A História de Ruth
A História de Ruth
Foi assim que tudo isto aconteceu: Nos dias em que os juízes governavam Israel, o povo havia relaxado sua observância da Torá; por essa razão provocou sobre si a punição de D’us. Na terra, reinava a fome.
Um rico mercador, habitante de Yehudá, de nome Elimelech, não acostumado à fome e à pobreza, pensou em escapar da miséria mudando-se para outro lugar. Assim foi viver em Moav com sua esposa Naomi e seus dois filhos.
Ruth, uma princesa moabita, imbuída de elevados ideais, não estava satisfeita com a idolatria de seu próprio povo e quando chegou a oportunidade, abriu mão do privilégio da realeza em sua terra, aceitando uma vida de pobreza entre um povo que ela admirava. Ruth fez amizade com essa família judia e começou a comparar o diferente modo de vida com o seu próprio. Aprendeu a admirar as leis e costumes judaicos, e a insatisfação que já sentia com a idolatria de seu povo, tornou-se uma objeção positiva. Quando um dos filhos de Naomi a pediu em casamento, ela sentiu-se feliz e orgulhosa em aceitar. Não ficou com remorso frente ao que estava renunciando: a vida de luxúria no palácio, o título real, as perspectivas de riqueza e honra no futuro, pois percebia o valor do povo ao qual agora se unia.
Com a morte de Elimelech e seus dois filhos, Naomi, pobre e viúva, ficou sem saber o que fazer ou para onde ir. Portanto, disse a Ruth e à sua outra nora Orpá: “Minhas filhas, devo partir, e decidi voltar a minha cidade natal, Beit Lechem. Lá, as coisas não devem ser muito boas, e não vejo razão porque também vocês deveriam sofrer. Portanto, aceitem meu conselho e voltem à casa de seus pais. Seus maridos estão mortos e, talvez, se permanecerem em sua própria terra, poderão encontrar outros homens com quem se casar. Eu perdi meus filhos para sempre, mas vocês são jovens, poderão encontrar outros maridos.”
Orpá despediu-se tristemente de sua sogra. Mas Ruth se apegou a Naomi em prantos e implorou-lhe para partir com ela. Com estas tocantes palavras pediu: “Eu te suplico, não me peças que te deixe, e que retorne após te seguir, porque aonde quer que fores, eu irei; e onde pousares, pousarei; teu povo é o meu povo e teu D’us é o meu D’us; onde morreres, morrerei, e ali serei enterrada; somente a morte me separará de ti.” Ruth sabia muito bem o que estava fazendo. Naomi a havia prevenido das dificuldades com que se defronta um judeu em qualquer tempo, mas Ruth estava inabalável em sua determinação de seguir sua sogra e de apegar-se a fé de sua escolha. Só o futuro provaria que Ruth seria justamente recompensada por sua elevada decisão, pois mesmo em seus momentos de pobreza ela não se arrependeu.
Era tempo de colheita quando Ruth e Naomi chegaram à Terra Prometida. Estavam exaustas após a longa jornada e Ruth conseguiu fazer com que Naomi repousasse, enquanto saiu aos campos de Beit Lechem para ver o que poderia encontrar para saciar a fome. Entrou em um campo onde havia muitos homens ocupados na colheita de grãos, enquanto alguns os amarravam em fardos e outros os empilhavam em carretas para transportá-los. Com certa hesitação, mas estimulada por sua fome e pelo pensamento de que deveria levar alguma coisa para sua sogra, Ruth entrou no campo e sentou-se por algum tempo para descansar, enquanto esperava para ver o que a sorte lhe traria.
De repente, foi surpreendida ao ouvir uma voz que lhe disse, suave e gentilmente: “Que D’us esteja contigo, estrangeira!”
Ruth retribuiu a gentil saudação. E ficou grata ao ouvir a mesma pessoa bondosa continuar: “Entra no campo! Não te acanhes! Recolhe algumas espigas, sacia tua fome!” Era o próprio Boaz, juiz de Israel naquele tempo e proprietário daquele campo, que assim se dirigia a Ruth. Ela agradeceu e colheu algumas espigas.
Estava prestes a partir, quando a mesma voz gentil lhe disse para permanecer ali mais um pouco e recolher o que os segadores haviam abandonado pelos cantos do campo, como peá. “O que é peá?” – perguntou Ruth. “A Torá nos diz; que, quando o dono de um campo já apanhou sua colheita, deve deixar um canto para os pobres, os necessitados e os estrangeiros, a fim de que venham e colham eles mesmos” – respondeu Boaz. “Que maravilha!” – exclamou Ruth.
Ela ficou ali, colheu o trigo de um canto do campo, e preparou-se novamente para partir. “Ainda não precisas partir” – sugeriu Boaz. “Por que não ficas e te beneficias do leket?”
“O que significa leket?” – perguntou novamente Ruth. “De acordo com a Torá, se um segador deixa de cortar alguma plantação com sua foice, não lhe é permitido voltar. Deve abandonar o que esqueceu de cortar, ou que deixou cair, e este deve ser deixado atrás como respiga para os pobres e estrangeiros” – explicou pacientemente Boaz. Ruth não disse nada, mas não via razão para recusar e se beneficiar das leis da Torá, as quais ela havia incorporado. Depois de encher todo um cesto, ela foi a Boaz e agradeceu-lhe sinceramente por sua bondade e preparou-se para partir.
“Ainda não precisas ir” – persuadiu-a Boaz. “Ainda podes vegar a shichechá”. “A Torá é realmente infinita em sua preocupação com os menos afortunados” – disse Ruth. “Agora, por favor, diga-me o que é shichechá?”
“Quando o dono de um campo está levando sua carga aos celeiros, pode acontecer que ele tenha esquecido alguns fardos no campo. A Torá o proíbe de voltar e recolhê-los, pois ele deve deixar esses fardos esquecidos para os pobres, as viúvas, os órfãos e os estrangeiros.”
Ruth estava muito feliz com sua boa sorte. Já havia recolhido mais do que poderia carregar. Ela e Naomi estavam agora bem-providas por um bom tempo. Mais uma vez, agradeceu a Boaz, e prometeu voltar. Ruth estava muito contente quando voltou e contou para sua sogra o que lhe havia acontecido nos campos de Boaz. Naomi ficou feliz pelo fato de Ruth ter sido tão bem-sucedida e por ter encontrado favor aos olhos de Boaz, o nobre proprietário das terras. Contou a ela que Boaz era parente de Elimelech. Nesse meio-tempo, Boaz havia inquirido sobre a estrangeira que passou por seu campo e descobriu que ela era a nora enviuvada de Naomi. Quando Boaz pediu Ruth em casamento, Naomi insistiu para que aceitasse. Ruth foi inesperadamente recompensada com riqueza e felicidade.
Ruth e Boaz tiveram um filho chamado Oved. Este, por sua vez, foi pai de Yishai. O filho mais jovem de Yishai foi David, ungido por D’us e amado rei de Israel. Mashiach (Messias) será seu descendente.
E isso se cumpriu nos dias de Ieshua, e podemos verificar isso pela genealogia publicada por Mateus que diz: “Livro da geração de Ieshua O Ungido, filho de David, filho de Avraham. Avraham gerou a Iitshaq; e Iitshaq gerou a Ia´aqov; e Ia´aqov gerou a Iehûdâ e a seus irmãos; Iehûdâ gerou, de Tamar, a Peretz e a Zerá; e Peretz gerou a Hetzrom; e Hetzrom gerou a Aharôn; e Aharôn gerou a Aminadab; e Aminadab gerou a Nachsohn; e Nachsoh gerou a Salmom; e Salmom gerou, de Rachav, a Boaz; e Boaz gerou de Rut a Oved; e Oved gerou a Iishay; e Iishay gerou ao rei David; e o rei David gerou a Shelomo da que foi mulher de Uriah. E Shelomo gerou a Rechav´am; e Rechav´am gerou a Abiah; e Abiah gerou a Asa; e Asa gerou a Ioshapat; e Ioshapat gerou a Ioram; e Ioram gerou a Uziahu; e Uziahu s gerou a Iotan; e Iotan gerou a Achaz; e Achaz gerou a Izequiahu; e Izequiahu gerou a Menasheh; e Menasheh gerou a Amom; e Amom gerou a Ioshiau; e Ioshiau gerou a Icaniahu e a seus irmãos na deportação para Babel. E, depois da deportação para Babel, Icaniahu gerou a Sh´altiel; e Sh´altiel gerou a Z´rubavel; e Z´rubavel gerou a Abihud; e Abihud gerou a Eleiaquim; e Eleiaquim gerou a Azor; e Azor gerou a Tzadok; e Tzadok gerou a Iaqim; e Iaqim gerou a Eliud; e Eliud gerou a El´azar; e El’azar gerou a Matan; e Matan gerou a Ia´aqov; e Ia´aqov gerou a Iosef, pai de Miriam, da qual nasceu Ieshua, que se chama o Ungido” Mt 1.1-16 – grifo nosso.
A profecia se cumpriu e hoje podemos dizer que Shabuot é o tempo em que o Eterno não somente resgata vidas como também traz “gentios” para fazerem parte de seu povo!
Baruch ha Shem!
Chag Shavuot Sameach!
Adaptação: Mário Moreno.