Ayin Tová – O olho bom
Ayin Tová – עַיִן טוֹבָה “O olho bom”
Nas Escrituras existem expressões chamadas de “idiomáticas” que são características do idioma e da cultura hebraica. Entre estas expressões está “olho bom”. Mas o que ela significa?
Ayin Tovah – “O olho bom” – Generosidade.
Considere esta perspectiva; tanto o Otimista e o Pessimista são ‘crentes em algo’, mas cada um é responsável por sua própria visão das coisas em sua volta.
Dentro do conceito hebraico o “olho bom” está ligado à generosidade, ou seja, aquela pessoa que dispõe liberalmente de seus bens para auxiliar e abençoar outras pessoas. Este é um poderoso conceito que é ensinado às crianças desde muito pequenas e tem uma finalidade clara: praticar o amor ao próximo. Veja um indício disso em Pv. 22.9: “O que é de bons olhos será abençoado, porque deu do seu pão ao pobre”. Salomão continua fazendo um “jogo de palavras” e nos mostra novamente a relação dos olhos com a generosidade quando diz: “O que dá ao pobre não terá necessidade, mas o que esconde os seus olhos terá muitas maldições” Pv. 28.27.
A relação então entre a generosidade e os “olhos bons” aponta para uma outra questão: o que é ser “generoso”? Alguns confundem a generosidade com a abundância ou com aquilo que sobra, que não faz falta. Mas a generosidade é muito mais… é na realidade uma postura em que nos colocamos no lugar da pessoa necessitada e damos sem questionar e isso está alinhado com o seguinte: “Nós vemos aquilo que nós queremos ver”. Como Ieshua disse; ‘seja feito para você, de acordo com sua fé (confiança ou fidelidade)’ Mt 8:13, 9:29. Isso implica em que teremos a vida que escolhermos ter pois a nossa postura em agir nesta área determinará como será o restante de nossa vida.
Ieshua inclusive liga a “generosidade” a saúde quando diz: “A candeia do corpo é o olho. Sendo, pois, o teu olho bom, também todo o teu corpo será luminoso; porém, se for mau, também o teu corpo será tenebroso. Vê, pois, que a luz que em ti há não sejam trevas” Lc 11.34,35. Novamente a metáfora usada aqui é “corpo luminoso” que denota além da saúde uma outra questão que está associada a pureza, pois quando Adão não tinha pecado ele tinha ao redor de si um “manto de luz” e o acesso ao mundo espiritual era irrestrito, mas quando pecou tudo isso foi perdido e a desobediência trouxe consigo as trevas que o impediam de ver claramente a luz e isso afetou suas percepções quanto ao bem e ao mal.
A ganância – oposto da generosidade – traz consigo características muito interessantes e entre elas está: “Aquele que tem um olho mau corre atrás das riquezas, mas não sabe que há de vir sobre ele a pobreza” Pv 28.22. O ganancioso sempre busca aquilo que é material – custe o que custar – e com isso usa de todos os artifícios para enriquecer, mas ao mínimo deslize fracassa e traz sobre si a pobreza – em todos os sentidos. Detalhe: esta postura é uma característica das trevas – veja as palavras de Ieshua acima – e suas consequências trazem desastres em todas as direções, enquanto que o generoso recebe o amparo dos céus em suas ações e vai sempre avançando tendo sucessos sucessivos e gradativos até alcançar o patamar que o Eterno desejou para aquela pessoa.
Há uma história interessante que narra a história de dois jovens que queriam retratar em seus quadros a essência da beleza; ambos saíram procurado capturar a essência da beleza em suas pinturas. Um dos artistas procurou por todos os lados a ‘face perfeita de beleza’, mas nunca achou. Tragicamente, ele mais tarde desistiu da pintura e viveu desconsolado. O outro artista, no entanto, simplesmente pintou cada face que viu e procurou encontrar a beleza em cada uma delas.
Agora, aqui está à pergunta: qual deles dois foi verdadeiro, não há a perfeição ou há?
A verdadeira beleza está nos olhos de quem a vê, ou seja, a verdade é revelada aos olhos daqueles que são generosos e conseguem enxergar além daquilo que é físico…
O olho do Talmid – discípulo
Da maneira que escolhemos ver, certamente, é uma decisão “espiritual”. Os Sábios rabinos da antiguidade ensinavam; ‘quem tem as seguintes 3 características está entre os discípulos do nosso pai Abraão (Avraham Avinu); e quem tem 3 diferentes traços destas características está entre os discípulos do maléfico Balaão (Bil’am).
Aqueles que têm um Ayin Tovah – “olho bom” (Generoso), Ruach Nemucha – humilde de espírito e Nefesh Shefalah – Mansidão são os discípulos do nosso pai Abraão. Mais quem tem um Ayn haRá – “olho mal” (invejoso), Ruach Gevoha – Arrogância e Nefesh Rechava – Ganância são discípulos de Balaão o ímpio’ Mishná: Pirke Avot 5:22. Ieshua disse isso da seguinte forma: “A candeia do corpo é o olho. Sendo, pois, o teu olho bom, também todo o teu corpo será luminoso; porém, se for mau, também o teu corpo será tenebroso. Vê, pois, que a luz que em ti há não sejam trevas” Lc 11:34-35.
De acordo com estes antigos Sábios, a diferença entre os discípulos Abraham e os discípulos de Balaão estão na presença (ou ausência) destas 3 Midot haLev (Qualidades do coração), embora a mais importante delas é o Ayin Tovah – “o olho bom” (generosidade, gratidão) Sha´ul mostra estas características assim: “Mas o fruto do espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança” Gl 5:22.
O olho de Abraão… Mas o que é Ayn Tovah – ‘O olho bom’? (Lc 11:34-35). Seria uma metáfora para um “o jeito da ‘Poliana a menina’ de ver a vida” – encontrando o bem em cada circunstância da vida, não importa quão difícil?
Seria a prática de um “jeito alegre de levar a vida” e que acredita que tudo vai dar certo no final? Ou viver reinterpretando os acontecimentos ruins como uma experiência para suportar a filosofia que este é o “melhor dos mundos possíveis”?
O Sábio Rabino Rashi (1040-1105 “França”) ensinava que aquele com um Ayin Tovah – “olho bom” estima a honra dos outros como a sua própria: é um ‘olho’ que respeita e valoriza o que ele vê. Sha´ul nos mostra isso da seguinte forma: “Mas o fruto do espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança” Gl 5:22. A generosidade está então relacionada ao fruto do Espírito. Podemos então dizer que os “generosos” são também muito mais espirituais dos que os gananciosos e isso sem medo de errar!
O Rabino Maimônides (1135-1204 Espanha) diz que o Ayin Tovah – “olho bom” é a capacidade de estar satisfeito com o que se têm na vida e alegra-se com os êxitos dos outros: é um ‘olho’ livre do espírito de inveja e ganância. Outros sábios disseram que o Ayin Tovah – “olho bom” indica um espírito generoso, e de gratidão em relação aos outros: É um olhar dirigido para o exterior, que irradia conforto e vê as necessidades do próximo.
Uma pessoa com um Ayin Tovah – “olho bom” olha para as coisas na perspectiva do ‘amor’.
Um Ayin Tovah – “olho bom” olha para as circunstâncias, e especialmente nas que envolvem o próximo, para encontrar algo de bom e belo…
Não há nenhum vestígio de “concorrência”, inveja, maldade; não há nenhum traço de ressentimentos ou amargura.
Uma pessoa com Ayin Tovah – “olho bom” ignora os defeitos do próximo e vê a virtude e o valor de uma pessoa criada b’tzelem Elohim (na imagem de D-us). (I Jo 4:7-8).
As Escrituras declaram: טוב עין הוא יברך – Tov Ayin hu yevorach – O Olho Bom (generoso) será abençoado… Provérbios 22:9 (Lc 11:34-35). O verso de Provérbios completo diz: “O que é de bons olhos será abençoado, porque deu do seu pão ao pobre” Pv. 22.9. Ou seja, a “bênção” vem para quem socorre ao pobre com aquilo que tem e isso é ser generoso! É olhar a necessidade de outrem e buscar uma solução, pois enxerga naquela pessoa a imagem do Eterno. Uma outra consideração a ser feita é: a palavra “abençoado” vem do termo “barak” que significa “dar poder a alguém para ser próspero, bem-sucedido e fecundo”. Então quem “socorre” ao pobre recebe algo nestas três dimensões: prosperidade – ligada à unção, o poder dos céus; sucesso; ligado à área financeira; fecundidade, ligado à área física em que podemos gerar descendentes saudáveis e nascidos com o propósito de servir ao Eterno. E tudo isso somente por ser “generoso”…
Agora falando sobre o “olho mau”, o ganancioso, a tradição judaica nos ensina que: O ‘olho’ de Balaão… O Ayin haRá (Olho Mal) não quer ver o bem nos outros, mas relaciona-se com outras pessoas como se fossem ‘auto-ameaças’… É o ‘olho’ do medo, da inveja, da maledicência, da ganância e do preconceito. Por esse motivo esta pessoa não será boa para com os outros, uma vez que é (inevitavelmente) consciente de si e das suas próprias imperfeições, e o ‘bem-estar alheio’ o leva a acusar a si mesmo da sua própria ‘doença na alma’. Novamente Sha´ul diz: “Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, fornicação, impureza, dissolução, idolatria, feitiçaria, inimizades, demandas, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o poder soberano de Elohim” Gl 5:19-21.
Esta pessoa racionaliza sua perspectiva ruim, e cinicamente duvida das motivações dos outros, chamando o bem de mal e mal de bem. Essa visão deturpada provoca uma inversão de valores, no qual o que é importante é considerado insignificante, e vice-versa. Eventualmente essa maneira de ver leva à ‘loucura’, e uma negação fixa de tudo o que é digno e de valor.
Quando o Olho é mau (Ayin haRá) ele se torna escravo dos propósitos do pecado e do Yetzer HaRá (inclinação para o mal – desejos da carne).
O rabino Rashi disse: ‘O coração e os olhos são espias do corpo e podem levar uma pessoa a se desviar; os olhos vêem o coração cobiça e o corpo transgride’ – Nm 15:39.
Um grande Sábio Rabino ensina no Talmud na Gemará; ‘que 9 de 10 pessoas morrem por causa do seu Ayin haRá (ganância, inveja, soberba …) um outro ensina que; ‘a Lashon haRá (maledicências) e Ayin haRá (ganância, inveja, soberba …) causam a Tzara’at Ayin – O “Olho leproso” isto é; aquela pessoa que para ela é impossível olhar para coisas e a vida positivamente.
Como Ieshua ensinou; “São os teus olhos a lâmpada do teu corpo; se os teus forem Ayin Tová (Olho Bom), todo o teu corpo será luminoso; mas, se forem Ayn haRá (Olho Mal), o teu corpo ficará em trevas, repara, pois, que a luz que há em ti não sejam trevas” Lc 11:34-35. Novamente estes versos veem à tona para nos mostrar que é necessário ter uma postura de obediência para que um pecado não atraia o outro e dê assim início a um processo que certamente levará à morte – primeiro espiritual e depois física.
Tragicamente, é possível ter um Ayin haRá (Olho Mau), na direção do próprio D-us. Quando temos dúvidas quanto a sua bondade ou vivendo sempre com medo do futuro, desta forma não somos tão diferente do ‘servo que via D-us como um carrasco’ – ‘Tive medo do senhor, porque sei que é um homem duro, que tira dos outros o que não é seu e colhe o que não plantou’ Lc 19:21.
Nossa falta de confiança remove a luz do nosso caminho, até que nos encontramos no poço do desespero, não é possível ver o caminho a percorrer. ‘Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão!’ Mt 6:23.
Os olhos da fé… Ayin Tová (‘Olho Bom’) é o olhar da fé, esperança e amor; é a Perspectiva do Reino de D-us… Vendo o próximo com o Ayin Tová (‘Olho Bom’) o ajuda a acreditar no seu valor, e que, por sua vez, ajuda a superar o mundo que vive. O Ayin Tová (‘Olho Bom’) nos leva a viver pelo princípio da Tzedaká (Justiça – caridade), portanto, é um meio de reparação de nosso mundo (Tikun Olam), convidando o melhor de si para ser divulgado sem medo.
É uma mensagem de amor e graça para outros em nossas vidas; ‘você é importante; você é valioso; você Importa; sua vida tem significado eterno…’
Escolhendo ver o melhor nos outros muitas vezes o leva a ver o seu verdadeiro valor.
Então ter “olho bom” traz a todos nós uma série de benefícios e entre eles está aquele relacionado à lei do retorno: “tudo o que o homem plantar, isso colherá”.
Que nosso plantio seja feito em generosidade para que nossa colheita seja recebida com a abundância celestial em nome de Ieshua!
Mário Moreno.