Amor Duro
Amor Duro
A Torah não apenas nos ensina o que fazer e o que não fazer. Ela nos adverte antes de sairmos do caminho certo. A porção da semana passada nos adverte a não seguir nossos olhos ou corações. Êxodo 34:11 nos ordena a não socializar com adoradores de ídolos, para que não nos casemos com um cônjuge que nos afaste de nossa fé.
Na maioria das vezes, as advertências sobre o pecado são sucintas e precisas. O foco da Torah é claro: evite qualquer atividade que leve ao desvio do caminho de Hashem. Nesta semana, a Torah parece gastar tanto esforço nos exortando sobre o envolvimento com más influências quanto com o próprio pecado.
A Torah discute dois cenários em que as pessoas pretendem desviar os judeus. O primeiro caso é o do falso profeta. Deuteronômio 13:2: “Se houver um profeta ou sonhador que produza um sinal ou uma maravilha dizendo: ‘vamos seguir deuses de outros povos’, não o ouça.” A Torah então nos exorta a manter nossa fé e elucida como lidar com o falso vidente. A próxima seção trata não de um falso profeta, mas de um parente. Deuteronômio 13:7: “Se teu irmão, filho de tua mãe, ou teu filho ou filha, ou tua mulher, ou um amigo que é como a tua alma, secretamente te seduzir dizendo: vamos adorar outros deuses, aqueles que você ou seus antepassados não adoraram saber.”
A Torah faz mais do que nos exortar a não seguir o suposto influenciador. Ele reitera a admoestação em nada menos que cinco expressões diferentes. “Você não deve aceder a ele; não lhe darás ouvidos; teu olho não se compadecerá dele; não te compadecerás dele; não o esconderás”.
Quando se refere aos nossos próprios erros ou aos de um falso profeta, a Torah simplesmente nos adverte: “não ouça” ou “não siga seu coração”. No entanto, ao se referir a parentes, a Torah oferece uma ladainha de variações sobre um tema de desrespeito.
Nossos próprios sentimentos não deveriam precisar de mais e mais fortes advertências do que ideias sugeridas por um amigo ou parente? Certamente um profeta que conjura milagres impressionantes deve merecer cinco ou seis expressões de cautela. Nesse caso, tudo o que a Torah diz é: “não dê ouvidos a ele, pois Hashem está testando você”. Não se fala em misericórdia, compaixão ou ocultação, como quando a Torah fala sobre parentes. Por que?
Robert A. Rockaway, um conhecido autor da história judaica americana, decidiu publicar um trabalho sobre uma pessoa judia menos glorificada, o gângster judeu. Em sua pesquisa, ele entrevistou antigos mafiosos judeus, suas famílias e amigos. Nascido em Detroit, Michigan, ele entrevistou sua própria mãe, que conhecia algumas das famílias notórias sobre as quais ele estava escrevendo.
Ao discutir alguns dos atos nefastos de um dos bandidos locais, sua mãe o interrompeu abruptamente. “Isso tudo pode ser verdade, mas ele foi bom para sua mãe!”
A Torah compreende a afinidade íntima que nosso povo tem com os parentes.
Basta uma ou duas palavras de advertência para não darmos ouvidos ao falso profeta que vem com sinais milagrosos e oratória hipnotizante. Apenas nos diz: “não o ouça”. Mesmo ao discutir nossos próprios desejos e paixões, ele simplesmente nos adverte: “não siga seu coração”.
Porém, ao se referir a parentes, irmãos, irmãs e parentes, a Torah tem uma missão difícil. Tendemos a desculpar erros, encobrir erros e nos harmonizar com nossos entes queridos – embora os resultados possam ser terrivelmente destrutivos. Existem inúmeras histórias de pais que não tiveram coragem de restringir as atividades noturnas de seus filhos. Muitas histórias são contadas sobre o homem que foi enganado pelo erro de seu cunhado porque ele não teve coragem de recusar suas propostas para o mal.
A Torah expressa sua advertência de cinco maneiras diferentes. Você deve amar seus parentes até certo ponto, mas muito antes do ponto sem retorno.
Tradução: Mário Moreno.