Mário Moreno/ janeiro 16, 2020/ Artigos

Mashiach “Coma minha carne”.

Eu sou o pão vivo que desceu dos céus; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão

que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo. Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como nos pode dar este a sua carne a comer? Ieshua, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu, nele” Jo 6.51-56.

Como podemos interpretar estas palavras de Ieshua? De forma literal? De forma figurada? Se são figuradas, de onde vem esta figura e o que ela significa?

Vamos entender isso da seguinte forma: Ieshua era um Rabino que falava a uma audiência que conhecia a Torah e a Tradição Judaica. Sendo assim suas palavras deveriam ser plenamente entendidas, mas nem sempre isso acontecia. Um detalhe interessante aqui é que Ieshua falava sobre duas coisas: o pão vivo que desceu dos céus e a carne e o sangue. Estas são duas situações que trazem consigo paralelos muito intrigantes.

Em primeiro lugar vamos tratar do “pão vivo que desceu dos céus”, ou seja, o maná. Ele está descrito na Torah assim: “E, alçando-se o orvalho caído, eis que sobre a face do deserto estava uma cousa miúda, redonda; miúda como a geada sobre a terra. E, vendo-a os filhos de Israel, disseram uns aos outros: Que é isto? porque não sabiam o que era. Disse-lhes pois Moshe: Este é o pão que o IHVH vos deu para comer” Ex 16.14-15.

Este “pão” que veio dos céus para alimentar ao povo fisicamente agora aparecia de uma outra forma, ou seja, a espiritual, pois Ieshua trazia ao povo a Palavra do Eterno que era acompanhada de curas, milagres, ressurreições e todo tipo de manifestação celestial. O objetivo era o mesmo: levar o povo de Israel a entender que estava acontecendo uma restauração no nível de relacionamento entre os Céus e Israel.

Com estas primeiras palavras Ieshua estava dizendo ao povo que Ele era este “maná” que havia descido dos céus para alimentar ao povo física e espiritualmente, pois o maná que caia no deserto era um milagre diário que supria as necessidades alimentares do povo conforme seu desejo.

Outro detalhe: este “pão” também está associado ao alimento consumido por seres celestiais – anjos – na eternidade: “Cada um comeu o pão dos poderosos; ele lhes mandou comida com abundância” Sl 78.25.

O pão também está associado com a Palavra do Eterno. Em Eclesiastes temos uma metáfora fascinante sobre isso que diz: “Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás” Ec 11.1. Neste verso o “pão” é a Palavra do Eterno e as “muitas águas” são povos e nações, o que nos ensina a pregarmos a Palavra do Eterno a todos aqueles a quem tivermos acesso pois haverá uma “colheita” advinda deste “pão” que é lançado às multidões!

Comer carne e beber sangue?

Esta também é uma metáfora muito intensa usada por Ieshua para dizer aos que consigo estavam que Ele estava dando-lhes algo muito especial. Mas o que seria isso?

A tradição judaica diz sobre isso assim:

O Tanya descreve os ensinamentos de um sábio e a transmissão e recepção dessas ideias, em termos de “ingestão” deles, usando termos como “carne, sangue e partes internas” para descrever o alimento que beneficia a vida. O professor e o aluno tornam-se intimamente conectados dessa maneira”.

Então de acordo com os ensinamentos do Tanya, as palavras de um Rabino agem como nutrientes na vida de seus discípulos, como por exemplo “carne e sangue” que tem a finalidade de dar proteínas ao corpo.

“Visto que, através do conhecimento da Torah, a Torah é absorvida na alma e no intelecto da pessoa e está englobada dentro dela, é, portanto, chamado de “pão” e “alimento” da alma. Assim como o pão físico nutre o corpo quando é ingerido e absorvido dentro dele, e quando é transformado ali em sangue e carne da própria carne, e somente então o corpo vive e é sustentado; da mesma forma, através do conhecimento e compreensão da Torah pela alma de uma pessoa que a estuda bem, com a concentração de seu intelecto, até o ponto em que a Torah é agarrada por sua mente e se une a ela para que se tornem uma, [a Torah] assim se torna alimento para a alma. Torna-se vida interior para ela, desde a Fonte da vida, o abençoado Ein Sof, que está vestido em Sua sabedoria e na Torah que estão na [alma] do estudante da Torah. Este é o significado do versículo: “Sua Torah está em minhas partes internas”. É similarmente escrito em Etz Chayim (Portal 44, cap. 3) que mitzvot são as “vestes” das almas no Paraíso. A Torah, por outro lado, é o alimento das almas no Paraíso, que haviam se envolvido no estudo da Torah por si mesmas durante a vida nesta terra. É similarmente escrito no Zohar.” Tanya, Capítulo 5.
Podemos dizer que Ieshua estava dizendo aos seus ouvintes que era necessário que eles internalizassem seus ensinos de tal forma que eles passariam a fazer parte de sua vida e de seu corpo como os nutrientes ingeridos pela boca na forma de carne, vinho e pão são levados ao estômago e ali são processados e distribuídos ao corpo a fim de trazer a este via e saúde!

Veja que isso não se refere somente ao “ingerir” a Palavra do Eterno; implica também em vive-la e esta é a melhor parte, pois a vivência em obediência carrega consigo um poder transformador tão imenso que afeta a todos aqueles que estão ao nosso redor.

A tradição judaica continua dizendo:

“Em outras palavras, o que agora conhecemos como comer será transformado em seu estado original, semelhante ao nível de alimentação em dimensões mais altas no momento da refeição da Árvore do Conhecimento. Este é, de fato, o outro significado de Daat / Conhecimento, para profunda e intimamente “conhecer” algo, é “comê-lo”. Por essa razão, a Torah ensina que, quando Adão e Eva “comeram” dos frutos de maior dimensão, eles ‘sabiam’. É por isso que é chamado de ‘fruto’ da Árvore do Conhecimento.” A Doutrina Secreta do Gaon de Vilna, Volume II, Rabi Joel Bakst, p. 109.

A comida tem então uma dimensão profética muito excelsa que quando compreendida nos leva a praticarmos as nossas “refeições” de uma forma totalmente diferenciada. Quando damos graças antes da ingestão dos alimentos estamos na realidade santificando e elevando algo que é “comum” e terreno como a comida. Mas quando a consagramos através da oração então ela passa a ter um caráter de santidade, ou seja, estarei alimentando minha alma – e não meu corpo – pois farei a refeição para saciar meus sentidos espirituais através dela e não meus instintos “físicos” e mundanos.

A cada ceia do Shabat estamos nos lembrando da morte do Ungido Ieshua e nos preparando para sua vinda. São ciclos se abrindo e fechando e a comida é o principal elemento catalisador da bênção e da santidade que o homem partilha neste mundo.

Novamente a tradição judaica nos diz:
“’Pão e vinho são a essência da refeição, todo o resto sendo controlada. A Torah está te implorando, dizendo: “Vinde, comei do meu pão e beba do vinho que misturei” (Pv 9:5). Desde que a Torah chama, você deve obedecer a seu mandato” – Zohar 3:189º.

O que faremos agora?

Precisamos compreender as Palavras de Ieshua a fim de que possamos nos relacionar com Ele de maneira cada vez mais profunda, “comendo de sua carne e bebendo do seu sangue”.

Entender a alta linguagem praticada por Ieshua por vezes nos leva a termos um pouco mais de trabalho para captarmos a mensagem, mas quando finalmente a entendemos podemos então partilhar desta mensagem e da comunhão que vem através deste “comer” que eleva os elementos terrenos a um nível completamente diferenciado!

Este é o pão que desce dos céus, para que o que dele comer não morra” Jo 6.50. Estas palavras são a culminância da mensagem que é trazida dos céus pelo Ungido: através de minha vida estou devolvendo aos homens a eternidade que foi perdida em Adão; mas cabe a cada um de vocês decidirem e desejarem ter esta eternidade de volta… Para isso, comam deste pão e bebam deste cálice… Estas são as Palavras do nosso Rabino Ieshua que nos trazem a salvação.

Que o Eterno nos abençoe e que possamos entender as Palavras do nosso querido Rabino Ieshua!

Baruch há Shem!

Mário Moreno.