Parasha Maase

Mário Moreno/ julho 13, 2018/ Parasha da semana

Maase

Partidas

Nm 33.1–36.13 / Jr 2:4-28; 3:4; 4:1-2 / Tg 4:1-12

        Na Parasha desta semana estaremos falando sobre as jornadas dos filhos de Israel e também sobre as atitudes que eles deveriam tomar para com aqueles cujas terras tomassem.

O texto tem início dizendo-nos o seguinte: “Estas são as jornadas dos filhos de Israel, que saíram da terra do Egito, segundo os seus exércitos, sob a direção de Moshe e Aharon. E escreveu Moshe as suas saídas, segundo as suas jornadas, conforme ao mandado do IHVH; e estas são as suas jornadas, segundo as suas saídas. Partiram, pois, de Ramessés no primeiro mês, no dia quinze do primeiro mês; no dia seguinte da páscoa saíram os filhos de Israel por alta mão, aos olhos de todos os egípcios, enquanto os egípcios enterravam os que o IHVH tinha ferido entre eles, a todo o primogênito, e havendo o IHVH executado juízos também contra os seus deuses” (Nm 33:1-4). A primeira coisa que percebemos aqui é que Moshe fará uma retrospectiva das jornadas do povo de Israel pelo deserto! Aqui a palavra “jornadas” vem do termo hebraico mahalak que significa “caminhada, jornada”. Outra informação diz respeito aos que “saíram da terra do Egito, segundo seus exércitos”. Essas pessoas já saíram do Egito como guerreiros que viriam a compor os exércitos de Israel. Aqui a palavra “exércitos” vem do termo hebraico tsaba’ e significa “guerra, exército”. Significa um amplo emprego no sentido de prestar serviço. É usado também com respeito aos levitas e seu trabalho na tenda da congregação. Um outro detalhe interessante é que a Tora considera que a caminhada do povo de Israel pelo deserto não foi um ato isolado, mas foi uma determinação do Eterno para que este povo fosse ali tratado! Inclusive os “guerreiros” são aqueles que serviriam para “defender” o povo quando o Eterno ordenasse que eles fizessem isso, e até mesmo os levitas eram considerados como “guerreiros” do Senhor – pelo menos a nível espiritual – enquanto serviam no Tabernáculo! Um outro aspecto interessante é que a roupa dos sacerdotes tem uma configuração semelhante à da armadura que Paulo descreve em Efésios 6!

Aqui Moshe registra – escreve – sobre estas jornadas no deserto! A palavra “escrever” vem do termo hebraico katab e significa “escrever, registrar, alistar”. Certamente que a intenção original de Moshe seria realmente a de fazer com que estes acontecimentos não se perdessem, ficando assim registrados para a posteridade tamanha a sua importância! Um outro detalhe muito importante é que estas “jornadas” aconteciam conforme ao “mandado do IHVH”. Aqui a palavra que define o Eterno é IHVH e isso significa que o Eterno estaria se tornando aquilo que seu povo necessitava d´Ele enquanto caminhava pelo deserto! Outro detalhe é que o relato nos informa que tal relato vem desde a saída do Egito, quando o Senhor – IHVH – feriu aos egípcios e fez Israel passar pelo Mar dos Juncos. A palavra “ferir” em hebraico vem do termo naka e significa “ferir, golpear, bater, atingir, abater, matar”. Pelo contexto sabemos que esta palavra nos fala sobre abater, matar, pois os egípcios tiveram de “enterrar” seus mortos após a passagem do povo por aquele local! E a palavra ainda nos fala sobre o juízo que o Senhor fez aos deuses egípcios. A primeira coisa a notarmos aqui é que a palavra Senhor é o tetragrama (IHVH)! Isso significa que o Eterno se tornou aquilo que os deuses egípcios precisavam que Ele se tornasse para eles: juízo! Inclusive, esta palavra “juízo” vem do termo hebraico shepet e significa “julgamento”; porém esta palavra aparece sempre no plural e tem o sentido de julgamento penal, ou seja, castigo! Os deuses egípcios – demônios – foram julgados pelo Eterno a fim de serem punidos e nada puderam fazer contra Ele! Com toda a sua força eles não puderam impedir que a manifestação do Eterno fosse detida e não os derrotasse!

Nesta passagem fica claro que é impossível deter as poderosas manifestações de juízo – castigo – que o Eterno lança contra os inimigos de seu povo! Quando o Eterno determina que isso acontecerá, ninguém então poderá deter o Senhor em seu intento!

Moshê e os locais do acampamento

D’us ordenou a Moshê: “Anote o nome de cada lugar onde Benê Israel acampou durante os 40 anos em que caminhou pelo deserto.”
O primeiro nome que Moshê escreveu foi “Ramsés.” Nesta cidade egípcia, Benê Israel havia se reunido para começar a jornada pelo deserto. De Ramsés, tinham seguido a um local no deserto chamado Sucot. Por que era chamado de Sucot? Está relacionado à palavra Lechassot, cobrir, porque em Sucot, D’us cobriu Benê Israel com as nuvens da glória.

Moshê continuou a anotar o nome de cada lugar onde Benê Israel tinha acampado. A lista completa abrangia 42 locais, terminando com “as planícies de Moav.”

Por que D’us desejava estes nomes registrados na Torah

Por que D’us pediu a Moshê que listasse todas as paradas feitas por Benê Israel? Que interesse poderiam ter para as futuras gerações?

Eis aqui algumas respostas:

  1. Após o pecado dos espiões, D’us puniu a geração de Moshê com quarenta anos vagando pelo deserto. Poderíamos pensar que D’us forçou os judeus a vagar constantemente. Por isso D’us disse a Moshê que registrasse todos os locais em que acamparam, para nos mostrar que Benê Israel frequentemente acampava e descansava. Repousaram em 14 locais antes que pecassem com os espiões. Desconte estes da lista total de 42 locais. Teremos então que, após o decreto de D’us e permanecer no deserto por 40 anos, eles passaram por apenas 28 lugares. Destes 28, subtraímos outros 8 lugares pelos quais Benê Israel viajaram no quadragésimo ano, após a morte de Aharon. (Estes oito não faziam parte de suas caminhadas; pelo contrário, foram erros de Benê Israel). Após a morte de Aharon, estavam tão temerosos dos ataques inimigos que retrocederam oito paradas.)
    Assim, restam 20 lugares, nos quais acamparam durante um período de 38 anos. (O pecado dos espiões ocorreu no segundo ano.) Em outras palavras, os judeus puderam parar e descansar, em média, dois anos em cada local.

Desta forma percebemos que quando D’us decreta uma punição, Ele o faz com misericórdia. Ao lermos na Torah esta lista de locais entendemos melhor isso. Sabemos também que os judeus de nada sentiam falta, enquanto viajavam pelo deserto. D’us lhes fornecia o maná, água do Poço de Miriam, além de rodeá-los com nuvens de glória.

Os tsadikim entre Benê Israel nunca tiveram que “vagar.” Como viajavam?

As nuvens de glória que se espalhavam sob Benê Israel os carregavam. Eram transportados por estas nuvens, sem nenhum esforço de sua parte.

2. Quando gerações posteriores de Benê Israel estivessem morando em Erets Israel, leriam a lista de locais de acampamento na Torah. Cada local foi assim denominado devido a algum evento que lá acontecera.

Por exemplo, um pai leria o nome do local: Dafca. Diria então aos filhos:
“Ouçam, crianças! Em Dafca, D’us fez cair o maná do céu para nossos antepassados! Eles estavam num deserto árido onde nada crescia, e ficaram preocupados. Onde conseguiriam alimento? Mas D’us lhes forneceu. Este local foi chamado Dafca porque os corações do Povo de Israel batem ansiosamente devido à falta de alimento.” (A tradução da palavra dofec é bater.)

E quando o pai pronunciasse o nome Ritma, diria aos filhos: “Este local foi chamado Ritma porque foi lá que os espiões falaram lashon hará sobre Erets Israel.”

Lashon hará é comparado à madeira da piaçava (Ritma). Por que?

O Midrash explica:

A assombrosa qualidade da madeira da piaçava

Dois viajantes no deserto descansavam sob uma moita de piaçavas. Cortaram alguns dos galhos, e prepararam um fogo para cozinhar sua comida.

Um ano depois, passaram pelo mesmo local novamente. “Olhe, este é o local onde paramos no ano passado!” um mostrou ao outro. “Vamos descansar aqui outra vez!”

Pisaram sobre as cinzas de sua antiga fogueira com os pés descalços, pois não tinham sapatos. De repente, sentiram os pés chamuscados! Os carvões da piaçava ainda estavam quentes por dentro, embora não se pudesse imaginar isso apenas os olhando.

“Como é fantástica esta madeira de piaçava! Ainda está incandescente após um ano inteiro!” observou um deles.

Agora podemos entender por que nossos sábios comparavam lashon hará à madeira da piaçava. Se alguém dá ouvidos ao lashon hará sobre outra pessoa, pode aparentemente esquecer. Mas enraizado em sua mente, o lashon hará ainda “continua incandescente”; seu efeito perverso perdura por muito tempo.

Como os espiões haviam falado lashon hará, e Benê Israel o tinham aceitado, este local foi chamado “Ritma”, lembrando-nos da madeira da piaçava.

Destes exemplos, vemos que o nome de cada local de acampamento é importante. Toda vez que um judeu o ler, lembrará das maravilhas que D’us ali realizou, ou algum incidente ocorrido com Benê Israel.

3. O Midrash oferece uma outra razão:

Estes locais merecem uma menção honrosa porque acomodaram os judeus durante suas caminhadas. Foram honrados, embora lugares não tenham vontade própria.

Isto nos ensina a grande recompensa da hospitalidade. Se um judeu, por livre escolha, abre sua casa a alguém que precisa de alimento e um local para dormir, muito mais D’us o honrará!

Moshe faz um relato sobre os lugares por onde eles haviam passado e termina com estas palavras: “Fala aos filhos de Israel, e dize-lhes: Quando houverdes passado o Jordão para a terra de Canaã, lançareis fora todos os moradores da terra de diante de vós, e destruireis todas as suas pinturas; também destruireis todas as suas imagens de fundição, e desfareis todos os seus altos; e tomareis a terra em possessão, e nela habitareis; porquanto vos tenho dado esta terra, para possuí-la. E por sortes herdareis a terra, segundo as vossas famílias; aos muitos multiplicareis a herança, e aos poucos diminuireis a herança; conforme a sorte sair a alguém, ali a possuirá; segundo as tribos de vossos pais recebereis as heranças. Mas se não lançardes fora os moradores da terra de diante de vós, então os que deixardes ficar vos serão por espinhos nos vossos olhos, e por aguilhões nas vossas virilhas, e apertar-vos-ão na terra em que habitardes, e será que farei a vós como pensei fazer-lhes a eles” (Nm 33:51-56). A ordem foi muito clara aos filhos de Israel: lançar fora os moradores da terra! A palavra “lançar” em hebraico é yarash e significa “expulsar, lançar fora, desalojar, destruir, tornar pobre”. Tem o sentido de obter o controle de uma região mediante a conquista e expulsão de seus atuais moradores. Essa foi justamente a atitude do povo de Israel: eles expulsaram – e muitas vezes destruíram totalmente – os moradores de Canaã para se apossarem da terra que o Eterno lhes havia dado! Uma outra ordem – que acompanha a primeira – é que eles deviam destruir as pinturas e imagens de fundição que esses povos tinham como seus deuses. A palavra “pinturas” vem do termo hebraico maskit e significa “imagem, ídolo, figura, quadro, opinião, pensamento, idéia fantasiosa, imagem mental”. Essa palavra nos fala sobre algo abstrato que também se torna concreto; os conceitos, idéias, fantasias daquele povo algumas vezes tornam-se “quadros ou gravuras” que demonstram a sua inclinação para a exteriorização daquilo que é humano, sensual e maligno. Atualmente temos hoje muitas formas em que esta palavra é manifesta em nossa sociedade, pois temos out-doors, a televisão, a internet, os veículos formadores de conceitos e opiniões e que também tem a finalidade de influenciarem e prenderem a alma daqueles que os observam, gerando nestas pessoas a concupiscência e o desejo sensual!

Além disso existem os outros tipos de deuses, que são os massekâ. Esta palavra significa “imagem fundida”. Na antiguidade muitos ídolos e deuses eram feitos em metal e esta designação corresponde justamente à este tipo de estátua! Os israelitas deveriam destruir não somente os padrões de pensamentos que levavam as pessoas para tornarem-se cativas dos demônios, mas também a própria imagem expressa destes “deuses”. A ordem era ainda para que lês tomassem a terra “em possessão”. A palavra possessão vem do termo hebraico yarash e significa “tomar posse de, herdar, ocupar, apoderar-se de, ser herdeiro”. Esta “herança” viria através de sortes. A palavra “herança” usada neste texto vem do termo hebraico nahala e significa “herança, legado, possessão”. Tem o sentido de receber uma propriedade que faz parte de uma possessão permanente e é resultado de sucessão hereditária. Já o termo “sorte” vem da palavra gôral e significa “sorte, quinhão”. Fica muito claro pelo contexto que Israel deveria agora apoderar-se daquilo que já havia sido prometido aos seus ascendentes pelo próprio D-us! A herança de Israel fazia parte de uma sucessão de promessas que teve início em Abraão, quando o mesmo andou pela terra, pisou sobre ela, fazendo assim com que seus pés tocassem a promessa! Isso foi uma forma de “apossar-se” daquilo que o Eterno lhe havia prometido, ainda que ele mesmo não fosse herdar aquela terra e habitar nela, porém ele tinha a plena consciência de que era necessário que ele Abraão fizesse aquilo para que esta terra pudesse ser dada no futuro aos seus descendentes. Cada tribo receberia seu quinhão – parte – e nela habitaria segundo o número de pessoas de cada tribo!

Caso as ordens do Eterno não fossem obedecidas, as conseqüências seriam então sentidas por todo o povo. O Eterno afirma que se eles não subjugassem o inimigo eles seriam como espinhos em seus olhos. A palavra “espinho” vem do termo hebraico tsanin e significa “espinho, ferroada”. Esta palavra nos fala sobre a conseqüência em termos algo nos tentado “cegar” através de algo pontiagudo. E o relato termina com as palavras: “e será que farei a vós como pensei fazer-lhes a eles”. Caso houvesse desobediência o Eterno inverteria seus juízos, fazendo com que aquilo que deveria vir sobre os inimigos de Israel viesse sobre os próprios israelitas! O intento do Eterno seria de trazer o juízo a todos os que se levantassem sobre Israel e tentassem impedir a sua caminhada rumo à terra prometida!

Agora há uma descrição sobre os termos da terra que Israel herdaria e o Eterno dá ordens à Moshe para que ele então dê às nove tribos e meia aquilo que por sortes lhes caberá em herança. O texto nos informa o seguinte: “E Moshe deu ordem aos filhos de Israel, dizendo: Esta é a terra que herdareis por sorte, a qual o IHVH mandou dar às nove tribos e à meia tribo” (Nm 34:13). Aqui Moshe dá uma ordem aos filhos de Israel. A palavra “ordem” em hebraico vem do termo tsawâ e significa “ordenar, incumbir”. Já a palavra “dizendo” vem do termo hebraico amar´ e significa “ordenar”. As palavras usadas aqui nos informam sobre o que está acontecendo, pois em primeiro lugar é dada uma incumbência ao povo e isso tem o sentido de uma ordem que está relacionada com a criação, pois o termo amar´é amplamente usado na criação e tem o sentido de dar uma ordem para que algo exista! É justamente isso que acontecerá agora, pois a terra irá existir de forma plena para eles a partir deste momento! Novamente a palavra “terra” vem o termo erets que significa “terra, estado, mundo”. Também a palavra “herdareis” vem do termo hebraico nahala e significa “herança, legado, possessão”. Tem o sentido de receber uma propriedade que faz parte de uma possessão permanente e é resultado de sucessão hereditária. A terra ou o estado que estava diante deles seria agora devidamente partilhado entre eles como uma possessão que já lhes pertencia desde o tempo de Abraão! Esta herança foi ordenada pelo Senhor! A palavra Senhor é IHVH e isso significa que o Eterno estava se tornando a sua possessão – a terra que eles estavam recebendo – e agora eles estavam recebendo das mãos Daquele que estava se tornando a sua possessão!

O próximo capítulo tem início nos dizendo o seguinte: “Falou o IHVH a Moshe nas campinas de Moabe, junto ao Jordão na direção de Jericó, dizendo: Dá ordem aos filhos de Israel que, da herança da sua possessão, dêem cidades aos levitas, em que habitem; e também aos levitas dareis arrabaldes ao redor delas” (Nm 35:1-2). Agora é dito aos filhos de Israel que eles dêem aos levitas cidades para que eles habitem. Novamente a palavra “herança” em hebraico é nahala e significa “herança, legado, possessão”. Tem o sentido de receber uma propriedade que faz parte de uma possessão permanente e é resultado de sucessão hereditária. Isso lhes seria dado como possessão! Esta palavra “possessão” vem do termo hebraico ahuzzâ e significa “possessão, propriedade”. Esta possessão teria limites; a palavra “arrebaldes” vem do termo hebraico migrash e significa “arredores, coisas ou pessoas que foram postas para fora”. Isto significa que as cidades que deveriam ser dadas aos levitas teriam ao seu redor um espaço para que eles pudessem ter isso como parte da cidade.

O texto ainda nos diz: “E os arrabaldes das cidades, que dareis aos levitas, desde o muro da cidade para fora, serão de mil côvados em redor. E de fora da cidade, do lado do oriente, medireis dois mil côvados, e do lado do sul, dois mil côvados, e do lado do ocidente dois mil côvados, e do lado do norte dois mil côvados, e a cidade no meio; isto terão por arrabaldes das cidades. Das cidades, pois, que dareis aos levitas, haverá seis cidades de refúgio, as quais dareis para que o homicida ali se acolha; e, além destas, lhes dareis quarenta e duas cidades” (Nm 35:4-6). O termo da cidade é de mil cevados – o que dá um total de 500 metros ao redor de toda a cidade! Este espaço – juntamente com a cidade – seria considerado como área de refúgio e de segurança para aqueles que cometessem crimes de forma involuntária! A palavra “refúgio” em hebraico é maqlat e significa “refúgio, asilo”! Esta palavra nos mostra o que está acontecendo, pois a cidade teria certamente essa característica de abrigar refugiados e asilados que teriam cometidos algum crime involuntário.

As características destas cidades são as seguintes: “Fazei com que vos estejam à mão cidades que vos sirvam de cidades de refúgio, para que ali se acolha o homicida que ferir a alguma alma por engano. E estas cidades vos serão por refúgio do vingador do sangue; para que o homicida não morra, até que seja apresentado à congregação para julgamento” (Nm 35:11-12). As cidades abrigariam pessoas que houvessem ferido alguém por engano. A palavra nakâ significa “ferir, golpear, bater, atingir, abater, matar”. Já o termo nepesh vem do termo hebraico “alma, mente, pessoa, vida”. O texto não nos deixa qualquer dúvida de que este tipo de morte ou ferimento não é somente físico, pois a palavra nepesh nos fala também sobre algo imaterial e invisível, mas que pode ser ferido e danificado. Estas cidades não permitiriam que o vingador do sangue pudesse agir contra aquela pessoa. A palavra “vingador” vem do termo hebraico ga´al e significa “redimir, vingar, resgatar, livrar, cumprir o papel de resgatador”. O objetivo do vingador é certamente redimir aquele que foi ferido ou morto por aquela pessoa. A cidade é para que o homicida não morra! A palavra “morrer” vem do termo hebraico mût e significa “morrer, matar, mandar executar”. O objetivo é impedir uma matança indiscriminada sem que haja um julgamento justo por parte da congregação (tribunal) em Israel. A palavra “assembléia” vem do termo hebraico edâ e significa “assembléia, congregação, povo, enxame”. Esta palavra nos fala sobre uma parte dentro de um todo! Novamente vemos que este julgamento seria feito por um grupo especializado em Israel e que certamente não permitiria que houvesse um ato de injustiça contra o homicida.

As formas do homicídio são listadas a seguir: “Serão por refúgio estas seis cidades para os filhos de Israel, e para o estrangeiro, e para o que se hospedar no meio deles, para que ali se acolha aquele que matar a alguém por engano. Porém, se o ferir com instrumento de ferro e morrer, homicida é; certamente o homicida morrerá. Ou, se lhe ferir com uma pedrada, de que possa morrer, e morrer, homicida é; certamente o homicida morrerá. Ou, se o ferir com instrumento de pau que tiver na mão, de que possa morrer, e ele morrer, homicida é; certamente morrerá o homicida. O vingador do sangue matará o homicida; encontrando-o, matá-lo-á. Se também o empurrar com ódio, ou com mal intento lançar contra ele alguma coisa, e morrer; ou por inimizade o ferir com a sua mão, e morrer, certamente morrerá aquele que o ferir; homicida é; o vingador do sangue, encontrando o homicida, o matará. Porém, se o empurrar subitamente, sem inimizade, ou contra ele lançar algum instrumento sem intenção. Ou, sobre ele deixar cair alguma pedra sem o ver, de que possa morrer, e ele morrer, sem que fosse seu inimigo nem procurasse o seu mal; então a congregação julgará entre aquele que feriu e o vingador do sangue, segundo estas leis. E a congregação livrará o homicida da mão do vingador do sangue, e a congregação o fará voltar à cidade do seu refúgio, onde se tinha acolhido; e ali ficará até à morte do sumo sacerdote, a quem ungiram com o santo óleo” (Nm 35:15-25).

As categorias de “ferimento” são as seguintes:

  1. Ferir com instrumento de ferro;
  2. Ferir com uma pedrada;
  3. Ferir com pau;
  4. “Empurrar com ódio e lançar contra ele alguma coisa”
  5. Ferir com a mão – com inimizade.

Alguns termos precisam ser destacados aqui. A palavra ebâ significa “inimizade, ódio”. Significa ódio no qual se perpetrou uma ação hostil. Este tipo de sentimento é o resultado de uma situação gerada em algum momento de sua vida e que resultou numa postura de acúmulo de ira que foi se prolongando até se transformar no ódio e conseqüentemente em morte!

Novamente é dito que a “congregação” deverá julgar esta pessoa para não haver injustiça! A palavra edâ significa “assembléia, congregação, povo, enxame”. Esta palavra nos fala sobre uma parte dentro de um todo. Já a palavra “julgar” vem do termo hebraico shapat e significa “julgar, governar”. Não há qualquer sentimento de apenas matar uma pessoa sem que seja seguido um padrão de justiça e de governo que já foi estabelecido: a Torah! A congregação de Israel – o tribunal – certamente se utilizará de recursos e preceitos que estão inclusos na Torah para que a sentença seja dada de acordo com os padrões instituídos pelo Eterno!

Quanto à segurança do “homicida” é dito o seguinte: “E o vingador do sangue o achar fora dos limites da cidade de seu refúgio, e o matar, não será culpado do sangue. Pois o homicida deverá ficar na cidade do seu refúgio, até à morte do sumo sacerdote; mas, depois da morte do sumo sacerdote, o homicida voltará à terra da sua possessão. E estas coisas vos serão por estatuto de direito às vossas gerações, em todas as vossas habitações. Todo aquele que matar alguma pessoa, conforme depoimento de testemunhas, será morto; mas uma só testemunha não testemunhará contra alguém, para que morra” (Nm 35:27-30). A condição para que o homicida não seja morto pelo vingador é que ele permaneça dentro dos limites da cidade – dentro dos muros – pois se, por algum descuido, o vingador encontrar o homicida fora dos muros da cidade ele terá então toda a liberdade de mata-lo sem ser culpado do seu sangue!

Este tipo de postura deveria ser tido como um “estatuto de direito por vossas gerações”. A palavra “estatuto” vem do termo hebraico huqqâ e significa “estabelecimento (de uma lei), estatuto, ordenança, maneira”. Vem da raiz haqaq e significa “inscrever, entalhar”. Isto significa que esse procedimento deverá ser seguido de forma indefinida e não poderá ser desobedecida, pois é como se este procedimento fosse “entalhado” numa rocha a fim de ser preservado! O padrão para que alguém seja acusado é haver duas testemunhas contra o réu! Não poderá ser feita acusação contra ninguém sem que ajam duas testemunhas oculares do fato ocorrido! Do contrário tal ato não será considerado como “justo” diante do Senhor!

O capítulo termina com as seguintes informações: “E não recebereis resgate pela vida do homicida que é culpado de morte; pois certamente morrerá. Também não tomareis resgate por aquele que se acolher à sua cidade de refúgio, para tornar a habitar na terra, até à morte do sumo sacerdote. Assim não profanareis a terra em que estais; porque o sangue faz profanar a terra; e nenhuma expiação se fará pela terra por causa do sangue que nela se derramar, senão com o sangue daquele que o derramou. Não contaminareis pois a terra na qual vós habitais, no meio da qual eu habito; pois eu, o Senhor, habito no meio dos filhos de Israel” (Nm 35:31-34). O culpado de morte não deverá ser “resgatado” para ser poupado; isso também deverá ocorrer quanto ao homicida que se acolher numa cidade de refúgio. Este procedimento deverá ser adotado para que não haja contaminação ou profanação da terra! A palavra “profanação” vem do termo hebraico hanep e significa “ser (estar) maculado, contaminado, profanado, corrompido”. Esta palavra tem em sua raiz o termo honep que significa “hipócrita”. Isso demonstra que há uma estreita ligação entre a duplicidade de vida com um ato que produz contaminação e corrupção!

Sabemos que o hipócrita age em duplicidade com o intuito de esconder-se atrás de suas mentiras, através desta postura “dupla”. Esta pessoa não revela realmente quem é de fato! Esta postura em nada ajudará na santidade do povo de Israel, mas sim trará sobre a nação um juízo certamente desnecessário!

Novamente queremos dizer que a postura correta traz sobre a nação uma série de bênçãos e também o Eterno se transformaria na consumação de suas necessidades!

O término do livro nos fala sobre o pedido das filhas de Zelofeade quanto à sua herança. O procedimento a ser tomado será o seguinte: “Isto é o que o IHVH mandou acerca das filhas de Zelofeade, dizendo: Sejam por mulheres a quem bem parecer aos seus olhos, contanto que se casem na família da tribo de seu pai. Assim a herança dos filhos de Israel não passará de tribo em tribo; pois os filhos de Israel se chegarão cada um à herança da tribo de seus pais. E qualquer filha que herdar alguma herança das tribos dos filhos de Israel se casará com alguém da família da tribo de seu pai; para que os filhos de Israel possuam cada um a herança de seus pais. Assim a herança não passará de uma tribo a outra; pois as tribos dos filhos de Israel se chegarão cada uma à sua herança. Como o IHVH ordenara a Moshe, assim fizeram as filhas de Zelofeade. Pois Maalá, Tirza, Hogla, Milca e Noa, filhas de Zelofeade, se casaram com os filhos de seus tios. E elas casaram-se nas famílias dos filhos de Manassés, filho de José; assim a sua herança ficou na tribo da família de seu pai. Estes são os mandamentos e os juízos que mandou o IHVH através de Moshe aos filhos de Israel nas campinas de Moabe, junto ao Jordão, na direção de Jericó” (Nm 36:6-13).

Novamente percebemos que o Eterno determinará o padrão que será utilizado por Israel para que as heranças sejam divididas! As filhas de Zelofeade fazem sua reivindicação e esta fora tida como justa perante o Eterno. Agora o Eterno ordena que a elas seja dada a sua herança! A palavra aqui diz respeito à um padrão que não permitiria que a herança das tribos fosse pulverizada e dada à outras tribos em função de casamentos inter-tribais. A herança deveria ficar em possessão da tribo a que tinha sido outorgada! A palavra “herança” vem do termo hebraico nahala e significa “herança, legado, possessão”. Tem o sentido de receber uma propriedade que faz parte de uma possessão permanente e é resultado de sucessão hereditária. Não nos esqueçamos de quem está dando estas determinações: IHVH! Isso significa que o Eterno está se tornando a necessidade daquelas pessoas que precisam d´Ele e que lhe são obedientes!

Enquanto os israelitas permanecessem dentro de um padrão de obediência, o Eterno teria a preocupação em lhes atender e dar-lhes o necessário para que suas necessidades fossem atendidas e supridas.

Tal era a força desta palavra que o livro encerra-se assim: “. Estes são os mandamentos e os juízos que mandou o IHVH através de Moshe aos filhos de Israel nas campinas de Moabe, junto ao Jordão, na direção de Jericó”. A palavra “mandamentos” vem do termo hebraico mitswâ e significa “mandamento”. Esta palavra refere-se aos termos de um contrato; a instrução de um professor a seus alunos, as estipulações específicas da aliança! Além disso temos ainda a palavra “juízos” que vem do termo hebraico mishpat que significa “justiça, ordenança, costume, maneira”. Ou seja, estas determinações fazem parte dos termos do contrato assinado entre Israel e o Eterno e elas tem também a conotação de serem tidas como uma ordenança, algo costumeiro, corriqueiro, que deveria ser feito exatamente daquela forma para que não houvesse uma “quebra de cláusula” do contrato já assinado entre as partes!

Assim o Eterno estipulou que fossem feitas as coisas para com Israel a fim de que houvessem padrões justos e formas pré-estabelecidas para que cada situação que surgisse dentro do contexto nacional pudesse ser resolvida! Estas determinações certamente não englobam todas as situações, mas elas certamente nos fornecem uma padrão que nos permite termos uma linha mestra de ação quando surgir algo semelhante em nosso contexto!

Que o Eterno nos ajude a seguirmos seus padrões e também sermos fiéis para com suas determinações!

Baruch Há Shem!

Mário Moreno.

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