As bases do julgamento divino

Mário Moreno/ agosto 16, 2018/ Artigos

As bases do julgamento divino

Ora, fui questionado em nosso grupo de bate-papo sobre uma questão muito interessante, citando Lucas 11:31 e 33 o autor da pergunta questionou:

De que período Ieshua trata nesta passagem?

Minha resposta de acordo com o conhecimento que tenho foi que só poderiam ser em duas épocas distintas, uma durante um dos julgamentos no período do milênio, ou no grande julgamento pós-milênio. Agora, vejamos o que as escrituras nos ensinam sobre isso.

É importante salientar que esta conversa de Ieshua com os fariseus foi registrada em dois evangelhos sinópticos, Mateus e Lucas.

Ora, enquanto ele dizia estas coisas, certa mulher dentre a multidão levantou a voz e lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que te amamentaste. Mas ele respondeu: Antes bem-aventurados os que ouvem a palavra de Elohim, e a observam. Como afluíssem as multidões, começou ele a dizer: Geração perversa é esta; ela pede um sinal; e nenhum sinal se lhe dará, senão o de Jonas; porquanto, assim como Jonas foi sinal para os ninivitas, também o Filho do homem o será para esta geração. A rainha do sul se levantará no juízo com os homens desta geração, e os condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão; e eis, aqui quem é maior do que Salomão. Os homens de Nínive se levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas; e eis aqui quem é maior do que Jonas. Ninguém, depois de acender uma candeia, a põe em lugar oculto, nem debaixo do alqueire, mas no velador, para que os que entram vejam a luz” – Lucas 11:27–33.

O texto de Lucas nos mostra pouco sobre o contexto de suas afirmações, isto se deve pelo fato de Lucas ter relatado o que ouviu dos discípulos. Porém o texto a seguir, que está no Livro de Mateus, nos revela bem mais. Mateus provavelmente estava presente no momento que Ieshua pronunciou esta profecia, ele relata o contexto. Em sua caminhada entre as ovelhas perdidas da casa de Israel, não havia um monólogo, bem como não existe hoje monólogos nas sinagogas em Israel, tudo é um debate. Mas é sem dúvida alguma muito difícil de debater em ELE, pois é ELE quem é o autor de nossa história, da Palavra de criador de todos nós.

No texto a seguir podemos ler que Ieshua estava inicialmente falando sobre o perdão dos pecados daqueles que blasfemam contra ELE.

Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha. Portanto vos digo: Todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. Se alguém disser alguma palavra contra o Filho do homem, isso lhe será perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito o Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro” Mt 12:30–32.

A seguir ele questiona como podemos falar coisas boas, mas agir praticando a iniquidade. Então ele continua até o ponto que nos revela que as palavras que dizemos tem um peso fundamental em nosso julgamento.

Digo-vos, pois, que de toda palavra fútil que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo” Mt 12:36.

Logo depois ele salienta que a justificação também será através das palavras. Do reconhecimento de seus pecados, reconhecimento da fé em Ieshua. Somente através desta confissão é que poderemos ser justificados, pois somente o derramar de seu sangue pode prover a verdadeira expiação de pecados (kaparah).

Porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado” – Mt 12:37.

A seguir, mediante tão duras palavras, os fariseus percebem que Ieshua não é uma pessoa comum, ou mais um rabino. Ele fala com autoridade e conhecimento da matéria como nenhum outro falou antes. Ieshua não fala de ideias vagas do juízo final, do final dos tempos ou da ressurreição dos mortos. Ninguém falou como ELE sobre isso. Para terem certeza de quem está adiante deles ou simplesmente para achar lacunas em seu discurso, eles dão um passo adiante tentando obter um sinal ou uma negação.

Então alguns dos escribas e dos fariseus, tomando a palavra, disseram: Mestre, queremos ver da tua parte algum sinal. Mas ele lhes respondeu: Uma geração má e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal se lhe dará, senão o do profeta Jonas; pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra” – Mt 12:38–40.

Ieshua acabara de revelar aos fariseus dois importantes segredos, o primeiro deles é qual o sinal que identificaria o Mashiach, o segundo é que ele estava prestes a cumprir este sinal. Então porque o sinal do Profeta Jonas? Bem, para quem entende de Hebraico Bíblico fica muito mais claro, pois a palavra utilizada por Jonas quando ele ora a Adonai descrevendo quando estaca no ventre do Peixe é Sheol, ou seja a morada dos mortos. Para o judaísmo do período do segundo templo, quando Ieshua falou isso, estava claro que estava falando de morte e ressurreição.

Agora, neste momento Ieshua parte para a questão profética. Ele quer leva-los a uma compreensão não somente do seu passado, de sua história, de sua doutrina, mas também do por vir. Dos últimos dias, quando todos serão julgados. Anteriormente destacamos que a conversa tratava de juízo, julgamento. Então aprendemos pelo texto que o que mais vai pesar em nosso julgamento serão nossas palavras. Então ele começa a instá-los ao arrependimento, o mesmo dos ninivitas:

Os ninivitas se levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui quem é maior do que Jonas
Mt 12:41.

Após os ninivitas, ELE os insta a lembrar daquilo que gostam mais, a sabedoria. Para um judeu muito mais fácil ouvir sobre sabedoria do que sobre arrependimento, então ELE cita a rainha de Sabá, a rainha do SUL.

A rainha do sul se levantará no juízo com esta geração, e a condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis aqui quem é maior do que Salomão” – Mt 12:42.

Sua estratégia era mostrar que o juízo vai chegar, e é necessário o novo nascimento, o verdadeiro arrependimento. Então Ieshua nos ensina que não devemos nos enganar com uma limpeza superficial, é necessário dar lugar a presença do Ruach Ha Codesh, o Espírito o Santo. É necessário abandonar a filosofia farisaica, o copo não estar limpo somente por fora, tem que estar por dentro. A casa não pode estar somente limpa e varrida, é necessário que seu verdadeiro dono habite nela. Não basta lavar as mãos, precisa purificar o coração. As belas palavras que dizemos tem que ser fruto de vidas belas. Vidas que amam e servem a Adonai de todo coração.

Leiamos todo o texto novamente a seguir, afim de aprendermos o contexto correto.

Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha. Portanto vos digo: Todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada. Se alguém disser alguma palavra contra o Filho do homem, isso lhe será perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito o Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro. Ou fazei a árvore boa, e o seu fruto bom; ou fazei a árvore má, e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore. Raça de víboras! como podeis vós falar coisas boas, sendo maus? pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. O homem bom, do seu bom tesouro tira coisas boas, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más. Digo-vos, pois, que de toda palavra fútil que os homens disserem, hão de dar conta no dia do juízo. Porque pelas tuas palavras serás justificado, e pelas tuas palavras serás condenado. Então alguns dos escribas e dos fariseus, tomando a palavra, disseram: Mestre, queremos ver da tua parte algum sinal. Mas ele lhes respondeu: Uma geração má e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal se lhe dará, senão o do profeta Jonas; pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra. Os ninivitas se levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui quem é maior do que Jonas. A rainha do sul se levantará no juízo com esta geração, e a condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis aqui quem é maior do que Salomão. Ora, havendo o espírito imundo saído do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso, e não o encontra. Então diz: Voltarei para minha casa, donde saí. E, chegando, acha-a desocupada, varrida e adornada. Então vai e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele e, entretanto, habitam ali; e o último estado desse homem vem a ser pior do que o primeiro. Assim há de acontecer também a esta geração perversa” – Mt 12:30–45.

Ieshua sem dúvida alguma está falando de dois contextos, o imediato, a necessidade de arrependimento imediato. A necessidade de purificação imediata e de um novo nascimento imediato. O segundo contexto é o julgamento vindouro. Onde ninguém ficará impune sem o arrependimento, a purificação e o novo nascimento. Isto sem dúvida alguma está relacionado ao tempo do julgamento final, conforme pode aqui:

E vi um grande trono branco e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiram a terra e os céus; e não foi achado lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, em pé diante do trono; e abriram-se uns livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida; e os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras” – Ap 20:11–12.

Minha conclusão é que semelhante a declaração de Ieshua, tanto no texto em Mateus quanto no de Apocalipse, o Senhor está nos revelando o que ocorrerá durante o julgamento final das almas. Onde aquilo que eles falam será balanceado com aquilo que eles fizeram. No debate mais duro entre Ieshua e os Fariseus e Saduceus, o mestre ensina-nos que mais do que externar religiosidade, mais do que pregar, mais do que doutrinar, mais do que ensinar, nos é necessário viver uma vida de prática de misericórdia e graça para com aqueles que necessitam.

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas” – Mt 23:23.

Isto leva-nos as declarações de Tiago sobre a soberania das boas obras como demonstração de uma vida que realmente vive pela fé, praticando a graça, a misericórdia e amor para com os que necessitam.

Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano. e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso? Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me a tua fé sem as obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras” – Tg 2:15–18.

Porém, creio ser este assunto tão belo e tão profundo, que merece um estudo separado.

Conclusão: Que tenhamos em nossas mentes que uma vez salvo do pecado pela expiação de Ieshua, devemos buscar viver uma vida em pureza de coração, buscando um relacionamento pessoal com nosso Amado Pai. E principalmente, que este novo caminho de fé nos leve a por em prática a nossa fé, seja no testemunho das boas novas, mas principalmente em verdadeiras ações de graças, praticando misericórdia com aqueles que necessitam.

Adaptação: Mário Moreno.

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