Apesar da conspiração
Apesar da conspiração
Existem ocasiões nas quais D-us nos dá o privilégio de testemunharmos de seu amor e fidelidade através de nossa personalidade. Somos vistos por todos, principalmente por aqueles que estão em posições mais elevadas e que procuram pessoas idôneas para se acercarem delas. Assim aconteceu com Daniel, que foi tido por fiel e idôneo diante do rei Dario.
Daniel havia sido investido de autoridade pelo rei e em contrapartida distingue-se de todos os outros, pois nele havia um espírito excelente: “Então o mesmo Daniel sobrepujou a estes presidentes e príncipes; porque nele havia um espírito excelente; e o rei pensava constituí-lo sobre todo o reino” Dn 6.3. Hoje sabemos que este fato deu-se porque Daniel estava sendo dirigido por D-us para fazer tornar-se realidade o desejo do coração de D-us em meio ao cativeiro que havia sido imposto aos israelitas por Dario. Porém nem tudo estava bem, pois nos bastidores da história corria uma trama infernal para derrubar Daniel; porém sua fidelidade e idoneidade eram tamanhas que seus oponentes confessaram: “Nunca acharemos ocasião contra este Daniel se não a procurarmos contra ele na lei de seu D-us” Dn 6.5. Todos sabiam que Daniel orava três vezes ao dia ao Senhor e este foi o meio encontrado por eles para tentarem derrubar a Daniel de sua posição. Seus adversários fazem uma lei que sabiam o rei haveria de aprovar, pois a mesma visava colocar o mesmo na posição de D-us, mexendo assim com o ego dele, elevando ainda mais o orgulho do grande imperador persa. O rei ouve, pondera e assina a lei que não poderia ser anulada ou revogada. Quando Daniel toma conhecimento da lei, vai à presença de D-us buscá-lo, pois ele bem sabia quais as implicações desta nova lei, e por isso Daniel agora se posiciona diante de D-us e dos homens; continuaria a ser fiel à D-us, não importa quais forem as consequências ou o preço a ser pago. Esta atitude demonstra que o amor de Daniel ao Eterno é muito maior que o temor que ele sentia pelo rei Dario ou por uma lei que poderia privá-lo de uma comunhão mais intensa com seu Criador.
Daniel continua sua “rotina” diária, trabalhando e buscando a face do Eterno – orando três vezes ao dia – e é neste momento que novamente aparecem em cena os inimigos para acusarem a Daniel diante do rei que parece não ter conhecimento ou até ter se esquecido de que seu servo mais fiel orava à D-us, pois sua fama de homem de D-us era notória à todos; nada da vida de Daniel era oculto aos homens e principalmente ao rei Dario. Agora o rei é colocado em xeque, pois havia assinado uma lei contra seu mais fiel servo e não poderia voltar atrás, mas ainda assim ele tentou salvar a Daniel: “Ouvindo então o rei essas palavras, ficou muito penalizado, e a favor de Daniel propôs dentro do seu coração livrá-lo; e até ao pôr do sol trabalhou para salvá-lo” Dn 6.14. Pressionado pelos inimigos de Daniel, o rei se vê obrigado a cumprir a lei e manda Daniel à cova dos leões, dizendo-lhe: “O teu D-us, a quem continuamente serves, Ele te livrará” (Dn 6.16).
Que bela cena: o rei Dario é usado por D-us e profetiza o livramento de Daniel, ainda que não creia no que está dizendo e não saiba o que D-us fará a partir de então. O rei sofre muito com sua decisão; jejua, não dorme à noite e cedo vai à cova saber o que acontecera a Daniel. E quando, diante da cova onde Daniel tinha sido lançado, o rei o chama tristemente perguntando-lhe: “…dar-se-ia o caso que o teu D-us, a quem tu continuamente serves, tenha podido livrar-te dos leões?” (Dn 6.20). Notemos alguns itens nestas palavras do rei:
Tristeza – seu maior “colaborador” tinha sido lançado na cova dos leões por causa de uma “intriga” política em seu reino;
dúvida – “…dar-se-ia…” – o que havia acontecido? Seria o D-us de Daniel capaz de ter operado um milagre a fim de salvá-lo?
reconhecimento – …”a quem tu continuamente serves…” – o rei Dario reconhece a fidelidade de Daniel ao D-us de Israel… Ele sabia que ele era um homem obediente à Torah e que cumpria aquilo que o Eterno desejava para seu povo; mesmo estando no cativeiro sua obediência era notória à todos.
O rei sabia que os animais (os leões) eram um meio de punição cabal; eram preparados para tal; eram ferozes, agressivos e com certeza estavam famintos e por isso o rei finaliza sua palavra dizendo: “…tenha podido livrar-te dos leões”? Sabia também que era praticamente impossível sobreviver alguns minutos naquele lugar, quanto mais durante toda uma noite!
Mas, o impossível acontece! Ouve-se uma voz que vem de dentro da cova (e não era a voz dos leões!) que dizia: “O meu D-us enviou o seu anjo e fechou a boca dos leões”. Estas palavras certamente causaram um espanto e uma alegria muito grande ao rei, pois ele fora ali para lamentar a morte de Daiel; agora porém ele ouve a voz de Daniel e sabe que ele está vivo! D-us não livrou Daniel da cova, mas na cova! Ele fora lançado ali, mas não estava só! Imagine só o espanto dos animais ao verem seu desejo de comida frustrado pelo anjo enviado por D-us para guardar Daniel! E certamente aquele anjo que fora enviado para guardar Daniel deve ter dito aos animais que eles não iriam “jantar” aquela noite! Portanto, a noite transcorreu tranquila e todos devem ter dormido em paz na cova (o que não deve ter acontecido no palácio, pois o rei não dormiu à noite!). Mesmo na cova havia paz, pois a presença de D-us ali estava.
Em alguns instantes a tristeza do rei transformou-se em alegria, pois ele ouvira do próprio Daniel a voz dizendo que tudo estava bem. Porque D-us livrou a Daniel na cova? Porque D-us precisava de um fato que pudesse impactar não somente o rei Dario, mas também a todo o império persa. A inocência de Daniel e a confiança de Daniel no Eterno foram os ingredientes usados por Ele para operarem o livramento de Daniel, e tudo isso aconteceu como manifestações de um relacionamento que estava sendo mantido entre D-us e Daniel já de longa data. Em face disse D-us poderia fazer o que bem desejasse com Daniel, pois ele sabia que seu servo estava pronto para ser usado a fim de exaltar o nome do Senhor, ainda que isso implicasse em conspiração, falsidade, fingimento e opressão, que foram levados à cabo para condenam o inocente Daniel.
Mas a seu tempo, D-us dá o livramento e assim consuma o desejo de seu coração: expôs à vergonha as hostes do inimigo (tanto espirituais quanto físicas) elevando seu servo através de seu testemunho e exaltando seu próprio nome entre os povos.
Que possamos aprender isso: haja sempre de nossa parte liberalidade em termos nossas vidas de tal forma entregues à D-us que, possamos dar-lhe o direito de fazer o que bem entender, quando bem entender e como bem entender, pois afinal de contas, Ele é o Senhor!
Baruch Ha Shem!
Mário Moreno.