Mário Moreno/ dezembro 8, 2017/ Artigos

Fé = emunah

O que é fé? A definição desta palavra muitas vezes provoca confusão, pois algumas vezes fica parecendo que a “fé” é um salto no escuro rumo ao desconhecido. Quando tomamos a palavra “emunah” que significa “confiança”, a sua definição se aproxima de “obediência” e isso está em linha com aquilo que temos nas Escrituras.

Então, segundo a nossa definição a Fé é a certeza de que estamos aqui por alguma razão e que, ao longo da nossa jornada pela vida, e sabemos que o Eterno está conosco, erguendo-nos quando caímos, perdoando-nos quando falhamos e acreditando em nós mais do que nós mesmos acreditamos.

Isto não é apenas um pensamento positivo. É um fato. Mas não um fato simples.

Assim como temos de treinar para ouvir as grandes sinfonias ou apreciar as grandes obras de arte, devemos treinar para conseguir sentir a presença do Eterno em nossas vidas.

Este treinamento se apresenta a nós de duas formas: uma é a estudo da Torah e a outra está relacionada à obediência das mitsvót. Por meio da Torah aprendemos o que ele nos ordena. Por meio das mitsvót praticamos como cumprir sua vontade. É desta forma que nos abrimos para o Eterno.

Então entendemos que a emunah (obediência) nos permite aceitar riscos e enfrentar o futuro sem temor. Às vezes pensamos que assuntos do espírito não são substanciais se comparados às lutas no mundo real. Mas, pense no seguinte: um colapso financeiro ocorre por causa da perda de confiança numa instituição. Bancos deixam de emprestar quando perdem a confiança na capacidade de o cliente devolver capital levantado.

Ora, confiança é uma coisa espiritual, e não algo concreto! Entretanto, o mercado depende dela. A palavra “crédito” vem do latim – “credo” – que significa ani maamin, “eu acredito”.

Após uma grande crise ocorrida no passado, Franklin D. Roosevelt pronunciou uma frase famosa: “a única coisa que devemos recear é o próprio medo.”

A emunah – confiança – derrota o medo e nos dá recursos para sobrevivermos às perdas e recomeçar. Não pense que confiança é algo insignificante. Absolutamente não é. Seja o que você venha a fazer no próximo ano, pratique sua confiança e a renove diariamente. O povo judeu manteve viva sua confiança. A confiança manteve vivo o povo judeu.

Há uma passagem bíblica de grande ajuda. É a famosa e enigmática história contada em Gênesis 32, segundo a qual, durante a noite, Ia´aqov luta com um adversário desconhecido: “Ia´aqov foi deixado só e um homem lutou com ele até o raiar do dia.” Foi esta passagem que deu ao povo judeu seu nome Israel, significando “aquele que luta com El e com o homem e prevalece”.

A frase-chave é a seguinte, quando Ia´aqov diz ao estranho: “não te deixarei partir até que me abençoes.” Dentro de cada crise existe a possibilidade de uma bênção. Acontecimentos extremamente dolorosos são aqueles que mais nos fazem crescer – mas isso perceberemos somente em retrospecto.

Uma crise nos força a tomar decisões difíceis, porém necessárias. Ela nos faz perguntar “Quem sou e o que é realmente importante para mim?”. Ela nos faz mergulhar da superfície às profundezas, onde descobrimos forças que não sabíamos possuir e uma clareza de propósitos que nos faltava até então.

Então você deve dizer a cada crise: “não te deixarei partir até que me abençoes.” A luta não é fácil. Embora Ia´aqov não tivesse sido derrotado, ele ficou “manco”. Batalhas deixam cicatrizes. Mas O Eterno está conosco mesmo quando ele parece estar contra nós. Porque se nos recusamos a deixá-Lo, ele se recusa a nos deixar, nos dando força para sobreviver e emergir da luta mais fortes, mais sábios e abençoados.

Mas lembre-se que as lutas quando chegam até nós veem com o propósito de sermos aperfeiçoados; somos trabalhados em nosso ego e principalmente em nossa comunhão e confiança com o Eterno. É neste momento que podemos ver quem ama ao Eterno e confia nele e quem não ama. Podemos distinguir neste momento pessoas que ficam desesperadas e buscam a solução de seu problema a qualquer custo e em qualquer lutar. Estas pessoas só querem parar de sofrer! A solução PRECISA ser imediata, pois estão habituados a terem tudo nas mãos de forma instantânea.

Temos também as pessoas que passam pelos problemas porém reclamam em todo o tempo; questionam o motivo por que, sendo tão boas, passam por tais problemas; dizem não merecer aquilo! Estas pessoas questionam com suas palavras a soberania do Eterno que faz o que quer, com quem desejar e não dá satisfação de suas ações! A isso chamamos de “soberania” e quem é o ser humano para contestar de alguma forma ao Criador? O profeta Isaías nos mostra esta realidade através das palavras: “Ai daquele que contende com o seu Criador! o caco entre outros cacos de barro! Porventura dirá o barro ao que o formou: Que fazes? ou a tua obra: Não tens mãos?” Is 45.9.

Uma terceira categoria de pessoas é aquela que sabe que está sendo provada pelo Eterno e que confia que Aquele que permitiu que a provação viesse dará também o escape! A isso chamamos de “confiança”. A emunah é justamente “confirmar aquilo que está escrito”, ou seja, obedecer, independentemente da hora, do local ou das circunstâncias. A obediência transcende a tudo e é esta postura que libera da eternidade recursos para que possamos superar toda e qualquer dificuldade.

E quando tomamos esta definição e lemos as Escrituras entendendo isso podemos perceber que a obediência é o alicerce sobre o qual devemos estar. Obedecer é fundamental para seguir em frente com o Eterno.

Finalizando, vamos ler um capitulo muito conhecido das Escrituras, mas agora com outros olhos:

“Ora, a obediência é uma firme confiança das coisas que se esperam, e a certeza das coisas que se não vêem. Porque por ela os antigos alcançaram testemunho. Por obediência entendemos que o mundo foi ordenado pela palavra de Elohim, de maneira que as coisas que se vêem, foram feitas das coisas que não se viam. Por obediência Hevel ofereceu a Elohim mais excelente sacrifício do que Caim: pela qual alcançou testemunho de que era justo; porquanto Elohim deu testemunho de seus dons, e defunto ainda fala por ela. Por obediência Chanoq foi trasladado para não ver a morte, e não foi achado, porquanto Elohim o havia transportado: porque antes de transportado alcançou testemunho de que agradava a Elohim. Ora sem obediência é impossível agradar-lhe, porque é necessário que aquele que se aproxima de Elohim, creia que o há, e que é galardoador dos que o buscam. Por obediência, Noach, sendo divinamente advertido das coisas que ainda não se viam, temeu, e para salvação de sua família, fabricou a Arca: pela qual Arca condenou o mundo, e foi feito herdeiro da justiça que é segundo a obediência. Por obediência Avraham, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para aonde ia. Por obediência, habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Itshaq e Ia´aqov, herdeiros com ele da mesma promessa. Porque esperava a cidade que tem fundamento, e da qual o artífice e construtor é Elohim. Por obediência, também Sarah recebeu a virtude de conceber semente e deu à luz já fora de idade; porquanto confiou que fiel era aquele que lho tinha prometido. Pelo que também de um, e esse já amortecido, nasceram tantos em multidão como as estrelas dos céus, e como a areia inumerável que está na praia do mar. Todos estes morreram na obediência, sem haverem recebido as promessas, mas vendo-as de longe, e crendo, e abraçando, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na terra. Porque os que isto dizem, claramente a entender dão que buscam uma pátria. E se, na verdade, se lembrassem daquela donde haviam saído, teriam oportunidade de tornar. Mas agora desejam uma melhor, isto é, a celestial. Pelo que também Elohim não se envergonha de ser chamado seu Elohim, porque já lhes tinha preparado uma cidade. Por obediência ofereceu Avraham a Isaque, quando foi tentado, e aquele que tinha recebido as promessas ofereceu o seu unigênito. (Havendo-lhe sido dito: Em Itshaq te será chamada semente,) considerando que ainda Elohim era poderoso para até dos mortos o ressuscitar. Por onde também por exemplo o tornou a cobrar. Por obediência Isaque deu bênção a Ia´aqov, e a Esav, tocante às coisas vindouras. Por obediência Ia´aqov, estando à morte, abençoou a cada um dos filhos de Iosef: e adorou encostado à ponta do seu bordão. Por obediência, estando Iosef à morte, fez menção da saída dos filhos de Israel, e deu cargo de seus ossos. Por obediência Moshe, já nascido, foi escondido três meses por seus pais, porque viram que era um menino formoso; e não temeram o mandamento do rei. Por obediência Moshe, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo antes ser afligido com o povo de Elohim, do que por um pouco de tempo gozar das delicias de pecado; tendo por maiores riquezas o vitupério do Ungido do que os tesouros de Egito; porque atentava a recompensa do galardão. Por obediência deixou a Egito, não temendo o furor do rei; porque se esforçou, como vendo ao que é invisível. Por obediência celebrou a Páscoa, e a derramamento de sangue, para que o que destruía aos primogênitos, lhes não tocasse. Por obediência passaram o mar dos Juncos, como por terra seca; o que querendo também intentar os egípcios, ficaram afogados. Por obediência caíram os muros de Jericó, haverem sido rodeados depois de sete dias. Por obediência Raabe, a meretriz, não pereceu com os incrédulos, recolhendo em paz as espias. E que mais direi? Faltar-me-ia o tempo, se quiser contar de Gideão, e de Baraque, e de Sansão, e de Jefté, e de David, e de Sh´muel, e dos profetas, os quais por obediência venceram reinos, obraram a justiça, alcançaram as promessas, taparam as bocas aos leões, apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, e em batalha se esforçaram, puseram em fugida aos exércitos dos estranhos. As mulheres receberam da ressurreição seus mortos; outros foram torturados, menosprezando a libração oferecida por alcançarem uma melhor ressurreição; e outros experimentaram vitupérios e açoites: e ainda também cadeias e prisões. Foram apedrejados, com ferra despedaçados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, afligidos e maltratados (dos quais o mundo não era digno), perdidos pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra. E todos estes havendo alcançado testemunho pela obediência, não receberam a promessa, provendo Elohim alguma coisa de melhor para nós, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados” Hebreus capítulo 11.

Esta lista de “heróis” pode agora ser chamada como “a lista dos obedientes” que de fato marcaram a história e a nossa vida para sempre! Será que entendemos o motivo pelo qual é tão fundamental a obediência?

Que o Eterno nos guie para nos tornarmos um povo que obedeça sem questionar, pois a Palavra nos foi dada para ser obedecida e não questionada!

Baruch há Shem.

Mário Moreno.