ela tem o significado de “ser inferior”, “estar abatido”. Esta palavra descreve com muita propriedade a condição de Ia´aqov naquele momento: ele sentia-se inferior, estava abatido, pois não sabia o que lhes aconteceria então. Ia´aqov humilhou-se diante de seu irmão Esav e esperava receber dele a devida misericórdia. A reação de Esav foi a menos provável nos cálculos de Ia´aqov. Ele sai correndo ao Encontro de Ia´aqov, lança-se sobre ele abraçando-o e chorou com Ia´aqov de saudades! Creio eu que nem nas melhores expectativas de Ia´aqov ele imaginou ser recebido assim por Esav! Foi o reencontro de dois irmãos que foram separados por muitos anos, cresceram, amadureceram, constituíram família e agora se reencontram debaixo de um clima de amor e compreensão! O coração quebrantado de Esav fora certamente preparado pelo Eterno para esse dia e também a humildade de Ia´aqov, que ao reencontrar-se com seu irmão sabia que tudo o que ele fizera com seu irmão tinha sido errado; mas agora ele sente o perdão fluindo naquele reencontro!

Ia´aqov fala com seu irmão colocando–se a si mesmo numa posição inferior. “Depois levantou os seus olhos, e viu as mulheres, e os meninos, e disse: Quem são estes contigo? E ele disse: Os filhos que D-us graciosamente tem dado a teu servo” (Gn 33:5). Ia´aqov aqui chama a D-us de Elohim – Criador – e a si mesmo de servo, ebed em hebraico, que significa “escravo, servo”. Este termo é empregado como uma referência humilde e educada sobre si mesmo. É isso que Ia´aqov faz: reconhece quem ele é – na atual condição – e diz isso ao seu irmão a fim de garantir-lhe que houve realmente uma mudança significativa em sua vida e conduta!

Esav pergunta a Ia´aqov sobre as pessoas que o precederam e sobre os “presentes” que lhe foram oferecidos e Ia´aqov lhe explica que estes foram a fim de “apresentarem-se” como dádivas de Ia´aqov a Esav. Esav tenta não aceitar aquilo que lhe é oferecido pelo irmão, mas Ia´aqov insiste em que ele aceite, pois assim ele estará de certa forma, “pagando” à Esav pelos prejuízos causados e ele e acumulados durante anos de ausência de Ia´aqov na família. Ele diz: “Toma, peço-te, a minha bênção, que te foi trazida; porque D-us graciosamente ma tem dado; e porque tenho de tudo. E instou com ele, até que a tomou” (Gn 33:11). Ia´aqov “reparte” sua beraka – benção – que significa que Ia´aqov dá à seu irmão aquilo que ele tinha recebido fisicamente. Ele dividia com Esav o poder de ser próspero, bem sucedido e fecundo, só que isso está já manifesto de forma palpável, em bens materiais! Ia´aqov não divide com Esav a herança espiritual, mas somente a física!

Esav convida a Ia´aqov para ir com ele em caravana de volta ao seu lar. Porém Ia´aqov argumenta com seu irmão que seus filhos são novos demais para caminharem rapidamente para qualquer lugar e também seu gado não poderia fatigar-se, pois caso isso acontecesse o rebanho certamente morreria. Então foi Esav para seu caminho e Ia´aqov toma outro rumo. “Assim voltou Esav aquele dia pelo seu caminho a Seir. Ia´aqov, porém, partiu para Sucote e edificou para si uma casa; e fez cabanas para o seu gado; por isso chamou aquele lugar Sucote” (Gn 33:16-17). Esav volta pelo seu caminho a Seir. A palavra “caminho” em hebraico é derek, e significa “caminho, estrada”. Relaciona-se com darakpisar, pisotear” e refere-se também a um caminho gasto, batido de tanto andar-se nele. Esav vai para Seir. Esse nome designa a região montanhosa a leste do deserto de Arabá. A palavra em sua raiz também significa “ter muito medo”. Esav, após seu encontro com Ia´aqov volta às suas atividades normais e continua andando por seus caminhos costumeiros! Não houve mudança na vida de Esav, pois ele ainda vive da mesma forma e com os mesmos padrões antigos! Ele inclusive habita numa região e num lugar que nos falam sobre sua condição espiritual: ele vive num lugar que causa muito medo! Esse lugar é certamente a habitação dos poderes das trevas, onde o domínio ali é exercido por seres cuja procedência vem das regiões baixas da terra: o inferno! Já Ia´aqov segue por um caminho diferente: ele vai para Sucot. A palavra Sucot vem de uma raiz que significa em particular “cobrir” e num sentido figurado descreve a proteção que D-us concede à todos os que nele vem buscar refúgio. Ia´aqov também continua andando pelos mesmos caminhos que o trouxeram de volta ao seu lar. Ele anda com o D-us Eterno e vai para uma cidade que fala em seu nome sobre a proteção que o Eterno dá aos seus filhos. Ia´aqov sente-se “coberto” pela presença do Eterno em todos os seus caminhos! É justamente isso que aprendemos com Ia´aqov: a andar diante do Eterno em seus caminhos – que não estão “gastos” por andarmos neles diariamente – mas que se renovam e trazem sempre coisas novas e belas para aqueles que neles andam em obediência à Torah do Eterno!

Versículo 33:17

Ele construiu para si mesmo uma casa, e para seu rebanho fez cabanas.

Para si mesmo e para suas verdadeiras prioridades, Ia´aqov providenciou um “lar” seguro e substancial; para suas posses materiais e outros elementos acessórios de sua vida, ele contentou-se com uma “cabana” mínima. (Rabi Menachem Mendel Schneerson, Rebe de Lubavitch)

UM PONTO DE REFERÊNCIA

Rabi Yossef Yitschac de Lubavitch relatou:

Quando contava quatro anos de idade, perguntei a meu pai:

“Por que D’us criou as pessoas com dois olhos? Por que não apenas um olho, assim como temos um único nariz e apenas uma boca?”

“Você sabe o alef-bêt?”, perguntou papai.

“Sim.”

“Então sabe que há duas letras hebraicas, o Shin e o Sin. Pode dizer-me a diferença entre elas?”

“O shin tem um pingo no lado direito; o sin, no lado esquerdo,” respondi.

Disse papai: “Há coisas para as quais as pessoas devem olhar com o olho direito, com afeição e empatia, e há coisas que devem merecer um olho esquerdo, com indiferença e distanciamento. Para um sidur ou para um judeu, deve-se olhar com o olho direito; para um brinquedo ou doce, deve-se olhar com o olho esquerdo.”

Ia´aqov reconhece que foi o Eterno que o trouxe até ali e naquela condição de saúde e vida! “E chegou Ia´aqov salvo à Salém, cidade de Siquém, que está na terra de Canaã, quando vinha de Padã-Arã; e armou a sua tenda diante da cidade” (Gnsis 33:18). É-nos dito que Ia´aqov chega salvo à Salém. A palavra Salém significa “estar completo, sadio”. Ela descreve bem o estado no qual Ia´aqov chega à sua casa: como alguém que foi embora, mas retorna vitorioso em todos os sentidos de sua vida! Ele estava também na cidade de Siquém e esta palavra significa “ombro, costas”. A palavra vem da raiz que significa também “levantar cedo”. Tem o sentido de começar uma longa viagem; começar o dia com um ato de adoração e ir à batalha! É muito interessante pois foi justamente isso que acontecera com Ia´aqov: ele levantara-se começando uma nova etapa de sua vida, e creio eu, que através de sua postura de um verdadeiro adorador ele conquista as vitórias tão esperadas no campo de batalha – tanto espiritual quanto físico -. Seu último ato ao chegar à sua terra natal foi o de erigir um altar ao seu D-us. “E levantou ali um altar, e chamou-lhe: D-us, o D-us de Israel” (Gn 33:20). A palavra “altar” em hebraico é mizbeah e significa “lugar de sacrifício”. Agora Ia´aqov trazia diante do Eterno um sacrifício como gratidão ao seu D-us por seus feitos em sua vida. Ele também dá um nome ao altar: El, o D-us de Israel! Este nome de D-us é usado em conjunto como prefixo na maioria dos designativos com os quais o Eterno se apresenta nas Escrituras. E o mais interessante é que ele chama El de seu D-us! Ele o chama de El de Israel! Lembremo-nos que Israel é agora o nome de Ia´aqov!

Este é Ia´aqov – agora Israel – que volta ao seu lar com uma nova postura de vida e seu retorno propiciará à ele que viva uma nova etapa em sua caminhada com o D-us Eterno de Israel! Ele assume sua nova identidade: o príncipe que lutou com o Criador e prevaleceu – conseguiu aquilo que tanto precisava – e agora tem início o cumprimento através de Ia´aqov – Israel – da promessa feita à Abraão e Isaque, a qual nos fala sobre Israel habitar na sua terra e ali eles cresceriam e se multiplicariam. Mas isso é só o começo!

Agora temos o relato sobre Dinah, que é deflorada, forçada por um homem que não conhecia e nem obedecia aos princípios do D-us Eterno. A história transcorreu assim: “E saiu Dinah, filha de Lia, que esta dera a Ia´aqov, para ver as filhas da terra. E Siquém, filho de Hamor, heveu, príncipe daquela terra, viu-a, e tomou-a, e deitou-se com ela, e humilhou-a” (Gn 34:1-2). Dinah passeava pelos arredores das propriedades de Ia´aqov, quando foi vista por Siquém, que sentiu-se atraído por ela, e por ser um homem muito importante naquele lugar julgou poder fazer dela o que bem entendesse. A escritura nos informa que ele “humilhou-a”. Esta palavra em hebraico é anâ e significa afligir, oprimir, humilhar. O sentido básico da palavra é de “forçar”, ou “tentar impor”; também “castigar” ou “causar dor em”. Dinah foi forçada a manter relações sexuais com um homem desconhecido, foi agredida em sua liberdade e teve sua virgindade violada por alguém que simplesmente olhou para ela, e que, por causa de sua posição social, julgou poder fazer dela o que bem entendesse.

Mas a história vai muito além disso. “Quando Ia´aqov ouviu que Dinah, sua filha, fora violada, estavam os seus filhos no campo com o gado; e calou-se Ia´aqov até que viessem. E saiu Hamor, pai de Siquém, a Ia´aqov, para falar com ele. E vieram os filhos de Ia´aqov do campo, ouvindo isso, e entristeceram-se os homens, e iraram-se muito, porquanto Siquém cometera uma insensatez em Israel, deitando-se com a filha de Ia´aqov; o que não se devia fazer assim” (Gn 34:5-7). Quando Ia´aqov e seus filhos ficaram sabendo do que havia ocorrido com Dinah houve uma indignação muito grande por parte deles. Eles sabiam que algo deveria ser feito para que este grande mal pudesse ser reparado. Mas o que? Agora o próprio D-us vai providenciar para eles uma estratégia a fim de poderem “vingar-se” de Dinah.

Hemor (pai de Siquém) vem até Ia´aqov para pedir-lhe Dinah por esposa à seu filho. “Então falou Hamor com eles, dizendo: A alma de Siquém, meu filho, está enamorada da vossa filha; dai-lha, peço-vos, por mulher; e aparentai-vos conosco, dai-nos as vossas filhas, e tomai as nossas filhas para vós; e habitareis conosco; e a terra estará diante de vós; habitai e negociai nela, e tomai possessão nela. E disse Siquém ao pai dela, e aos irmãos dela: Ache eu graça em vossos olhos, e darei o que me disserdes; aumentai muito sobre mim o dote e a dádiva e darei o que me disserdes; dai-me somente a moça por mulher” (Gn 34:8-12). Aparentemente, a proposta de Hemor era muito boa. Ele queria, de certa forma, “reparar” o erro de seu filho tomando Dinah por sua esposa e também pagando à família de Ia´aqov o dote que lhes fosse pedido. Mas certamente isso não estava nos planos de Ia´aqov, pois ele queria que sua filha e pudesse casar-se com alguém da mesma linhagem e não com um homem desconhecido, de um povo que não honrava nem conhecia ao D-us de Israel.

Entre os familiares, o comentário foi o seguinte: “Então responderam os filhos de Ia´aqov a Siquém e a Hamor, seu pai, enganosamente, e falaram, porquanto havia violado a Dinah, sua irmã” (Gn 34:13). A palavra “violar” em hebraico é tame’ e significa “ser (ficar) impuro, imundo”. Dinah agora havia ficado impura justamente por Ter sido “atacada” por Siquém e por não terem sido respeitados os parâmetros legais para que fosse realizado um casamento. Siquém simplesmente a tomou, fez dela o que quis e depois pediu a seu pai que intermediasse o casamento! Os irmãos de Dinah sabiam disso e agora usaram de astúcia a fim de poderem fazer algo que os levasse a “repararem” o erro que ocorrera com Dinah!

A proposta deles para Hamor, Siquém e os homens daquela comunidade foi a seguinte: “E disseram-lhe: Não podemos fazer isso, dar a nossa irmã a um homem não circuncidado; porque isso seria uma vergonha para nós; nisso, porém, consentiremos a vós: se fordes como nós; que se circuncide todo o homem entre vós; então dar-vos-emos as nossas filhas, e tomaremos nós as vossas filhas, e habitaremos convosco, e seremos um povo; mas se não nos ouvirdes, e não vos circuncidardes, tomaremos a nossa filha e ir-nos-emos. E suas palavras foram boas aos olhos de Hamor, e aos olhos de Siquém, filho de Hamor. E não tardou o jovem em fazer isto; porque a filha de Ia´aqov lhe contentava; e ele era o mais honrado de toda a casa de seu pai. Veio, pois, Hamor e Siquém, seu filho, à porta da sua cidade, e falaram aos homens da sua cidade, dizendo: Estes homens são pacíficos conosco; portanto habitarão nesta terra, e negociarão nela; eis que a terra é larga de espaço para eles; tomaremos nós as suas filhas por mulheres, e lhes daremos as nossas filhas. Nisto, porém, consentirão aqueles homens, em habitar conosco, para que sejamos um povo, se todo o homem entre nós se circuncidar, como eles são circuncidados. E seu gado, as suas possessões, e todos os seus animais não serão nossos? Consintamos somente com eles e habitarão conosco. E deram ouvidos a Hamor e a Siquém, seu filho, todos os que saíam da porta da cidade; e foi circuncidado todo o homem, de todos os que saíam pela porta da sua cidade” (Gn 34:14-24). A proposta dos israelitas consistia justamente na circuncisão dos homens da localidade a fim de se “igualarem” aos israelitas em suas tradições e costumes. Eles ponderaram e concluíram que esta seria uma coisa muito boa para ambos os povos, pois a terra poderia comportar a ambos e também eles poderiam unificar-se a fim de formarem um povo ainda mais forte! Mas eles não pensaram que a circuncisão para qualquer homem depois do 8° dia causa uma dor muito grande, principalmente em adultos! Essa seria a estratégia dos israelitas, que, ao proporem aqueles homens que se circuncidassem estariam também debilitando-os espiritual e fisicamente!

O resultado desta estratégia foi terrível: a paixão de Siquém trouxe à ele e aos seus subordinados a morte! Percebemos o quão perigosa é a paixão humana descontrolada! Da mesma forma que, repentinamente, o sentimento apareceu, ele pode, também repentinamente, desaparecer! Os servos de Hamor (pai de Siquém), juntamente com seu senhor, pagaram com a própria vida pelo abuso apaixonado deste homem! “E aconteceu que, ao terceiro dia, quando estavam com a mais violenta dor, os dois filhos de Ia´aqov, Simeão e Levi, irmãos de Dinah, tomaram cada um a sua espada, e entraram afoitamente na cidade, e mataram todos os homens. Mataram também ao fio da espada a Hamor, e a seu filho Siquém; e tomaram a Dinah da casa de Siquém, e saíram. Vieram os filhos de Ia´aqov aos mortos e saquearam a cidade; porquanto violaram a sua irmã. As suas ovelhas, e as suas vacas, e os seus jumentos, e o que havia na cidade e no campo, tomaram. E todos os seus bens, e todos os seus meninos, e as suas mulheres, levaram presos, e saquearam tudo o que havia em casa. Então disse Ia´aqov a Simeão e a Levi: Tendes-me turbado, fazendo-me cheirar mal entre os moradores desta terra, entre os cananeus e perizeus; tendo eu pouco povo em número, eles ajuntar-se-ão, e serei destruído, eu e minha casa. E eles disseram: Devia ele tratar a nossa irmã como a uma prostituta?” (Gn 34:25-31). Quando Ia´aqov fica sabendo do “estrago” promovido por Simeão e Levi ele fica muito preocupado com o fato, porém a justificativa deles é no mínimo plausível: Dinah não deveria ser tratada como uma prostituta! A palavra “prostituta” em hebraico é zanâ e significa “cometer fornicação, praticar prostituição”; a idéia básica é “ter relação sexual ilícita”. Os irmãos de Dinah sabiam da gravidade daquilo que ocorrera, mas também sabiam que aquilo que haviam feito certamente estava errado, pois eles haviam enganado astutamente aos moradores daquela terra a fim de darem cabo de suas vidas!

Agora, Ia´aqov é novamente chamado pelo Eterno a um concerto juntamente com toda a sua família! “Depois disse D-us a Ia´aqov: Levanta-te, sobe a Beit El, e habita ali; e faze ali um altar ao D-us que te apareceu, quando fugiste da face de Esav teu irmão. Então disse Ia´aqov à sua família, e a todos os que com ele estavam: Tirai os deuses estranhos, que há no meio de vós, e purificai-vos, e mudai as vossas vestes” (Gn 35:1-2). Aqui o eterno apresenta-se como Elohim (o D-us Criador) a Ia´aqov e ordena-lhe erigir um altar, que é um lugar de sacrifício, onde ele certamente deveria apresentar ao Senhor os sacrifícios que lhes permitiriam ter os pecados “cobertos” (perdoados) e poderiam então continuar em sua caminhada diante do Senhor. O Senhor diz à Ia´aqov que fizesse o altar “ao D-us que te apareceu”. No hebraico está a expressão El-ra’ah, que significa o El (Criador) que vê, atenta, presta atenção. Literalmente seria traduzida por “ao El que te viu”. Isso demonstra-nos que o Eterno tem um cuidado extremo para com seus filhos, pois Ele está cuidando de todos nós atentamente, com seus olhos fixos sobre cada passo e atitude de nossas vidas! A determinação do eterno é que Ia´aqov e os seus mudem de vida, retirando do meio deles tudo aquilo que ocupa o lugar de D-us em suas vidas! Eles deveriam dar prioridade máxima ao Senhor e isso exigiria abrirem mão de outros objetos e até mesmo de outros valores que julgavam ser bons para sua vida a fim de servirem ao Senhor!

A consequência de seu ato de obediência foi a seguinte: “E levantemo-nos, e subamos a Beit El; e ali farei um altar ao El que me respondeu no dia da minha angústia, e que foi comigo no caminho que tenho andado. Então deram a Ia´aqov todos os deuses estranhos, que tinham em suas mãos, e as arrecadas que estavam em suas orelhas; e Ia´aqov os escondeu debaixo do carvalho que está junto a Siquém. E partiram; e o terror de Elohim foi sobre as cidades que estavam ao redor deles, e não seguiram após os filhos de Ia´aqov” (Gn 35:3-5). Pelo texto nós percebemos que não houve resistência da parte dos que estavam com Ia´aqov. Eles liberalmente se desfizeram das coisas que, de alguma forma, impediam seu relacionamento com o D-us Eterno. Isso fez com que o Senhor trouxesse sobre os habitantes em derredor o seu terror! Aqui a palavra “terror” é hittâ e significa “pavor, medo”.  A palavra vem de uma raiz que significa (estar) quebrantado, aniquilado, com medo, aterrorizado. Isso demonstra que a obediência de Ia´aqov e dos seus impôs o reino do Criador (Elohim) sobre o local e os arredores em que eles habitavam! Quando eles obedeceram à ordem de retirar os “deuses” estranhos do meio deles, foi “disparado” um processo no qual o reino espiritual trouxe à Ia´aqov e aos seus a presença do Eterno de tal forma que instalou-se um terror nas localidades ao seu redor! D-us causou isso a fim de preservar Ia´aqov e os seus com sua presença!

Um outro evento agora marca a vida de Ia´aqov e de sua família: a morte de Devorah, ama de Rivca. Quando isso acontece, Ia´aqov e o Eterno encontram-se novamente e o resultado deste encontro é maravilhoso! “E apareceu Elohim outra vez a Ia´aqov, vindo de Padã-Arã, e abençoou-o. E disse-lhe Elohim: O teu nome é Ia´aqov; não te chamarás mais Ia´aqov, mas Israel será o teu nome. E chamou-lhe Israel” (Gn 35:9-10). Novamente o Eterno aparece a Ia´aqov e o abençoa. Ia´aqov recebe novamente poder para ser próspero (mais ainda), bem sucedido e fecundo em tudo aquilo que ele faz! É também o momento da ratificação de seu novo nome, pois aqui o Senhor novamente diz-lhe que seu nome é Israel. A própria boca do Eterno assim o chamou! Ia´aqov não imaginava que ele estava dando origem à nação de Israel, ao povo que o Eterno escolheu para amá-lo e para dar-lhe suas leis e mandamentos, a fim de que todo o mundo viesse a conhecer – e reconhecer – o D-us de Israel!

Mas isso não foi bastante para o Senhor, que dá ainda mais ao seu servo Israel! “Disse-lhe mais D-us: Eu sou o D-us Todo-Poderoso; frutifica e multiplica-te; uma nação, sim, uma multidão de nações sairá de ti, e reis procederão dos teus lombos; e te darei a ti a terra que tenho dado a Abraão e a Isaque, e à tua descendência depois de ti darei a terra. E D-us subiu dele, do lugar onde falara com ele. E Ia´aqov pôs uma coluna no lugar onde falara com ele, uma coluna de pedra; e derramou sobre ela uma libação, e deitou sobre ela azeite” (Gn 35:11-14). Agora o Senhor libera uma palavra que certamente transformaria a vida de Ia´aqov e novamente Ele ratifica suas promessas à Israel. O Senhor diz à ele que frutifique. Essa palavra em hebraico é parâ e significa “frutificar, ser frutífero, ser fecundo, ramificar”. Aqui já vem explícita a ordem do Eterno para que Israel se espalhe, dando muitos frutos por onde quer que eles passem! Além disso o Senhor ainda lhes diz que se multipliquem, que em hebraico é rabâ, que significa “aumentar, multiplicar, ser grande e numeroso”! Às vezes nos parece que o Eterno é um tanto quanto repetitivo, mas isso não é verdade. Aqui o Senhor ordena a Israel que eles tornem-se uma nação numerosa! Mas que tipo de “nação numerosa” seria o povo de Israel? O Eterno informa que uma “multidão de nações” procederiam dele. A palavra “nações” em hebraico é goy e significa “nação gentílica”! Isso significa que já em Ia´aqov (Israel) o Senhor apontava para o futuro mostrando as dispersões pelas quais passariam os judeus e também a sua “mistura” com os povos de todo o mundo fazendo com que os alguns judeus perdessem suas raízes e viessem a integrar os povos chamados “gentílicos”, pois muitos destes judeus ainda hoje nem sabem que realmente são judeus! A palavra “multidão” em hebraico é qahal e significa “assembléia, grupo, congregação”. O verbo transmite a idéia de reunir um grupo de pessoas, qualquer que seja o propósito da ação. No Brit Hadasha (Novo Testamento) a palavra é traduzida por sinagoga! Aqui temos então, desde Ia´aqov a idéia de que o Eterno reuniria seu povo – os judeus e alguns gentios – numa congregação que se reuniria a fim de adorarem ao Eterno D-us de Israel! Isso aconteceria num futuro muito distante – esse tempo se chama hoje – e reuniria aqueles que são os descendentes físicos de Ia´aqov – Israel – a fim de formarem uma grande família de adoradores ao D-us Eterno!

Basta somente olharmos para a Palavra do Senhor para entendermos que a Igreja hoje é tão somente uma extensão do povo de Israel antigo e atual! Nós agora compreendemos o porque de D-us estar restaurando sua Igreja a fim de colocá-la em harmonia não somente com Sua Palavra mas também com o povo de Israel que está sobre a terra! Isso é como juntar duas coisas iguais e somente “ajeitar” os detalhes a fim de colocá-las em paralelo como duas partes de um todo! Assim D-us está fazendo com a Igreja a com Israel, pois um deve olhar para o outro como parte de si mesmo e a Igreja – que foi enxertada em Israel – deve ser restaurada a fim de poder encaixar-se perfeitamente em Israel e formar definitivamente um só povo!

O Senhor agora termina o processo de composição das doze tribos trazendo à existência a último filho de Ia´aqov. “E partiram de Beit El; e havia ainda um pequeno espaço de terra para chegar a Efrata, e deu à luz Raquel, e ela teve trabalho em seu parto. E aconteceu que, tendo ela trabalho em seu parto, lhe disse a parteira: Não temas, porque também este filho terás. E aconteceu que, saindo-se-lhe a alma (porque morreu), chamou-lhe Benoni; mas seu pai chamou-lhe Benjamim” (Gn 35:16-18). Nasce finalmente Benjamim, que significa “filho da destra [mão direita]”. Com isso a amada de Ia´aqov – Raquel – morre ao dar à luz a Benjamim e é sepultada em Beit Lechen. Termina aqui o ciclo dos nascimentos dos filhos de Ia´aqov e também a composição das doze tribos de Israel.

Novamente somos informados que Esav continua andando por seus caminhos e dá aos seus filhos por esposas e maridos dos filhos de outros povos que não conhecem ao Senhor. Isso nos mostra que Esav tinha um coração que nunca se curvou definitivamente diante do Eterno, pois Esav teimava em fazer as coisas como bem entendia.

Já em Ia´aqov – Israel – temos o símbolo do homem temente e obediente ao Senhor e que sabia que o resultado de sua obediência seria uma vida tranquila e segura diante do D-us de seus pais. Isso significa que ao obediente o Eterno reserva o poder de serem prósperos, bem sucedidos e fecundos, além de dar-lhes o privilégio de conhecerem os seus segredos!

Aprendamos com Israel e sermos obedientes ao Senhor, ainda que em circunstâncias adversas, pois sabemos que quando obedecemos liberamos o poder do Eterno para agir em nossas vidas dando-nos tudo aquilo que precisamos!

Que o Eterno nos abençoe em nome de Ieshua!

Mário Moreno.