Mário Moreno/ junho 12, 2018/ Parasha da semana

Korach

Coré

Nm 16.1–18:32 / I Sm 11:14–12:22 / At 5:1-11

        Na Parasha desta semana estaremos abordando inicialmente a rebelião de alguns homens que se levantam contra Moshe e veremos também quais são as conseqüências de tais atos.

Nosso texto inicial diz assim: “E Coré, filho de Jizar, filho de Coate, filho de Levi, tomou consigo a Datã e a Abirão, filhos de Eliabe, e a Om, filho de Pelete, filhos de Rúben. E levantaram-se perante Moshe com duzentos e cinqüenta homens dos filhos de Israel, príncipes da congregação, chamados à assembléia, homens de posição, e se congregaram contra Moshe e contra Aharon, e lhes disseram: Basta-vos, pois que toda a congregação é santa, todos são santos, e o IHVH está no meio deles; por que, pois, vos elevais sobre a congregação do IHVH? Quando Moshe ouviu isso, caiu sobre o seu rosto” (Nm 16:1-4). Aqui temos o primeiro ato aberto de rebelião de uma elite do povo contra Moshe e Aharon. O texto nos informa que Core veio acompanhado por 250 homens, príncipes da congregação. A palavra “príncipes” vem do termo hebraico qarî´ e significa “pessoa chamada, pessoa convocada”. Já o termo “congregação” vem do hebraico edâ e significa “assembléia, congregação, multidão, povo, enxame”. O uso desta palavra demonstra que aquelas pessoas estavam reunidas ali por terem sido convocadas entre todo o povo de Israel que estava peregrinando rumo a Canaã. Tais pessoas colocaram-se “contra” Moshe e Aharon. Este termo em hebraico é ´al e significa “em cima de, contra, sobre”, o que nos demonstra que aqueles homens estavam com sua atitude dizendo estarem acima de Moshe e Aharon e contra tudo aquilo que eles vinham fazendo até então.

Estes homens argumentam que “a congregação é santa, todos são santos e o Eterno está entre eles”. Quando dizem isso eles usam novamente edâ e também o tetragrama. Na continuidade usam o termo “elevar” que vem do hebraico násâ´ e significa “erguer, carregar, tomar”. Desta mesma raiz vem a palavra nasî´ que significa “príncipe, chefe, líder”. A acusação que estava sendo feita a Moshe era a de que ele tomara para si o cargo de líder do povo de Israel! Ou seja, estes homens não estavam plenamente de acordo com a liderança de Moshe e por isso agora agiam rebelando-se contra ele! Mas, o mais interessante aqui é percebermos a reação de Moshe, que imediatamente prostra-se com seu rosto em terra, como que colocando-se diante do Eterno para que Ele mesmo possa fazer aquilo que deve ser feito num caso destes! Ele não se defende e nem procura defender sua liderança entre o povo de Israel; somente se prostra e deixa o restante para que o Sumo Juiz possa dar o veredicto final.

Côrach ressente-se de não ter sido escolhido para um alto cargo

Côrach pensou: “Meu destino indica que nasci para a grandeza. Por quê razão meu avô deu o nome de Yitshar – óleo – a meu pai? Meu avô deve ter previsto que exatamente como o óleo sempre flutua na superfície, assim meu pai produz filhos superiores, merecedores de serem untados com o sagrado óleo da unção para as posições de kehuná (sacerdócio) ou realeza.

“Agora, quem é mais predestinado que eu, o filho mais velho de Yitshar, e o mais qualificado para altos cargos?”

Realmente, Côrach combinava qualidades superiores que poucas pessoas possuíam:

  • Primeiro, seus ancestrais eram ilustres. Seu antepassado era Kehat, e sua família, os filhos de Kehat, era a mais importante família dos levitas. Côrach era primo em primeiro grau de Moshê e Aharon.
  • Côrach fora escolhido como um dos carregadores da arca.
  • Além disso, Côrach era um homem muito inteligente e culto.
  • Previra através do espírito de profecia que, entre seus descendentes incluía-se o famoso profeta Shemuel, bem como catorze grupos de leviyim que possuiriam o espírito de profecia.

Côrach disse: “Estou destinado a ser a fonte de todas essas grandezas. Como pode ser que eu mesmo não atinja um posto de destacada importância?”

Saber de antemão acerca da grandeza de sua prole fortaleceu sua crença no sucesso de uma revolta contra Moshê. (Não percebia que seria destruído, e que seus filhos sobreviventes gerariam esses grandes descendentes.)

  • Acima de tudo, Côrach estava muito seguro de si e presunçoso por causa de sua fabulosa fortuna. Pensava que era favorecido por D’us, e que por isso tinha o direito de travar contenda contra Moshê, pois, “Um homem rico fala com imprudência.” (Mishlê 18:23)

Como Côrach ficou rico?

Os outros membros da tribo de Levi viviam na pobreza. Não levaram ouro nem prata do Egito consigo. Moshê ordenou que todo judeu pegasse dinheiro e objetos preciosos dos egípcios, referindo-se apenas às tribos que executaram trabalho escravo. Uma vez que os leviyim não trabalharam para os egípcios (mas eram livres e estudavam Torá), não receberam dinheiro como recompensa, no Êxodo. No Mar Vermelho, os leviyim recusaram-se a pegar o espólio dos egípcios, pois não atribuíam valor algum às posses terrenas. Estavam completamente imersos no estudo da Torá. Através dos anos no deserto, os leviyim viviam sem meios de sustento, dedicando-se puramente às preocupações espirituais.

Apenas Côrach era ávido por dinheiro. No Egito, fora tesoureiro do Faraó. Esperava que os judeus permanecessem no Egito após a Redenção, e ele tornar-se-ia, então, o proprietário do tesouro real. D’us, Que dirige a vida da pessoa na senda que essa quer trilhar, satisfez o desejo de Côrach por dinheiro, deixando-o descobrir uma parte do tesouro que Yossef ocultara nos cofres reais. Esta descoberta transformou Côrach numa das pessoas mais ricas que já viveram.

Quando os judeus saíram do Egito, Côrach guardou todo o seu ouro e prata em incontáveis cofres, e trancou-os. Possuía tantas chaves que necessitava de trezentas mulas para carregá-las. Estas chaves eram de couro; se fossem de metal, nem trezentas mulas poderiam carregar tal peso.

Contudo, uma vez que ele malversou sua fortuna para rebelar-se contra a Torá, foi punido na mesma moeda. Não restou traço de sua fortuna. Essa desapareceu na terra, juntamente com ele.

As palavras de Moshe são repletas de sabedoria quando ele diz quando e como o Eterno daria sua resposta: “E falou a Coré e a toda a sua congregação, dizendo: Amanhã pela manhã o IHVH fará saber quem é seu, e quem é o santo que ele fará chegar a si; e aquele a quem escolher fará chegar a si. Fazei isto: Tomai vós incensários, Coré e todo seu grupo; e, pondo fogo neles amanhã, sobre eles deitai incenso perante o IHVH; e será que o homem a quem o Senhor escolher, este será o santo; basta-vos, filhos de Levi. Disse mais Moshe a Coré: Ouvi agora, filhos de Levi: Porventura pouco para vós é que o El de Israel vos tenha separado da congregação de Israel, para vos fazer chegar a si, e administrar o ministério do tabernáculo do IHVH e estar perante a congregação para ministrar-lhe; e te fez chegar, e todos os teus irmãos, os filhos de Levi, contigo? ainda também procurais o sacerdócio? Assim tu e todo o teu grupo estais contra o IHVH; e Aharon, quem é ele, que murmureis contra ele?” (Nm 16:5-11). Moshe dirige-se à Core e aos seus congregados que no dia seguinte eles certamente veriam que o Eterno realizaria uma separação entre aqueles que são d´Ele e os demais! Eles deveriam trazer os incensários a fim de se colocarem diante do Eterno para que Ele mesmo escolhesse quem haveria de ministrar-lhe e ser o líder de seu povo. Os incensários representam a vida de oração que cada um deveria apresentar ao Eterno e isso certamente faria diferença entre um e outro. E Moshe ainda diz mais, pois exorta aos levitas lembrando-os sobre seu ministério e pergunta-lhes se o que desejam é uma “elevação” em seus cargos! Moshe diz que eles murmuraram contra Aharon. A palavra “murmurar” vem do termo hebraico lûn e significa “murmurar, rebelar-se”. Ou seja, aqui fica claro que tais homens adotaram neste caso a mesma postura que Há Satan adotou quando rebelou-se contra a autoridade do Eterno!

Moshê sugere que Côrach e seus seguidores ofereçam incenso

Moshê enfrentou a multidão e sugeriu: “Se não acreditam em mim, façamos um teste amanhã. Hoje não tenho permissão de realizar este experimento.” Moshê pensou que se adiasse até a manhã seguinte, o efeito da refeição e do vinho de Côrach já teriam se esvanecido, e seus seguidores perceberiam sua tolice, e fariam teshuvá. O teste, então, seria desnecessário. Moshê, contudo, não revelou a verdadeira razão para adiar o teste, por temer provocar uma contra rebelião.

“Qualquer um que reivindique ter sido escolhido para o Serviço poderá vir aqui amanhã de manhã, com um recipiente cheio de incenso, e oferecê-lo sobre o altar. Vocês sabem que um não cohen que oferece incenso é passível de morte pelo Céu. Assim, se forem poupados da morte, sua reivindicação de que todos vocês são merecedores de ocuparem posições no Santuário provará estar certa. Contudo, devo adverti-los de que este é um teste suicida. Apenas a pessoa mais santa sobreviverá, e todo o resto perecerá.”

Ao ouvir estas palavras, Côrach presumiu que certamente sobreviveria, uma vez que estava destinado a tornar-se progenitor de grandes descendentes.

Os duzentos e cinquenta homens estavam, a esta altura, tão consumidos pelo desejo de realizar o serviço Divino que estavam dispostos a arriscarem suas vidas por isso.

Datan e Aviram não estavam interessados no discurso de Moshê nem em sua sugestão. Retornaram às suas tendas enquanto esse ainda falava. Não participaram do teste no dia seguinte.

Moshê continuou a dirigir-se a Côrach com palavras gentis, esperando encerrar a discussão.

Temendo que toda a tribo de Levi fosse levada a seguir Côrach, Moshê apelou a seus membros: “Por favor, ouçam-me, filhos de Levi! Satisfaçam-se com a honra de cantar e realizar outras tarefas no Santuário. Por que desejam tornarem-se cohanim? Você, Côrach, e seus seguidores, não clame contra Aharon, pois o Todo Poderoso concedeu-lhe a kehuná. Na realidade, você está se opondo a D’us. Se Aharon aspirasse à kehuná você teria motivo para reivindicar. Contudo, ele não desejou seu ofício. O que ganhou com isso? Enterrou seus dois filhos, Nadav e Avihu.” Côrach não elaborou resposta alguma, porém permaneceu em silêncio. Pensou: “Moshê é muito sábio, culto e instruído. Não importa que argumentos eu apresente, refutará com contra argumentos mais fortes. Se continuar o debate, persuadirá meus seguidores a almejarem a paz.” Portanto, não continuou a discussão, mas insistiu em sua reivindicação.

Moshe diz estas palavras e manda chamar a Datã e Abirão, pois os mesmos não estavam ali quando ele fez isso. A atitude deles deve ser aqui destacada. “E Moshe mandou chamar a Datã e a Abirão, filhos de Eliabe; porém eles disseram: Não subiremos; porventura pouco é que nos fizeste subir de uma terra que mana leite e mel, para nos matares neste deserto, senão que também queres fazer-te príncipe sobre nós? Nem tampouco nos trouxeste a uma terra que mana leite e mel, nem nos deste campo e vinhas em herança; porventura arrancarás os olhos a estes homens? Não subiremos. Então Moshe irou-se muito, e disse ao IHVH: Não atentes para a sua oferta; nem um só jumento tomei deles, nem a nenhum deles fiz mal” (Nm 16:12-15). Quando Moshe chama os demais envolvidos na rebelião há uma negativa quanto ao comparecimento diante do líder constituído pelo Senhor para que possam explicar sua atitude! E o que é mais grave ainda: eles acusam Moshe de tê-los tirado do Egito para que fossem mortos no deserto! Dizem também que Moshe quis fazer-se líder sobre eles! Nenhum destes homens reconheciam a legitimidade da liderança de Moshe sobre o povo de Israel e sendo assim negam-se a prestar-lhe qualquer ato de obediência, ainda que seja para atender a um chamado para conversar!

Agora Moshe fica irado com a situação vigente! A palavra “ira” vem do hebraico harâ e significa “queimar, estar aceso (de indignação)”. Isso significa que já havia uma situação propícia para a manifestação da ira e aqueles homens somente “acenderam” a ira de Moshe contra eles! A petição de Moshe parece estranha, mas é algo muito profundo e devastador: “não atentes a sua oferta”! Quando ele diz isso está pedindo ao Eterno para que sua comunhão com eles seja interrompida! Moshe quer dizer com isso que a sua atitude declara por si só que o Eterno não poderia ter comunhão com pessoas que agem daquela forma!

Agora ele se voltará para Core, repetindo as instruções sobre a visitação do Senhor no meio do povo, a fim de identificar quem seria o líder do povo de Israel durante a peregrinação pelo deserto. “Disse mais Moshe a Coré: Tu e todo o teu grupo ponde-vos perante o IHVH, tu e eles, e Aharon, amanhã. E tomai cada um o seu incensário, e neles ponde incenso; e trazei cada um o seu incensário perante o IHVH, duzentos e cinqüenta incensários; também tu e Aharon, cada um o seu incensário. Tomaram, pois, cada um o seu incensário, e neles puseram fogo, e neles deitaram incenso, e se puseram perante a porta da tenda da congregação com Moshe e Aharon. E Coré fez ajuntar contra eles todo o povo à porta da tenda da congregação; então a glória do IHVH apareceu a toda a congregação” (Nm 16:16-19). A cena deve ter sido, no mínimo curiosa, pois Moshe e Aharon – dois homens – postaram-se diante do Eterno e tinham contra si duzentos e cinqüenta homens! Aos olhos humanos alguns poderiam dizer: “A voz do povo é a voz de D-us”. Neste caso a maioria representa a voz das trevas que se levanta numa rebelião contra o Eterno a fim de tentar frustrar os planos que visavam conduzir o povo de Israel para a terra de Canaã!

Quando eles se apresentam – conforme fora dito por Moshe – então a glória do Eterno se manifesta a eles! Coré se apresenta com sua qahal no meio da edâ contra Moshe e então a kavod que significa “glória, honra”, do Eterno – IHVH – aparece ao povo.

Agora teremos – da parte do próprio Eterno – a resolução desta tão importante questão que está trazendo tanta confusão para o povo que está peregrinando rumo à há erets! “E falou o IHVH a Moshe e a Aharon, dizendo: Apartai-vos do meio desta congregação, e os consumirei num momento. Mas eles se prostraram sobre os seus rostos, e disseram: Ó D-us, D-us dos espíritos de toda a carne, pecará um só homem, e indignar-te-ás tu contra toda esta congregação?” (Nm 16:20-22). Num primeiro momento o Eterno desejou acabar com todo o povo que ali estava – excetuando-se Moshe e Aharon. A prova disso é que a palavra usada para congregação é edâ! A reação de Moshe e Aharon é imediata e eles intercedem pelo povo e solicitam ao Eterno que Ele possa punir apenas os culpados pela rebelião!

Então o Eterno lhes diz: “E falou o IHVH a Moshe, dizendo: Fala a toda esta congregação, dizendo: Subi do derredor da habitação de Coré, Datã e Abirão. Então Moshe levantou-se, e foi a Datã e a Abirão; e após ele seguiram os anciãos de Israel. E falou à congregação, dizendo: Desviai-vos, peço-vos, das tendas destes homens ímpios, e não toqueis nada do que é seu para que porventura não pereçais em todos os seus pecados. Subiram, pois, do derredor da habitação de Coré, Datã e Abirão. E Datã e Abirão saíram, e se puseram à porta das suas tendas, juntamente com as suas mulheres, e seus filhos, e suas crianças. Então disse Moshe: Nisto conhecereis que o IHVH me enviou a fazer todos estes feitos, que de meu coração não procedem. Se estes morrerem como morrem todos os homens, e se forem visitados como são visitados todos os homens, então o Senhor não me enviou. Mas, se o IHVH criar alguma coisa nova, e a terra abrir a sua boca e os tragar com tudo o que é seu, e vivos descerem ao abismo, então conhecereis que estes homens irritaram ao IHVH” (Nm 16:23-30). As palavras de Moshe quanto à forma pela qual o Eterno puniria aqueles homens serve para demonstrar que aconteceria algo sobrenatural a fim de demonstrar a todo o povo que a atitude deles havia magoado ao Eterno de tal forma que isso seria feito como demonstração de juízo e desagrado do Eterno para com eles!

O que acontece agora demonstra a quem o Eterno escolhera para dirigir seu povo: “E aconteceu que, acabando ele de falar todas estas palavras, a terra que estava debaixo deles se fendeu. E a terra abriu a sua boca, e os tragou com as suas casas, como também a todos os homens que pertenciam a Coré, e a todos os seus bens. E eles e tudo o que era seu desceram vivos ao abismo, e a terra os cobriu, e pereceram do meio da congregação” (Nm 16:31-33). Primeiro o cabeça da rebelião é punido juntamente com sua família e seus bens – inclusive seus servos – pois o princípio do Eterno é acabar com as rebeliões através dos líderes! Lembremo-nos que eles estavam no deserto, com o acampamento armado e somente a habitação de Core – juntamente com seus familiares – é tragada pela terra! Isso significa que abriu-se um buraco justamente debaixo da tenda de Coré! Isso não é uma tremenda coincidência?

A punição de Côrach, Datan, Aviram e os duzentos e cinquenta homens

Naquela noite, Côrach foi de tribo em tribo pregando contra Moshê, a fim de obter mais simpatizantes.

Declarou: “Você acha que fundei este partido em meu benefício? Certamente que não! Meu objetivo é restaurar as posições de direito a todos os judeus. Por que ficam em silêncio enquanto Moshê se faz de rei e concede a kehuná como uma lei eterna a seu irmão? Cada judeu merece tornar-se um Sumo-sacerdote, pois ouviu no Monte Sinai: ‘E serão para Mim um reino de sacerdotes e uma nação santa.'”

Côrach tinha um argumento apropriado à cada tribo.

Por exemplo, agitou a tribo de Iehuda lembrando a seus membros: “Nosso patriarca Ia´aqov profetizou que sua tribo é a tribo real. Por quê permitem que Moshê os governe?”

Os membros da tribo de Reuven foram incitados com a declaração: “Apesar do fundador de sua tribo ter sido o primogênito de Ia´aqov, vocês não têm direitos especiais de primogenitura. Como toleram isso?”

Quão grande é o poder de um único indivíduo para instigar outros a pecar, e quão poderosa é a influência da calúnia! Por causa da incitação de Côrach, na manhã seguinte o povo inteiro seguiu-o à entrada do Santuário. Quando Côrach e seus duzentos e cinquenta seguidores apareceram perante o Santuário de manhã, o povo inteiro estava presente. A alegação de Côrach que sua disputa era para o bem da comunidade foi convincente o suficiente a ponto de ninguém elevar a voz em protesto. Algumas pessoas começaram a acreditar que, afinal, deve haver alguma veracidade nas reivindicações de Côrach. Talvez D’us concordasse em restabelecer a kehuná aos primogênitos?!

Moshê e Aharon estavam de pé de um lado da entrada do Santuário, e Côrach e seus duzentos e cinquenta seguidores do outro. Seguravam recipientes similares a frigideiras doadas por Côrach. Era tão rico que seu aparato doméstico continha 250 frigideiras em perfeito estado, que distribuiu entre os seguidores.

A Shechiná apareceu na Nuvem da Glória à entrada do Santuário, e o Todo Poderoso ordenou a Moshê e Aharon: “Separem-se do resto do povo, e Eu os consumirei num instante.”

O Todo Poderoso entristeceu-se com todos os judeus, pois não protestaram contra Côrach. Lançando dúvidas acerca da veracidade das palavras de Moshê, D’us considerou os judeus como se tivessem eles mesmos O atacado.

Moshê e Aharon prostraram-se sobre suas faces e imploraram para que D’us poupasse os judeus. Argumentaram: “D’us, você conhece a mente de cada indivíduo. Um rei humano talvez tenha de aniquilar todos os seus súditos, mesmo se apenas alguns se rebelaram contra ele, pois não pode distinguir o culpado do inocente. Você, contudo, sabe que os judeus não se rebelaram contra Você; eles vieram aqui meramente porque Côrach persuadiu-os. Somente Côrach rebelou-se contra Você.”

D’us respondeu: “Sua oração foi aceita. Devo agir com Misericórdia com o povo. Apenas Côrach, Datan, Aviram e suas famílias serão destruídos. Ordene ao povo que se distanciem das tendas destes homens perversos, e que não toquem em nada que lhes pertence.

Ouvindo o decreto de D’us, Moshê tentou falar com Datan e Aviram a fim de poupá-los da destruição.

Seguido pelos Setenta Anciãos, Moshê em pessoa caminhou em direção às tendas de Datan e Aviram. Estava certo de que receberiam o líder do povo respeitosamente.

Entretanto, esses perversos recusaram-se a aparecer à entrada de suas tendas para falar com ele.

Por conseguinte, Moshê instruiu os judeus de acordo com as instruções de D’us: “Afastem-se das tendas desses perversos e não toquem em nada que lhes pertença, caso contrário, vocês mesmos serão destruídos por causa de seus pecados.”

Quando Datan e Aviram viram que os judeus afastavam-se de suas tendas, finalmente apareceram à entrada, e junto com as esposas cobriram Moshê com uma saraivada de maldições e blasfêmias vis.

D’us aceita o pedido de Moshê e Côrach com seus seguidores são castigados de maneira sobrenatural

Moshê então dirigiu-se ao povo judeu: “Agora terão a prova de que agi por comando Divino ao indicar Aharon para Sumo-sacerdote, e Elitsafan líder de Kehat; e que todas as minhas palavras e ações são ditadas pelo Todo Poderoso.

“Se Datan, Aviram e Côrach falecerem como ocorre geralmente com as pessoas, de doença ou idade avançada em suas camas, e seus corpos forem trazidos para serem enterrados, a alegação de Côrach seria verdade. Eu estaria admitindo e professando que D’us não me enviara e que preenchi os altos cargos por minha própria escolha.” Moshê voltou-se a D’us e rezou: “Peço de Você, D’us, que puna esses perversos com uma morte única na história.”

“Moshê,” disse D’us, “o que quer que Eu faça?” “Mestre do Universo,” rezou Moshê, “Peço-Lhe que realize um milagre. Mova a abertura do Inferno para sob seus pés, e que sejam transportados vivos para lá. Então ficará evidente a todos que eles blasfemaram contra D’us.”

Por que Moshê rezou para que Côrach, Datan e Aviram fossem exterminados por uma morte não natural? Por quê Moshê não pediu que D’us salvasse suas vidas, como fazia sempre com os judeus que pecavam? Por que Moshê, que geralmente anseia por misericórdia para os pecadores, neste caso implorou ativamente ao Todo Poderoso que puna Côrach e seus seguidores com morte imediata e diferente?

Após examinar o paciente, o médico disse: “A radiografia mostra que o estado de sua perna é muito grave. Se nada for feito, a doença se espalhará por todo o corpo. Por isso, a perna tem de ser amputada. É trágico, mas a operação salvará sua vida.”

Côrach alegou que algumas das proclamações de Moshê não eram de origem Divina, porém palavras dele própria. Se esses difamadores ficassem impunes mesmo que por pouco tempo, sua apostasia teria se espalhado pelo resto do povo e os judeus seriam influenciados por eles. Assim como o doente da parábola salvou-se porque teve a perna amputada, os judeus foram salvos da destruição por causa da punição do grupo de Côrach. Nossa crença na Divindade da Torá baseia-se sobre o fato histórico da revelação de D’us no Monte Sinai ante os olhos do povo inteiro, e sobre a indicação de Moshê como Seu agente Divino.

Negando algumas declarações de Moshê (enquanto Moshê ainda estava vivo), Côrach e seus seguidores colocaram em dúvida a origem Divina da Torá inteira. Outros poderiam seguir seu exemplo desafiando outras partes da Torá, e eventualmente a veracidade da Torá inteira poderia ser questionável. Gerações sucessoras com certeza duvidariam da autenticidade da Torá, argumentando: “Mesmo na geração de Moshê havia os que duvidavam da autenticidade da Torá. Como podemos, hoje, ter certeza de quem tinha razão, Moshê ou Côrach?”

Assim, Moshê rezou a D’us: “Mestre do Universo, se esses homens tivessem meramente atacado a mim e meu irmão, permaneceria em silêncio. Contudo, não posso permanecer em silêncio quando a honra da Torá está em perigo.” Por isso, pediu ao Todo Poderoso que fizesse uma demonstração única ao punir esses homens.

Enquanto Moshê rezava para D’us, o sol e a lua ameaçaram: “Se Você não responder a prece de Moshê, não iluminaremos mais o mundo. Fomos criados para iluminar, e assim os israelitas poderem cumprir a Torá. Côrach e seus seguidores atacaram a Torá, colocando a existência do mundo em perigo.”

D’us fez o milagre que Moshê pediu. Na verdade, isto não foi um milagre novo. Durante os seis dias da Criação D’us já havia preparado a abertura da terra, que tragaria Côrach e seus seguidores.

No mesmo instante em que Moshê terminou a sua oração D’us realizou seu pedido. Realizou um milagre espetacular, que claramente expôs Côrach e sua súcia como mentirosos.

A terra se abriu, alargando-se gradualmente onde as tendas de Côrach, Datan e Aviram estavam. Com uma potente sucção, puxou-os e à suas famílias para baixo, junto com as tendas e todos os seus pertences.

Não restaram traços desses perversos.

Tudo o que possuíam foi magneticamente tragado pelo abismo; mesmo se as roupas de alguém estivessem sendo lavadas ou tivesse emprestado algum pequeno artigo a outro judeu, como uma agulha, foi sugado pelo abismo e desapareceu. Mesmo se os nomes de Côrach, Datan ou Aviram estivessem inscritos em algum documento, a escrita desaparecia milagrosamente.

A fortuna de Côrach, que possibilitou-lhe criar uma revolta contra Moshê, ficou perdida para sempre. (Ele nem ao menos mereceu que outros judeus realizassem boas ações com ela.)

Conforme Moshê pedira, o Todo Poderoso abriu o Inferno no fundo do abismo e transportou-os para lá vivos. Enquanto estavam afundando, os judeus ouviram-nos confessar em voz alta: “D’us é virtuoso; D’us é justo, Seu julgamento é verdadeiro; as palavras de Seu servo Moshê são verdade; e somos perversos por termos nos rebelado contra ele.”

Rabá bar Chana contou: “Certa vez, enquanto estava viajando, encontrei-me com um árabe (Eliyahu o profeta, disfarçado de árabe) que me perguntou: ‘Devo te mostrar o local onde Côrach e seus seguidores foram engolidos pela terra?’

“Levou-me a duas aberturas no solo, de onde vi fumaça erguer-se. Trouxe um pedaço de algodão úmido, atou-o à ponta de uma lança e inseriu-a na terra. Ao tirar a lança, o algodão estava queimado.

“Agora ouça com atenção,” disse o árabe.

“Das profundezas, discerni as palavras: ‘Moshê é verdadeiro e sua Torá é verdade!’ Era a confissão dos perversos que, depois da morte, precisaram reconhecer a verdade.”

Temos agora a reação do restante do povo de Israel: “E todo o Israel, que estava ao redor deles, fugiu ao clamor deles; porque diziam: Para que não nos trague a terra também a nós. Então saiu fogo do IHVH, e consumiu os duzentos e cinqüenta homens que ofereciam o incenso” (Nm 16:34-35). O restante do povo que estava em redor da tenda de Core fugiu assustado com aquilo que viu! Mas o juízo atingiu também aos homens que estavam com os incensários nas mãos e que acompanhavam Coré em sua rebelião. O Eterno – IHVH – agora se torna a morte para aqueles homens que são literalmente “consumidos” pelo fogo do Eterno que os mata a todos!

Agora o Eterno dá instruções a Moshe com respeito aos incensários que restaram da tragédia. “E falou o IHVH a Moshe, dizendo: Dize a Eleazar, filho de Aharon, o sacerdote, que tome os incensários do meio do incêndio, e espalhe o fogo longe, porque santos são; quanto aos incensários daqueles que pecaram contra as suas almas, deles se façam folhas estendidas para cobertura do altar; porquanto os trouxeram perante o IHVH; pelo que santos são; e serão por sinal aos filhos de Israel. E Eleazar, o sacerdote, tomou os incensários de metal, que trouxeram aqueles que foram queimados, e os estenderam em folhas para cobertura do altar, por memorial para os filhos de Israel, que nenhum estranho, que não for da descendência de Aharon, se chegue para acender incenso perante o IHVH; para que não seja como Coré e a sua congregação, como o IHVH lhe tinha dito por intermédio de Moshe” (Nm 16:36-40). Os incensários foram todos recolhidos porque eles representavam a vida de oração que aqueles homens levavam. Agora eles foram usados para revestir o altar, pois o altar é o primeiro lugar onde iniciamos o processo de comunhão com o Eterno e como a comunhão deles era ilegítima, então o altar é revestido como um sinal de que homens com propósitos malignos não podem ter comunhão com o Altíssimo e são consumidos! A eles não foi permitido ministrar ao Senhor; porém os incensários são santos e devem ainda ser aproveitados.

Aqueles que foram salvos da destruição

  • Os filhos de Côrach

Quando Côrach foi tragado pelo abismo, seus três filhos, Assir, Elcana e Aviassaf também rolaram para baixo. Contudo, não foram arrastados às profundezas do Inferno, mas milagrosamente foram descansar sobre elevadas plataformas que o Todo Poderoso ergueu para eles, desta forma, permaneceram vivos. Os filhos de Côrach estavam entre os leviyim que, mais tarde, cantaram no Templo Sagrado.

Por qual mérito sobreviveram?

Em seus corações, os filhos de Côrach estavam cientes da verdade.

Moshê foi visitar Côrach em sua tenda, enquanto a família estava sentada à mesa, pensaram: “Se nos levantarmos para Moshê, ofenderemos nosso pai. Por outro lado, se ficarmos sentados, transgrediremos a mitsvá de levantar-se perante um Sábio. Não devemos violar o mandamento da Torá, mesmo se nosso pai ficar enraivecido.” Por isso, levantaram-se em honra a Moshê.

Quando a destruição de Côrach e seus seguidores começou, os filhos de Côrach fizeram teshuvá em seus corações. Ao testemunharem a terra se abrindo e engolindo seu pai e seguidores, ficaram paralisados de medo, e incapazes de confessar seus pecados oralmente. O Todo Poderoso, contudo, Que conhece os pensamentos da pessoa, viu que mudaram de idéia. Por isso, Ele lhes permitiu sobreviver.

O versículo diz: “Para o Condutor, sobre rosas, para os filhos de Côrach, um cântico de afeto.” (Tehilim 45:1). Por que denomina os filhos de Côrach “rosas”?

Pessoas que os viram costumavam dizer: “São ‘espinhos’, exatamente como seu pai.”

Na hora da destruição, todavia, D’us protegeu as rosas de serem queimadas junto com os espinhos.

Os filhos de Côrach compuseram diversos salmos no Livro dos Salmos, dentre esses um que descreve como foram quase confinados ao Inferno: “Minha vida foi arrastada próxima ao inferno, fui ostracisado junto com os que desceram ao fundo do poço…” (Tehilim 88:4-5).

No capítulo 49, eles apelam a toda a humanidade que aprenda a lição moral do destino de seu pai:

“Os que se fiam em suas forças e de suas riquezas imensas se vangloriam, nem mesmo a seus irmãos podem eles redimir, nem a D’us oferecer resgate por sua morte. Não inveje nem tema ao homem que enriquece e alcança glórias pois, ao morrer, nem sua glória nem nada mais levará consigo. O homem que se engrandece e não tem entendimento para seguir as sendas traçadas por D’us, parecem-se com os animais que perecem e não deixam sequer lembrança.”

  • On

Outro seguidor de Côrach, On, também escapou da morte. Era membro da tribo de Reuven, vizinho da família de Côrach, e, como tal, participou da rebelião. Ao voltar para casa da primeira reunião, contou à esposa que estava tomando parte numa rebelião. Ela argumentou: “O que você ganha com isso? Sua posição será a mesma, quer Aharon quer Côrach seja o Sumo-sacerdote.” Reconheceu a lógica de suas palavras, mas explicou que já não podia mais desligar-se do partido de Côrach, uma vez que jurara oferecer incenso na manhã seguinte.

“Não se preocupe” – disse a esposa – “cuidarei disso.” Naquela noite, a esposa de On misturou um vinho muito forte à sua bebida. On caiu imediatamente num sono muito pesado. Enquanto isso, sua esposa sentou-se à entrada da tenda, e fez algo que nenhuma esposa judia faria: descobriu seus cabelos.

Logo chegaram os mensageiros de Côrach para chamar On para a reunião. Porém, viram a esposa de On, com os cabelos descobertos! Deram meia-volta e foram embora.

Côrach enviou outros mensageiros. Eles também não se aproximaram da mulher de On. Os mensageiros iam e voltavam. Assim, On nunca apareceu ante o Santuário.

Côrach falou bem ao descrever os judeus como uma “congregação sagrada em meio a qual está a Shechiná.” O nível de recato da Torá era aceito pela geração inteira. Era lógico e natural que nem mesmo os mensageiros de Côrach se dirigissem a uma mulher casada cujos cabelos estivessem descobertos.

Quando a morte golpeou os perversos, a cama onde On dormia começou a escorregar em direção ao abismo. A esposa de On agarrou a ponta e rezou: “Mestre do Universo, On desligou-se da corja de Côrach. Ele jurou em Seu Grande Nome que não é seguidor de Côrach. Se alguma vez violar sua palavra, então Você poderá puni-lo.”

On foi poupado, e logo sua esposa censurou-o: “Agora, vá a Moshê e peça desculpas!”

“Estou envergonhado demais para encará-lo,” replicou On.

A esposa de On, então, foi a Moshê, soluçando amargamente e relatando o que acontecera a seu marido.

Ao receber o relato, Moshê caminhou até a tenda de On e falou com ele de maneira encorajadora, dizendo: “Saia! Que o Todo Poderoso o perdoe!” Pelo resto de sua vida, On não parou de lamentar-se e fazer teshuvá por uma vez ter ficado ao lado de Côrach. Seu nome indica isso:

On – ele estava em estado de luto (oninut – luto).

Filho de Pelet – um filho (homem) que foi resgatado da destruição através de um milagre (Pelet refere-se a Pele – milagre). “A sábia entre as mulheres constrói sua casa.” (Mishlê 9:1)

O versículo refere-se à esposa de On, cuja sabedoria resgatou seu lar da destruição. “Mas a mulher perversa o demole com suas próprias mãos.” Refere-se à esposa de Côrach, que arruinou seu marido e todo o seu lar. Quando se trata de assuntos práticos, o marido deve ouvir os conselhos da esposa.

       Mas parece que o povo mesmo assim não aprendeu a lição! “Mas no dia seguinte toda a congregação dos filhos de Israel murmurou contra Moshe e contra Aharon, dizendo: Vós matastes o povo do IHVH. E aconteceu que, ajuntando-se a congregação contra Moshe e Aharon, e virando-se para a tenda da congregação, eis que a nuvem a cobriu, e a glória do IHVH apareceu. Vieram, pois, Moshe e Aharon perante a tenda da congregação. Então falou o IHVH a Moshe, dizendo: Levantai-vos do meio desta congregação, e a consumirei num momento; então se prostraram sobre os seus rostos, e disse Moshe a Aharon: Toma o teu incensário, e põe nele fogo do altar, e deita incenso sobre ele, e vai depressa à congregação, e faze expiação por eles; porque grande indignação saiu de diante do IHVH; já começou a praga. E tomou-o Aharon, como Moshe tinha falado, e correu ao meio da congregação; e eis que já a praga havia começado entre o povo; e deitou incenso nele, e fez expiação pelo povo. E estava em pé entre os mortos e os vivos; e cessou a praga. E os que morreram daquela praga foram catorze mil e setecentos, fora os que morreram pela causa de Coré. E voltou Aharon a Moshe à porta da tenda da congregação; e cessou a praga” (Nm 16:41-50). A palavra “murmurar” vêm do termo hebraico lûn que significa “murmurar, rebelar-se”. Esta palavra deixa claro que o espírito que operara através de Coré estava ainda em atividade no meio da congregação. Agora o povo acusa Moshe e Aharon de terem “matado o povo do IHVH”. É interessante que este “povo do IHVH” foi morto pelo próprio Senhor como um sinal de que eles não pertenciam ao Senhor e mesmo assim o povo novamente acusa-os de tê-los matado! A conseqüência desta nova rebelião – novamente uma atitude é tomada de forma a produzir morte entre o povo tal como aconteceu com há Satan! Novamente o Eterno diz a Moshe e Aharon que saiam do meio do povo para que Ele os mate; porém novamente Moshe intercede por eles a fim de preservá-los da mote. Mas algo já havia acontecido: “…e disse Moshe a Aharon: Toma o teu incensário, e põe nele fogo do altar, e deita incenso sobre ele, e vai depressa à congregação, e faze expiação por eles; porque grande indignação saiu de diante do IHVH; já começou a praga”. A palavra “indignação” vem do termo hebraico qatsap e significa “estar descontente, estar irado, exaltar-se”. Já a palavra “praga” vem do termo hebraico nagap e significa “golpe, praga, doença”. Esta palavra refere-se a um golpe físico ou um castigo que um suserano aplica em seu vassalo. O que aconteceu entre os israelitas foi que a atitude deles trouxe descontentamento ao Eterno que se tornou para eles a punição que necessitavam, pois no dia anterior já haviam presenciado a punição dada a Coré e aos seus seguidores, mas mesmo assim persistiram na atitude de rebelião contra o Eterno! Desta vez morreram 14.700 homens rebeldes; pois a sua rebeldia até então não era manifesta, mas estava escondida em seus corações! Novamente o que nos chama atenção é que toda a rebeldia tem como resultado final a morte!

Novamente o Eterno dá ao povo uma chance para que reconheçam a quem Ele tem delegado a autoridade para conduzir seu povo: “Então falou o IHVH a Moshe, dizendo: Fala aos filhos de Israel, e toma deles uma vara para cada casa paterna de todos os seus príncipes, segundo as casas de seus pais, doze varas; e escreverás o nome de cada um sobre a sua vara. Porém o nome de Aharon escreverás sobre a vara de Levi; porque cada cabeça da casa de seus pais terá uma vara. E as porás na tenda da congregação, perante o testemunho, onde eu virei a vós. E será que a vara do homem que eu tiver escolhido florescerá; assim farei cessar as murmurações dos filhos de Israel contra mim, com que murmuram contra vós. Falou, pois, Moshe aos filhos de Israel; e todos os seus príncipes deram-lhe cada um uma vara, para cada príncipe uma vara, segundo as casas de seus pais, doze varas; e a vara de Aharon estava entre as deles. E Moshe pôs estas varas perante o IHVH na tenda do testemunho. Sucedeu, pois, que no dia seguinte Moshe entrou na tenda do testemunho, e eis que a vara de Aharon, pela casa de Levi, florescia; porque produzira flores e brotara renovos e dera amêndoas. Então Moshe tirou todas as varas de diante do IHVH a todos os filhos de Israel; e eles o viram, e tomaram cada um a sua vara. Então o IHVH disse a Moshe: Torna a pôr a vara de Aharon perante o testemunho, para que se guarde por sinal para os filhos rebeldes; assim farás acabar as suas murmurações contra mim, e não morrerão. E Moshe fez assim; como lhe ordenara o IHVH, assim fez. Então falaram os filhos de Israel a Moshe, dizendo: Eis aqui, nós expiramos, perecemos, nós todos perecemos. Todo aquele que se aproximar do tabernáculo do Senhor, morrerá; seremos pois todos consumidos?” (Nm 17:1-13). Agora o Eterno dá ao povo mais uma “chance” para que se convençam sobre seu desejo acerca de seus líderes. O Eterno ordena que as “varas” de todos os príncipes de Israel sejam postos diante d´Ele. A palavra “varas” vem do termo hebraico mateh e significa “vara, bordão, bastão, haste, tribo”. Ela representa a autoridade que foi delegada a seu possuidor. O poder – unção – estava realmente na vara de cada um que a possui, como no caso de Moshe! Estas varas foram colocadas na tenda da congregação – no Santo dos Santos – onde o Eterno aparecia e ali ele certamente comprovaria quem – de que tribo – fora o escolhido pelo Eterno.

A vara – autoridade – de Aharon floresce e brota emitindo folhas e frutos! Mesmo contra a “vontade” dos descontentes a vara que floresce é justamente a daquele homem a quem o Eterno já havia delegado o sacerdócio! Não há qualquer mudança nos planos do Eterno quanto àquilo que Ele já havia dito. Sua palavra permanece firme e seus propósitos não puderam ser abalados pelo descontentamento de alguns dos israelitas que não concordavam com Sua decisão. E o mais interessante aqui é que o bordão de Aharon deu amêndoas! Nós sabemos que a amendoeira é a primeira árvore a despertar na primavera e é também o símbolo da vigilância sobre a Palavra. Em Jeremias 1.12 está escrito assim sobre a amendoeira: “… viste bem, porque eu velo pela minha palavra para a cumprir”. Isso significa apenas e tão somente que o Eterno está confirmando a Sua palavra anteriormente dita aos israelitas! Agora o bordão de Aharon ficaria para sempre no Santos dos Santos – diante do Eterno – dentro da arca da aliança!

Surge então a questão: os israelitas agora perguntam se serão ou não consumidos pois se achegaram ao tabernáculo do Senhor. A instrução do Eterno é a seguinte: “Então disse o IHVH a Aharon: Tu, e teus filhos, e a casa de teu pai contigo, levareis sobre vós a iniqüidade do santuário; e tu e teus filhos contigo levareis sobre vós a iniqüidade do vosso sacerdócio. E também farás chegar contigo a teus irmãos, a tribo de Levi, a tribo de teu pai, para que se ajuntem a ti, e te sirvam; mas tu e teus filhos contigo estareis perante a tenda do testemunho. E eles cumprirão as tuas ordens e terão o encargo de toda a tenda; mas não se chegarão aos utensílios do santuário, nem ao altar, para que não morram, tanto eles como vós. Mas se ajuntarão a ti, e farão o serviço da tenda da congregação em todo o ministério da tenda; e o estranho não se chegará a vós. Vós, pois, fareis o serviço do santuário e o serviço do altar; para que não haja outra vez furor sobre os filhos de Israel. E eu, eis que tenho tomado vossos irmãos, os levitas, do meio dos filhos de Israel; são dados a vós em dádiva pelo IHVH, para que sirvam ao ministério da tenda da congregação. Mas tu e teus filhos contigo cumprireis o vosso sacerdócio no tocante a tudo o que é do altar, e a tudo o que está dentro do véu, nisso servireis; eu vos tenho dado o vosso sacerdócio em dádiva ministerial e o estranho que se chegar morrerá” (Nm 18:1-7). O Eterno informa a Aharon que ele e seus filhos “levariam a iniqüidade” do santuário e do sacerdócio e que tomariam os levitas novamente para serem seus assistentes no serviço do tabernáculo. Mas naquilo que diz respeito ao sacerdócio não haveria qualquer mudança: se um estranho se chegasse para cumprir o ministério ele então morreria, pois o ministrar ao Senhor foi dado somente aos chamados e confirmados para tal função!

Agora teremos as instruções quanto ao sustento dos sacerdotes: “Disse mais o IHVH a Aharon: Eis que eu te tenho dado a guarda das minhas ofertas alçadas, com todas as coisas santas dos filhos de Israel; por causa da unção as tenho dado a ti e a teus filhos por estatuto perpétuo. Isto terás das coisas santíssimas do fogo; todas as suas ofertas com todas as suas ofertas de alimentos, e com todas as suas expiações pelo pecado, e com todas as suas expiações pela culpa, que me apresentarão; serão coisas santíssimas para ti e para teus filhos. No lugar santíssimo as comerás; todo o homem a comerá; santas serão para ti. Também isto será teu: a oferta alçada dos seus dons com todas as ofertas movidas dos filhos de Israel; a ti, a teus filhos, e a tuas filhas contigo, as tenho dado por estatuto perpétuo; todo o que estiver limpo na tua casa, delas comerá. Todo o melhor do azeite, e todo o melhor do mosto e do grão, as suas primícias que derem ao IHVH, as tenho dado a ti. Os primeiros frutos de tudo que houver na terra, que trouxerem ao IHVH, serão teus; todo o que estiver limpo na tua casa os comerá. Toda a coisa consagrada em Israel será tua. Tudo que abrir a madre, e toda a carne que trouxerem ao Senhor, tanto de homens como de animais, será teu; porém os primogênitos dos homens resgatarás; também os primogênitos dos animais imundos resgatarás. Os que deles se houverem de resgatar resgatarás, da idade de um mês, segundo a tua avaliação, por cinco siclos de dinheiro, segundo o siclo do santuário, que é de vinte geras. Mas o primogênito de vaca, ou primogênito de ovelha, ou primogênito de cabra, não resgatarás, santos são; o seu sangue espargirás sobre o altar, e a sua gordura queimarás em oferta queimada de cheiro suave ao IHVH. E a carne deles será tua; assim como o peito da oferta de movimento, e o ombro direito, teus serão. Todas as ofertas alçadas das coisas santas, que os filhos de Israel oferecerem ao IHVH, tenho dado a ti, e a teus filhos e a tuas filhas contigo, por estatuto perpétuo; aliança perpétua de sal perante o IHVH é, para ti e para a tua descendência contigo” (Nm 18:8-19). Vejamos então o que deveria ser dado aos sacerdotes:

  1. aos sacerdotes fora dado a guarda das ofertas alçadas por causa da unção sacerdotal e isto é estatuto perpétuo (v. 8);
  2. daquilo que é oferecido no fogo, parte pertence aos sacerdotes (v. 9);
  3. das ofertas alçadas parte será também dos sacerdotes (v.11);
  4. o melhor do azeite, do vinho e do grão – primícias – serão dos sacerdotes (v. 12);
  5. os primeiros frutos de tudo (v. 13);
  6. tudo o que for consagrado (v.14);
  7. tudo o que nascer primeiro dos animais (v.15);
  8. a carne de determinados animais seria deles (v. 17, 18).

Isso nos mostra que o melhor daquilo que seria dado ao Eterno iria para os sacerdotes! Mas, porque tem de ser assim? A resposta vem a seguir: “Disse também o IHVH a Aharon: Na sua terra herança nenhuma terás, e no meio deles, nenhuma parte terás; eu sou a tua parte e a tua herança no meio dos filhos de Israel. E eis que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, pelo ministério que executam, o ministério da tenda da congregação” (Nm 18:20-21). Os sacerdotes não poderiam ter seu próprio negócio, mas viveriam daquilo que o povo ofertasse ao Senhor. Se o povo fosse fiel nos dízimos e ofertas, então os ministros teriam o necessário para viverem. Caso o contrário, eles passariam por necessidades, inclusive naquilo que é considerado como “básico”. Caso isso ocorresse, demonstraria que o povo não estava sendo correto em sua postura de obediência ao Eterno! Aquilo que o povo desse como ofertas e dízimos seriam para o sustento – salário – dos sacerdotes e levitas!

Temos também uma outra importante questão: a dos dízimos dos dízimos! “E falou o IHVH a Moshe, dizendo: Também falarás aos levitas, e dir-lhes-ás: Quando receberdes os dízimos dos filhos de Israel, que eu deles vos tenho dado por vossa herança, deles oferecereis uma oferta alçada ao IHVH, os dízimos dos dízimos. E contar-se-vos-á a vossa oferta alçada, como grão da eira, e como plenitude do lagar. Assim também oferecereis ao Senhor uma oferta alçada de todos os vossos dízimos, que receberdes dos filhos de Israel, e deles dareis a oferta alçada do IHVH a Aharon, o sacerdote. De todas as vossas dádivas oferecereis toda a oferta alçada do IHVH; de tudo o melhor deles, a sua santa parte. Dir-lhes-ás pois: Quando oferecerdes o melhor deles, como novidade da eira, e como novidade do lagar, se contará aos levitas. E o comereis em todo o lugar, vós e as vossas famílias, porque vosso galardão é pelo vosso ministério na tenda da congregação. Assim, não levareis sobre vós o pecado, quando deles oferecerdes o melhor; e não profanareis as coisas santas dos filhos de Israel, para que não morrais” (Nm 18:25-32). A questão do dízimos dos dízimos nos mostra que tanto o povo comum quanto a classe dos ministros deve dar os dízimos e ofertas! O princípio nos fala sobre exemplo e também a fidelidade de quem está liderando o povo. Quando isso acontece – os líderes agindo com fidelidade e obediência – então certamente o povo também receberá todos os benefícios da e seguirá o exemplo de seus líderes!

Que o Eterno nos ajude a sermos totalmente fiéis a Ele!

Mário Moreno.