Graça?

Mário Moreno/ janeiro 9, 2018/ Artigos

Graça?

A Definição da Graça de Elohim

A definição encontrada no dicionário para o termo graça é a seguinte: “O favor imerecido que D-us concede ao homem”. Embora tal definição seja verdadeira, é incompleta. Graça é um atributo de D-us, um componente do caráter divino, demonstrada por Ele através da bondade para com o ser humano pecador que não merece o Seu favor.

Então podemos afirmar que o “favor imerecido” que o Eterno concedeu ao homem foi o perdão de seus pecados e a salvação através de seu Filho Ieshua.

É interessante que quando fazemos uma busca pela palavra “graça” numa Bíblia eletrônica – que você deve possuir em seu computador – o resultado é: 141 versos contém esta palavra.

Somente nestes contextos é que a palavra “graça” não está ligada à perdão de pecados e salvação. Faremos isso para podermos ter certeza de que a nossa exegese está de acordo com as regras da Hermenêutica, pois devemos respeitar os contextos nos quais as palavras aparecem para darmos a elas a interpretação correta.

Nos daremos ao trabalho de falarmos SOMENTE dos contextos em que as ocorrências NÃO TEM RELAÇÃO com salvação ou perdão de pecados, pois segundo a definição de “graça” – (favor imerecido do Eterno) o perdão dos pecados e a salvação são os “presentes” dados ao homem que ele de forma alguma conseguiria fora, ou seja, o ser humano dependeu TOTALMENTE do Eterno enviar Ieshua para que isso pudesse se consumar na vida da humanidade.

Ocorrências da palavra na Brit Hadasha

“Sarai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai” Mt 10:8.

“E crescia Ieshua em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Elohim e os homens” Lc 2:52.

“E todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que saíam da sua boca, e diziam: Não é este o filho de Iosef?” Lc 4:22.

“louvando a Elohim e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o IHVH à congregação aqueles que se haviam de salvar” At 2:47.

“E livrou-o de todas as suas tribulações e lhe deu graça e sabedoria ante Faraó, rei do Egito, que o constituiu governador sobre o Egito e toda a sua casa” At 7:10.

“que achou graça diante de Elohim e pediu que pudesse achar tabernáculo para o Elohim de Ia´aqov” At 7:46.

“Logo, que prêmio tenho? Que, anunciando as boas novas, proponha de graça as boas novas do Ungido, para não abusar do meu poder nas boas novas” I Co 9:18.

“E, com esta confiança, quis primeiro ir ter convosco, para que tivésseis uma segunda graça” II Co 1:15

“Pequei, porventura, humilhando-me a mim mesmo, para que vós fôsseis exaltados, porque de graça vos anunciei as boas novas de Elohim?” II Co 11:7

“A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio das boas novas, as riquezas inescrutáveis do Ungido” Ef 3:8.

“Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom do Ungido” Ef 4:7.

“E disse-me mais: Feito está. Eu sou o Alef e o Tav, o princípio e o fim. A quem tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida” Ap 21:6.

“E o espírito, e a esposa dizem: Vem. E quem ouve diga: Vem. E quem tem sede, venha: e quem quiser tome de graça da água da vida” Ap 22:17.

Os significados do termo “graça” nos versos acima estão divididos como: “Favor, benefício, mercê, sem pagamento, sem custo”.

Estas passagens – que são um reduzido número – nos mostram que raramente o termo “graça” está ligado a outra coisa que não seja salvação e perdão dos pecados. Isso nos faz refletir sobre esta questão, pois vemos então que a “graça”, fora do contexto de salvação e perdão, refere-se à “algo sem custo ou a um favorecimento a alguém ou mesmo a mercê – bondade – dirigida a uma pessoa”. No mais não podemos atribuir ao termo “graça” um outro significado diferente destes.

Verificamos que a “graça” está ligada intimamente à salvação e ao perdão dos pecados do homem e Sha´ul diz isso repetidas vezes e quando fala sobre “graça” se analisarmos o contexto de suas palavras veremos que ele de alguma forma se reporta à questão do perdão de pecados ou da salvação, que são estas “dádivas” alcançadas pelo homem através de Ieshua e que seriam impossíveis de serem recebidas de uma outra forma. O papel primordial de Ieshua foi justamente esse: o de trazer SALVAÇÃO ao homem através do perdão de seus pecados, que foram “cravados” na estaca de execução e portanto foram levados por Ieshua que “assume” tais pecados a fim de trazer o perdão para a humanidade.

Isso não significa que não pecamos mais, mas que quando pecamos temos alguém que, através de nosso arrependimento, de nossa confissão e do perdão faz com que possamos nos reconectar com o Eterno. A isso chamamos de “salvação”. A salvação é portanto operacionalizada pela graça, ou seja, nós não tínhamos condições de morrer e sermos redimidos, então recebemos um presente do Eterno que nos deu Ieshua – nome que significa “O Eterno salva” – e portanto agora podemos, pela aceitação de Ieshua – a graça – sermos salvos!

A graça não tem qualquer ligação com nosso estilo de vida ou com aquilo que podemos ou não fazer; esta não é sua função! A função da “graça” é trazer salvação e perdão dos pecados.

A “era da graça” ou o “tempo da graça”

Quando falamos sobre a “era da graça” ou o “tempo da graça”, voltamos à nossa Bíblia eletrônica para fazermos uma busca que se encaixe nestes termos. O resultado foi: “Nenhum verso se enquadra nestes critérios”, ou seja, estas frases não existem na Bíblia!

Mas de onde surgiu esta terminologia? Surgiu do dispensacionalismo.

O que é o “dispensacionalismo?”

O dispensacionalismo é uma doutrina escatológica cristã que afirma que a segunda vinda de Ieshua o Ungido será um acontecimento no mundo físico, envolvendo o arrebatamento e um período de sete anos de tribulação, após o qual ocorrerá a batalha do Armagedon e o estabelecimento do reino do Eterno na Terra. A palavra “dispensação” deriva-se de um termo latino que significa “administração” ou “gerência”, e se refere ao método divino de lidar com a humanidade e de administrar a verdade em diferentes períodos de tempo.

Usando como base este sistema, os dispensacionalistas entendem que a Bíblia seja organizada em sete dispensações: Inocência (Gênesis 1:1- 3-7), Consciência (Gênesis 3:8- 8:22), Governo Humano (Gênesis 9:1 – 11:32), Promessa (Gênesis 12:1 – Êxodo 19:25), Lei (Êxodo 20:1 – Atos 2:4), Graça (Atos 2:4 – Apocalipse 20:3) e o Reino Milenar (Apocalipse 20:4 – 20:6). Mais uma vez, estas dispensações não são caminhos para a salvação, mas maneiras pelas quais Deus interage com o homem. O Dispensacionalismo, como um sistema, resulta em uma interpretação pré-milenar da Segunda Vinda de Cristo, e geralmente uma interpretação pré-tribulacional do Arrebatamento.

Das sete dispensações, cinco já foram concluídas: inocência consciência, governo humano, patriarcal e lei, e estamos vivendo a dispensação da graça que dará lugar a milenial. O que é necessário percebermos é que Deus tendo dividido a história da humanidade em dispensações deu para cada uma delas um propósito ou missão e todas elas deveriam ter um inicio e um fim, portanto esta era atual, ou este período de tempo chamado graça em que vivemos terá um fim, o que marcará este fim? Dois grandes eventos marcarão o fim:

– o arrebatamento da igreja

– e a volta visível de Jesus para inaugurar o milênio (grifo meu).

Verificamos algo muito interessante aqui: as divisões históricas que formam o dispensacionalismo são um sistema teológico que “fatia” a história em “dispensações” que teriam um início e um fim, ou seja, cada dispensação que passasse anularia a sua antecessora.

Bem, se esta afirmação está correta e se o sistema dispensacionalista, que inventou a dispensação da graça estiver certo, então as dispensações anteriores não existirão mais.

Isso significa que não temos mais a inocência, a consciência, o governo humano, o período patriarcal e a lei! E já na primeira “dispensação” apareceu o pecado que tirou o homem do Gan Eden expulsando-o para a terra. Podemos concluir que se não temos mais estas cinco dispensações – e se o pecado está incluso nelas – naturalmente não teríamos mais o pecado!

É claro que isso não é verdadeiro, pois o pecado está cada vez mais intenso e mais “apurado” no sentido de ser mais diversificado em suas formas. O que diremos então das dispensações? Não existe mais a consciência no ser humano ou mesmo o governo humano? A Torah – Lei – já não serve mais para nada (e nela estão os Dez Mandamentos) e podemos então fazer o que bem quisermos? Qual seria o sentido desta teologia que “fatia” a história em dispensações e que nos induz a crermos que estamos hoje na “era da graça” e que o restante todo foi abolido pelas Escrituras?

Quando analisamos estas questões de forma fria e honesta descobrimos que a era da graça não existe! Não da forma como é ensinada hoje, pois o que é dito é que a “graça” suplantou todas as demais coisas. É impressionante como líderes de todo o Brasil e do mundo ainda conseguem crer nisso! A graça não “apareceu” com a vinda de Ieshua! Ela está em toda a Tanach – Velho Testamento. A graça não é exclusividade dada por Ieshua; já não posso dizer o mesmo da salvação, essa sim é uma exclusividade, uma missão dada pelo Eterno a Ieshua que veio para trazer ao homem a salvação através de Sua Pessoa!

Graça = libertinagem

O que é Libertinagem?

Libertinagem é o uso da liberdade sem o bom senso, parece liberdade, mas é ao contrário por auto se contrariar.

Uma pessoa que não tem senso de respeito, usa de liberdade para ultrapassar limites.

Esta definição se encaixa perfeitamente no dia a dia da igreja em nossos dias. Vou dar alguns exemplos disso:

Os líderes hoje “repetem” o discurso quando me encontram e me questionam sobre diversas coisas, entre elas:

– A Torah já foi abolida e não precisamos cumprir seus preceitos, pois estamos debaixo da graça!

– Agora eu posso comer de tudo, pois pela “oração e pela palavra tudo é santificado”!

– Eu não preciso me preocupar com o pecado, pois tenho a graça que me dá o direito de pecar e Ieshua me perdoará!

– Eu não preciso fazer as Festas determinadas na Torah, pois elas são apenas “sombras” daquilo que viria e eu não estou mais na sombra!

Estas e outras afirmações eu tenho ouvido ao longo dos anos e por todos os lugares do Brasil por onde tenho andado.

É interessante que há um padrão: os líderes perguntam ou dizem sempre as mesmas coisas! Consequentemente minhas “respostas” são praticamente as mesmas!

Vamos abordar somente um ponto aqui para percebermos que o que foi plantado no coração dos líderes está realmente muito arraigado. Uma pergunta me é feita com muita frequência: por que você voltou para a “Torah” (Lei)? Ela não foi abolida?

Eu sempre pergunto: “Onde está escrito isso?” – A resposta é imediata: Ieshua a aboliu! – Retorno perguntando: “Onde está escrito?” – E alguns ainda afirmam que foi Sha´ul quem aboliu a Torah!

Mas, vamos com calma… Primeiro vamos falar sobre Ieshua. Ele não aboliu a Torah, mas veio para dar pleno cumprimento a ela! Suas palavras são claras: “Não cuideis que vim ab-rogar a Torah ou os profetas; não vim ab-rogar-los, mas cumprir-los. Porque em verdade vos digo que, até que os céus e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da Torah sem que tudo seja cumprido. De maneira que qualquer que violar um destes menores mandamentos e assim ensinar aos homens será chamado o menor no Reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos céus” Mt 5.17-19.

Estes versos são extremamente claros quanto a isso; não há duvida de que o trabalho de Ieshua foi também mostrar que é possível ao homem cumprir a Torah! Ai vem imediatamente a resposta: “Ok, mas Ele cumpriu por mim; não preciso mais cumprir!” Esta é outra resposta que busca “fugir” da responsabilidade que cada homem tem de obedecer. Ora, vamos pensar um pouco: será que todos nós somos discípulos de Ieshua? A resposta geralmente é “sim, somos”. Então neste caso devemos IMITAR nosso Rabino fazendo as mesmas coisas que Ele fez, ou seja, cumprir a Torah!

Neste momento da conversa já vejo “embaraço” em meu interlocutor, pois a possibilidade de fazer isso é assustadora!

Então, via de regra pergunto se essa pessoa obedece aos Dez Mandamentos. Novamente a resposta imediata é: “Sim, obedeço”. Então pergunto sobre a guarda do shabat e geralmente a pessoa diz: “Ele foi abolido pela ressurreição de Ieshua no primeiro dia da semana!”

Então retorno à pergunta sobre os “Dez mandamentos” e digo: “O quarto mandamento fala sobre o shabat!” E por vezes me surpreendo com a resposta: “O shabat está lá?” – E novamente digo, “sim está”. O amado não guarda o shabat? Então não são “Dez mandamentos”, mas sim nove! E quando faço algumas outras perguntas, descobrimos que nem isso é “guardado” pela Igreja e por suas lideranças!

Meu amado leitor, não escrevo isso com o intuito de ofender aos meus irmãos líderes e liderados, pois estamos juntos nesta mesma empreitada rumo à eternidade. Porém busco abrir os olhos de meus irmãos para uma verdade: a teologia convencional está destruindo a fé de nosso povo! “Importamos” pregadores de todos os lugares do mundo e os idolatramos; mas o que eles tem trazido de bom para nós em termos de crescimento no conhecimento das Escrituras? Quase nada!

E essa “teologia importada” sem conteúdo cauterizou a mente dos líderes de tal forma que hoje, quando confrontados com estas coisas citadas não tem coragem de mudar! É impressionante mas eu tenho visto isso em todo o Brasil; os líderes são “confrontados” com a verdade de que a “graça” da forma como é pregada e vivida tem sido a sua “desgraça”, mas não tem coragem de tomar uma posição e renunciar a estes ensinos! O Adversário colocou nos corações dos líderes um temor tão grande que eles imaginam que se disserem isso ao povo suas igrejas ficarão vazias! Isso é mentira! Tenho conversado com muitas pessoas que esperam que seus líderes sejam transparentes e honestos! Imagine que uma atitude dessas causará um impacto na vida de seu rebanho e também na vida de seus parceiros – líderes. Eu digo isso por que aconteceu comigo. Quando recebi tudo isso eu lecionava num Seminário Teológico em Belo Horizonte e tive de falar com meus alunos. Quando isso aconteceu foi uma revolução, pois nossas aulas se transformaram em momentos de muita unção e a presença de Ieshua era constante, a cada aula nossa… Ocorreu também que meus alunos passaram a ter um profundo respeito e admiração por mim pois disseram: “Eu nunca vi um líder dizer que aprendeu errado e agora está admitindo seu erro, confessando que erou e nos ensinando o correto!” Mas as consequências vieram, pois o diretor do Seminário, apesar de dizer que eu era o seu melhor professor, me convidou a “sair e deixar as cadeiras” que eu lecionava!

Para isso é necessário coragem… inclusive, a tradição judaica pergunta: “como saber se um peixe está vivo ou morto”. A resposta é: “ele está vivo se estiver nadando CONTRA a correnteza!”

Meu amado leitor, que possamos reavaliar nossas “verdades” e pensar naquilo que temos feito, pois muitos estão bem “acomodados” com sua posição e não desejam mudanças… por que mudar se tudo está dando certo? As multidões me seguem; meus discípulos são tantos, por que mudar agora???

Finalizando, gostaria de deixar uma pergunta: A quem desejamos agradar ou a quem tememos? Aos homens que vão nos “reconhecer” e nos aplaudir, ou ao Eterno, que nos dará, no fim de todas as coisas a vida eterna?

Será que não só estamos no “sistema teológico falido” como somos este sistema? O que fazer então? Qual o melhor caminho a seguir?

Continuaremos este artigo e falaremos sobre isso numa próxima oportunidade.

Mário Moreno.

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