Parasha Beshalac
Beshallach
(Ao enviar)
Ex 13.17 – 17.16 / Jz 4.4 – 5.31 / Ap 19:1-20:6
Nessa Porção Semanal lemos como o povo judeu deixou o Egito e atravessou o Mar Vermelho de uma forma milagrosa. Os sábios explicam que naquele local até uma simples serva viu a Presença Divina, que até mesmo os profetas não chegaram a ver. Aqui está um povo que subiu até as mais elevadas alturas espirituais, privilegiado de ver o invisível. Mas com que espantosa sequência! Eles mal haviam deixado a cena desse grande evento, quando afundaram nas profundezas da depravação moral e espiritual. Começaram a atacar injustamente a liderança de Moshê, e isso foi ainda sobrepujado por sua atitude em relação ao próprio D’us, duvidando de Suas habilidades e finalmente culminando na construção do bezerro de ouro.
Uma geração imbuída do conhecimento Divino comporta-se assim? Contudo, após reflexão mais profunda, acaso somos nós diferentes hoje? Não somos uma geração de sabedoria? Não possuímos um conhecimento básico fundamental concernente aos mistérios do universo, espaço e muitas outras descobertas que nos fazem realçar como uma época à parte? E vivemos, contudo, em um ambiente onde respira-se ansiedade e medo. E qual seria a razão básica deste estado de coisas?
É simplesmente devido ao fato que o simples conhecimento não basta, é preciso colocá-lo em prática. O que é correto e bom deve ser discernido e incorporado à nossa vida diária. Qualquer psicólogo hoje dirá que o primeiro passo para a cura da saúde mental é saber o que há de errado com o indivíduo. Mas este é só o primeiro passo. A experiência é significativa somente quando torna-se parte de um ser e efetua uma real mudança em seu comportamento.
Nesta Porção da Torah estaremos falando sobre a saída do povo de Israel do Egito e o princípio de sua caminhada pelo deserto. Veremos que o maligno, mesmo após ter sido vencido pelo poder do Eterno, novamente se levanta tentando ainda se entremeter nos planos traçados pelo Senhor. Mas veremos também o início dos milagres feitos através e Moshe (porém agora no deserto) e como o Senhor cuidou de seu povo nesta tremenda jornada rumo a Canaã.
O princípio da jornada dos israelitas teve início, porém desde já o Eterno nos mostra que seus caminhos são totalmente diferentes dos caminhos humanos, pois d’Ele é todo o conhecimento, portanto cabe a Ele guiar o povo pelos caminhos que melhor atingirão seus propósitos durante a jornada. E assim fez o Eterno: “Ora, quando Faraó deixou ir o povo, Elohim não o conduziu pelo caminho da terra dos filisteus, se bem que fosse mais perto; porque Elohim disse: Para que porventura o povo não se arrependa, vendo a guerra, e volte para o Egito” (Êx 13:17). Desde já há uma distinção clara no hebraico entre o povo que o Eterno escolheu e os demais. Isto é feito de forma explícita, pois a palavra “povo” aqui usada é ‘am, e significa “povo, nação”. Esta palavra é utilizada em toda a Escritura para designar o povo de Israel! Os demais povos e nações são chamados de goym, que significa “povo ou nação gentílica”! Isso nos mostra, desde o princípio que há um povo que o D-us Criador (Elohim) escolheu para si a fim de cumprir neles os desejos de seu coração.
Há aqui também uma clara estratégia da parte do Eterno na condução de seu povo. Ele mesmo estaria entre eles a fim de garantir o sucesso da empreitada no deserto. Vejamos então: “E o IHVH ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo para os alumiar, a fim de que caminhassem de dia e de noite” (Êx 13:21). A palavra que define o Eterno é o tetragrama! Isso nos fala que aquele que se chama “Eu me torno aquilo que me torno” está indo adiante deles no caminho pelo deserto. Neste momento havia uma necessidade do povo: que fossem conduzidos pelo deserto! Então o Senhor se tornou o seu guia! Não é tremendo saber que o próprio D-us aqui se torna o guia de seu povo rumo ao seu lar. Além disso havia também a manifestação do Eterno numa “coluna”. A palavra “coluna” é ‘axil, e significa “pilar, coluna”. Sua raiz significa também poderoso, líder. Notemos o quão apropriado é aqui o uso das palavras que foram realmente inspiradas pelo Espírito de D-us! A manifestação visível do Eterno na coluna dizia aos israelitas que adiante deles ia o poderoso, ou o seu líder! Não é fantástico! Por isso vemos cada vez mais quão profunda é esta Palavra e também como o Eterno se apresentou a um povo que compreendia aquilo que via e ouvia!
O Eterno anuncia a ruína dos egípcios e o livramento que viria sobre seu povo. “Fala aos filhos de Israel que se voltem e se acampem diante de Pi-Hairote, entre Migdol e o mar, diante de Baal-Zefom; em frente dele assentareis o acampamento junto ao mar. Então Faraó dirá dos filhos de Israel: Eles estão embaraçados na terra, o deserto os encerrou. Eu endurecerei o coração de Faraó, e ele os perseguirá; glorificar-me-ei em Faraó, e em todo o seu exército; e saberão os egípcios que eu sou o IHVH. E eles fizeram assim. Quando, pois, foi anunciado ao rei do Egito que o povo havia fugido, mudou-se o coração de Faraó, e dos seus servos, contra o povo, e disseram: Que é isso que fizemos, permitindo que Israel saísse e deixasse de nos servir?” (Ex 14.2-5).
Apesar do recente anúncio do livramento que seria dado ao povo, quando os egípcios se aproximam dos israelitas, há um clamor ao Eterno por livramento e também uma murmuração dirigida à Moshe! “…e disseram a Moshe: Foi porque não havia sepulcros no Egito que de lá nos tiraste para morrermos neste deserto? Por que nos fizeste isto, tirando-nos do Egito?” (Êx 14:11). A resposta é imediata e incisiva: “Não é esta palavra a que te dissemos no Egito: Deixa-nos, que sirvamos aos egípcios? Pois melhor nos fora servir aos egípcios, do que morrermos no deserto” (Êx 14:12). O que é traduzido por “palavra” em hebraico é dabar, que em hebraico significa “palavra”. Esta palavra transmite a idéia de um processo mental, de comunicação ou de temas ou meios de comunicação. Quando dabar é traduzido por “palavra” (ou um cognato) significa basicamente “aquilo que D-us disse ou diz”. Então vejamos algo mais: aqui o povo quer transmitir a Moshe a ideia de que houve um erro em sua saída do Egito! Mas Moshe está bem ciente de que ele recebeu a dabar do Eterno!
Moshe dá aos israelitas a sua compreensão e revelação do que seria feito naquele momento: “Moshe, porém, disse ao povo: Não temais; estai quietos, e vede o livramento do IHVH, que ele hoje vos fará; porque aos egípcios que hoje vistes, nunca mais tornareis a ver; o IHVH pelejará por vós; e vós vos calareis” (Ex 14.13-14). Moshe afirma que o povo veria o “livramento do Senhor”. Mas o que seira isso? A palavra traduzida por livramento em hebraico é Ieshu’ah! Sim, o povo de Israel iria contemplar o próprio Ieshua que viria para ser a sua salvação! E o mais interessante é que Ele seria o Ieshua do IHVH! O tetragrama nos mostra que o próprio Eterno se tornaria aquilo que eles precisavam naquela hora! E a sua necessidade era de livramento! E foi o que aconteceu!
Quando Moshe afirma que o Senhor lutaria por Israel ele novamente sabe o que está dizendo: a palavra traduzida por “Senhor” é o tetragrama! Novamente temos aqui a certeza de que o Eterno se tornaria aquilo que eles precisavam: o seu poderoso guerreiro! A palavra traduzida por “pelejará” é laham, e significa “lutar, combater”. Esta palavra diz respeito ao papel de D-us nas guerras de Israel! E o melhor de tudo: o povo ficaria estático diante daquilo que veria e se calaria!
O Eterno pergunta ao seu povo: “Então disse o IHVH a Moshe: Por que clamas a mim? dize aos filhos de Israel que marchem” (Êx 14:15). A palavra aqui traduzida por “marchar” é nasa e significa “remover, por-se a caminho, irem em frente, partir, fazer uma viagem”. O verbo é empregado com referência aqueles que se “foram” para uma cidade próxima. Também é empregado no sentido de “viajar por etapas”. O Senhor (IHVH) lhes diz que saiam, partam para fazer uma viagem! O interessante é que essa viagem é só de ida! Eles jamais voltarão para ser escravos novamente no Egito!
Mas é necessária uma atitude da parte de Moshe. Então novamente o Eterno ordena: “E tu, levanta a tua vara, e estende a tua mão sobre o mar, e fende-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar em seco” (Êx 14:16). A palavra aqui traduzida por “vara” é matteh, e significa “vara, bordão, haste, tribo”. A vara é um símbolo da liderança e da autoridade conferida a alguém! A vara de Moshe seria um instrumento físico através do qual ele demonstraria sua autoridade e sua liderança novamente ao povo de Israel. Isto seria novamente uma forma de provar também a obediência de Moshe que, ao fazer o que o Eterno havia ordenado veria a realização de mais um grande milagre! Ao levantar sua vara (autoridade) em direção ao mar, Moshe estaria então colocando à prova a palavra do Eterno. Notemos que a vara foi dada a Moshe a fim de mostrar a autoridade que lhe havia sido conferida. Ela deveria ser usada em circunstâncias chave da vida de Israel. E essa era justamente uma destas circunstâncias! Moshe não poderia abusar desta autoridade e nem usá-la de forma ilícita. Veremos mais adiante como custa caro uma atitude “na carne” tomada por Moshe.
Além de tudo, o Eterno ainda promete um novo livramento ao povo de Israel: “E eis que endurecerei o coração dos egípcios, e estes entrarão atrás deles; e eu serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, nos seus carros e nos seus cavaleiros, e os egípcios saberão que eu sou o IHVH, quando for glorificado em Faraó, nos seus carros e nos seus cavaleiros” (Êx 14:17,18). O que está dito aqui pelo Senhor? Ele diz que haverá uma outra destruição contra os egípcios, e que agora, o mar, que para os israelitas serviria de rota de escape, para eles serviria de sepultura!
O livramento prometido viria de forma drástica e inesperada! A declaração a seguir nos mostra o cuidado do Senhor para com os seus: “E o mensageiro de Elohim, que ia diante do exército de Israel, se retirou, e ia atrás deles; também a coluna de nuvem se retirou de diante deles, e se pôs atrás deles” (Êx 14:19). Este mensageiro aqui citado é especial, pois ele é malak Elohim, o agente do Criador! Ele sai da vanguarda e vai para a retaguarda, juntamente com a coluna de nuvem, a fim de obstruir a passagem dos inimigos que se aproximam!
Percebemos que o que funcionava para israelitas como proteção e direção, para os egípcios era juízo e confusão. “E ia entre o campo dos egípcios e o campo de Israel; e a nuvem era trevas para aqueles, e para estes clareava a noite; de maneira que em toda a noite não se aproximou um do outro” (Êx 14:20). Então chega o grande momento de mais um milagre: o mar se abrir! Creio que naquele momento havia uma grande expectativa no mundo espiritual pelo que haveria de ocorrer! De um lado os anjos do Senhor lutando para que Israel fosse protegido, guardado, ajudado e liberto definitivamente dos egípcios. De outro, os demônios furiosos tentam alcançar ao povo, e isso por terem perdido várias batalhas. Eles agora clamam por sua vingança contra o povo escolhido do Senhor! Mas finalmente algo acontece: “Então Moshe estendeu a sua mão sobre o mar, e o IHVH fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas” (Êx 14:21). A atitude de Moshe desencadeia no mundo espiritual algo grandioso: este vento que o Eterno usa para que o mar se retire foi o próprio Espírito Santo! Convenhamos que este “vento” não era um vento qualquer, pois é ele quem realiza o trabalho de fender o mar e levantar “muros” laterais a fim de que o povo passe por um caminho que estava inclusive seco! E tudo isso no meio do mar!
Os milagres durante a travessia
Não havia um só caminho através do mar, pois D’us criou doze diferentes trilhas secas, pelas quais Bnei Israel pôde cruzar. Deste modo, cada uma das doze shevatim (tribos) pôde cruzar pela sua própria trilha.
À direita e à esquerda de cada trilha, a água se congelou para formar uma parede alta. A água também formou um teto sobre as cabeças, de modo que cada tribo caminhava por um túnel. As paredes e o teto protegiam os judeus das flechas dos egípcios. D’us também designou anjos especiais para que protegessem os túneis e cuidassem de Bnei Israel para que não sofressem nenhum dano.
O que acontecia se um menino judeu sentisse sede ao cruzar Yam Suf (Mar Vermelho)? Assim que pedia água, a parede congelada a seu lado se abria e dela surgia uma fonte de água fresca. Assim que o menino terminasse de beber, o manancial voltava a transformar-se em gelo. Se uma criança tinha fome e começava a chorar, acontecia outro milagre. As paredes de Iam Suf (Mar Vermelho) produziam de imediato uma maçã ou uma romã, ou o que a criança desejasse. A mãe estendia a mão, pegava a fruta e a dava ao menino. Este começava a sorrir e desfrutava o resto da travessia pelo oceano. Todos os judeus cruzaram sãos e salvos.
Novamente vemos aqui que o Eterno faz diferença entre seu povo e os outros: “E os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas foram-lhes como muro à sua direita e à sua esquerda. E os egípcios os seguiram, e entraram atrás deles todos os cavalos de Faraó, os seus carros e os seus cavaleiros, até ao meio do mar. E aconteceu que, na vigília daquela manhã, o IHVH, na coluna do fogo e da nuvem, viu o campo dos egípcios; e alvoroçou o campo dos egípcios. E tirou-lhes as rodas dos seus carros, e dificultosamente os governavam. Então disseram os egípcios: Fujamos da face de Israel, porque o IHVH por eles peleja contra os egípcios” (Êx 14:22-25). Aqui fica claro que a metodologia empregada por D-us é a de julgar os inimigos de seu povo de forma a mostrar inclusive quem Ele é. No texto vemos a declaração dos próprios egípcios que tentam fugir por perceberem que o próprio D-us eterno lutava por Israel contra eles! Mas agora é tarde demais para fugir! “E disse o IHVH a Moshe: Estende a tua mão sobre o mar, para que as águas tornem sobre os egípcios, sobre os seus carros e sobre os seus cavaleiros. Então Moshe estendeu a sua mão sobre o mar, e o mar retornou a sua força ao amanhecer, e os egípcios, ao fugirem, foram de encontro a ele, e o IHVH derrubou os egípcios no meio do mar, porque as águas, tornando, cobriram os carros e os cavaleiros de todo o exército de Faraó, que os haviam seguido no mar; nenhum deles ficou” (Êx 14:26-28). E foi assim que terminou a história de opressão por parte dos egípcios contra o povo de Israel! De um lado, o povo de Israel ileso e liberto, do outro, os egípcios mortos na praia com todo o seu arsenal! E não houve combate, ninguém do povo sequer pegou numa arma a fim de enfrentar os seus inimigos! Mas o que houve então? O que aconteceu foi que a promessa feita pelo Eterno de que lutaria e livraria seu povo estava consumada! Como Ele prometeu assim cumpriu! Aleluia!
Agora, após um longo período de estresse, finalmente tudo acaba bem! Agora é tempo de celebrar o que o Eterno realizou por seu povo. Isso nos mostra que existem períodos nos quais passamos por uma pressão muito grande, inclusive emocional, mas que, findo o período de lutas, chega a hora do refrigério, tão necessário para que possamos “recarregar” nossas forças interiores e exteriores!
Bnei Israel entoa uma shirá, cântico de graças, no Iam Suf (Mar dos juncos)
O dia em que os egípcios se afogaram era o sétimo dia desde que os judeus saíram do Egito. A Torah nos ordena que celebremos o sétimo dia de Pêssach como Iom Tov, dia em que não podemos trabalhar. Esse dia é marcado como o dia da libertação dos judeus do Egito. Até então, ainda corriam perigo de ser destruídos pelo exército do faraó.
Quando Bnei Israel viu os maravilhosos milagres de D’us e compreenderam que haviam sido salvos e os egípcios castigados, depositaram toda sua confiança a D’us e Moshê. D’us lhes deu ruach hacodesh (profecia), e todos entoaram uma shirá, um cântico de louvor a D’us.
Começava assim:
“Hei de cantar a D’us pois Ele é sumamente grande. Arrojou o cavalo e seu ginete ao mar.”
E terminava com as seguintes palavras:
“D’us governará para todo o sempre. (Assim como castigou os egípcios, castigará todos aqueles que se rebelam contra Ele, e salvará aqueles que O escutam.)”
As mulheres dançavam e cantavam em separado.
No Iam Suf (Mar dos juncos), o Povo de Israel se tornou ainda mais rico que quando saíram do Egito. Os cavalos egípcios estavam adornados com ouro, prata e pedras preciosas. D’us fez com que o mar arrastasse todos estes metais e pedras preciosas até a costa, onde Bnei Israel recolheu os tesouros.
O cântico entoado por Moshe e por todo o povo mostra estes atos salvíficos do Senhor para com seu povo. Vejamos então o que eles cantam: “O IHVH é a minha força, e o meu cântico; ele me foi por salvação; este é o meu Elohim, portanto lhe farei uma habitação; ele é o El de meu pai, por isso o exaltarei” (Êx 15:2). Há aqui uma declaração maravilhosa: “… ele me foi por salvação…” A palavra salvação em hebraico é Ieshua’ah! Então o verso cantado por eles nos afirma que IHVH se transformou no Ieshua’ah de Israel! E isso simplesmente condiz com a natureza deste nome: Eu me torno aquilo que me torno! E se tornou para eles o seu Ieshua’ah!
Moshe reconhece uma das facetas da natureza do Eterno quando diz: “O IHVH é homem de guerra; o IHVH é o seu nome” (Êx 15:3). Novamente temos aqui o tetragrama e o Eterno se tornando o homem de guerra de Israel! Ele é aquele que luta as lutas de seu povo, Ele toma as dores daqueles que lhe são queridos e os protege de todos os ataques do maligno. E é justamente ele quem toma a vingança de seu povo! Não é necessário que nós nos vinguemos de nossos inimigos, pois o Senhor é quem tem todo o direito legal de fazer tais coisas.
Seu cântico nos fala da grandeza e da majestade do Eterno e Moshe pergunta: “Ó Senhor, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu glorificado em santidade, admirável em louvores, realizando maravilhas?” (Êx 15:11). Depois dos atos demonstrados pelo Senhor desde a saída do Egito, esta pergunta agora nos revela que, apesar do Egito e do restante do mundo possuírem muitos deuses, nenhum deles pode-se comparar ao Senhor! Ele agiu para com Israel como o resgatador, sendo o seu parente mais próximo. Isso é o que nos diz a Escritura: “Tu, com a tua beneficência, guiaste a este povo, que salvaste; com a tua força o levaste à habitação da tua santidade” (Êx 15:13). Aqui a palavra “salvaste” em hebraico é ga’al. Ela provém da raiz go’el, que nos apresenta o resgatador. Esta pessoa (o resgatador) é o parente mais próximo que sai em socorro de alguém de sua família em perigo! E foi isso justamente o que fez o Eterno!
Mas, há ainda aqui uma promessa muito interessante e que foi inserida no cântico de vitória: “Tu os introduzirás, e os plantarás no monte da tua herança, no lugar que tu, ó IHVH, aparelhaste para a tua habitação, no santuário, ó IHVH, que as tuas mãos estabeleceram” (Êx 15:17). Destaquemos aqui dois aspectos: o primeiro é que o Eterno promete introduzir seu povo dentro da terra que lhes foi prometida. Isso significa que Ele mesmo os conduziria e seu próprio poder faria com que eles entrassem na terra! Os méritos da conquista não seriam do povo de Israel, mas sim do Senhor! Não haveria motivos para orgulhos pessoais, mas sim para louvores Àquele que realizara tal proeza! O segundo aspecto é que eles seriam colocados dentro de sua herança! A palavra herança em hebraico é nachala e que significa “aquilo que é dado ou passado adiante como herança. Aquilo que pertence a alguém em virtude de direito antigo e daquilo que pertence permanentemente a alguém”. A posse da herança pressupõe uma promessa anterior firmada com algum parente que se comprometeu, ao morrer, fosse dado aquilo que prometera ao seu herdeiro. Só há um detalhe diferente aqui: O Eterno não morreu! Mas mesmo assim Ele deu a terra ao seu povo como prometera a Abraão! Havia um direito legal estabelecido no pacto feito entre O Eterno e Abraão. E foi isso que fez com que a promessa fosse cumprida! E assim como Ele cumpriu a promessa dando a terra em possessão perpétua ao seu povo, fará da mesma forma para conosco, dando-nos as suas promessas e nos levando a herdar aquilo que é nossa possessão ainda nesta terra, para por fim, herdarmos a coroa incorruptível da vida eterna!
Apenas um reflexo
O Talmud relata a seguinte história:
Rabi Chanina era tão pobre, que vivia num tronco de alfarrobeira. Certo dia, sua mulher disse-lhe: “Quanto tempo ainda devemos sofrer nesta pobreza? Reze para que possamos receber o sustento.”
Rabi Chanina rezou e a forma de uma mão estendeu-se do céu e deu-lhe uma perna de mesa feita de ouro.
Aquela noite, sua esposa viu os justos no Mundo Vindouro aparecerem num sonho. Todos se sentavam à uma mesa com três pernas de ouro, enquanto ela e o marido sentavam-se à uma mesa com duas pernas. Então, outra vez Rabi Chanina rezou, e a perna de ouro foi retirada deles.
O segundo milagre, conclui o Talmud, foi ainda maior que o primeiro. Pois embora as coisas possam ser concedidas pelos céus, não são tiradas de volta.
Em certa ocasião, O Lubavitcher Rebe explicou o significado oculto desta passagem.
A missão do homem na vida envolve um feito maior que a Criação do Universo por D’us. O ato da criação significou a formação de uma realidade, a partir do nada (criação ex-nihilo). Mas quando o homem cumpre a vontade de D’us no mundo, na verdade reverte o processo: demonstra que a existência física é apenas um reflexo da toda abrangente verdade de D’us – sua “imensa” massa é então vista como apenas uma fachada insignificante para uma realidade espiritual mais profunda. Então, se D’us cria algo a partir do nada, o homem transforma este algo do mundo – em nada.
É muito mais fácil para uma realidade espiritual encontrar expressão numa forma física que para algo ser despido de sua fisicalidade e reverter a um estado mais puro e mais elevado. Daí o axioma talmúdico: as coisas são dadas mais prontamente pelo céu do que são tomadas de volta. Ou, nas palavras do filho de Kapara: “Mais notáveis são os atos dos justos que a obra do céu e da terra.”
Mas o período de celebração findou muito cedo para o povo que há muito pouco havia visto tantos milagres! “E o povo murmurou contra Moshe, dizendo: Que havemos de beber? E ele clamou ao IHVH, e o IHVH mostrou-lhe uma árvore, que lançou nas águas, e as águas se tornaram doces. Ali lhes deu estatutos e uma ordenança, e ali os provou” (Êx 15:24-25). Já manifesta-se novamente o espírito de desobediência, divisão, reclamação entre o povo. A palavra “murmuração” em hebraico é lun, e significa “uma recusa obstinada a crer na palavra de D-us e nas suas obras miraculosas; um ato de rebeldia, descrença e desobediência à autoridade divinamente constituída”. Isso nos mostra que o que estava acontecendo era que o povo, apesar de terem visto tudo o que viram quando de sua saída do Egito, ainda assim persistiram em agir da mesma forma quando estavam no Egito: murmurando! Novamente eles recusavam-se à crer no sobrenatural (que estava presente ativamente entre eles), a fim de crerem naquilo que estavam vendo! Então Moshe, em Mara, clama ao Senhor por uma direção e o Eterno lhe mostra uma “vara”, em hebraico ‘ets, que significa “madeira, vara, tronco”. Esta madeira nada tem de sobrenatural ou mágica, porém, ao ser atirada na água amarga faz com que ela se transforme em água potável para ser consumida pelo povo! O amargor da água foi removido pela vara que nela foi atirada! Novamente o sobrenatural se sobrepõe ao natural e revela ao povo que o Eterno está no comando!
Agora eles estão em Elimah, local onde estão doze fontes e setenta palmeiras, local de descanso e meditação. Em todas as jornadas os filhos que o Eterno possui precisam de oásis como Elimah para poderem parar e descansar! Este lugar era maravilhoso, pois o mundo ali estava simbolicamente reunido a fim dos israelitas desfrutarem dele! Na antiguidade eram conhecidas setenta nações no mundo. E na Escritura a árvore representa o homem (e um conjunto de árvores representa uma nação). Sendo assim, simbolicamente, em Elimah estão todas as nações juntas a fim de propiciarem abrigo e descanso aos filhos de Israel enquanto caminham rumo à terra que lhes foi prometida. É também em Elimah que existe uma fonte para cada tribo! Cada um sacia sua sede em sua própria fonte! Que lugar exuberante deveria ser o imenso oásis de Elimah! É justamente ali que paramos, nos acampamos e recuperamos o vigor para novamente iniciarmos a caminhada pelo deserto!
Quando os israelitas partem de Elimah, novamente acontece o incidente da murmuração. Somente o motivo muda: agora eles querem pão e carne! “E toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra Moshe e contra Arão no deserto. E os filhos de Israel disseram-lhes: Quem dera tivéssemos morrido por mão do IHVH na terra do Egito, quando estávamos sentados junto às panelas de carne, quando comíamos pão até fartar! Porque nos tendes trazido a este deserto, para matardes de fome a toda esta multidão” (Êx 16:2-3). Mas o Eterno conhece a necessidade de seu povo e vai providenciar aquilo que eles necessitam! Há somente um detalhe: o pão choverá do céu! E assim aconteceu! Choveu maná do céu a fim de alimentar o povo. Porém, novamente houve desobediência quanto às instruções que foram dadas ao povo. “Esta é a palavra que o IHVH tem mandado: Colhei dele cada um conforme ao que pode comer, um ômer por cabeça, segundo o número das vossas almas; cada um tomará para os que se acharem na sua tenda” (Êx 16:16). A colheita deveria ser feita com base na necessidade de cada um. O Senhor ordena que colham um ômer (cerca de 4 litros) para cada pessoa! E a ordem foi: comam tudo no mesmo dia, pois no dia seguinte o Senhor enviará mais comida! Há uma porção para cada dia! Novamente eles não ouviram e não obedeceram ao Senhor! “Eles, porém, não deram ouvidos a Moshe, antes alguns deles deixaram dele para o dia seguinte; e criou bichos, e cheirava mal; por isso indignou-se Moshe contra eles” (Êx 16:20). Havia entre o povo um grande sentimento de incredulidade (nós sabemos que isto é um espírito das trevas que induz o povo a ser assim). Eles, portanto, agiam de forma a ouvir a si mesmos (ou a este espírito), contrariando os ensinos e a palavra dita pelo Senhor!
Quando o maná caía eles colhiam somente a porção diária. Havia somente um dia em que isso não era assim: na véspera do shabat (no sexto dia)! “E aconteceu que ao sexto dia colheram pão em dobro, dois ômeres para cada um; e todos os príncipes da congregação vieram, e contaram-no a Moshe” (Êx 16:22). Isso significa que na véspera do shabat nós temos o direito de colher porção dobrada, pois no shabat não trabalharemos, somente gozaremos da porção dobrada que recebemos na véspera! Isso é mandamento para o povo de D-us. Mas ainda houve aqueles que desobedeceram… “E aconteceu ao sétimo dia, que alguns do povo saíram para colher, mas não o acharam. Então disse o IHVH a Moshe: Até quando recusareis guardar os meus mandamentos e as minhas leis?” (Êx 16:27-28).
Todo este ciclo de acontecimentos nos mostra uma dura realidade: o povo precisou ser provado em tudo a fim de que pudesse ser revelado aquilo que havia em seu coração. “E comeram os filhos de Israel maná quarenta anos, até que entraram em terra habitada; comeram maná até que chegaram aos termos da terra de Canaã” (Êx 16:35). O número quarenta na Escritura nos fala de provação! O povo comeu maná durante quarenta anos! Eles precisaram ser alimentados, dia-a-dia pelos céus a fim de se conscientizarem de que sua vida dependia do Eterno! Foram provados (e muitos reprovados) durante todo esse tempo e ainda assim não entenderam os propósitos do coração de D-us! Que dura realidade!
Depois de todos estes acontecimentos, os filhos de Israel continuam suas jornadas pelo deserto. Há algo explícito aqui: eles seguiam (ou não) viagem “segundo o mandamento do Senhor”! A viagem teve realmente um ritmo de desenvolvimento de acordo com os desejos do coração do Eterno. Mas mesmo assim, o povo continuava a se manifestar contra Moshe e o Senhor! “Então contendeu o povo com Moshe, e disse: Dá-nos água para beber. E Moshe lhes disse: Por que contendeis comigo? Por que tentais ao IHVH? Tendo pois ali o povo sede de água, o povo murmurou contra Moshe, e disse: Por que nos fizeste subir do Egito, para nos matares de sede, a nós e aos nossos filhos, e ao nosso gado?” (Êx 17:2-3). Novamente duas palavras aparecem aqui durante a caminhada: contender e murmurar! Creio que a maior razão pela qual o povo passou quarenta anos vagando foi o uso e abuso destas atitudes. Eles demonstravam ser bastante carnais. Suas atitudes eram previsíveis e seus clamores centralizavam-se sempre no mesmo aspecto: a satisfação de seus corpos! Essa era uma herança que tinham trazido do Egito. Eles foram ensinados a terem suas paixões satisfeitas assim que o desejassem. Esta é também a razão por que caminharam os quarenta anos: tiveram de reaprender tudo novamente. Agora, não segundo os padrões egípcios, mas sim os padrões de D-us!
Como lidar com essas situações? É necessário mostrar de forma incontestável o poder do Eterno (de novo!). Então vem as seguintes instruções: “Então disse o IHVH a Moshe: Passa diante do povo, e toma contigo alguns dos anciãos de Israel; e toma na tua mão a tua vara, com que feriste o rio, e vai. Eis que eu estarei ali diante de ti sobre a rocha, em Horebe, e tu ferirás a rocha, e dela sairão águas e o povo beberá. E Moshe assim o fez, diante dos olhos dos anciãos de Israel. E chamou aquele lugar Massá e Meribá, por causa da contenda dos filhos de Israel, e porque tentaram ao IHVH, dizendo: Está o IHVH no meio de nós, ou não?” (Êx 17:5-7). A cena se repete: o povo é reunido e Moshe fere a rocha. A palavra “ferir” em hebraico é nakâ, que significa “pancada, ferida”. O verbo é usado com o sentido de atingir ou ferir um objeto com um golpe não fatal. Isso demonstra que a rocha deveria ser ferida a fim de trazer aos israelitas aquilo que precisavam: a água que preserva a vida! Isso foi feito no deserto e depois novamente aconteceu com o Mashiach, que foi ferido a fim de que brotasse dele a água da vida! Paulo nos informa o seguinte: “E beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era o Ungido” (1 Co 10:4).
Durante a caminhada aparece um inimigo mortal para Israel: Amaleque. Este povo tem características muito perigosas, e representa o maligno, a carne em seus ataques a fim de nos surpreender e nos derrotar. As características de Amaleque são:
- Ataca sorrateiramente
- Ataca traiçoeiramente (pelas costas)
- Ataca os fracos e doentes
Durante a batalha contra Amaleque havia uma estratégia: Moshe teria de levantar a sua vara. Este seria um sinal e uma atitude que demonstraria que enquanto a autoridade (vara) estivesse sendo apresentada à D-us, o povo prevaleceria. Quando ele baixava a sua autoridade (vara), Amaleque prevalecia! Isso demonstra que não podemos “baixar” nossa guarda, dando nossa autoridade ou direito legal ao nosso inimigo, pois quando assim o fazemos ele então prevalece contra nós!
Algumas vezes, é necessário termos “suportes” humanos que nos ajudem a manter nossa autoridade levantada! Assim também aconteceu com Moshe, que necessitou da ajuda de Hur e Arão a fim de se manter com os braços erguidos! E com esta ajuda a vitória finalmente veio! “E assim Iehoshua desfez a Amaleque e a seu povo, ao fio da espada” (Êx 17:13). Veja que interessante: Iehoshua desfez Amaleque com sua espada! Isso nos fala muito fortemente, pois Iehoshua representa Ieshua que com sua espada (palavra) derrota o inimigo! Aleluia!
Porém, não nos esqueçamos daquilo que foi dito pelo Eterno: “E disse: Porquanto jurou o IHVH, haverá guerra do IHVH contra Amaleque de geração em geração” (Êx 17:16). A guerra contra o mal e a carne não findará! Por isso devemos estar atentos para não cairmos em armadilhas que amaleque nos prepara a cada passo que damos.
Que o Eterno nos Abençoe!
Mário Moreno.