A diferença entre secreto e público

Mário Moreno/ janeiro 8, 2021/ Artigos

A diferença entre “secreto” e “público”

Uma das grandes dificuldades de interpretação das Escrituras está na falta de conhecimento que os leitores – incluo aqui os líderes e até os teólogos – tem do significado das palavras.

Vou tomar aqui o exemplo de duas palavras que são opostas entre si, mas que trazem uma clareza muito grande na interpretação quando aplicadas às Escrituras. Vamos a elas:

Secreto

Secreto: Verbo ou Substantivo ou Adjetivo

O que é Secreto:
Secreto (é)
(latim secretus, -a, -um, separado, afastado, isolado, à parte, confidencial)
1. Que não é do domínio público. = confidencial, privado ≠ público.
2. Que não é conhecido. = ignorado.
3. Que não é visível ou facilmente acessível. = encoberto, escondido, oculto, recôndito.
4. Que não se manifesta. = dissimulado, íntimo, profundo ≠ aparente, evidente, manifesto.
5. Que guarda segredo. = discreto.
6. Que não mostra facilmente emoções, intenções, sentimentos ou pensamentos. = reservado.
7. Solitário, retirado.
8. Ant. Aquilo que não é revelado. = segredo.
9. Ant. Em segredo; sem divulgar algo. = secretamente.

Exemplo de uso da palavra Secreto:

A senha do banco é um utensilio secreto!

Público

Público: Substantivo ou Adjetivo

O que é Público:
1. Relativo ou destinado ao povo, à coletividade, ou ao governo de um país.
2. Que é do uso de todos, ou se realiza em presença de testemunhas.
3. Conjunto de pessoas que assistem a um espetáculo, a uma reunião, etc.

Exemplo de uso da palavra Público:

As leis devem ser de acesso ao público.
Ele foi aplaudido pelo público que o assistia.
A audiência será pública.

Bem então vamos trabalhar com a premissa das Escrituras, ou seja, o Eterno e o homem. Então do ponto de vista das Escrituras e baseado na DEFINIÇÃO da palavra o Eterno se manifesta publicamente (para todo mundo) ou secretamente (para um grupo)?

Manifestações do Eterno na Tanach

Considerando as manifestações chamadas de “Universais” – que envolvem situações em que a humanidade está envolvida direta ou indiretamente em algo, vamos ver como o Eterno se manifestou na história.

Em primeiro lugar temos a manifestações do Eterno no dilúvio. Este é o primeiro ato “universal” do Eterno julgando a humanidade e então Ele manifesta seu desagrado ao pecado e condição do homem a uma pessoa: Noach. Esta NÃO É uma manifestação pública, mas sim secreta e que faz com que Noach e sua família preparem-se para o extermínio da humanidade. Isto está explícito no verso que diz: “Então disse Elohim a Noé: O fim de toda a carne é vindo perante a minha face; porque a terra está cheia de violência; e eis que os desfarei com a terra” Gn 6.13. Então podemos ver que no decorrer desta história do dilúvio não há nenhum anúncio público da parte do Eterno para com os demais sobre o que aconteceria.

Continuando temos então o evento da Torre de Babel onde há um “complô” contra o Eterno para fazer com que a humanidade pudesse ter o controle de seu destino. Neste caso há um ingrediente especial: o Eterno não anuncia nada a ninguém e Ele mesmo se encarrega de trazer juízo aos pretensos organizadores do movimento juntamente com os demais. O texto diz: “Eia, desçamos, e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro. Assim o IHVH os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade” Gn 11.7-8.

E quando a história da humanidade caminha adiante temos um outro evento: a destruição de Sodoma e Gomorra. E novamente temos aqui um padrão: o Eterno não anuncia a destruição da cidade a não ser a Avraham. Esta informação temos no texto que diz: “E disse o IHVH: Ocultarei eu a Abraão o que faço, visto que Abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e nele serão benditas todas as nações da terra?” Gn 18.17-18. Neste texto a destruição de quatro cidades não é anunciada a seus habitantes, mas somente a Avraham e isso aconteceu por que ali havia uma família de pessoas que tinham conhecimento do Eterno e Lot estava orando indignado com a maldade reinante nas cidades.

Uma última referência no livro de Gênesis está no capítulo 41 e está ligada à fome no mundo conhecido de então. Este evento é revelado a um homem – Faraó – que tem um sonho de cunho “universal”. O texto nos diz: “Então disse José a Faraó: O sonho de Faraó é um só; o que Elohim há de fazer, notificou-o a Faraó” Gn 41.25. Pelo contexto entendemos que este “fazer” do Eterno está relacionado à fome que viria sobre o mundo conhecido na época.

Todas estas passagens traçam para nós um perfil daquilo que o Eterno fez e ainda faz. Suas ações não são anunciadas a todo o mundo e sim somente ao seu povo ou a um representante mundial que é colocado como “protagonista” na história dando a este a oportunidade de poder então servir ao Eterno através daquele evento.

Podemos afirmar então que o Eterno através das Escrituras age de forma secreta, ou seja, ele NÃO anuncia seus desejos a toda a humanidade, mas faz isso com seu povo através de pessoas específicas que se tornarão seus agentes, anunciadores dos decretos divinos.

A pergunta que surge é: por que o Eterno age de forma “secreta” e não pública? A resposta é simples mas também preocupante: nem todos estão interessados em servir ao Eterno e obedecer à Sua Palavra. Isso faz com que as ações do Eterno sejam diretas e cirúrgicas, ou seja, Ele age de tal forma que não desperdiça tempo e nem palavras com pessoas que não desejam a salvação. Isto está claro desde o princípio quando temos por exemplo Caim matando Abel e quando questionado pelo Eteno fala de forma “grosseira” com o Criador dizendo: “E disse o IHVH a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei: sou eu guardador do meu irmão?” Gn 4.9. Esta resposta demonstra que existe uma “animosidade” entre homens pecadores contumazes e o Eterno. A falta de consciência do pecado e do arrependimento levam tais pessoas a agirem como se fossem senhores do mundo fazendo aquilo que julgam certo contra qualquer um e quando confrontados com o pecado levantam-se como “justos” e ainda buscam incriminar aqueles que agem de forma correta. Por isso o Eterno não perdeu e não perde tempo com tais pessoas. Isso não significa que Ele não esteja dando oportunidades a estas pessoas para que se arrependam e possam então alcançar a salvação. Devo salientar que há uma diferença entre “dar oportunidade” e “anunciar o conselho do Eterno” a todos. A oportunidade está sendo dada aos homens desde o dia de seu nascimento e o Espírito o Santo coloca diante de tais pessoas situações para que sejam alcançadas, mas infelizmente isso não ocorre.

Agora que entendemos o conceito de “público” e “secreto” de acordo com as Escrituras podemos então caminhar em nosso raciocínio.

Vamos para a Brit Hadasha e veremos que há uma “continuidade” no padrão do Eterno para a humanidade.

Na Brit Hadasha temos então eventos universais que são anunciados somente a Israel. Temos o exemplo disso por ocasião do nascimento do Ungido – Messias. Isso ocorre da seguinte forma: “Ora, o nascimento de Ieshua o Ungido foi assim: Estando Mirian, sua mãe, desposada com Iosef, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito o Santo. Então Iosef seu marido, como era justo, e a não queria infamar, intentou deixá-la secretamente. E intentando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do IHVH, dizendo: Iosef, filho de Davi, não temas receber a Mirian tua mulher, porque o que nela está concebido, do Espírito o Santo é. E dará à luz um filho que pôr-lhe-ás por nome Ieshua, porque ele salvará a seu povo de seus pecados” Mt 1.18-21. Este evento de anunciação do nascimento do Ungido repete-se agora para Mirian com as seguintes palavras: “Disse-lhe, então, o anjo: Mirian, não temas, porque achaste graça diante de Elohim, E eis que em teu ventre conceberás, e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Ieshua. Este será grande e será chamado filho do Altíssimo; e o IHVH Elohim lhe dará o trono de Davi, seu pai, e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu Reino não terá fim. E disse Mirian ao anjo: Como se fará isto, visto que não conheço varão? E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito o Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado filho de Elohim” Lc 1.30-35.

Aqui temos uma pergunta muito importante: o nascimento do Salvador da humanidade não deveria ser anunciado publicamente? Não deveria ter havido uma disseminação da informação sobre este evento tão importante? Isso não deveria ter sido anunciado por homens em todo o mundo de então? Estas perguntas nos levam mais uma vez a uma conclusão: o Eterno não faz conhecidos seus decretos publicamente!

Detalhe: fora do âmbito familiar de Iosef e Mirian somente Elisheva soube disso quando foi visitada por Mirian e quando Ieshau nasceu vieram observadores das estrelas – provavelmente judeus da Babilônia – que entendiam dos sinais dos tempos e que atenderam ao chamado da Estrela do Messias que fora profetizada por Bil´am (Balaão) no livro de Números.

Padrão quebrado?

Na continuidade da história tivemos a morte e ressurreição de Ieshua que foram eventos locais – ocorridos em Israel – e que não foram divulgados pelo Eterno, assim como ocorrera com o nascimento d´Ele. Os discípulos de Ieshua passam a falar sobre isso de forma local e em Atos dois temos a difusão destas informações aos judeus que vieram de ouras localidades do Império Romano para as Festa de Shavuot. Detalhe: somente os judeus tiveram estas informações pois eles eram o único povo que esperavam pelo Ungido – Messias. As manifestações que ocorreram em Shavuot não foram divulgadas ou mesmo houve um aviso do que aconteceria!

Mesmo observando este padrão contínuo temos visto pessoas que insistem em dizer que o que Eterno faz é público e não secreto! O que estaria acontecendo com estas pessoas? Estariam eles perdidos em seus raciocínios ou apenas acompanhando outros que já se perderam e que buscam afirmar-se como “inovadores”???

O que vem a seguir?

O próximo evento de caráter mundial é conhecido como “arrebatamento”. E este evento como será? Será público? Ou será secreto?

Vamos tomar então o padrão que já nos foi apresentado nas Escrituras para podermos então concluir sobre o arrebatamento.

A palavra “arrebatamento” no sentido de “tirar alguém da terra” ocorre somente em I Ts 4.16-17 e está no plural. Vejamos: “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com algazarras, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Elohim; e os que morreram no Ungido ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” I Ts 4.16-17. Este texto nos mostra algo interessante: o arrebatamento ocorrerá com um “anúncio” de um shofar e o próprio Sha´ul nos dá a conexão de como isso acontecerá: “Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” I Co 15.51-52.

Com estas palavras podemos entender que este evento somente será notado por pessoas que o estão aguardando, ou seja, os judeus que aguardam a vida do Ungido e os crentes em Ieshua. Se este evento é restrito a um pequeno público – comparado ao número de habitantes da terra – então ele não é público e sim secreto! Isso pode ser afirmado também por causa da palavra usada por Sha´ul: “Eis aqui vos digo um mistério”; um mistério não é revelado a todos!!!

Mas vejamos mais alguns versos que apontam para esta realidade: “E, como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do filho do homem. Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos, assim será também a vinda do filho do homem. Então, estando dois no campo, será levado um, e deixado o outro; estando duas moendo no moinho, será levada uma, e deixada outra. (Dois numa cama, uma será levada, e outra deixada.) Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor” Mt 24.37-42. Estes versos estão no contexto da Vinda do Ungido. Vamos analisar alguns pontos:

– Este evento será comparado aos dias de Noach, ou seja, poucos saberão o que está por vir;

– O texto cita pessoas em seus fazeres diários sendo tomadas – levadas – ao lado de quem não irá;

– O texto nos chama à vigilância justamente pelo DESCONHECIMENTO do momento da vinda do Ungido.

O que temos aqui são argumentos que apontam para o arrebatamento Secreto e não Público! Se fosse o contrário NINGUÉM em sã consciência perderia este momento glorioso da humanidade! O desconhecimento do momento em que Ieshua virá nos mostra também que devemos estar atentos as “pistas” que foram deixadas nas Escrituras e que se cumprem na história apontando para este evento. Citando os dias de Noach, as pistas obtidas pelas pessoas estavam na construção da arca que apontava para algo sobrenatural que ocorreria, levando ainda em conta que Noach era conhecido por seu temente ao Eterno. Estes ingredientes formavam um conjunto de situações que certamente tiveram desdobramentos e que informavam os habitantes locais sobre o que aconteceria num futuro muito breve.

Temos mais uma confirmação disso em Lucas: “Assim será no dia em que o filho do homem se há de manifestar. Naquele dia, quem estiver no telhado, tendo as suas alfaias em casa, não desça a tomá-las; e, da mesma maneira, o que estiver no campo não volte para trás. Lembrai-vos da mulher de Ló. Qualquer que procurar salvar a sua vida perdê-la-á, e qualquer que a perder salvá-la-á. Digo-vos que, naquela noite, estarão dois numa cama; um será tomado, e outro será deixado. Duas estarão juntas, moendo; uma será tomada, e a outra será deixada. Dois estarão no campo; um será tomado, e o outro será deixado” Lc 17.30-36. Novamente Ieshua nos fala sobre estar atento ao que estamos vendo pois isso determinará o que ocorrerá conosco!

Uma exortação é dada aos que esperam este dia: “E olhai por vós, que porventura não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, e borrachice, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia. Porque virá como um laço sobre todos os que habitam na face de toda a terra. Vigiai, pois, em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer e de estar em pé diante do filho do homem” Lc 21.34-36.

Surge então uma pergunta: “Todas as pessoas no mundo sabem disso e esperam por isso” – refiro-me ao arrebatamento. Se a resposta for “SIM” então o arrebatamento será público e somente os mais estúpidos irão perder a oportunidade de não perecer nas mãos do maligno. Creio que uma pesquisa muito rápida mostrará que esse não é o caso, pois a grande maioria das pessoas não sabe e nem espera pelo arrebatamento e mesmo entre aqueles que sabem acerca disso alguns não esperam que isso ocorra!

Voltando à nossa questão, se as pessoas NÃO SABEM sobre o arrebatamento então ele será secreto, ou seja, restrito a um povo!

Antes de meus leitores tirarem conclusões apressadas sobre o tema convido-os a voltarem ao início deste artigo e relembrarem o conceito de “público” e “secreto”, pois é e baseado nestes conceitos que desenvolvo esta linha de raciocínio.

Então…

Para finalizar gostaria de dizer que necessitamos muito de pessoas equilibradas e que não são sugestionadas por opiniões de diversas pessoas que se dizem “estudiosos” ou “eruditos” nas Escrituras. Um alerta especial vai para aqueles que tem desprezado os ensinos do cristianismo por completo e buscam outras “alternativas” para algumas interpretações dadas por eles, entre elas a do arrebatamento de forma secreta.

Sendo muito sincero vejo que temos um grande orgulho que é inflado cada vez mais por pessoas que “concordam” e “aplaudem” líderes que quebram regras fundamentais de interpretação e assim fundamentam seus ditos em versos isolados e também buscando atacar outras pessoas assim procedendo.

Nosso raciocínio precisa vir de padrões pré-estabelecidos nas Escrituras como um todo – por isso fiz questão de buscar referências na Tanach juntando-as à Brit Hadasha por haver uma continuidade entre ambos gerando assim um ciclo que nos dá uma segurança em afirmar que o padrão do Eterno nas Escrituras não muda e isso é também consistente com Seu caráter.

Que o Eterno nos ajude a sermos cuidadosos em nossas colocações sejam por palavras ou escritas, pois daremos conta de tudo isso ao nosso Senhor Ieshua!

Baruch ha Shem!

Mário Moreno.

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