Parasha Tazria
Tazria
(Semeai)
Lv 12:1–13:59 / II Rs 4:42 – 5:19 / Lc 7:18-35
Na Parasha desta semana estaremos estudando sobre a lepra. Como ela surge e como é identificada na vida dos israelitas.
É um fato relevante que a lepra na antiguidade era uma doença considerada como “incurável” e ela trazia muitas e trágicas consequências aos seus portadores, pois havia uma grande associação desta doença com o pecado.
A concepção de um filho
Esta parashá inicia-se mencionando as leis de uma parturiente com as palavras: “Se uma mulher concebeu uma semente…”
O Midrash descreve o momento da concepção: O anjo encarregado da concepção é chamado Laila. Quando o Todo Poderoso deseja que nasça um ser humano, ordena ao Anjo Laila: “Traga-me esta ou aquela neshamá (alma) do Gan Eden!” A alma, entretanto, se ressente por ser desenraizada de sua Divina fonte, e reclama ao Todo Poderoso: “Sou pura e sagrada, conectada à Sua Glória. Por que é necessário que eu seja degradada entrando num corpo humano?”
“Não é como diz,” D’us a corrige. “O mundo onde você viverá ultrapassa em beleza aquele de onde você emanou. Foi criada com o único propósito de tornar-se parte de um ser humano, sendo elevado pelos seus atos.”
O Todo Poderoso em seguida ordena a alma fundir-se com a semente a qual estava destinada. Mesmo antes do feto estar formado, o anjo indaga de D’us: “Qual será o destino dela?”
Neste momento, todo o futuro da criança ainda não nascida é pré-destinado. O Todo Poderoso determina se será homem ou mulher, se será saudável ou sofrerá de alguma doença ou defeito, sua aparência, o grau de inteligência, bem como sua capacidade física e mental. Mais ainda, todos os detalhes de suas circunstâncias na vida já estão decididos – será ele rico ou pobre, o que possuirá, e quem será seu futuro cônjuge.
Vemos que todas as minúcias da vida de uma pessoa já estão decididas. Entretanto, há uma única exceção: D’us não decreta se alguém tornar-se-á um tsadic (justo) ou um rashá (perverso). Cada um decide como moldar a si mesmo por meio de suas faculdades e capacidades que lhe foram pré-ordenadas.
A pessoa não deve sentir-se orgulhosa de sua inteligência, força ou dinheiro, pois estas qualidades não são suas próprias conquistas; ao contrário, foram Divinamente designadas a ele antes do nascimento.
Há apenas um campo de empenho no qual a conquista resulta dos esforços individuais – se ele estudará (e quanto) sobre a grandiosidade de D’us, Sua Torah e se (e quanto) seguirá Seus caminhos. O grau de sucesso atingido nesta área, é um fruto de esforço e realização próprios.
A gravidez e o parto
O crescimento do feto no útero da mãe inspira a pessoa a sentir gratidão pelo Criador, que na sua bondade cuida do homem antes mesmo dele nascer.
Ainda no útero da mãe, a criança aprende toda a Torah. Também lhe é mostrada uma visão do Gan Eden e do gueinom, e o anjo que está encarregado dela lhe suplica: “Seja um tsadic! Não se torne um rashá (malvado)!”
Quando a criança entra neste mundo, o anjo toca seus lábios, fazendo com que todo o conhecimento da Torah previamente ensinado a ela seja esquecido. (Contudo, este conhecimento foi absorvido pela sua mente subconsciente, proporcionando-lhe que capte futuramente os ensinamentos da Torah com mais facilidade).
Embora ao nascer a criança esteja suja e besuntada com sangue e continua a sujar-se, assim mesmo é querida por todos. O encanto de bebês e crianças pequenas, explicam nossos sábios, é que a Shechiná (Santidade) repousa sobre eles, uma vez que estão livres do pecado.
Originalmente, o nascimento de uma criança acontecia imediatamente após a concepção, e era indolor. A situação atual é resultado da maldição pronunciada sobre Chava (esposa de Adam, o primeiro homem) após ter pecado.
No futuro, o fardo da gravidez de nove meses será suspenso novamente, e o nascimento de crianças acontecerá imediatamente após a concepção e não acarretará dor, conforme a visão do profeta Ieshayáhu: “Antes que ela entre em trabalho de parto, ela o expelirá; antes que venha a dor, dará à luz um menino.”
Nesta passagem da Torah veremos como a lepra era tratada pelo Eterno entre seu povo.
“Falou mais o IHVH a Moshe, dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: Se uma mulher conceber e der à luz um menino, será imunda sete dias, assim como nos dias da separação da sua enfermidade, será imunda” (Lv 12:1-2). A primeira coisa que devemos notar nesta passagem é que a palavra que define o Eterno em hebraico é o tetragrama (IHVH)! Isso significa que o Eterno se tornaria aquilo que os israelitas precisariam que Ele se tornasse para eles! Logo a seguir, no original em hebraico, há um jogo de palavras: o termo “conceber” é zara e significa “espalhar semente, semear”. Já o termo “dar à luz” em hebraico é zerá que significa “descendência, semeadura, semente”! Em hebraico ficaria mais ou menos assim a tradução deste texto: “Se uma mulher espalhar a semente (zara) de sua descendência (zera)…” Este texto refere-se à concepção – ao momento do nascimento – de uma vida, aqui um menino. Neste caso o período de separação seria de sete dias. O termo “imunda” (que não significa suja), em hebraico é tamê e significa “ser (ou ficar) impuro, imundo”. Mas, qual seria o motivo desta afirmação? Quando uma criança nasce sabemos que juntamente com ela saem do corpo da mulher outros elementos que ali estavam a fim de assegurar a sobrevivência e a boa saúde da criança enquanto ela estava no útero da mãe. Estes elementos ainda continuam sendo expelidos pelo corpo feminino durante um certo período, o que faz com que a mulher – que a muito não menstruava – agora tenha um fluxo de sangue constante durante alguns dias. Isso pela Torah seria motivo de sua separação dos demais, pois neste período a mulher libera sangue e é justamente no sangue que está contida a vida de alguém!
Um outro detalhe é que a mãe deve passar por um período de repouso em função do parto. Esse período seria de sete dias, pois quando nasce um menino considera-se como que um presente do Eterno e isso está simbolizado por este período que nos fala sobre um ciclo total que tem início de fim, algo que é completo, pleno! O final deste período se sete dias traria algo mais: a circuncisão daquele recém-nascido! “E no dia oitavo se circuncidará ao menino a carne do seu prepúcio” (Lv 12:3). Duas coisas devem ser observadas aqui: a primeira é que a criança deveria ser circuncidada ao oitavo dia! O oito nas Escrituras tem uma simbologia muito forte e significa ressurreição, um novo recomeço! Bem, se pensarmos desta forma veremos que para o bebê ali está tendo início a sua vida diante do Eterno aos olhos da sociedade, pois a partir do ato da circuncisão aquela criança carregará consigo perpetuamente uma marca física que a identificará para sempre como um judeu! Um outro detalhe, é que a medicina descobriu recentemente que, ao oitavo dia de vida há uma grande quantidade de anti-corpos ativos no organismo e isso certamente impede a progressão de qualquer enfermidade ou infecção!
Devemos também nos lembrar que na época em que estas determinações foram dadas não havia a higiene que temos hoje! Os instrumentos “cirúrgicos” não passavam de pedras afiadas ou toscas lâminas de ferro! Mas como o Eterno sabia disso – dos anti-corpos superativos ao oitavo dia – Ele ordenou que justamente neste dia os meninos fossem circuncidados! Aquilo que a medicina descobriu recentemente, o Eterno já dava aos filhos de Israel como um de seus mandamentos!
Um outro detalhe neste verso é que a palavra “prepúcio” em hebraico é orlâ e significa “prepúcio, incircunciso”. Isso demonstra que enquanto há o prepúcio ainda se é incircunciso! Isso parece somente um detalhe, mas significa que a nível físico e também espiritual, enquanto existir o prepúcio – a pele que é “dispensável” no pênis – ainda há a necessidade de circuncisão! E, assim como a circuncisão física é um pacto com a vida, a circuncisão espiritual (no coração) também deve ser feita pelo Eterno de tal forma que aquilo que é “dispensável” possa ser retirado de dentro de nós e possamos assim firmarmos um pacto com o nosso Criador!
A mitsvá de circuncidar um bebê judeu do sexo masculino
D’us ordenou: “Um bebê judeu do sexo masculino deve passar por uma milá (circuncisão) aos oito dias de nascido. Mesmo se o oitavo dia coincidir com Shabat ou um Iom Tov, a milá não deve ser adiada”. Isto mostra quão importante é a mitsvá da milá.
Por que D’us ordenou que a milá fosse realizada em meninos que ainda são bebês?
D’us também percebeu que bebês não tem tanto medo de fazer a milá como crianças maiores. Além disso, a pele de um bebê é mais tenra e cicatriza mais rapidamente após a milá.
Aqui estão alguns dos procedimentos do brit milá: Quando o bebê é trazido, todas as pessoas que assistem ficam em pé e proclamam: “Baruch haba, bem vindo.”O bebê é colocado num assento especial chamado kisê shel Eliyáhu, o trono de Eliyáhu. O profeta Eliyáhu é enviado por D’us para estar presente a cada brit milá. O mohel então coloca o bebê sobre os joelhos do sandec (o homem que recebe a honra de segurar o bebê durante o brit), e quando ele está pronto para fazer a milá, o mohel recita a berachá (bênção): “Bendito sejas, D’us, nosso D’us, Rei do Universo, que nos santificou com Suas mitsvot e nos ordenou fazer a milá.”
O pai do bebê, também, diz uma berachá especial enquanto o mohel está fazendo a milá: “Abençoado sejas,D’us, nosso D’us, Rei do Universo, que nos santificou com Suas mitsvot e nos ordenou trazer o menino ao pacto de nosso patriarca Avraham.” O menino recebe seu nome.
Por que um brit milá é chamada brit (pacto) de Avraham?
A primeira mitsvá que D’us ordenou que Avraham cumprisse foi fazer a milá em si mesmo. Então D’us disse a Avraham que dali em diante, todos os meninos judeus devem fazer a milá aos oito dias de idade. A milá seria um brit, um pacto, entre D’us e o povo judeu. Eles acreditariam em D’us, e Ele seria seu D’us.
A cerimônia do brit milá continua com os participantes desejando que o bebê cresça para tornar-se um sábio, que se case e crie sua própria família, e que faça sempre boas ações. Os pais recepcionam aqueles que desejam juntar-se a eles numa seudá, uma refeição festiva. Isto demonstra que os pais estão felizes por cumprir a mitsvá de D’us. Isto nos recorda também a refeição que Avraham fez no dia em que realizou milá em seu filho Itshaq. A mitsvá da milá é tão importante, que D’us considera para os pais que fazem a milá no filho como se eles tivessem trazido o bebê como uma oferenda para Ele.
O fato do nascimento de uma criança gerava a “impureza” na mulher e a única forma deixada pelo Eterno para resolver essa questão na época da purificação era o sacrifício de um animal. “E, quando forem cumpridos os dias da sua purificação por filho ou por filha, trará um cordeiro de um ano por holocausto, e um pombinho ou uma rola para expiação do pecado, diante da porta da tenda da congregação, ao sacerdote” (Lv 12:6). Percebamos que aqui já há uma “troca” de vida por vida, apontando para uma realidade que ainda viria a se cumprir em Ieshua! Parece estranho que o nascimento de uma criança deva ser encarado – a nível sacrificial – como a expiação do pecado! Certamente que o nascimento de uma criança não era encarado como “pecado”, mas já havia a necessidade de um sacrifício que estaria certamente cobrindo aquela criança (assim como sua família) e apontando assim para a sua futura redenção! O cordeiro deveria ser perfeito, um animal puro e sem qualquer defeito, pois somente este seria aceito pelo Eterno como preço pela redenção do recém-nascido!
O objetivo deste sacrifício era cobrir o pecado! “O qual o oferecerá perante o IHVH, e por ela fará propiciação; e será limpa do fluxo do seu sangue; esta é a lei da que der à luz menino ou menina” (Lv 12:7). O cordeiro seria oferecido ao Senhor. A palavra que define o Eterno em hebraico é o tetragrama (IHVH) e significa que este tipo de sacrifício faria com que o Eterno se tornasse aquilo que eles tanto precisavam! É-nos dito ainda que por essa criança se faria “propiciação”. Esta palavra em hebraico é kapar e significa “fazer expiação, fazer reconciliação, purificar”. Vem de uma raiz árabe que significa “cobrir ou ocultar”. A princípio tal coisa nos parece um tanto quanto absurda, pois como poderia falar-se sobre uma mulher que deu à luz tendo a necessidade de receber tal tipo de perdão?
Agora a mulher que havia concebido tem sua vida “coberta” pelo sangue do animal e é considerada como “limpa” – cerimonialmente – para poder novamente adorar ao Eterno na plenitude de sua vida e do seu amor!
Outro detalhe está expresso no verso seguinte: “Mas, se em sua mão não houver recursos para um cordeiro, então tomará duas rolas, ou dois pombinhos, um para o holocausto e outro para a propiciação do pecado; assim o sacerdote por ela fará expiação, e será limpa” (Lv 12:8). No caso de não haver condições financeiras para que a pessoa ofereça um cordeiro, então seriam oferecidos dois pombinhos, onde um seria oferecido como holocausto e outro como propiciação! O holocausto é conhecido pela palavra olah que significa “holocausto, oferta queimada, sacrifício queimado”. Significa também “subida, escadaria”. Enquanto o animal queimava – e conseqüentemente o cheiro e a fumaça subiam à presença de D-us – o ofertante naturalmente ascendia até a presença do Eterno juntamente com a fumaça do holocausto! Isso funcionava como se a fumaça atuasse como uma escadaria que levava o ofertante até a eternidade!
Após esta seção temos agora a abordagem sobre o problema da lepra. “Falou mais o IHVH a Moshe e a Aharon, dizendo: quando um homem tiver na pele da sua carne, inchação, ou pústula, ou mancha lustrosa, na pele de sua carne como praga da lepra, então será levado a Aharon, o sacerdote, ou a um de seus filhos, os sacerdotes. E o sacerdote examinará a praga na pele da carne; se o pêlo na praga se tornou branco, e a praga parecer mais profunda do que a pele da sua carne, é praga de lepra; o sacerdote o examinará, e o declarará por imundo. Mas, se a mancha na pele de sua carne for branca, e não parecer mais profunda do que a pele, e o pêlo não se tornou branco, então o sacerdote encerrará o que tem a praga por sete dias” (Lv 13:1-4). Neste texto percebemos que existe um sinal visível – físico – que define a praga de lepra! Esta palavra “praga” em hebraico é nega´ e significa “golpe, praga, doença”. Esta palavra no hebraico refere-se a um golpe físico ou a um castigo que um suserano aplica a um vassalo. Geralmente é D-us quem desfere a punição ou a enfermidade.
Entendemos o seguinte: a lepra – via de regra – era um modo visível de externar aquilo que havia acontecido entre uma pessoa e seu Criador! A lepra é um símbolo da força do pecado que é manifesta fisicamente na pessoa, tornando-a inacessível e também indesejável por parte de seus semelhantes! Esta pessoa deveria ficar fora do arraial dos israelitas justamente por causa do golpe que ela sofrera em relação à enfermidade da lepra! Esta separação já funcionaria como um tipo de “castigo”; além disso havia a própria discriminação sofrida pelo leproso e ainda o sentimento de “inferioridade” que certamente permeava a alma de tal pessoa!
Há ainda o caso de rebelião, que trazia sobre o rebelde a consequência da lepra! Temos o caso de Mirian e Uzias que em tempos diferentes e ocasiões diferentes manifestaram a mesma atitude e receberam a mesma punição!
“E falaram Mirian e Aharon contra Moshe, por causa da mulher cusita, com quem casara; porquanto tinha casado com uma mulher cusita. E disseram: Porventura falou o IHVH somente por Moshe? Não falou também por nós? E o Senhor o ouviu. E era o homem Moshe mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra. E logo o IHVH disse a Moshe, a Aharon e a Mirian: Vós três saí à tenda da congregação. E saíram eles três. Então o Senhor desceu na coluna de nuvem, e se pôs à porta da tenda; depois chamou a Aharon e a Mirian e ambos saíram. E disse: Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, o IHVH, em visão a ele me farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele. Não é assim com o meu servo Moshe que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a semelhança do IHVH; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra Moshe? Assim a ira do IHVH contra eles se acendeu; e retirou-se. E a nuvem se retirou de sobre a tenda; e eis que Mirian ficou leprosa como a neve; e olhou Aharon para Mirian, e eis que estava leprosa” (Nm 12:1-10). No exemplo de Mirian temos uma atitude crítica da parte dela quanto a algo que tinha sido feito por Moshe e a “dúvida” ou melhor dizendo, o escárnio naquilo que fora dito por ela e Aharon dizendo: “E disseram: Porventura falou o IHVH somente por Moshe? Não falou também por nós?” Isso trouxe sobre ela a amarga conseqüência: ela ficou leprosa!
Já no caso de Uzias foi assim: “Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração até se corromper; e transgrediu contra o IHVH seu Elohim, porque entrou no templo do IHVH para queimar incenso no altar do incenso. Porém o sacerdote Azarias entrou após ele, e com ele oitenta sacerdotes do Senhor, homens valentes. E resistiram ao rei Uzias, e lhe disseram: A ti, Uzias, não compete queimar incenso perante o IHVH, mas aos sacerdotes, filhos de Aharon, que são consagrados para queimar incenso; sai do santuário, porque transgrediste; e não será isto para honra tua da parte do IHVH Elohim. Então Uzias se indignou; e tinha o incensário na sua mão para queimar incenso. Indignando-se ele, pois, contra os sacerdotes, a lepra lhe saiu à testa perante os sacerdotes, na casa do IHVH, junto ao altar do incenso” (II Cr 26:16-19). No caso de Uzias percebemos que ele sendo o rei de Israel tentou tomar para si uma atribuição que não lhe pertencia: o sacerdócio! Isso fez com que o Eterno lhe punisse com a lepra que lhe saiu imediatamente e tornou-o impuro e incapaz de assistir à casa do Senhor!
Em ambos os casos percebemos que houve uma atitude impensada que trouxe sobre seus executores graves conseqüências. A lepra foi produto da rebelião de ambos contra aquilo que já havia sido estabelecido pelo Senhor!
Concluímos que toda rebelião traz “lepra” como conseqüência! E lepra é o sinal exterior e físico (além de espiritual) da postura inadequada daqueles que a manifestam em suas vidas! Isso causa sofrimento, dor, exclusão e traz profundas marcas à vida e ao caráter daqueles que assim agem!
A lepra não poderá ser diagnosticada senão pelo sacerdote. “E o sacerdote o examinará, e eis que, se a pústula na pele se tem estendido, o sacerdote o declarará por imundo; é lepra” (Lv 13:8). A palavra “lepra” em hebraico é tsará e significa “sofrer doença de pele, ficar leproso”. Esta palavra originou outro termo que é tsara´at que por seu turno significa doença maligna de pele, lepra. Nós percebemos que a lepra é uma doença superficial porém visível e repugnante! O próprio termo em hebraico designa uma doença de pele, ou seja, algo que atinge – a princípio – somente a pele da pessoa e depois aprofunda-se trazendo graves conseqüências ao seu portador! O interessante é que a própria palavra demonstra que a doença é de origem maligna! Isso nos mostra que a rebelião oferece uma “porta” de entrada para a atuação maligna na vida das pessoas!
As feridas aparentes na carne demonstram que ainda há algo de “errado” com esta pessoa. “E o sacerdote o examinará, e eis que, se há inchação branca na pele, a qual tornou o pêlo em branco, e houver carne viva na inchação, lepra inveterada é na pele da sua carne; portanto, o sacerdote o declarará por imundo; não o encerrará, porque imundo é” (Lv 13:11). Esta situação certamente caracteriza algo ainda muito sério: existem, no interior desta pessoa, grandes feridas abertas que estão sendo manifestas através da lepra como “carne viva” na pele do doente!
O que é e porque ocorria a punição de tsaraat?
A Torah continua a nos relatar sobre tipos diferentes de tum’a (impurezas). Uma delas é tsaraat. É um problema de pele que pode ser diagnosticado apenas por um cohen. Se um judeu – homem, mulher ou criança – percebeu uma ou mais manchas brancas na pele, deve suspeitar da possibilidade de tsaraat. Foi-lhe ordenado mostrar o local a um cohen.
Se um judeu tornou sua alma impura por cometer um pecado grave, D’us por Sua vez, torna seu corpo impuro com tsaraat. Isto ajudaria a pessoa a perceber que pecou e que deveria fazer teshuvá. D’us infligia tsaraat em um judeu por alguns pecados, mas principalmente pela pecado de lashon hará (maledicência).
Quando D’us quis que Moshê tirasse o povo judeu do Egito, Moshê protestou: “Eles não acreditarão que fui enviado por D’us!” Então, sua mão tornou-se branca com tsaraat por falar “mal” dos judeus.
D’us também utilizava tsaraat como castigo por outros pecados graves, que são: Lashon hará (maledicência), assassinato, adultério, dar falso testemunho, ser orgulhoso, roubar, ser avarento. Vemos que lashon hará é um pecado grave, pois é punido com tsaraat, da mesma forma que os terríveis crimes de assassinato e adultério.
A Torah ordena que um metsorá procure um cohen, não um médico. O cohen instará o metsorá a deixar de pecar, e começar a cumprir mitsvot. Se o metsorá faz teshuvá (arrependimento), D’us permitirá que se torne puro novamente.
Quando a lepra espalha-se por todo o corpo a situação é diferente: “Então o sacerdote examinará, e eis que, se a lepra tem coberto toda a sua carne, então declarará o que tem a praga por limpo; todo se tornou branco; limpo está” (Lv 13:13). Quando a enfermidade tomava todo o corpo deixando-o branco – não com feridas grandes e profundas – então a pessoa era considerada como “pura”. Isso nos fala sobre a alma que já está totalmente restaurada e é considerada como “limpa” e apta para receber do Eterno a sua Torah! A brancura do corpo é símbolo da pureza – e conseqüentemente da cura – da alma do homem que foi leproso! A alma restaurada pela Torah está novamente pronta para entrar na dimensão de obediência desta mesma Torah!
Outro aspecto interessante é que o isolamento do leproso deveria durar sete dias! “Mas, se o sacerdote, vendo-a, e eis que, se na mancha não aparecer pêlo branco, nem estiver mais funda do que a pele, mas recolhida, o sacerdote o encerrará por sete dias. Depois o sacerdote o examinará ao sétimo dia; se grandemente se houver estendido na pele, o sacerdote o declarará por imundo; é praga de lepra” (Lv 13:27). O sete na Escritura deve ser entendido como um número de totalidade, como algo que teve seu início e chega ao fim! No caso do leproso, ele teria sete dias para que a enfermidade regredisse – e então ele seria declarado limpo – ou então para que a enfermidade fosse realmente constatada como instalada na vida daquela pessoa! Seria como a abertura e o fechamento de um siclo que determinaria o que realmente deveria ser feito àquela pessoa!
Segundo a tradição judaica a causa da lepra está na língua! “E o sacerdote, examinando a chaga, e eis que, se ela parece mais funda do que a pele, e pêlo amarelo fino há nela, o sacerdote o declarará por imundo; é tinha, é lepra da cabeça ou da barba” (Lv 13:30). A palavra “tinha” em hebraico é neteq e significa “infecção cutânea”. Na realidade a lepra possui uma variação que causa infecções na pele e que a tornam como caracteristicamente uma doença da superfície da pele! Sobre este verso a Torah comenta: “O Midrash escreve que a pessoa é atacada pela lepra por causa do pecado da calúnia e da maledicência. Faz esta dedução transformando a palavra “metzorá” (leproso) por “motzirá” (faz sair o mal da boca). O leproso devia morar fora do acampamento, tal como o caluniador que deve ser isolado por causa de sua má língua!
O caluniador é mais culpado que o assassino, pois este mata só uma pessoa, e o caluniador mata três (ele mesmo, quem dá ouvidos e o caluniado). Mesmo quando não se dá fé ao caluniador pelo que disse, alguma coisa fica na memória contra a vítima. A má língua foi comparada a uma flecha e não a uma espada, pois ela mata mesmo de longe; o caluniador está em Roma e mata na Síria; está na Síria e mata em Roma. Quatro categorias de pessoas não gozarão do esplendor divino: os caçoístas, os hipócritas, os mentirosos e os que falam mal do próximo”.
Isso nos demonstra o quanto está relacionado o interior do ser humano com suas atitudes exteriores! Na atualidade ninguém é punido pelas chamadas “autoridades eclesiásticas” por falar mal de outrem, pois este tipo de pecado não é “aparente”. Porém existem grandes e graves punições para aqueles que cometem os chamados “grandes pecados” como adultério, assassinato e roubo!
A “praga” de lepra poderia ser também detectada em objetos e roupas que certamente deveriam ser também “limpos” a fim de poderem novamente serem considerados “utilizáveis” pelos israelitas. Os objetos – assim como as residências – também poderiam ser considerados como “imundos”! “Quando também em alguma roupa houver praga de lepra, em roupa de lã, ou em roupa de linho, ou no fio urdido, ou no fio tecido, seja de linho, ou seja de lã, ou em pele, ou em qualquer obra de peles, e a praga na roupa, ou na pele, ou no fio urdido, ou no fio tecido, ou em qualquer coisa de peles aparecer verde ou vermelha, praga de lepra é, por isso se mostrará ao sacerdote, e o sacerdote examinará a praga, e encerrará aquilo que tem a praga por sete dias. Então examinará a praga ao sétimo dia; se a praga se houver estendido na roupa, ou no fio urdido, ou no fio tecido ou na pele, para qualquer obra que for feita da pele, lepra roedora é, imunda está; por isso se queimará aquela roupa, ou fio urdido, ou fio tecido de lã, ou de linho, ou de qualquer obra de peles, em que houver a praga, porque lepra roedora é; com fogo se queimará” (Lv 13:47-52). Neste texto a palavra “roedora” – referindo-se à lepra – em hebraico é ma´ar e significa “maldita”, pois vem da palavra me´era (maldição). Estas palavras provêm de uma outra raiz que é ´arar e significa “prender (por encantamento), cercar com obstáculos, deixar sem forças para resistir”. Devemos notar que tal tipo de “lepra” é “maldita” e a única solução para seu total extermínio é que tal objeto – ou casa – seja queimado pelo fogo!
Este tipo de “lepra” traz consigo implicações tais que “prendem” aqueles que a tem sobre si; é como se esta coisa (ou pessoa) tivesse sido impedida de continuar em seu curso normal de vida por sua causa! E isso traz sobre a pessoa (ou coisa) a “fraqueza” que paralisa e somente pode ser removida pela ação purificadora do fogo! Devemos perceber que tanto um objeto quanto uma pessoa atacado por tal “praga” é considerado como “maldito!”
Por fim, temos um conselho que nos orienta assim: “Guarda-te da praga da lepra, e tenhas grande cuidado de fazer conforme a tudo o que te ensinarem os sacerdotes levitas; como lhes tenho ordenado, terás cuidado de o fazer. Lembra-te do que o IHVH teu Elohim fez a Mirian no caminho, quando saíste do Egito” (Dt 24:8-9). Duas coisas merecem destaque aqui: a palavra “guarda-te” que nos fala sobre a obediência ao que já foi estabelecido pelo Eterno e transmitido através dos sacerdotes e também a palavra “lembra-te” que nos remete ao passado na história de Mirian como um exemplo negativo que não deve ser seguido! Aqui temos uma séria advertência contra os maus exemplos – que estão na Escritura a fim de sabermos que ninguém é perfeito, mas que nós devemos aprender com as imperfeições dos outros – para que nós não precisemos ser “punidos” daquela mesma forma como o foram Mirian e outros!
Que o Eterno nos ajude a cumprirmos seus mandamentos!
Baruch há Shem!
Mário Moreno.