Sozinho em Casa

Mário Moreno/ outubro 19, 2023/ Artigos

Sozinho em Casa

Noach simplesmente não consegue. Apesar do fato de que ele quase sozinho salvou o mundo, alimentou-o e cultivou um novo sopro de vida para um planeta de outra forma destruído, ele dificilmente obtém a fama e o reconhecimento que seus antecessores, Abraão, Isaque e Ia´aqov, recebem. Na verdade, a biografia de Noach é resumida na leitura desta semana: “E Ele apagou todas as espécies da terra, e Noach permaneceu – sozinho”. (Gn 7:23) Noach leva a existência solitária do único sobrevivente, e seu lugar na história, especialmente na história judaica, dificilmente é monumental. Qual é a falha que limita Noach a uma estatura muito inferior a patriarcal? Por que o único salvador da humanidade não conta com a grande aclamação que é concedida aos nossos antepassados? Por que Noach não é considerado o primeiro, senão o principal, dos nossos antepassados?

Apesar das diferenças evidentes entre Abraão e Noé, há um pequeno incidente que aparentemente ligaria os dois líderes – ambos plantaram. Em Gn 9:21 a Torah nos diz: “E Noach, o homem da terra, plantou uma vinha. Ele bebeu do vinho e ficou bêbado.” Abraão também plantou. Em Gn 21:33 a Torah relata: “E Abraão plantou um esel em Berseba”. Rashi comenta que existem pontos de vista conflitantes quanto à interpretação exata de eshel. Alguns explicam que Abraão plantou um pomar com a intenção de alimentar os viajantes famintos. Outros explicam que um eshel é uma pousada. Abraão construiu uma pousada para os viajantes descansarem.

Não importa qual interpretação lhe atraia, o forte contraste entre Noé e Abraão é óbvio. Abraão planta para os outros, Noach para si mesmo. O objetivo de Abraão na vida era educar, nutrir e ensinar outras pessoas sobre Hashem. Noach, por outro lado, estava prevendo a destruição ao construir uma arca por mais de um século, mas não foi capaz de recrutar um único passageiro. Ele sai da arca e fica bêbado – perdido em seu próprio mundo.

Um dos maiores confeiteiros kosher da América foi um grande apoiador de Beth Medrash Govoah, a Yeshiva e Kollel fundada pelo falecido Rabino Aaron Kotler e liderada por vinte anos por seu falecido filho, Rabino Shneur Kotler. Num importante evento nacional, este industrial teve a oportunidade de apresentar Reb Shneur. Ele fez isso de uma maneira única.

“Na verdade”, proclamou ele, “tanto Reb Shneur quanto eu temos muito em comum. Ambos fomos para o Cheder na Europa, sobrevivemos à guerra e agora ambos dirigimos instituições importantes. Oferecemos ao público um produto de excelência, doce e saboroso. Muitas pessoas fazem fila para falar comigo e muitas esperam na fila para falar com o Rabino. Nós dois somos bem conhecidos e nos esforçamos muito para ajudar os outros”.

“No entanto, há uma grande diferença entre nós.” O magnata fez uma pausa e sorriu. “Eu faço pirulitos e o rabino Kotler faz homens.”

Todos nós produzimos. A pergunta que todos devemos nos fazer é “para quem estamos produzindo?” Estamos gerando frutos que serão usados em benefício da humanidade ou estamos nos fornecendo frutos para auto-indulgência?

Noach teve a oportunidade de salvar muito mais vidas. Ele poderia ter sido o pai da humanidade e talvez, como homem que teve contato direto com o Criador, poderia ter substituído Abraão como fundador do Judaísmo.

Apesar da sua grandeza pessoal e da capacidade de superar a terrível onda de corrupção e imoralidade que condenou a sua geração, Noé ainda não aproveitou uma oportunidade importante. Ele não foi capaz de nutrir e salvar sua geração. “E Noach permaneceu sozinho.” Ele ficou bêbado. Abraão plantou um pomar de generosidade. Ele floresceu. Abraão fez os homens; Noach fez vinho.

Tradução: Mário Moreno.

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