Shoftim
Shoftim
(Juízes)
Dt 16.18–21.9 / Is 51:12 – 52:12 / Mt 3:1-17
Nesta Parasha estaremos falando sobre outros aspectos da Torah que são “relembrados” ao povo de Israel nos momentos que antecedem sua entrada na Terra prometida. É enfatizado o aspecto do “juízo”, padrão que deveria ser seguido por eles até o fim dos tempos.
Vejamos então o que diz a Torah: “Juízes e oficiais porás em todas as tuas portas que o IHVH teu Elohim te der entre as tuas tribos, para que julguem o povo com juízo de justiça. Não torcerás o juízo, não farás acepção de pessoas, nem receberás peitas; porquanto a peita cega os olhos dos sábios, e perverte as palavras dos justos. A justiça, somente a justiça seguirás; para que vivas, e possuas em herança a terra que te dará o IHVH teu Elohim” (Dt 16:18-20). As portas – locais onde está a autoridade – deveriam ter shoftim (juízes) e também shoterim (funcionário, oficial). Os juízes deveriam julgar, governar o povo conforme as determinações da Torah. Eles eram considerados como autoridades quando a usavam legitimamente. Isso significa que sua autoridade provinha de algum lugar: a Torah. São duas “autoridades” que se completam e, unidas entre si, fazem com que os desejos do Eterno guiem o povo de forma justa, honesta e imparcial. Os “shoterim” eram provavelmente profundos conhecedores da Torah e também da escrita hebraica, pois na raiz de sua função está o termo sataru (acadiano – escrever), satara (árabe – escrever, governar), setara (aramaico-siríaco – documento). Isso deixa transparecer que tal pessoa não era simplesmente um “copista” da Torah, mas alguém que a conhecia e que também detinha um certo grau de autoridade. O exercício da autoridade deveria ser feito com “juízo de justiça”. Os termos em hebraico aqui são mishpat que significa “justiça, ordenança, costume, maneira”. Esta palavra nos informa que já há um padrão pré-estabelecido e este será utilizado a fim de que seja feita a “justiça”, que beste caso é a aplicação do padrão já ensinado no caso em vigência. Já a palavra “juízo” é tsedeq e significa “justiça, retidão”. Ou seja, é algo que está de conformidade com o padrão ético e moral do Eterno! Há aqui uma informação muito clara quanto ao procedimento: não seria permitido a eles “torcer” o padrão do Eterno, não fazer acepção de pessoas (privilegiar alguém em detrimento de outrem) e nem aceitar-se “presentes” – suborno – para o favorecimento de quem quer que seja. O Eterno diz que enquanto seguirmos seu padrão “viveremos” e possuiremos a terra em herança.
Outras determinações, também muito importantes são dadas a seguir: “Não plantarás nenhuma árvore junto ao altar do IHVH teu Elohim, que fizeres para ti. Nem levantarás imagem, a qual o IHVH teu Elohim odeia” (Dt 16:21-22). A determinação de “não plantar árvore junto ao altar” é feita para que haja uma diferença clara entre o Eterno e os demais deuses cultuados pelos pagãos. No culto pagão os altares eram feitos debaixo de árvores frondosas e ali eram oferecidos sacrifícios aos deuses pagãos. Havia também uma tradição na Escandinávia onde os sacrifícios eram feitos debaixo de árvores verdes e ali os “deuses” em gratidão deixavam dádivas para seus súditos. Esta tradição deu origem às árvores de natal. No hebraico temos algo ainda pior, pois a palavra para “árvore” é asherâ, que significa “Asera, poste-ídolo”! Isso significa que não deve haver uma “mistura” de cultos entre o Eterno – IHVH Elohim – e os outros deuses pagãos! Além disso o Eterno ordena que não se levante imagem, pois isso é para Ele algo detestável. Esta palavra “imagem” vem do termo hebraico matstsebah e significa “coluna; imagem em pé”. Ela seria comparada hoje a um “totem” que era feito pelos índios americanos, ou seja, é uma árvore toda esculpida que serve como objeto de adoração. Esse objeto foi chamado pelos egípcios de “obelisco”.
Quanto aos sacrifícios, eles teriam também um padrão ao serem oferecidos: “Não sacrificarás ao IHVH teu Elohim, boi ou gado miúdo em que haja defeito ou alguma coisa má; pois abominação é ao IHVH teu Elohim. Quando no meio de ti, em alguma das tuas portas que te dá o IHVH teu Elohim, se achar algum homem ou mulher que fizer mal aos olhos do IHVH teu Elohim, transgredindo a sua aliança, que se for, e servir a outros deuses, e se encurvar a eles ou ao sol, ou à lua, ou a todo o exército dos céus, o que eu não ordenei, e te for denunciado, e o ouvires; então bem o inquirirás; e eis que, sendo verdade, e certo que se fez tal abominação em Israel, então tirarás o homem ou a mulher que fez este malefício, às tuas portas, e apedrejarás o tal homem ou mulher, até que morra. Por boca de duas testemunhas, ou três testemunhas, será morto o que houver de morrer; por boca de uma só testemunha não morrerá. As mãos das testemunhas serão primeiro contra ele, para matá-lo; e depois as mãos de todo o povo; assim tirarás o mal do meio de ti” (Dt 17:1-7). Os sacrifícios deveriam ser feitos de acordo com o padrão dado pelo Eterno:
- o animal deveria ser de um ano
- sem defeito (perfeito)
- seria oferecido a IHVH Elohim (nunca à outro Elohim).
Já naquilo que diz respeito à transgressão da aliança – aqui naquilo que diz respeito à idolatria – a ação dos israelitas deveria ser assim:
- O pecado da idolatria precisaria ser confirmado – pelo próprio idólatra
- Ouvir os denunciantes
- Seria apedrejado às postas da cidade
- Isso somente poderia acontecer (apedrejamento) mediante testemunho de duas ou três pessoas que presenciaram o fato
- As testemunhas são as primeiras a atirar as pedras.
- Isso serviria para “tirar o mal do meio de Israel”.
Os juízos – julgamentos – por vezes podem tornar-se difíceis, dada a complexidade de alguns casos ou até mesmo a inexistência de testemunhas ou provas. Neste caso, eles deveriam agir assim: “Quando alguma coisa te for difícil demais em juízo, entre sangue e sangue, entre demanda e demanda, entre ferida e ferida, em questões de litígios nas tuas portas, então te levantarás, e subirás ao lugar que escolher o IHVH teu Elohim; e virás aos sacerdotes levitas, e ao juiz que houver naqueles dias, e inquirirás, e te anunciarão a sentença do juízo. E farás conforme ao mandado da palavra que te anunciarem no lugar que escolher o IHVH; e terás cuidado de fazer conforme a tudo o que te ensinarem. Conforme ao mandado da lei que te ensinarem, e conforme ao juízo que te disserem, farás; da palavra que te anunciarem te não desviarás, nem para a direita nem para a esquerda. O homem, pois, que se houver soberbamente, não dando ouvidos ao sacerdote, que está ali para servir ao IHVH teu Elohim, nem ao juiz, esse homem morrerá; e tirarás o mal de Israel; para que todo o povo o ouça, e tema, e nunca mais se ensoberbeça” (Dt 17:8-13). Temos aqui um caso interessante, pois quando os juízes “locais” não pudessem resolver uma demanda qualquer, esta deveria ser levada a Ierushalaim para ali, diante dos sacerdotes e do juiz local procurarem a solução. Esta palavra – que será considerada como “final – deverá ser obedecida e cumprida á risca. Caso isso não ocorra – a obediência à palavra – o transgressor deverá ser morto, pois buscou a solução do problema naquilo que é considerado como a “Suprema corte” em Israel e não obedeceu ao veredicto emitido por ela.
Agora temos já uma orientação quanto ao futuro rei de Israel. “Quando entrares na terra que te dá o IHVH teu Elohim, e a possuíres, e nela habitares, e disseres: Porei sobre mim um rei, assim como têm todas as nações que estão em redor de mim; porás certamente sobre ti como rei aquele que escolher o IHVH teu Elohim; dentre teus irmãos porás rei sobre ti; não poderás pôr homem estranho sobre ti, que não seja de teus irmãos. Porém ele não multiplicará para si cavalos, nem fará voltar o povo ao Egito para multiplicar cavalos; pois o IHVH vos tem dito: Nunca mais voltareis por este caminho. Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o seu coração não se desvie; nem prata nem ouro multiplicará muito para si. Será também que, quando se assentar sobre o trono do seu reino, então escreverá para si num livro, um traslado desta lei, do original que está diante dos sacerdotes levitas. E o terá consigo, e nele lerá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer ao IHVH seu Elohim, para guardar todas as palavras desta lei, e estes estatutos, para cumpri-los; para que o seu coração não se levante sobre os seus irmãos, e não se aparte do mandamento, nem para a direita nem para a esquerda; para que prolongue os seus dias no seu reino, ele e seus filhos no meio de Israel” (Dt 17:14-20). Moshe diz aos israelitas que eles haveriam de dizer: “Porei sobre mim um rei, assim como têm todas as nações que estão em redor de mim”. Esta palavra profética cumpriu-se em I Sm 8.19-20. Porém as instruções do Eterno quanto a isso eram claras:
- o rei deveria ser escolhido pelo Eterno – IHVH Elohim
- o rei deveria ser israelita
- ele não deveria multiplicar para si cavalos – pois se julgaria muito forte
- ele não deveria multiplicar para si mulheres – pois elas o fariam desviar do IHVH
- não deveria multiplicar para si riquezas – pois perderia a dependência do IHVH
- deveria ter para si uma cópia da palavra de D-us
- deveria dar exemplo no cumprimento da Torah
Reis de Israel e os cohanim
Podemos pensar que basta ter um San’hedrin que cuida da nação judia. Mas Moshe explicou que: “Além do San’hedrin, D’us quer que vocês tenham um rei. O rei se preocupará que o país esteja funcionando de acordo com a lei da Torah. Ele também os liderará em caso de guerra.”
Benê Israel deveriam cumprir três mitsvot ao se estabelecer na Terra de Israel: 1) escolher e coroar um rei; 2) exterminar os descendentes de Amalec e; 3) construir o Bet Hamicdash. Assim, não nos é apenas permitido, mas numa determinada época do futuro, nos é ordenado que nossa nação exija um rei. Até mesmo as profecias sobre a era Messiânica, que descrevem Israel em seu mais elevado nível espiritual, versam sobre um rei da dinastia de David.
Portanto, a monarquia é uma situação desejável. Não obstante, quando o povo pediu que o profeta Shemuel lhe desse um rei, “para que possamos ser como os povos à nossa volta,” ele reagiu com desapontamento e ira.
Benê Israel deveria ter pedido um rei que os liderasse, inspirasse e fosse exemplo de alguém que serve a D’us altruística e sinceramente. Em vez disto, disseram que queriam um rei meramente para imitar seus vizinhos. Será que o objetivo que D’us estabeleceu para os judeus é ser igual à qualquer outro povo, cujas aspirações são apenas glória, riqueza e conquistas?
Por causa do desejo equivocado da nação, seu primeiro rei, Shaul, não pôde manter seu trono permanentemente.
Respeito e temor ao rei
Há várias leis referentes ao comportamento que o povo judeu deveria ter diante de seu re:
* Um rei recém-escolhido é levado para uma fonte de água. Lá, ele é ungido com óleo (shêmen hamishchá).
* Quando as pessoas vêem o rei judeu, elas devem mencionar uma bênção: “Baruch shechalac micvodô lireav”; “Abençoado és tu, D’us, Que compartilha Sua honra com aqueles que o temem.”
* É proibido sentar no trono real, cavalgar em seu cavalo, usar o seu cetro ou qualquer um de seus objetos pessoais.
* Os reis descendentes de David são as únicas pessoas que têm a permissão de sentar-se no pátio do Bet Hamicdash. Todos os outros devem ficar de pé.
* O rei tem seu cabelo cortado todo dia para ter sempre uma boa aparência. Pessoas são proibidas de assistir ao seu corte de cabelo, para que não percam o respeito por ele.
* Todos, mesmo um navi (profeta), devem se curvar perante ele, exceto o cohen gadol (sumo-sacerdote). Porém, é uma mitsvá que o rei honre os sábios da Torah.
* Um judeu que desobedece a ordem real merece pena capital.
Foi dito sobre o rei Yehoshafat que quando um sábio entrava, ele se levantava e clamava: “Meu mestre e rabino!”
As mitsvot especiais do rei
1. Ele não deve manter cavalos demais: na época dos reis judeus, o Egito era famoso pela sua criação de cavalos. Se um rei queria muitos cavalos, poderia fazer com que alguns judeus se estabelecessem no Egito para que lhe mandassem cavalos de lá. D’us disse “Não quero que os judeus viajem para o Egito e permaneçam lá. O Egito é um país perverso, que influenciará negativamente ao povo judeu.”
Outra razão por que o rei judeu não pode ter um grande número de cavalos: o cavalo era muito importante em tempo de guerra. Quanto mais cavalos tivesse um rei, mais assegurado estaria quanto as suas vitórias.
Um rei judeu deve saber que é D’us Quem lhe fornece a vitória, independente se tem cavalos, ou não. Portanto, o rei tem a ordem de não manter cavalos demais em seus estábulos.
2. Ele não deve exagerar no ouro e na prata: reis não-judeus enchiam seus tesouros com ouro e prata. Um rei judeu pode armazenar dinheiro o bastante para as suas
necessidades, mas ele não deve perder seu tempo acumulando fortuna. Aparentemente, não haveria necessidade da Torah dizer porquê adverte sobre a posse de muito dinheiro, pois as tentações do excesso de riqueza são muito bem conhecidas. Riqueza demais leva ao orgulho e ao esquecimento da existência de um Soberano: D’us. Porém, era uma mitsvá para o rei coletar ouro e prata para o Bet Hamicdash.
3. Ele não pode ter muitas esposas: todos os reis antigos casavam-se com muitas mulheres. Um rei judeu era proibido de fazer o mesmo. Muitas mulheres iriam desviar seu coração de D’us. Aos reis também foi dito que deveriam casar-se somente com mulheres tementes a D’us.
O Midrash nos conta:
O erro do rei Shelomô
O rei Salomão foi o ser humano mais sábio da Terra. Ele disse: “É verdade que a Torah proíbe o rei de ter muitas esposas. Isso poderá desviar seu coração de D’us. Porém esta mitsvá não se aplica a mim. Sou tão sábio e temo tanto a D’us que, mesmo se me casar com muitas mulheres, elas nunca me influenciarão para o mau caminho. Se eu tiver muitas esposas, elas me darão muitos filhos guerreiros.
A Torah também proíbe um rei de ter muitos cavalos, para que ele não faça com que judeus assentem-se no Egito. Esta mitsvá, também, não serve para mim. Nunca deixarei judeus morarem no Egito. Sou inteligente o suficiente para comprar cavalos de diferentes países.”
Shelomô também pensou que coletar muito ouro e prata não iria prejudicá-lo.
A letra yud voou para o trono de D’us e reclamou: “Mestre do Universo! Você prometeu que nenhuma letra da Torah seria mudada. Porém Shelomô me trocou! Eu apareço nas palavras da Torah ‘lo yarbe’, ‘o rei não deve ter a mais!’ O rei Shelomô desobedeceu a esta mitsvá!”
D’us confortou o yud: “Não se preocupe! Mesmo uma pequena letra como você é muito importante! Você verá que Shelomô errou. Aí ficará claro que as leis da Torah se aplicam a todos, sem exceções.”
E assim aconteceu. Quando o rei Shelomô já era avançado em idade, suas esposas (que se converteram ao judaísmo antes de se casarem com ele) serviram ídolos. Shelomô não protestou o suficiente. D’us ficou tão aborrecido com o rei Shelomô que Ele escreveu no Tana”ch (Bíblia): “Shelomô serviu a ídolos.” Para um grande tsadic como o rei Shelomô foi considerado como se ele mesmo tivesse praticado idolatria. O rei Shelomô também adquiriu cavalos demais. Como conseqüência, alguns judeus acabaram morando no Egito. Mais ainda, os pesados impostos que seu vasto tesouro exigia fizeram com que a nação se dividisse após sua morte.
Shelomô compôs um livro cheio de sábios conselhos, chamado Cohêlet. Nele, ele escreve: “Eu me apoiei na minha grande sabedoria e ignorei as palavras da Torah, enraivecendo a D’us. As mitsvot de D’us são mais sábias do que tudo o que um ser humano poderia sequer imaginar.”
A Torah, geralmente, não nos dá a razão das mitsvot. Shelomô falhou, pois, a Torah deu a razão das mitsvot dos reis. Ele racionalizou que elas não se aplicavam a ele. Se a Torah tivesse nos ensinado o significado de outras mitsvot, poderíamos transgredi-las também, achando que estas não se aplicam a nós.
O rei deve cumprir uma outra mitsvá:
4. O sefer-Torah do rei: Andamos lap-tops e celulares para não perdermos nenhuma notícia ou chamada telefônica, onde quer que estejamos. Nos tempos dos reis judeus, eles levavam consigo mais uma coisa: um mini sêfer-Torah. O carregavam a toda hora: no seu palácio, em viagem, e mesmo nas batalhas.
O rei sempre estava extremamente atarefado. Poderíamos pensar portanto que ele era isento do estudo diário da Torah. Mas não, a Torah ordena: “O rei deve ter dois sifrê-Torah.
Um é guardado em seu tesouro. E o outro é carregado por ele aonde quer que vá, a cada dia de sua vida. Ela vai ensiná-lo a temer a D’us e guardar Suas mitsvot. Também o impedirá de tornar-se orgulhoso, ou arrogante demais em relação aos seus irmãos.
Em proporção à imensa honra que ele recebe, o rei deve se destacar na virtude da humildade (sentindo-se especialmente subjugado e grato a D’us, Que tanto o distinguiu). Para reduzir o grande perigo da arrogância, a Torah ordena ao rei carregar consigo um sêfer Torah para estudo freqüente e para recordar a toda hora sua posição como o servo de D’us. Em seu coração ele nunca deve esquecer que afinal, ele é somente um ser humano e D’us é o verdadeiro Rei.
Para demonstrar sua grande humildade, o rei tinha que se curvar na oração da amidá até mais do que pessoas comuns. Nós nos inclinamos quatro vezes, porém o rei tinha que manter-se curvado ao longo de toda a amidá.
Maimônides escreve: a Torah aqui proíbe a presunção e a vaidade. Até mesmo o rei, apesar da sua posição especial, é proibido de ser arrogante; quanto mais as simples e ordinárias pessoas. D’us não tolera soberba alguma. Somente a D’us pertence toda a grandeza, a força e a glória.
Nossos sábios nos contam:
O rei David e o rei Mashiach
Assim como grandes sábios, o rei David nunca tinha tempo para dormir adequadamente. Estudava Torah até o meio da noite, cochilando somente quando estava exausto. À meia noite, o vento norte tocava as cordas de sua harpa que ficava sobre o seu leito. Este era um sinal para David acordar. Então, cantava músicas de louvor para D’us até o amanhecer.
Durante o dia, ele se encontrava com reis estrangeiros. Não discutia política com eles. Em vez disso ele falava sobre Torah, seu assunto favorito. Os judeus seguiam o exemplo de seus reis. O rei era a inspiração para o espírito nacional. Por isso, na época de David, todos estudavam Torah.
Alkém disto, o rei David era muito humilde. Nunca levantava a cabeça ao andar entre seus súditos. Dizia a D’us: “Posso ser o rei, porém você é o Rei dos reis.”
D’us denominou David como Seu servo. Ele prometeu que o reinado continuaria na família de David para sempre. Apesar de que o reinado de David está suspenso enquanto estamos no exílio, D’us prometeu que Ele irá restaurá-lo no futuro. O rei Mashiach também será um descendente do rei David.
Maimônides traz a seguinte halachá (lei) que descreve Mashiach: “Se surgir um rei da casa de David que se ocupará com a Torah e as mitsvot – tanto a Torah Oral como a Torah Escrita – assim como seu antecedente David, e que fará todos os judeus retornarem para a observância, podemos presumir que ele é o Mashiach.”
“Se tiver sucesso reconstruindo o Bet Hamicdash e reunindo os exilados, certamente é o Mashiach. Mashiach fará com que o mundo todo retorne ao caminho da verdade, e com que todas as nações sirvam a D’us com harmonia.”
Estas seriam as determinações quanto à conduta do homem que receberia a autoridade para reinar em Israel.
Além da lembrança sobre o rei, os ministros – sacerdotes e levitas – não poderiam ser esquecidos. “Os sacerdotes levitas, toda a tribo de Levi, não terão parte nem herança com Israel; das ofertas queimadas do IHVH e da sua herança comerão. Por isso não terão herança no meio de seus irmãos; o IHVH é a sua herança, como lhes tem dito. Este, pois, será o direito dos sacerdotes, a receber do povo, dos que oferecerem sacrifício, seja boi ou gado miúdo; que darão ao sacerdote a espádua e as queixadas e o bucho. Dar-lhe-ás as primícias do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e as primícias da tosquia das tuas ovelhas. Porque o IHVH teu Elohim o escolheu de todas as tuas tribos, para que assista e sirva no nome do IHVH, ele e seus filhos, todos os dias. E, quando chegar um levita de alguma das tuas portas, de todo o Israel, onde habitar; e vier com todo o desejo da sua alma ao lugar que o IHVH escolheu; e servir no nome do IHVH seu Elohim, como também todos os seus irmãos, os levitas, que assistem ali perante o IHVH, igual porção comerão, além das vendas do seu patrimônio” (Dt 18:1-8). Novamente o povo de Israel é informado que os sacerdotes e levitas não tem “herança” – nachala (significa “herança física”) em meio ao povo. Isso significa que os ministros não teriam terras para cultivarem, rebanhos próprios para deles se alimentarem e nem indústrias para delas viverem. Este fato remete a responsabilidade de sustento dos ministros ao povo, que teria a obrigação de suprir aos ministros tudo aquilo que desejassem! Eles estavam cumprindo seu ministério e levando o povo à presença de D-us e isso era o seu trabalho pelo qual deveriam receber de seu próprio povo.
As particularidades de Israel não param por aí, pois eles não deveriam imitar as nações gentílicas em muitas coisas, como por exemplo: “Quando entrares na terra que o IHVH teu Elohim te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daquelas nações. Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao IHVH; e por estas abominações o IHVH teu Elohim os lança fora de diante de ti. Perfeito serás, como o IHVH teu Elohim. Porque estas nações, que hás de possuir, ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém a ti o IHVH teu Elohim não permitiu tal coisa” (Dt 18:9-14). O conselho é claro: eles não deveriam aprender a fazer as abominações dos gentios. Esta palavra “abominável” vem do termo hebraico tô´ebâ que significa “coisa abominável, costume abominável”; algo que causa repulsa ao Eterno. Os israelitas não poderiam:
- fazer seus filhos passarem pelo fogo
- não adivinhar. O termo hebraico é qesem e significa “adivinhação, feitiçaria, bruxaria, leitura de sorte, agouro, oráculo”.
- não prognosticaria. É a pessoa que faz qualquer das práticas acima citadas.
- não agourar. Esta palavra vem do termo hebraico nahash e significa “aprender por experiência, observar com diligência, adivinhar, praticar adivinhação, ler sorte, tomar como presságio”.
- Não praticar feitiçaria. Esta palavra vem do termo hebraico kashap e significa “praticar feitiçaria”. Esta prática está intimamente ligada à invocação de espíritos das trevas e também a manipulação de oferendas ligadas ao ocultismo.
- não poderiam haver encantadores. Esta palavra vem do termo hebraico habar que significa “fazer encantos, unir, dar um nó mágico”. O “trabalho” é chamado de heber que significa “encanto” e tem o sentido de “amarrar, lançar um encanto”.
- quem consulte espírito adivinhante. Esta palavra vem do termo hebraico ´ôb iideonî e significa “espírito familiar”. É um tipo de conhecimento esotérico, que não está ao alcance de uma pessoa comum.
- quem consulte espírito dos mortos. Esta frase em hebraico é el há mutiim e significa “o deus dos mortos”.
O Eterno adverte que tais práticas são consideradas por Ele como “abominação” e que por estas razões Ele estava retirando os povos de onde estavam para ali colocar Israel. Não seria pela justiça de seu povo, mas sim pelo pecado dos habitantes da terra que isso aconteceu!
Os israelitas não precisariam se amoldar à forma de culto das outras nações e ao invés deles terem de consultar todas as categorias citadas a fim de conhecerem aquilo que o Eterno desejaria, foi lhes dada uma outra opção: o profeta. “O IHVH teu Elohim te levantará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis; conforme a tudo o que pediste ao IHVH teu Elohim em Horebe, no dia da assembléia, dizendo: Não ouvirei mais a voz do IHVH teu Elohim, nem mais verei este grande fogo, para que não morra. Então o IHVH me disse: Falaram bem naquilo que disseram. Eis lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmãos, como tu, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. E será que qualquer que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, eu o requererei dele. Porém o profeta que tiver a presunção de falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe tenha mandado falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta morrerá. E, se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o IHVH não falou? Quando o profeta falar em nome do IHVH, e essa palavra não se cumprir, nem suceder assim; esta é palavra que o IHVH não falou; com soberba a falou aquele profeta; não tenhas temor dele” (Dt 18:15-22). Este homem – o profeta – em hebraico é nabî e significa “porta-voz, orador, profeta”. Este dito do IHVH é profético, pois aponta para Ieshua, que foi o profeta maior que Moshe! E quanto àqueles que não o ouvissem, está dito aqui: “E será que qualquer que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, eu o requererei dele”. O eterno – IHVH Elohim – diz que este homem falaria as palavras D´Ele, pois falaria em seu nome! Todos os que não cressem haveriam de ter alguns problemas com o IHVH, pois a Torah nos diz que Ele mesmo – IHVH Elohim – requereria isso daqueles que assim agissem.
A Torah também adverte quanto ao profeta que falou por si mesmo: “Quando o profeta falar em nome do IHVH, e essa palavra não se cumprir, nem suceder assim; esta é palavra que o IHVH não falou; com soberba a falou aquele profeta; não tenhas temor dele”. Quando o profeta do IHVH fala sua palavra deve ser respeitada (este é o sentido do termo “temor”); quando a palavra daquele profeta não se cumpre ele falou de si mesmo (por isso é usado o termo “com soberba falou”) e por isso não devemos ter temor – respeitar – aquela palavra dita por aquela pessoa.
As cidades de refúgio seriam uma necessidade em Israel, pois existem alguns “crimes” que são cometidos de forma involuntária e isso requer um lugar “seguro” contra o vingador do sangue. Então o Eterno determinou assim: “Quando o IHVH teu Elohim desarraigar as nações cuja terra te dará o IHVH teu Elohim, e tu as possuíres, e morares nas suas cidades e nas suas casas, três cidades separarás, no meio da terra que te dará o IHVH teu Elohim para a possuíres. Preparar-te-ás o caminho; e os termos da tua terra, que te fará possuir o IHVH teu Elohim, dividirás em três; e isto será para que todo o homicida se acolha ali. E este é o caso tocante ao homicida, que se acolher ali, para que viva; aquele que por engano ferir o seu próximo, a quem não odiava antes; como aquele que entrar com o seu próximo no bosque, para cortar lenha, e, pondo força na sua mão com o machado para cortar a árvore, o ferro saltar do cabo e ferir o seu próximo e este morrer, aquele se acolherá a uma destas cidades, e viverá; para que o vingador do sangue não vá após o homicida, quando se enfurecer o seu coração, e o alcançar, por ser comprido o caminho, e lhe tire a vida; porque não é culpado de morte, pois o não odiava antes. Portanto te dou ordem, dizendo: Três cidades separarás. E, se o IHVH teu Elohim dilatar os teus termos, como jurou a teus pais, e te der toda a terra que disse daria a teus pais” (Dt 19:1-8). Na primeira etapa da série de conquistas de Israel eles deveriam separar para si três cidades que seriam as “cidades de refúgio”. É interessante que o Eterno determina que três cidades sejam separadas, dividindo-se então a nação em três partes iguais. Isso significa que o inocente seria preservado completamente, pois não havia de fato, cometido um crime. O texto nos fala sobre fatos acidentais que ocorreram e fizeram com que uma outra pessoa morresse. Mesmo assim o causador do acidente é chamado de “homicida”, pois através de um ato seu uma vida foi “ceifada”.
O Eterno agora informa aos israelitas que, havendo obediência aos mandamentos, haveria a necessidade de ampliação no número de cidades de refúgio, pois certamente o número de habitantes aumentara e com isso o número de “acidentes” também cresceria. “(Quando guardares todos estes mandamentos, que hoje te ordeno, para cumprí-los, amando ao IHVH teu Elohim e andando nos seus caminhos todos os dias), então acrescentarás outras três cidades além destas três. Para que o sangue inocente não se derrame no meio da tua terra, que o IHVH teu Elohim te dá por herança, e haja sangue sobre ti. Mas, havendo alguém que odeia a seu próximo, e lhe arma ciladas, e se levanta contra ele, e o fere mortalmente, e se acolhe a alguma destas cidades, então os anciãos da sua cidade mandarão buscá-lo; e dali o tirarão, e o entregarão na mão do vingador do sangue, para que morra. O teu olho não o perdoará; antes tirarás o sangue inocente de Israel, para que bem te suceda” (Dt 19:9-13). Neste caso temos um diferencial no relato: temos aqui a possibilidade de que o culpado por um crime seja pego. Neste caso a punição para ele deve ser a pena de morte. Isso parece um tanto quanto cruel, mas não é, pois quando eles agem desta forma – punindo o culpado – os crimes não seriam cometidos com tanta freqüência, pois o criminoso sabia que a punição seria rápida e eficaz!
Temos também diversas orientações quanto ao relacionamento entre pessoas e como mantê-los estáveis. “Não mudes o limite do teu próximo, que estabeleceram os antigos na tua herança, que receberás na terra que te dá o IHVH teu Elohim para a possuíres. Uma só testemunha contra alguém não se levantará por qualquer iniqüidade, ou por qualquer pecado, seja qual for o pecado que cometeu; pela boca de duas testemunhas, ou pela boca de três testemunhas, se estabelecerá o fato. Quando se levantar testemunha falsa contra alguém, para testificar contra ele acerca de transgressão, então aqueles dois homens, que tiverem a demanda, se apresentarão perante o IHVH, diante dos sacerdotes e dos juízes que houver naqueles dias. E os juízes inquirirão bem; e eis que, sendo a testemunha falsa, que testificou falsamente contra seu irmão, far-lhe-eis como cuidou fazer a seu irmão; e assim tirarás o mal do meio de ti. Para que os que ficarem o ouçam e temam, e nunca mais tornem a fazer tal mal no meio de ti. O teu olho não perdoará; vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé” (Dt 19:14-21).
A primeira orientação diz respeito ao respeito devido à propriedade alheia. Não mudar os marcos do teu próximo, significam que não podemos “roubar” nem sequem alguns centímetros da propriedade alheia mudando os marcos a fim de nos beneficiarmos ou fazermos isso com a finalidade de beneficiar alguém.
Um outro caso é o das testemunhas: não pode haver uma só testemunha acusando alguém. Atualmente um dos casos mais comuns de transgressão da Torah é justamente esse, pois existem muitos casos de acusações feitas por somente uma pessoa – que geralmente não é uma “testemunha” – contra outrem! A testemunha é aquele que viu algo acontecer. Não é possível aceitar qualquer acusação de somente uma testemunha, por que seria a palavra de um contra outro – acusado e acusador – e isso pela Torah não estabelece padrão para condenar-se ninguém! No caso do falso testemunho há uma punição contra aquele que assim age. O padrão da Torah diz assim: “E os juízes inquirirão bem; e eis que, sendo a testemunha falsa, que testificou falsamente contra seu irmão, far-lhe-eis como cuidou fazer a seu irmão; e assim tirarás o mal do meio de ti”. A falsa testemunha deverá receber como punição a pena pela qual deveria ser punida a pessoa que foi por ela acusada! Novamente isso serviria para que o mal fosse retirado do meio de Israel; o exemplo faria com que aqueles que tivessem a intenção de agir assim pensassem diversas vezes antes de fazerem algo!
Agora veremos as recomendações quanto à guerra: “Quando saíres à peleja contra teus inimigos, e vires cavalos, e carros, e povo maior em número do que tu, deles não terás temor; pois o IHVH teu Elohim, que te tirou da terra do Egito, está contigo. E será que, quando vos achegardes à peleja, o sacerdote se adiantará, e falará ao povo, e dir-lhe-á: Ouvi, ó Israel, hoje vos achegais à peleja contra os vossos inimigos; não se amoleça o vosso coração: não temais nem tremais, nem vos aterrorizeis diante deles, pois o IHVH vosso Elohim é o que vai convosco, a pelejar contra os vossos inimigos, para salvar-vos” (Dt 20:1-4). Aqui o termo “peleja” vem da palavra hebraica milhama e significa “combate, guerra”. Esta palavra enfatiza uma grande mobilização de exércitos para um encontro com os inimigos. A Torah nos afirma que não devemos temer os inimigos, ainda que sejam em número maior do que nós. A palavra “temer” vem do termo hebraico yare e significa “temer, ter medo, reverenciar”. Esta é a mesma palavra usada para designar o “temor do IHVH”. Esta postura de “destemor”, de “falta de reverência” para com os inimigos tem um motivo: ao nosso lado está IHVH Elohim! Aquele que se tornou o nosso Criador atuará de tal forma que os exércitos do IHVH vencerão a batalha! Neste caso o Eterno usara de todos os seus recursos para que seu povo vença o inimigo, utilizando-se para isso tudo o que está a seu alcance, tanto no mundo natural quanto no mundo espiritual.
No momento da batalha, o sacerdote irá adiante e falará ao povo: “Ouvi, ó Israel, hoje vos achegais à peleja contra os vossos inimigos; não se amoleça o vosso coração: não temais nem tremais, nem vos aterrorizeis diante deles, pois o IHVH vosso Elohim é o que vai convosco, a pelejar contra os vossos inimigos, para salvar-vos”. O sacerdote dá uma ordem dizendo: “Ouve Israel!” Ou seja, parem e prestem atenção às minhas palavras porque o Eterno – IHVH Elohim – é quem ira convosco nesta batalha! Não temam o inimigo, pois Aquele que está conosco é maior do que aquele que com eles está! Mas, o que significam estas palavras? Elas significam que a batalha já está ganha; o que temos de fazer é somente ir até o local onde a luta se travará para consumarmos a vitória que o Eterno já nos deu por direito! No reino espiritual o inimigo já foi derrotado e nada poderá fazer para impedir nossa vitória e é justamente por isso que a Torah nos diz: “não vos atemorizeis diante deles”. Aparentemente eles são mais numerosos, mas isso não importa, pois nós podemos até ser em menor número, mas o mais forte, o Poderoso D-us está ao nosso lado e luta por nós!
Porém, mesmo com estas palavras de incentivo, algo mais deverá ser dito pelos oficiais ao exército: “Então os oficiais falarão ao povo, dizendo: Qual é o homem que edificou casa nova e ainda não a consagrou? Vá, e torne-se à sua casa para que porventura não morra na peleja e algum outro a consagre. E qual é o homem que plantou uma vinha e ainda não a desfrutou? Vá, e torne-se à sua casa, para que porventura não morra na peleja e algum outro a desfrute. E qual é o homem que está desposado com alguma mulher e ainda não a recebeu? Vá, e torne-se à sua casa, para que porventura não morra na peleja e algum outro homem a receba. E continuarão os oficiais a falar ao povo, dizendo: Qual é o homem medroso e de coração tímido? Vá, e torne-se à sua casa, para que o coração de seus irmãos não se derreta como o seu coração. E será que, quando os oficiais acabarem de falar ao povo, então designarão os capitães dos exércitos para a dianteira do povo” (Dt 20:5-9). As situações e quem uma pessoa poderia “desistir da guerra” são as seguintes:
- Alguém que construiu uma nova casa – ou constituiu um novo lar – e ainda não teve tempo de desfrutar dela, este volte;
- Aquele que plantou uma vide – uvas – e ainda não comeu dela;
- Alguém que está comprometido com uma jovem e ainda não a tenha “desposado” definitivamente;
- Quem é medroso e “tímido de coração”, estes voltem para casa!
Tais pessoas ainda não poderiam participar de uma guerra, pois mesmo que haja entre eles obediência e a vitória já esteja garantida, ainda assim havia o perigo de alguém morrer. Sendo assim, as pessoas descritas acima não deveriam participar da batalha e arriscarem-se a deixar aquilo que tão arduamente construíram para trás sem desfrutar do esforço de seu trabalho. Somente no último caso o problema é pessoal – uma alma que ainda está ferida – e este deve ser retirado do meio dos outros para não os induzir ao pânico através de sua postura. Somente os valentes podem ir à guerra!
A tática de guerra que eles deveriam usar está muito clara na Torah: “Quando te achegares a alguma cidade para combatê-la, apregoar-lhe-ás a paz. E será que, se te responder em paz, e te abrir as portas, todo o povo que se achar nela te será tributário e te servirá. Porém, se ela não fizer paz contigo, mas antes te fizer guerra, então a sitiarás. E o IHVH teu Elohim a dará na tua mão; e todo o homem que houver nela passarás ao fio da espada. Porém, as mulheres, e as crianças, e os animais; e tudo o que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás para ti; e comerás o despojo dos teus inimigos, que te deu o IHVH teu Elohim. Assim farás a todas as cidades que estiverem mui longe de ti, que não forem das cidades destas nações. Porém, das cidades destas nações, que o IHVH teu Elohim te dá em herança, nenhuma coisa que tem fôlego deixarás com vida. Antes destruí-las-ás totalmente: aos heteus, e aos amorreus, e aos cananeus, e aos perizeus, e aos heveus, e aos jebuseus, como te ordenou o IHVH teu Elohim. Para que não vos ensinem a fazer conforme a todas as suas abominações, que fizeram a seus deuses, e pequeis contra o IHVH vosso Elohim. Quando sitiares uma cidade por muitos dias, pelejando contra ela para a tomar, não destruirás o seu arvoredo, colocando nele o machado, porque dele comerás; pois que não o cortarás (pois o arvoredo do campo é mantimento para o homem), para empregar no cerco. Mas as árvores que souberes que não são árvores de alimento, destruí-las-ás e cortá-las-ás; e contra a cidade que guerrear contra ti edificarás baluartes, até que esta seja vencida” (Dt 20:10-20). A chamada “regra da guerra” tem os seguintes aspectos:
- Primeiramente deve-se apregoar-lhes a paz – neste caso vemos que a primeira intenção do povo de D-us é justamente a convivência pacífica com seus vizinhos. No caso de aceitarem a paz, então certamente se transformariam em servos de Israel;
- No caso de não aceitarem a paz, então a cidade deve ser cercada e o Eterno a entregará nas mãos de Israel;
- Neste caso todo o homem – adulto – desta cidade morrerá
- As mulheres, crianças e animais serão tomados como “despojo” de guerra e servirão como servos dos israelitas, sendo assim incorporados ao “patrimônio” do povo e da nação;
- A exceção à regra – este caso todos os habitantes da cidade morrem – são as cidades citadas, que estavam no território que já tinha sido dado pelo Eterno aos israelitas;
Bal Tashchit / É proibido desperdiçar
Nossos sábios também proibiram-nos de destruir ou desperdiçar qualquer coisa útil. No passado, as pessoas eram muito mais cuidadosas no que se refere a desperdício. Não tinham tanta comida, dinheiro ou roupas. Por isso, eles se esforçavam para fazer bom uso de tudo. Em comparação com as gerações anteriores, hoje, todos nós somos ricos. D’us nos abençoou com abundância. Muitos de nós temos dinheiro suficiente para comprar todo alimento e vestimenta que precisamos. Porém isso não quer dizer que podemos desperdiçar qualquer dessas coisas.
Todo alimento deve ser tratado com respeito. O Talmud nos conta: “Um alimento que serve para seres humanos, não deve ser dado para um animal”. Por quê? Isto é desrespeitoso para com o alimento e demonstra uma falta de gratidão para com a bênção de D’us. É certamente errado, portanto, jogar comida fora. Em vez disso, devemos planejar nossas refeições para que o alimento não seja mal aproveitado.
Fora o respeito por comida em geral, é proibido atirar pão, mesmo se este não for danificado. Alguém que vê comida no chão deve levantá-la. Uma pessoa nunca deve andar sobre migalhas de pão, já que isto pode levar à pobreza. As migalhas devem ser varridas.
O cuidado com as roupas também é parte da mitsvá de bal tashchit.
Dinheiro também não deve ser desperdiçado. Um judeu não deve gastar seu dinheiro sem propósito, mas sempre no intuíto de cumprir uma mitsvá.
Novamente, retornando à questão do homicídio – neste caso não resolvido – o procedimento será assim: “Quando na terra que te der o IHVH teu Elohim, para possuí-la, se achar um morto, caído no campo, sem que se saiba quem o matou, então sairão os teus anciãos e os teus juízes, e medirão a distância até as cidades que estiverem em redor do morto; e, na cidade mais próxima ao morto, os anciãos da mesma cidade tomarão uma novilha da manada, que não tenha trabalhado nem tenha puxado com o jugo; e os anciãos daquela cidade trarão a novilha a um vale áspero, que nunca foi lavrado nem semeado; e ali, naquele vale, degolarão a novilha; então se achegarão os sacerdotes, filhos de Levi; pois o IHVH teu Elohim os escolheu para o servirem, e para abençoarem em nome do IHVH; e pela sua palavra se decidirá toda a demanda e todo o ferimento; e todos os anciãos da mesma cidade, mais próxima ao morto, lavarão as suas mãos sobre a novilha degolada no vale; e protestarão, e dirão: As nossas mãos não derramaram este sangue, e os nossos olhos o não viram. Sê propício ao teu povo Israel, que tu, ó IHVH, resgataste, e não ponhas o sangue inocente no meio do teu povo Israel. E aquele sangue lhes será expiado. Assim tirarás o sangue inocente do meio de ti; pois farás o que é reto aos olhos do IHVH” (Dt 21:1-9). Neste caso temos um homicídio sem o homicida; uma pessoa foi encontrada morta e desconhece-se o paradeiro do assassino. Então procederão assim:
- Medirão a distância entre as cidades mais próximas;
- Buscarão na cidade mais próxima uma novilha que ainda não tenha trabalhado;
- Levarão o animal a um vale que nunca tenha sido plantado;
- Ali a novilha será degolada
- Os sacerdotes “lavarão suas mãos” em sinal de inocência quanto ao derramamento do sangue daquela pessoa, declarando-se assim inocentes;
- Farão a seguinte declaração: “As nossas mãos não derramaram este sangue, e os nossos olhos o não viram. Sê propício ao teu povo Israel, que tu, ó IHVH, resgataste, e não ponhas o sangue inocente no meio do teu povo Israel”,
- Finalmente o sangue daquela pessoa será expiado e o pecado por aquela morte não será posto sobre a nação!
Percebemos que a Torah dada pelo Eterno preocupa-se com os muitos aspectos da vida humana e isso fica claro com aquilo que vimos acima, pois há uma visível preocupação em estabelecer-se um padrão de justiça e santidade para o povo de Israel seguir a fim de que sejam tidos como “filhos do IHVH”.
Que o Eterno nos ajude a sermos assim tendo em nossos corações o padrão ideal para nosso viver diário!
Mário Moreno