Remédios para a alma
Remédios para a alma – sitra achra
Ira
O Rebe Anterior relatou em nome de seu tio, Reb Zalman Aharon (irmão mais velho do Rebe Rashab): “Quando alguém se torna irado, deve esperar pelo menos sessenta e um minutos, e então pode pensar claramente.”
Igrot Côdesh do Rebe, vol. 7, pág. 116
Nossos Sábios, de abençoada memória, ensinaram: “Quem se deixa levar por um rompante de fúria assemelha-se a um idólatra.”
O motivo para isso é que quando alguém está furioso, a fé em D’us e na Divina Providência o abandonam. Pois se ele acreditasse que aquilo que lhe aconteceu foi obra de D’us, não ficaria furioso. Certo, a pessoa que o está xingando, ou maltratando, ou prejudicando sua propriedade, está fazendo isso por livre arbítrio e portanto é culpado pela sua má escolha, segundo as leis humanas e as leis Divinas. Além disso, o culpado da ofensa não pode alegar inocência dizendo ser meramente um instrumento nas mãos de D’us. Mesmo assim, no que tange à pessoa prejudicada, este incidente já tinha sido decretado no Céu, e “D’us tem muitos agentes”, por meio dos quais Ele age.
Tanya, Igrot Côdesh , Epístola 25
Atitude
Um chassid, assolado por problemas, abordou certa vez o Maguid de Mezeritch em busca de conselho. Percebendo o desespero do chassid, o Maguid enviou-o a Rabi Zusia de Anipoli, para uma orientação mais ampla sobre os seus conflitos.
O próprio Rabi Zusia, porém, estava enfrentando a pobreza e diversos conflitos pessoais. No entanto, ele era famoso pela atitude alegre e animada, apesar das suas condições.
Quando o chassid encontrou Rabi Zusia, ficou bastante surpreso por encontrá-lo num estado de espírito tão positivo. Percebeu que era desnecessário expressar os motivos para sua vinda, pois entendeu imediatamente a intenção óbvia do Maguid ao enviá-lo para lá.
Sichot Côdesh, Vaerá, 5729.
Aceitação
Está escrito em Ética dos Pais (1:12): “Seja como os discípulos de Aharon… ame as criaturas, e aproxime-as da Torá.”
O termo “criaturas” pode parecer arcaico ou uma tradução mal feita do hebraico, mas seu uso é na verdade intencional e exato. Ao usar “criaturas” em vez de “pessoas”, o versículo implica que Aharon fazia contato com indivíduos cuja única virtude positiva era o fato de terem sido criados por D’us.
A lição para nós é sempre lembrarmos que o amor puro de um judeu pelo outro não deveria depender de qualquer qualidade exterior como talento, beleza ou intelecto. Ao contrário, deve-se aceitar e amar um amigo apenas por causa de sua virtude inata de ter sido escolhido por D’us para ser criado. Isso por si só é motivo suficiente para amar e respeitar o próximo.
Sichot Côdesh, Acharon Shel Pêssach, 5736
Sichot Côdesh, Matot-Massê, 5737,
Mudança
Certa vez, quando um chassid abastado procurou o Rebe Rashab, este mencionou uma passagem talmúdica: “O mundo é uma roda que gira”, e acrescentou que embora uma roda seja redonda, ainda existe a parte de cima e a parte de baixo.
O Rebe continuou: “No jardim central de Viena há um grande Ferris que fica acima do chão. Em seus lados pendem carrinhos feitos de vidro e decorados com metal, para que a pessoa que dirige possa enxergar de todos os ângulos. Quando o carrinho é abaixado até o solo, é também levantado. E quando ele chega ao ponto mais alto, pode ver muito longe. A roda gira e o carrinho começa a descer, e no caminho o girar da roda provoca a subida e descida dos carrinhos.”
Há uma hora em que a pessoa está no topo, e há uma hora em que ela está na base.
A natureza do homem é tal que quando ele está em cima, sente-se elevado e ri de pura alegria, e quando está, D’us não o permita, em baixo, ele fica triste e chora amargamente, com o coração pesado.
No entanto, ambos são tolos.
Aquele que está em baixo e chora de tristeza deve ser desafiado: Por que está chorando? É somente uma roda, e a natureza da roda é rodar. D’us ajudará e você será ajudado.
E aquele que está no topo da roda, que se sente exaltado, também deve ser desafiado: Por que está tão empolgado? É somente uma roda, e a natureza da roda é girar.
Sefer HaSichot, 5696, pág. 32
Igrot Côdesh do Rebe Rayatz, vol. 5 pág. 117
Opções
O Rogatchover Gaon certa vez relatou que o dia mais difícil da semana para ele era o Shabat. Durante a semana, quando grandes ondas de pensamentos e percepções fluíam em sua mente, ele sempre tinha a oportunidade de anotá-las. Colocar algo por escrito confina a corrente de pensamentos, tornando mais fácil chegar a uma conclusão sobre o assunto em pauta. Como ele não podia fazer isso no Shabat, tinha de se esforçar muito para conseguir algum tipo de conclusão.
Cada um de nós tem a oportunidade de escolher se os fardos materiais, como ganhar o próprio sustento, deveriam dominar nossa vida (quando nossos pensamentos nos roubam a paz de espírito), ou se troca este fardo e labuta por um fardo mais espiritual e recompensador, o fardo do estudo de Torá. Neste último, a pessoa se esforça tanto que é sobrepujada com uma percepção versus outra, a tal ponto que luta para resolver as duas.
Licutê Sichot, vol. 1, pág. 117
Competição
Há dois níveis no refinamento das midot (atributos emocionais). O primeiro é iskafia, onde as emoções obedecem os ditames do intelecto (abstendo-se do comportamento indesejado). O segundo é is’hapcha, transformar completamente as midot.
Para ilustrar: imagine que uma pessoa tem um competidor em seu ramo de negócio, no mesmo bairro. Quando ele se permite ser controlado por sua alma animalesca, surge nele uma animosidade contra seu competidor. O intelecto da alma Divina então vem e diz: Certamente você acredita que D’us é o Mestre do Universo; portanto, se D’us lhe ordenou ganhar o sustento, como seu concorrente pode tirá-lo de você, indo contra à vontade de D’us? Se, no entanto, foi decidido no Alto que você ganharia menos, acha que o competidor é o único meio pelo qual D’us pode conseguir isso? Portanto, seu concorrente nada está tirando de você. Se é assim, por que ressentir-se com ele?
Após muitos debates interiores, a pessoa começa a sentir que este ódio deixa de afetar suas ações, depois sua fala, e finalmente até seus pensamentos. No entanto, a pessoa ainda não chegou ao nível de is’hapcha, transformação.
A alma Divina continua e diz: “Você deve amar seu próximo como a si mesmo.” Afinal, você é um especialista nesta linha de negócios, e como o sucesso dele não afeta o seu, ajude-o com algum bom conselho, um empréstimo, etc., até que por fim, o ódio se transforme em amor.
Esta última parte é o significado do nível mais elevado de is’hapcha.
Igrot Côdesh do Rebe, vol. 3, pág. 197.
Concentração
Certa vez, quando estava de pé à margem de um rio perto de sua madeireira nas proximidades da cidade de Riga, Rabi Binyomin Kletzker (um chassid do Alter Rebe) estava profundamente imerso em pensamentos, aparentemente preocupado com um conceito da Chassidut que exigia muita concentração. Ele permaneceu na mesma posição durante cinco horas. Quando voltou a si, ficou chocado pelas expressões espantadas no rosto de diversos observadores. Ele exclamou: “Meu assombro e espanto [para com vocês] é maior que o de vocês [para comigo], pois ficar pensando em madeira em Riga ao mesmo tempo em que recito o Shemá é considerado aceitável! Mas quando alguém medita sobre Echad (a unidade de D’us) durante os negócios… isso provoca assombro!”
Sefer HaSichot 5686, pág. 100.
Conflito Interior
Quando alguém é incomodado por pensamentos negativos e subseqüentemente os afasta de sua mente, não deve sentir-se deprimido ou muito preocupado em seu coração. Ele deveria ser de certa forma incomodado pela ocorrência desses pensamentos, senão poderia tornar-se indiferente a eles e deixar de combatê-los. Porém não deve ficar muito preocupado por eles, mesmo se tiver de se envolver constantemente neste conflito com os pensamentos que teimam em entrar na sua mente. Embora ele talvez não chegue jamais ao nível que impede a sua ocorrência, não deve ficar deprimido. Pois talvez seja para isso que ele foi criado e este é o serviço exigido dele – dominar a sitra achra (o lado da profanidade) constantemente.
Tanya, cap. 27
Depressão
Quando uma pessoa se encontra numa situação de “depois do pôr-do-sol”, quando a luz do dia cedeu lugar à penumbra e à escuridão, não deve se desesperar. Ao contrário; deve se fortalecer com uma completa confiança em D’us, a Essência da Bondade, e aceitar sinceramente a firme crença de que a escuridão é apenas temporária. Acreditar que ela logo será vencida por uma luz brilhante, que será vista e sentida ainda mais forte por meio da supremacia da luz sobre as trevas, e pela intensidade do contraste.
… Similarmente, no que tange a cada indivíduo, aqueles que se encontram num estado de exílio pessoal, não há motivo para desencorajamento e melancolia, D’us não o permita. Pelo contrário, a pessoa deve encontrar força adicional na completa confiança no Criador e Mestre do Universo, que sua libertação pessoal do desgosto e confinamento está rapidamente a caminho.
Uma carta do Rebe, 15 de Kislêv, 5738 (1978)
É explicado na Torá Ohr (Parashat Toledot) que a pessoa deve usar a depressão para estudar assiduamente.
Igrot Côdesh do Rebe, vol. 3, pág. 370
Fé
Um chassid lamentou-se certa vez ao Tsêmach Tsêdec que sua fé era instável e que com freqüência tinha dúvidas sobre suas crenças. O Tsêmach Tsêdec perguntou-lhe: “Que diferença isso faz para você?” O chassid respondeu com grande emoção: “O que quer dizer, que diferença isso faz para mim??!” O Rebe então lhe disse: “Sua reação [à minha observação casual] indica que sua crença está intacta.”
Igrot Côdesh do Rebe, vol. 17, pág. 325
Esforço
Um chassid certa vez pediu ao Tsêmach Tsêdec para abençoar seu filho com uma boa memória, para que ele lembrasse de tudo que iria ver e ouvir do Rebe e dos chassidim, e portanto se tornasse automaticamente temente a D’us.
O Rebe respondeu: “Durante mais de cinqüenta anos, meu avô (o Alter Rebe), meu sogro (o Mitteler Rebe) e eu temos nos esforçado para ensinar judeus a ‘conquistarem’ seu temor a D’us por intermédio de sua avodá (cumprimento de mitsvot e estudo da Torá). Você quer que eu prive seu filho deste grande mérito – tornar-se um judeu temente a D’us às custas de seu serviço ao Criador?”
Licutê Sichot vol. 3, pág. 800;
Sefer HaSichot 5700, pág. 57
Boa Saúde
Um famoso erudito visitou o Rebe durante o período de shivá [luto de sete dias] pela sua esposa, Rebetsin Chaya Mushka, de abençoada memória. Naquela ocasião, o visitante insistiu com o Rebe para que este cuidasse da própria saúde e bem-estar, por causa de sua importância para tantas pessoas.
O visitante fez o pedido de maneira relutante, pois isso poderia ser interpretado como uma expressão de chutzpá. Porém, mesmo assim conseguiu reunir coragem para expressar sua preocupação apoiado pela semichá [Diploma Rabínico] que tinha recebido de grandes eruditos de Torá da geração anterior.
O Rebe respondeu citando as palavras de seu sogro: “O sinal de uma pessoa saudável é alguém que não consegue sentir a si mesma. De outra forma, o próprio ‘sentir’ de seu ser físico indica uma deficiência na saúde e um pedido silencioso de ajuda. É melhor que eu não tenha de vigiar minha saúde, pois desde o princípio eu serei saudável.”
O Talmud declara: Quem “sente” sua cabeça (por causa de uma dor) deveria se preocupar com o estudo de Torá. Se o Talmud recomenda este remédio para alguém que já está sofrendo, muito mais este remédio aplica-se para prevenir uma dor.
Torat Menachem Tzion, vol. 1, pág. 153
Um Lar Feliz
O Rebe foi certa vez abordado por um homem que lhe pediu para verificar o costume de um homem dobrar seu talit logo depois do Shabat como uma bênção para shalom bayit (paz no lar).
Os chassidim dizem que o Rebe respondeu: “Não posso dizer se isso ajuda no sentido de aumentar a paz no lar; no entanto, estou convencido de que quando um marido arregaça as mangas e lava os pratos remanescentes do Shabat, essa definitivamente é uma bênção para shalom bayit.”
História contemporânea relatada por um chassid
Conservando a Juventude
Existe um ditado chassídico sobre a passagem: “Mas aqueles que colocaram sua esperança no Senhor terão seu vigor renovado” (Yeshayáhu 40:31). A palavra usada para transmitir “renovado” (yachalifu” [i.e., seu vigor], também pode significar “intercâmbio” (l’hit’chaleif). O povo judeu fez um intercâmbio com D’us: eles dedicam a D’us seus pensamentos, palavras e ação, e por Sua vez D’us lhes concede Sua força. E como as forças de D’us não são limitadas ou mitigadas pelo processo de envelhecimento – pois envelhecer não se aplica a Ele – os judeus, também, podem ser um povo jovem para sempre.
Torat Menachem 5716, vol. 1, pág. 198
Preocupação
Em resposta a uma carta, o Rebe escreveu: “A respeito da bênção que você recebeu de meu sogro, você tem a opção de se preocupar se a bênção irá ou não se materializar – e quando ela finalmente se materializar você estará duplamente sobrecarregado por ter desperdiçado tanta energia preocupando-se em vão – ou pode escolher ser forte em sua fé e confiar que D’us o levará no caminho reto e concederá todas as suas necessidades.
“Então você poderá dizer: ‘olhe como cuidei bem da situação, pois não me preocupei com coisas sobre as quais não havia motivo para me preocupar.’”
Igrot Côdesh do Rebe, vol. 4, pág. 256.
Humildade
Um erudito brilhante e famoso, excepcionalmente dotado e muito profundo em seus estudos, foi a Liozna e envolveu-se no estudo da Chassidut. Com sua poderosa capacidade intelectual, em pouco tempo já tinha absorvido um vasto conhecimento.
Em sua primeira yechidut com o Alter Rebe, ele perguntou: “Rebe, o que me falta?” O Rebe respondeu: “Não lhe falta nada, pois é temente a D’us e é um erudito. Você precisa, no entanto, livrar-se do chamêts, do senso de si mesmo e da arrogância – e deixar fluir a matsá, que é bitul, anulação, humildade; a renúncia do próprio eu.”
HaYom Yom, 27 de Tamuz.