Como entender tanta guerra?
COMO ENTENDER TANTA GUERRA?
CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE
Tem por base a constituição do Estado de Israel nos territórios da antiga Palestina britânica e os movimentos de reação arábe, após um processo que inclui a migração organizada de judeus para a Palestina, a aquisição de terras, a instalação de empresas, colônias agrícolas e escolas e a organização militar dos imigrantes. A administração britânica na Palestina, recomposta após o fim da 2ª Guerra Mundial, adota uma política de dividir para reinar, apoiando ora os árabes, ora os judeus. Os dois lados adotam o terrorismo como forma de luta. Em 1947, a Assembléia Geral da ONU e a Agência Judaica aprovam a divisão da Palestina, mas os árabes a rechaçam. Um exército da Liga Árabe ocupa a Galiléia e ataca Jerusalém. Em maio de 1948 o Reino Unido renuncia ao mandato sobre a Palestina e retira suas tropas, deixando a região na anarquia.
CRONOLOGIA DO CONFLITO
- De 1200aC até 135dC o território é habitado pelos judeus.
- Em 135dC, os judeus são espalhados no mundo pelos romanos, é a Diáspora.
- Nos séculos VII e VIII, a região é ocupada pelos árabes em seu processo de expansão (os palestinos).
- No início do século XX, os judeus começam a retornar em massa para a região. Iniciam pequenos conflitos entre judeus e árabes.
- Em 1947, a ONU faz a partilha para evitar conflitos. O território é dividido entre judeus e palestinos.
- Os palestinos e os demais países árabes da região não aceitam a presença de Israel na região.
- 1948 – Guerra de independência de Israel – Os judeus, vitoriosos, confirmam a presença na região.
- 1967 – Guerra dos seis dias, Israel vence o Egito, Síria e Jordânia e os palestinos. Os judeus tomam dos palestinos a Faixa e a Cisjordânia e, dos sírios as Colinas de Golan.
- 1973 – Guerra do Yom Kippur. Israel é surpreendido mas, consegue se defender a tempo dos sírios e egípcios.
- É criada a OLP, para defender os interesses do povo palestino.
- 1976 – Egito e Israel assinam a Paz.
- 1993 – Acordo de paz entre Israel e a OLP. Israel deve devolver aos palestinos a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
Estado de Israel – Em 14 de maio de 1948, o Conselho Nacional Judeu proclama o Estado de Israel, enquanto o ataque árabe é contido pela mediação da ONU e pela superioridade da aviação Israelense. Grande parte da população árabe abandona a Palestina. Entre 1948 e 1956 o Estado israelense se consolida com a migração maciça de judeus, o pagamento de US$ 3,5 bilhões pela Alemanha Ocidental como reparação de guerra, a implantação da agricultura coletivizada nos chamados kibutz, indústrias de alta tecnologia, serviço militar obrigatório para homens e mulheres e a manutenção de um Exército moderno.
Guerra de 1956 – Tem origem nas tensões fronteiriças geradas pelo projeto de utilização das águas do rio Jordão por Israel, em 1952. Agrava-se com ataques de comandos árabes (fedayin) aos colonos judeus e a nacionalização do Canal de Suez pelo Egito, com apoio soviético, em 1956. Em outubro, Israel ataca o Egito com o objetivo de manter o canal aberto e controlar o golfo de Ácaba. Com o apoio tácito do Reino Unido e da França, os israelenses ocupam o Sinai e a Faixa de Gaza em uma semana. Em novembro é criada uma força de paz da ONU para supervisionar o cessar-fogo. A ocupação da Faixa de Gaza e a consolidação do Estado de Israel aguçam a questão dos refugiados palestinos, cuja integração é negada tanto por Israel quanto pelos países árabes.
Guerra dos Seis Dias – Surge da reação egípcia contra a permanência das tropas da ONU, o bloqueio do porto de Eliat, no golfo de Ácaba, e a assinatura de um acordo militar com a Jordânia, em maio de 1967.Os israelenses, usando como pretexto o bloqueio no golfo de Ácaba e a intensificação do terrorismo palestino contra Israel, atacam o Egito, Síria e Jordânia em 5 de junho. Conquistam toda a península do Sinai até o canal de Suez (Egito), a Cisjordânia e as colinas de Golan (Síria).
Guerra do Yom Kippur – Tem como motivo a ocupação permanente dos territórios conquistados em 1967 por Israel e a instalação de colônias judaicas. Em 6 de outubro (dia do Yom Kippur ou do Perdão, feriado religioso judaico) de 1973, os sírios atacam as colinas de Golan pelo norte, enquanto os egípcios atacam pelo sudoeste, a partir do Canal de Suez. Forçam os israelenses a abandonar suas linhas de defesa fortificada (Bar-Lev) e os campos petrolíferos de Balayim e ocupam toda a área do canal. Contra-ataque israelense obriga o recuo egípcio e sírio, bombardeia Damasco e bases de mísseis e artilharia do Egito e ameaça expandir-se. Em 22 de outubro, a intervenção diplomática soviético-americana impõe um cessar-fogo.
Questão palestina – Surge como resultado do projeto de instauração do Estado de Israel e da decisão da ONU de dividir a Palestina em dois Estados. O Estado judeu ocupa uma área de 10 mil km², incluindo a Galiléia oriental, a faixa que vai de Haifa a Telaviv e a região do deserto do Neguev até o golfo de Ácaba. O Estado palestino, associado à Jordânia, ocupa uma área de 11,5 mil km², incluindo a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. Jerusalém recebe status internacional. A guerra de 1948 liquida a decisão da ONU, já que o acordo de armistício de 1949 resulta na anexação da Cisjordânia pela Jordânia e na ocupação da Faixa de Gaza pelo Egito. Nenhum passo posterior é dado para implementar a decisão da ONU. A Constituição de um Estado que represente os 1,3 milhão de palestinos vivendo na região vira letra morta. Ao mesmo tempo, organizações extremistas israelenses, estimuladas pela omissão do Estado de Israel, das grandes potências e da ONU, desencadeiam ações terroristas contra os palestinos, visando expulsá-los e deixar o território livre para colonos judeus. O massacre de todos os 254 habitantes de Deir Yassin, em 1948, é o sinal para o êxodo em massa. Cerca de 300 mil palestinos permanecem em Israel após o êxodo para os países árabes vizinhos, mas sua situação é de cidadãos de segunda classe.
Yasser Arafat (1929), nascido em Jerusalém, é um dos símbolos da luta pela construção de um Estado palestino. Trabalha como engenheiro no Kweit. Em 1959, participa da fundação da organização extremista Al Fatah, que defende a luta armada como única saída para a questão palestina. A partir de 1969 torna-se presidente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), criada em 1967.Entre 1987 e 1993 a OLP conduz a Intifada – rebelião dos palestinos contra a ocupação pelos israelenses da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Arafat consegue que o Conselho Nacional Palestino aprove a proclamação de um Estado Palestino independente nessas regiões e a formação de um governo provisório no exílio. Progressivamente, passa a adotar uma política mais moderada, mesmo contra a vontade de muitas facções radicais do movimento palestino. Em 1988 manifesta intenção de reconhecer o Estado de Israel. Em 1989 é eleito presidente do governo provisório. “Não há alternativa para a paz. Resta saber se aceitaremos hoje ou depois que milhares de nossos filhos tiverem sido sacrificados no altar de ambições irrealizáveis”, diz Arafat em 1990. Em 13 de setembro de 1993 assina em Washington, com o primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, e o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, um acordo de paz para o Oriente Médio. O acordo é reafirmado em maio de 1994, no Egito. Arafat, Rabin e o chanceler Shimon Peres, de Israel, recebem o Prêmio Nobel da Paz em outubro do mesmo ano.
Desencadeada em 1973 pelos países árabes produtores de petróleo reunidos na Opep, que decidem embargar o fornecimento de petróleo árabe ao Ocidente em represália à ocupação dos territórios palestinos. A seguir, os membros da Opep decidem também, aproveitando-se da escassez do produto, estabelecer quotas de produção e subir os preços. Essas medidas desestabilizam a economia mundial, provocando uma severa recessão nos EUA e na Europa.
GUERRA DO LÍBANO
Em 1934 a França impõe aos cristãos (maronitas) e muçulmanos (drusos, sunitas e xiitas) um acordo verbal pelo qual cada grupo teria uma parcela do poder correspondente à sua força numérica. A superioridade maronita no poder é conseqüência de recenseamento manipulado pela França para garantir a maior parcela às forças políticas direitistas, de cultura e fala francesas.
As tensões entre as comunidades se intensificam com o aumento populacional dos muçulmanos, que passam a reivindicar maior participação no poder, e com a presença maciça de guerrilheiros da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), expulsos da Jordânia em 1970, que passam a interferir nas disputas internas libanesas. Em abril de 1975, em conseqüência de um atentado de militantes do Partido Falangista (cristão) a um ônibus em que viajavam palestinos e libaneses muçulmanos, começa a guerra civil. Os principais protagonistas são falangistas, chefiados pelo maronita Pierre Gemayel, e o Partido Socialista Progressista, chefiado pelo druso Kamal Jumblat. Em junho de 1976, a Síria intervém militarmente para garantir o governo do cristão conservador Elias Sarkis. Um armistício é assinado no final do ano, sob o patrocínio de vários governos árabes. Tropas sírias permanecem no Líbano. O cessar-fogo não é respeitado e a luta irrompe novamente em fevereiro de 1977, entre palestinos e falangistas, que, apoiados por tropas de Israel, ocupam posições no sul do país. Com a disseminação da luta entre os diferentes grupos políticos e religiosos, o Líbano se transforma num mosaico de milícias.
Invasão israelense – Em abril de 1982, Israel invade o Líbano para expulsar a OLP de Beirute. Tropas israelenses e sírias travam combates no vale de Bekaa. O Exército de Israel cerca Beirute e bombardeia a cidade. Em 1° de agosto, a OLP se retira.
Seis dias depois, o presidente libanês, Bashir Gemayel, um cristão maronita, é assassinado. Em represália, tropas israelenses ocupam os bairros muçulmanos de Beirute. Com a tácita aprovação israelense, milícias falangistas invadem os campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila, no dia 16 de setembro, e massacram centenas de civis. Beirute se transforma numa zona de batalha, dividida por uma “linha verde” entre os setores cristão e muçulmano. Atentados terroristas se tornam rotina. Os Estados Unidos e outros países ocidentais enviam soldados a Beirute para tentar impor um cessar-fogo. Os americanos e seus aliados se retiram depois que, em dois ataques separados contra instalações militares, em 23 de outubro de 1983, terroristas muçulmanos matam 241 fuzileiros navais dos Estados Unidos e 58 soldados franceses. No final do ano irrompe a luta interna na OLP, em que uma facção apoiada pela Síria se rebela contra Arafat.
Ele é obrigado a deixar o Líbano com 4 mil de seus homens e instala o quartel-general da OLP em Túnis (Tunísia).
Hegemonia síria – A influência da Síria cresce com a eleição, em 1984, do primeiro-ministro Rachid Karami, em meio à luta entre diferentes facções de cristãos, drusos, sunitas, xiitas e palestinos. As tropas de Israel, depois de sofrer pesadas baixas causadas por forças muçulmanas, abandonam a maior parte do Líbano em junho de 1985, mas continuam a ocupar uma faixa de território no sul do país. Começam os combates entre palestinos e xiitas. Karami é assassinado em 1987. Em setembro de 1989, os 62 deputados do Parlamento libanês,por mediação da Liga Árabe e da ONU, celebram na Arábia Saudita o Acordo de Taif, que amplia a participação muçulmana no Parlamento. Em outubro de 1990, Beirute é reunificada e os palestinos, desarmados. Prosseguem os ataques de milicianos xiitas contra posições israelenses no sul do país, sempre sucedidos por bombardeios retaliatórios da aviação de Israel contra aldeias libanesas. A vida política do Líbano permanece sob controle da Síria, que mantém tropas no país.
REVOLUÇÃO IRANIANA
Resulta do processo acelerado de industrialização e ocidentalização imposto pela monarquia do xá (rei) Reza Pahlevi. Apoiada num forte esquema repressivo e em suas relações com os Estados Unidos, a monarquia iraniana monta um vasto sistema de corrupção e privilégios. Contra esse sistema erguem-se forças religiosas, sociais e políticas. Incluem os muçulmanos xiitas, a maior comunidade religiosa do Irã, cujo líder máximo, o aiatolá Ruhollah Khomeini, é expulso do país em 1964. Eles acusam o xá de corromper as tradições islâmicas com as reformas ocidentais e de beneficiar somente a minoria que gravita em torno do poder. Incluem também os liberais, políticos ligados aos meios empresariais e intelectuais que se opõem ao regime ditatorial e à falta de participação nas decisões econômicas e políticas. Outras forças são o Tudeh (partido comunista) e grupos extremistas islâmicos armados, como os mujahedin.
Queda da monarquia – A repressão de uma passeata que pedia a volta de Khomeini ao país na cidade sagrada de Qom, em janeiro de 1978, desencadeia tumultos em todo o Irã. Unidades do Exército negam-se a atirar nos manifestantes. Multiplicam-se as ações de grupos armados contra alvos governamentais. Os Estados Unidos pedem que Reza Pahlevi renuncie e transfira o governo a um político moderado, capaz de controlar a situação e introduzir reformas democráticas.
Em janeiro de 1979 o xá concorda, transfere o governo para Chapur Baktiar e deixa Teerã.
República islâmica – Khomeini< retorna em 30 de janeiro, rejeita a transferência de poder promovida pelo xá e exige mudanças radicais. O Irã caminha para a guerra civil. Baktiar deixa o governo e foge,sendo substituído pelo governo Mehdi Barzagan.
O fundador do Conselho de Direitos Humanos enfrenta a guarda revolucionária xiita (pasdaran), que prende, julga e executa sumariamente membros do antigo governo do xá e militantes de grupos rivais. Barzagan renuncia em novembro, após a invasão da embaixada americana por fundamentalistas xiitas. Em janeiro de 1980, Abolhassan Bani-Sadr é eleito presidente e forma um governo de coalizão para realizar reformas democráticas moderadas.
Mas em agosto é obrigado a aceitar a indicação do fundamentalista Ali Radjai para primeiro-ministro. Também enfrenta a crise com os EUA e se vê diante da invasão iraquiana, em setembro. Os choques dos xiitas contra Bani-Sadr o levam a exilar-se em junho de 1981.
Crise com os EUA – A invasão da embaixada americana em Teerã por fundamentalistas xiitas, em protesto contra a ida de Reza Pahlevi a Nova York, ocorre em novembro de 1979.Os funcionários são tomados como reféns e o governo Bani-Sadr é incapaz de promover uma solução negociada. Em abril de 1980, tropas americanas tentam um resgate, mas a operação fracassa. Isso causa grande desgaste ao presidente Jimmy Carter e reforça a ala do clero xiita no governo iraniano. Em janeiro de 1981, após 444 dias de cativeiro, os reféns são libertados por meio de gestões diplomáticas da Argélia. A queda de Bani-Sadr e a eleição de membros do clero para a presidência e a chefia de governo, em junho de 1981, consolidam a hegemonia do Partido Republicano Islâmico e dão início à República islâmica. Intelectuais, comunidades religiosas rivais, organizações femininas, partidos democráticos e socialistas são reprimidos. A lei islâmica se sobrepõe à lei secular. Em represália, grupos extremistas de oposição cometem atentados terroristas contra o clero e o governo. Os aiatolás Kamenei e Mussavi assumem a presidência e a chefia do governo, intensificam a repressão e mantêm a campanha contra os suspeitos de espionagem a favor dos Estados Unidos, da União Soviética e do Iraque ou de violações da lei islâmica.
Guerra Irã-Iraque – Começa em setembro de 1980 com a invasão do Irã e a destruição de Khorramshar, onde fica a refinaria de Abadã, por tropas iraquianas. O pretexto é o repúdio, pelo governo iraquiano, ao Acordo de Argel (1975), que define os limites dos dois países no Chatt-el-Arab, canal de acesso do Iraque ao golfo Pérsico. O Iraque quer soberania completa sobre o canal e teme que o Irã sob Khomeini tente bloquear o transporte do petróleo iraquiano ao golfo Pérsico pelo canal. Khomeini havia sido expulso do Iraque em 1978, a pedido do xá Reza Pahlevi, e o presidente iraquiano, Saddam Hussein, dera apoio aos movimentos contra-revolucionários de Baktiar e do general Oveissi. O novo regime iraniano apóia o separatismo dos curdos no norte do Iraque e convoca os xiitas iraquianos a rebelarem-se contra o governo sunita de Saddam. O Irã bloqueia o porto de Basra e ocupa a ilha de Majnun, no pântano de Hoelza, onde estão os principais poços petrolíferos do Iraque. Este bombardeia navios petroleiros no golfo, usa armas químicas proibidas e ataca alvos civis.
Há pouco avanço nas frentes de luta, mas o conflito deixa 1 milhão de mortos ao terminar em 1988.
Saddam Hussein (1937), general iraquiano sunita, no poder desde um golpe palaciano em 1979. Nasce em uma pequena vila perto de Bagdá. Filia-se ao Baath, partido socialista pan-arábico e participa como militante da tentativa frustrada de assassinar o general Abdul Karim Kassem, então na presidência. Foge para o Egito, onde estuda direito. Volta ao Iraque e continua participando de golpes do Baath, que consegue tomar o poder no Iraque em 1958. Hussein torna-se o número 2 do governo. Em 1979 assume a presidência e aplica uma política de modernização do Iraque. Aliado dos Estados Unidos durante longo tempo, passa depois a aproveitar-se da disputa dos norte-americanos com a União Soviética para conseguir ajuda desta no reaparelhamento de suas Forças Armadas. Pratica uma política de genocídio contra os curdos e reprime a maioria xiita. Radicalmente contra qualquer acordo com Israel, incentiva grupos extremistas árabes e palestinos a ações terroristas contra os israelenses e pessoas de governos favoráveis ao entendimento com o Estado judeu. Suas pretensões hegemônicas sobre a região, em particular quanto ao Kuweit levam o país à Guerra do Golfo em 1991.