Ani maamin – Eu creio!
Ani maamin – Eu creio!
Esta frase “Ani maamin” que é traduzida por “Eu creio” está ligada intimamente a dois momentos da fé judaica: um deles é a vinda de Mashiach; o outro a proclamação do grande sábio Maimônides, que usa esta estrutura em seus treze princípios de fé.
Vamos citar os treze princípios de fé de Maimôides e depois falaremos sobre a fé ligada ao Mashiach.
Os Treze Princípios da Fé – segundo Maimônides “Ani Maamin” – Creio plenamente:
- Creio plenamente que D’us é o Criador e guia de todos os seres, ou seja, que só Ele fez, faz e fará tudo.
- Creio plenamente que o Criador é um e único; que não existe unidade de qualquer forma igual à d’Ele; e que somente Ele é nosso D’us, foi e será.
- Creio plenamente que o Criador é incorpóreo e que está isento de qualquer propriedade antropomórfica.
- Creio plenamente que o Criador foi o primeiro (nada existiu antes d’Ele) e que será o último (nada existirá depois d’Ele).
- Creio plenamente que o Criador é o único a quem é apropriado orar, e que é proibido dirigir preces a qualquer outra entidade.
- Creio plenamente que todas as palavras dos profetas são verdadeiras.
- Creio plenamente que a profecia de Moshê Rabeinu é verídica, e que ele foi o pai dos profetas, tanto dos que o precederam como dos que o sucederam.
- Creio plenamente que toda a Torah que agora possuímos foi dada pelo Criador a Moshê Rabênu.
- Creio plenamente que esta Torah não será modificada e nem haverá outra outorgada pelo Criador.
- Creio plenamente que o Criador conhece todos os atos e pensamentos dos seres humanos, eis que está escrito: “Ele forma os corações de todos e percebe todas as suas ações” (Tehilim 33:15).
- Creio plenamente que o Criador recompensa aqueles que cumprem os Seus mandamentos, e pune os que transgridem Suas leis.
- Creio plenamente na vinda do Mashiach e, embora ele possa demorar, aguardo todos os dias a sua chegada.
- Creio plenamente que haverá a ressurreição dos mortos quando for a vontade do Criador.
Todos estes princípios são baseados não somente na história judaica, mas principalmente nas Escrituras. Elas são não somente a base, mas são a manifestação da divindade através de Israel para o mundo.
Um segundo momento da fé judaica está ligado intimamente a vinda do Mashiach e isso está expresso em vários momentos da história judaica. Um dos momentos mais marcantes foi no Holocausto, quando nossos antepassados viveram momentos de terror, mas mesmo assim não perderam a esperança de que estavam indo para a presença do Eterno. Na hora da morte eles ainda assim criam. Vamos ler dois pequenos relatos que confirmam isso:
“… Meus olhos estavam fechados, e vi meus queridos irmãos e irmãs, descendo do trem, e se sujeitando à “seleção” do famoso Mengele. Vi quando eles eram despojados de todos os seus pertences, sendo levados para as câmaras de gás. Pude ouvi-los recitando Shemá, cantando “Ani Ma’amin” (“Eu creio”). Vi meu pai em Treblinka na entrada para as câmaras de gás, junto com 28.000 judeus de minha cidade, Pietrekov, e ao lado deles mais alguns milhares da vizinha Parshov. Viveram como um e morreram como um”.
“Somos todos filhos de mártires. Uma centena, ou mais, de gerações de mártires.
Eles falam sobre o holocausto como se fosse uma questão de números. “Quantos” e “Qual é o número?”
Nossos avós não eram números. Eles não viajaram em trens para os campos, como gado. O gado não canta ao ir para o matadouro. Não “Ani ma’amin b’emuna shelema beviat hamashiach! Creio com fé perfeita que Mashiach virá. E embora ele esteja demorando, mesmo assim espero por ele a cada dia!””
Estes relatos nos mostram a medida daquilo que aconteceu no Holocausto; porém mesmo com toda a barbárie vivida por eles, havia um ingrediente que ninguém pode tirar dos judeus: a sua fé na redenção!
Eu creio – na Brit Hadasha
Existem na Brit Hadasha cinco ocorrências em que esta estrutura aparece e isso é muito interessante, pois há uma relação da “fé” com a Torah – as Escrituras (lembrando que o número “5” na tradição judaica está ligado à Torah).
Vamos analisar cada uma destas ocorrências:
“E logo o pai do menino, clamando, com lágrimas, disse: Eu creio, Senhor! Ajuda a minha incredulidade” Mc 9.24.
Neste texto temos uma situação desesperadora em que um pai vê seu filho ser dominado por demônios e estes fazem dele o que querem, causando muitas dores e constrangimento a todos. Mas quando os discípulos de Ieshua tentam resolver o problema e não conseguem o menino é levado a Ieshua e quando está na presença dele novamente se manifestam os demônios e Ele pergunta sobre o tempo em que esta situação ocorre e após as explicações do pai Ele pergunta: “E Ieshua disse-lhe: Se tu podes crer; tudo é possível ao que crê” Mc 9.23. É interessante que este texto seria melhor traduzido assim: “Se você pode crer em todos os ditos, tudo e em tudo creia”. Foi neste momento que o pai pede ajuda dizendo: “Eu creio, Senhor! Ajuda a minha incredulidade”. Este pai sabia que o impossível – para ele – poderia acontecer por causa da presença e da pessoa de Ieshua. O pai proclama: “Eu creio” (Ani maamin) e estas palavras são suficientes para liberar uma ação de Ieshua em direção ao menino repreendendo aos demônios e trazendo-lhe completa libertação!
Aqui temos a combinação de duas coisas: a confiança do pai que liberou uma palavra e a ação de Ieshua que, baseado naquilo que o pai havia dito dá uma ordem para que a situação se resolva e o menino possa ser então totalmente liberto!
Vemos que há uma “combinação” de duas coisas: a confiança da pessoa que precisa de um milagre com a manifestação de Ieshua que age então para que o milagre aconteça. Mas um fator importante aqui é que houve a liberação de uma palavra por parte do pai confirmando aquilo que estava em seu coração!
A segunda ocorrência vem de uma passagem muito interessante em que um cego é curado e muitos contestam a sua cura e o ex cego agora afirma que quem o curou é alguém especial, um homem que vem de D-us. E quando este homem se reencontra com Ieshua ele confessa quem é Ieshua com as palavras: “Ieshua ouviu que o tinham expulsado e, achando-o, disse-lhe: Crês tu no filho de Elohim? Ele respondeu e disse: Quem é ele, Senhor, para que nele creia? E Ieshua lhe disse: Tu já o tens visto, e é aquele que fala contigo. Ele disse: Creio, Senhor. E o adorou” Jo 9.35-38.
Este relato nos mostra que um milagre pode não ser aceito por “religiosos” que estão muito preocupados com uma possível violação das Escrituras e não com o fato de que um milagre ocorreu! O ex cego agora se reencontra com Aquele que abriu seus olhos porém não o reconhece e quando Ieshua fala com ele e se mostra a ele, então este homem declara: “Ani maamin” – Eu creio! O homem está na presença do Filho de Elohim, o Mashiach, Aquele que fora enviado para redimir a humanidade e este homem – um judeu – faz algo que é inaceitável para o judaísmo: ele adora ao homem Ieshua! A adoração é o ato de se prostrar com todo o corpo estendido no solo e com o rosto em terra! É como deitar-se diante de alguém com o rosto voltado para o solo. O homem faz isso na presença de muitas pessoas e os fariseus que estavam ali e presenciaram a cena após ouvirem as palavras de Ieshua ficaram furiosos! Porém o momento era de um profundo mover do Eterno e era um momento de gratidão de um homem que fora cego desde o seu nascimento e isso implica uma situação muito mais complexa, pois pode ter havido uma mal formação nos seus olhos ou mesmo um outro problema que fez com que este homem NUNCA houvesse experimentado a sensação de ver! Agora Ieshua restaura sua vida de uma forma tão tremenda que o que ocorreu antes do nascimento que impediu aquele homem de ter condições de enxergar agora é restaurado imediatamente com uma atitude de Ieshua!
Por isso quando o homem chega na presença de Ieshua e descobre quem Ele é ele declara: “Ani maamin” – Eu creio! Esta declaração não está baseada somente naquilo que ele havia ouvido acerca do Rabino Ieshua, mas está baseada também naquilo que Ieshua já havia feito por ele e somente agora ele pode ver o rosto daquele que lhe abrira os olhos!
A terceira ocorrência está registrada em Atos e diz: “E disse Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Ieshua o Ungido é o filho de Elohim” At 8.37.
Aqui é preciso primeiro esclarecer algo: o contexto diz que Filipos – Filipe – encontra-se com um “crente no Eterno”. Na tradução que temos este homem é chamado de “eunuco”, porém isso não seria possível pois ele estava vindo de Jerusalém e provavelmente estava vindo de uma Festa Bíblica e se isso ocorreu ele levou uma oferta ao Templo e esteve lá para entregar a oferta diante dos sacerdotes e a Torah PROÍBE que um homem “castrado” (os eunucos eram castrados) fizessem isso! Portanto a tradução correta é “crente no Eterno”. Então quando Filipos se encontra com ele e fala sobre Ieshua ele entende a mensagem e seu coração imediatamente passa a confiar que Ieshua é o Mashiach. E num determinado momento eles passam por um rio e o crente pergunta acerca da imersão e é neste momento que Filipos faz a pergunta acerca de sua posição quanto a Ieshua. E ele responde: “Ani maamin” – Eu creio!
Quando ele diz isso – confessa com seus lábios quem É Ieshua então Filipos faz a imersão para o arrependimento e ele então volta para a sua cidade agora com uma outra perspectiva: ele agora reconhece que Ieshua é o Mashiach e certamente levará esta informação para todos aqueles que convivem com ele! Sua mensagem alcançará a muitos e muitos judeus etíopes serão salvos por Ieshua por causa daquele homem que é interceptado por Filipos em sua jornada de volta a seu lar.
A quarta ocorrência vem de uma situação em que Sha´ul está num navio e eles estão prestes a morrer quando ele diz: “Portanto, ó varões, tende bom ânimo: Porque eu creio em Elohim que há de acontecer assim como a mim me foi dito” At 27.25.
Estas palavras estão relacionadas à uma profecia de que o Etenro levaria Sha´ul a Roma para apresentar-se diante de grandes e poderosos e ele ainda não havia chegado lá. E isso fez com que ele pudesse então “exercitar” sua confiança em Ieshua dizendo aos demais passageiros e tripulantes da embarcação que nada de mal aconteceria a eles por que ele sabia que o Eterno determinara algo e isso ainda não havia acontecido! Portanto a história não acabaria ali pois haviam ainda coisas que precisariam ser feitas e o Eterno não abriria mão disso!
Este verso nos mostra a confiança e a confissão de um homem que já tem uma caminhada com Ieshua e esta caminhada fez dele alguém que sabia bem que as promessas do Eterno NUNCA deixam de se cumprir. Portanto ele confessa na presença dos demais que nada ocorreria de mal às pessoas que ali estavam por causa dele. É impressionante a confiança e serenidade deste servo do Eterno que já sabe o que ocorrerá e mais, pois ele tem uma certeza inabalável que o livramento virá! A sua confiança não está posta nas CIRCUNSTÂNCIAS, mas sim nas palavras que ouvira da parte do Eterno e de Ieshua! Sha´ul sabe que uma circunstância nem sempre é aquilo que aparenta ser, pois TODAS AS coisas cooperam para o nosso bem, inclusive aquelas que parecem ruins…
A quinta ocorrência nos diz assim: “Porque, antes de tudo, ouço que, quando vos ajuntais na congregação, há entre vós dissensões; e eu creio” I Co 11.18.
Estas palavras são muito intensas, pois falam de uma postura de Sha´ul que diz ter confiança plena de que os irmãos estão “brigando” entre si! Isso é terrível pois mostra que ele conhecia bem aos membros da congregação em Corinto e que sua postura ainda precisava de muito amadurecimento… Ele fala a esta congregação como “carnais” e isso nos dá a medida do que acontecia lá.
Conclusão:
“Eu creio” é uma expressão que está ligada de uma forma muito intensa ao Mashiach e isso fica claro por que a expressão somente aparece na Brit Hadasha. Certamente o conceito está ligado ao restante das Escrituras, mas a manifestação verbal desta forma é uma particularidade da época de Ieshua. A emunah é muito mais do que confiança; é “confirmar aquilo que está escrito”, então entendemos que quando alguém diz “Ani maamin” está dizendo também: “eu obedeço às Escrituras” e portanto conhecendo quem é O Eterno e Ieshua vou descansar na pessoa d´Eles e naquilo que Eles tem para mim.
E isso mostra o nosso nível de relacionamento com o Eterno e o quanto confiamos em Sua Palavra.
Que assim seja e que Ele possa nos fortalecer para que vivamos estas palavras e vejamos os resultados do que é confiar naquele que criou todas as coisas!
Mário Moreno.