A caminho da redenção
A caminho da redenção
JERUSALÉM – Em um sufocante porão de uma rua estreita da Cidade Velha em Jerusalém, alfaiates usando textos antigos como modelo começaram a fazer uma curiosa linha de roupas que, eles esperam, serão usadas pelos religiosos no Templo Judeu reconstruído – o centro espiritual do judaísmo, destruído pela legiões romanas há dois milênios.
O projeto, desenvolvido por um grupo de Jerusalém chamado o Instituto do Templo, é parte de uma ideologia que executa preparações práticas para a reconstrução do antigo Templo em uma área disputada, sagrada tanto para judeus como para muçulmanos.
Judeus chamam o local de Monte do Templo e o veneram como seu local mais sagrado. O templo em si foi destruído e, nos últimos 1.300, anos abrigou o terceiro local mais sagrado para os muçulmanos, o Santuário Nobre, incluindo o domo dourado e a Mesquita Al-Aqsa.
Esses interesses em choque ficam no centro do conflito entre Israel e Palestina, e tentativas anteriores de superar a situação culminaram com grande violência.
O Instituto do Templo fez ornamentos religiosos, no passado, para exposição no pequeno museu que administra, mas aqueles foram costurados à mão e custaram cerca de US$ 10 mil cada. O instituto recentemente recebeu autorização de rabinos para começar a usar máquinas de costura pela primeira vez, baixando o custo e permitindo que produzam dúzias ou centenas de vestimentas, dependendo do número de pedidos que recebam.
Se você for um descendente da classe sacerdotal judaica, um traje completo, incluindo um longo cinto bordado, pode ser seu por cerca de US$ 800.
“Antes, as roupas eram feitas para serem expostas. Agora estamos engajados na prática do cumprimento do mandamento divino”, disse Yehuda Glick, diretor do Instituto do Templo, na cerimônia de abertura da fábrica.
A fibra de linho foi comprada na Índia e o tecido, com padronagem em losangos, foi confeccionado em Israel. O tingimento azul, que a Bíblia chama de tchelet, é feito de secreções de um caracol encontrado no mar Mediterrâneo, e a cor vermelha vem de insetos encontrados em árvores locais.
A classe sacerdotal, formada por descendentes da figura bíblica de Aarão, eram um grupo de elite responsável pelo Templo e por seus rituais, como sacrificar animais e fazer oferendas. A memória de fazer parte dessa classe foi mantida por judeus por milênios. O sobrenome Cohen, por exemplo, significa sacerdote.
O Instituto do Templo, e outras pessoas que acreditam que esses sacerdotes modernos logo terão que retomar os rituais de seus ancestrais, acreditam que preparando seus trajes eles estão trazendo esse dia cada vez mais perto.
“A luz de Deus está voltando, e está acontecendo na frente de nosso olhos”, disse Glick. Fazendo essas vestimentas para os sacerdotes do Templo, ele e seu instituto estão “continuando um processo que foi negligenciado por dois mil anos”, disse.
O Instituto do Templo não advoga ações violentas e diz que suas atividades são puramente educacionais. Mas grupos como o instituto, embora de pouca expressão, fazem com que os muçulmanos temam que os judeus destruam seu local sagrado para reconstruir o templo.
Adnan Husseini, ex representante muçulmano do local e agora conselheiro de questões de Jerusalém para o presidente palestino Mahmoud Abbas, chamou o trabalho desses grupos uma “provocação.”
“Se eles falam de construir o Templo, o que isso significa? Significa destruir mesquitas islâmicas”, disse. “E se eles o fizerem, ganharão 1,5 milhão de inimigos. É o desejo de Deus que esse seja um local de oração islâmico e eles devem respeitar isso.”
A maior parte dos judeus ortodoxos vê a reconstrução do Templo como um evento que teoricamente será feito por Deus quando os judeus merecerem isso, e o judaísmo tradicionalmente proíbe preparações práticas para esse propósito.
Mas o pequeno grupo nesse porão, membro de uma linha radical entre os nacionalistas israelenses, vê essa corrente de pensamento como uma desculpa para falta de ação.
“No momento em que estivermos prontos, as roupas estarão prontas e os sacerdotes poderão iniciar os trabalhos”, disse Hagai Barashi, alfaiate assistente. Que usava um roupão bíblico e chinelos da Nike.
Segundo o alfaiate Aviad Jarufi, os trajes não podem ser vendidos em lojas. A lei judaica estabelece que eles sejam feitos sob medida.
Yisrael Ariel, rabino que fundou o Instituto, é especialista em rituais do Templo e é associado com a facção religiosa radical de Israel. Na década de 1980 ele foi o número dois de uma lista parlamentar anti-árabe que acabou denunciada como racista.
Seu instituo é dedicado à recriação de artefatos usados no Templo não apenas como um exercício histórico mas como uma maneira de se prepararem para sua reconstrução e, se possível, acelerar esse processo. Em seus 20 anos de existência, o instituto recriou um candelabro de sete ramos de US$ 3 milhões assim como harpas, altares e recipientes de incenso.