A oferta de Caim

Mário Moreno/ agosto 20, 2017/ Artigos

A oferta de Caim

Muito se tem dito sobre a oferta de Caim, mas vamos tentar demonstrar algo inusitado até agora, que é a conexão desta oferta com o fim dos dias e a Era Messiânica.

Bem, vamos ao nosso texto em questão: “E aconteceu no fim dos dias Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao IHVH” Gn 4.3.

Este texto nos mostra que Caim veio à presença do Eterno e deu algo para Ele e o texto afirma ser “o fruto da terra” e somente isso. A palavra usada para definir “oferta” vem do termo hebraico “mincha”. Mas, o que é mincha?

“Esta “oferta” é chamada de mincha (מִנְחָה) – “oferta de manjares”. O termo vem da raiz mnh, que significa “dar”. Remonta a outra raiz nhh, que significa “liderar”, “dirigir”. A palavra indica um presente dado aos superiores, especialmente aos reis, indicando uma atitude de respeito e submissão àquela pessoa.

Novamente percebemos que a oferta é feita ao Senhor. E outra vez aqui temos o tetragrama para traduzir o termo que define o Eterno!

A oferta poderia ser feita na forma de flor de farinha ou do cereal cru, o qual era tostado e esmagado, até virar farinha, e então ser transformado em pão ou bolos que eram assados no forno ou fritos no azeite. A flor de farinha vem do termo hebraico solet. Era o melhor grau de farinha, perfeitamente limpa de todo o farelo. Ela tinha de ser cuidadosamente catada – separada – para remover toda a impureza e só ficar a melhor farinha.

Shemem (שׁמֶן) e significa “óleo, especialmente o azeite de oliva”. Incenso fazia parte da minhã. A palavra “incenso” em hebraico é lebônâ (לְבֹנָֽה) “incenso”. A palavra vem da mesma raiz de: laben – “ser (estar) branco” e também de lebanâ – “tijolo”. Isso significa que quando nos achegamos com uma oferta de manjares ao Eterno devemos também ter orado antes – e também durante o período da oferta -, além de estarmos “brancos” [puros], pois ali estamos colocando mais um “tijolo” e construindo nossa vida espiritual!

O texto acima nos mostra que esta oferta não era dos “frutos da terra” e sim do cereal que deveria ser tostado e esmagado até virar farinha! E a oferta viria acompanhada de azeite e incenso!

Mas quando Caim deu a sua oferta, nada disso é mencionado! O que isso significa? Significa que o que foi feito por ele foi feito da forma errada e isso foi feito num momento da história do mundo que já apontava para a Era Messiânica.

Quando fazemos a comparação entre Caim e Hevel – Abel – notamos que as ofertas são diferentes em tudo, principalmente na forma como elas são feitas, o que aponta também para a sua motivação.

Na oferta de Hevel a oferta foi feita “dos primogênitos das ovelhas” e isso agradou ao Eterno por que ele sabia o valor da primogenitura e sabia também que os primogênitos seriam dados para o servirem os propósitos do Eterno!

Quando ele ofereceu os primogênitos de suas ovelhas ele ofereceu um “olâh” (עֹלָ֑ה) (holocausto) demonstra que há uma identificação entre o pecador e a oferta! É como se o pecador estivesse “transferindo” para a oferta tudo aquilo que está sobre a sua cabeça! O peso, as preocupações, a culpa, a opressão como que passam de um para o outro! Este ato é necessário para que o animal seja aceito a favor dele!”

Hevel entendeu quem ele era: pecador! A sua intenção era então pedir ao Eterno que ele fosse aceito através do sacrifício das ovelhas primogênitas do rebanho. Ele ofereceu aquilo que tinha de mais precioso por entender que o Eterno merece o melhor e por saber que quando se faz isso o retorne virá na mesma proporção.

Já Caim oferece algo que vem da terra – e aqui não está dito que eram as “primícias” e sim o “fruto da terra”. E sua oferta não foi vista com bons olhos pelo Eterno, pois ele praticou um ato de “desleixo” colocando frutas no altar de forma aleatória, pois este tipo de sacrifício era composto de outros elementos que não são citados no texto. Isso demonstra também a intenção de Caim ao fazer isso; sua oferta parece ter sido feita de forma a “cumprir um ritual”, pois já que seu irmão estava preparando algo, por que não fazer o mesmo?

Porém, seu coração de fato não desejava dar nada ao Eterno, por isso ele faz a oferta de qualquer forma e isso desagrada ao Eterno.

Certamente ambos tiveram o mesmo ensinamento da parte de Adam e sabiam como fazer e por que fazer uma oferta ao Eterno. Eles não foram obrigados a trazer uma oferta, mas caso desejassem fazê-lo então deveriam agir da forma correta e com a motivação pura, pois caso contrário não seriam aceitos!

Um outro detalhe muito importante aqui: esta “oferta” está ligada ao “fim dos dias”.

Mas o que significa isso? Vamos ver o sentido desta frase segundo a tradição judaica.

Qetz iamim” – fim dos dias. Definição de “qetz” – vem da raiz “qatsa” e significa “podar, cortar”.

Raízes:

“qatseh” – “fim, extremidade”;

“qatsu” – “fim, fronteira”.

O termo “Final dos Dias” é extraído de Bamidbar 24:14. Isso sempre foi usado com uma referência à Era Messiânica.

Esta terminologia aponta para um tempo em que o Mashiach virá para buscar seu povo e se revelar ao mundo.

Então podemos notar que nesta época em que o Mashiach está para vir – o fim dos dias, ou fim dos tempos – será uma época em que, além das características “normais” e dos sinais que apontam para este tempo teremos também um outro ingrediente que diferenciará as pessoas no serviço ao Eterno: suas ofertas e o resultado de suas vidas diante dos outros.

Você já viu pessoas que vão às igrejas ou congregações e que dão seus “dízimos e ofertas”, mas que suas vidas não “decolam”; continuam na mesma! Por que será que isso acontece, já que a promessa é para todos aqueles que obedecem?

O texto sobre o qual falamos nos mostra que há uma importância muito grande para o Eterno na forma como fazemos as coisas – e chamamos isso de “motivação” – pois se fizermos da forma correta então seremos aceitos pelo Eterno e também estaremos julgando aqueles que fazem de forma “incompleta” ou com outros tipos de motivação que não agradar ao Eterno!

O mais impressionante é que o Eterno “dá corda” para algumas pessoas e num dado momento Ele mesmo se encarrega de permitir que o Adversário toque na vida deste tipo de pessoa que está “centrada” na “terra”, ou seja, suas motivações são de ter um “reino” terrestre! Esta pessoa trabalha pensando sempre no seu crescimento e em seu próprio sucesso não importando o que faça para alcançar isso. E isso significa “fechar os olhos” para algumas situações que estão explícitas na Palavra que devemos obedecer!

Um outro detalhe é que quando estas pessoas vêm outros sendo “abençoados” sua reação é “falar mal” – matar com a língua – o irmão que é mais obediente! São comentários por vezes sutis que mostram que esta pessoa está totalmente descontente com aquilo que o irmão ao seu lado está vivendo! É um absurdo que aquele irmão viva numa “dimensão de milagres” e nada aconteça comigo! Eu sou tão fiel quanto ele!

Caim pensava desta mesma forma, mas sua atitude extrapolou em muito a de simplesmente “agredir” seu irmão com palavras… Ele passou das palavras para a liberação do ódio atacando seu irmão e matando-o.

Vamos pensar nisso: ninguém ataca a outrem por algo que aconteceu pela “primeira vez”. Há um padrão nestas pessoas que vão “guardando” em seu interior o rancor e o seu insucesso e sempre o atribuem ao outro, dizendo que o outro é culpado pelo seu fracasso.

Esta postura nos mostra que Caim já havia visto outras atitudes de Hevel e que agradaram ao Eterno, à sua família e isso fez com que ele tivesse raiva, que evolui para rancor, vindo depois o ódio e por fim a raiz de amargura que levou-o a agir de forma violenta, pois caso isso não acontecesse ele mesmo “morreria”, pois não suportaria mais ver o sucesso de seu irmão!

Esta atitude está ligada ao fim dos tempos e infelizmente vemos isso muito em nosso meio, pois há uma preocupação em se fazer aquilo que traga satisfação e não aquilo que pode agradar ao Eterno.

Há um mandamento que não é cumprido por nós: “Amarás pois o IHVH teu Elohim de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder” Dt 6.5. O verdadeiro amor não se preocupa com aquilo que nos trará satisfação própria; o verdadeiro amor simplesmente faz para agradar ao Seu Amado!

Quando vemos alguém que ama mais ao Eterno do que nós, devemos então ver neste bom exemplo algo que nos incentive a buscar mais ao Eterno e obedecê-lo de tal forma que sejamos tidos como filhos amados e desejosos de seremos transformados a cada dia mais buscando o padrão de Ieshua!

Caim e Hevel; duas vidas ligadas à era messiânica e que nos mostram que no fim dos tempos teremos sim condições de discernir quem ama ao Eterno e quem está em busca da “bênção”!

Desejamos nos alinhar com os padrões da Palavra e para isso queremos ter uma mente liberta para que possamos agir em consonância com nossos pensamentos e de tal forma que agrademos ao nosso Rei e Senhor, Ieshua!

Mário Moreno.

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