Ieshua O Rabino

Mário Moreno/ dezembro 22, 2017/ Artigos

Ieshua, O Rabino

1 – INTRODUÇÃO

Para entender completamente o que Ieshua fazia, e também seus ensinamentos, é necessário entendermos o que era ser rabino no primeiro século, como ensinavam, etc.

2 – O QUE FAZ UM RABINO?

Quando conhecemos alguém, uma das primeiras perguntas que fazemos é “Qual a sua profissão?” Dependendo da profissão, pedimos também à pessoa para explicar um pouco do que ela faz. Ao conhecermos mais sobre a profissão de uma pessoa, passamos a conhecer mais sobre a própria pessoa, pois ela passa grande parte da vida dela naquela atividade. Por exemplo, se descobrimos que a pessoa que acabamos de conhecer é um médico, esta informação nos diz bastante a respeito da educação da pessoa, do seu círculo social, do seu status financeiro e até mesmo da sua rotina diária.

E se você tivesse a oportunidade de voltar no tempo e encontrar com o Ieshua dos Evangelhos, e perguntasse: “O que você faz?” O que Ele te diria? Que tipo de educação um Salvador precisa ter? Qual era o status social da profissão de Filho de D-us? Quanto um Messias ganhava por mês? Qual era a rotina de um Libertador? Pois é, estas perguntas não fazem sentido, não é mesmo? Porque o fato é que conhecemos muito a respeito das definições teológicas de Ieshua (i.e. Salvador, Filho de D-us, Messias, etc.), mas normalmente as pessoas conhecem pouco sobre a vocação de Ieshua.

A vocação de Ieshua era rabino. Ele era um rabino de Galil (Galiléia), com muitos admiradores e seguidores. Só estes fatos já nos dizem muita coisa sobre quem o rabino Ieshua realmente é.

Naqueles dias, o termo “rabino” ainda não tinha o significado de hoje. Hoje em dia, “rabino” é um termo usado automaticamente para quem se forma em uma Ieshiva (instituição rabínica). O termo “rabino” era um termo respeitoso para um grande professor. É neste contexto que devemos procurar entender o rabino Ieshua.

Felizmente, a literatura judaica preservou para nós uma grande riqueza em termos de tradições, ensinamentos, parábolas e histórias de grandes rabinos do Judaísmo da mesma era que Ieshua (isto é, da Era do Segundo Templo). Ao compararmos as palavras, as vidas e as aventuras de outros rabinos contemporâneos de Ieshua, conseguimos aprender bastante sobre o que significava ser um rabino no Primeiro Século.

3 – QUAL ERA O SALÁRIO DE IESHUA?

Um rabino do Primeiro Século não era um clérigo ou ministro ordenado. Aliás, apesar de muitas vezes serem vistos desta forma (devido principalmente à cultura ocidental), até hoje os rabinos não são exatamente ministros. Os rabinos do Primeiro Século não recebiam salário de uma sinagoga ou denominação. Ao invés disto, eles tipicamente praticavam alguma atividade comercial para sustentar o seu ministério de ensino, ou viviam de doações. Por exemplo, Rabban Gamliel aconselhava os seus alunos a combinar a prática da instrução da Torah com uma atividade mundana (Avot 2:2). Seu aluno mais famoso, o rabino Sha’ul HaBinyamin, mais popularmente conhecido como o apóstolo Paulo, escolheu ser um fabricante de tendas ao invés de aceitar doações de seus talmidim (discípulos).

Outros professores, como Ieshua, ensinavam e faziam talmidim (discípulos) em tempo integral. Tais professores dependiam de doações da comunidade e de seus alunos. (Lucas 8:3 menciona algumas mulheres que apoiavam o ministério de Ieshua. Iochanan / João 12:6 lembra que havia uma sacola de doações levada por Ieshua e seus talmidim / discípulos.) Quando um rabino decidia se dedicar em tempo integral ao ministério, isto normalmente significava ter que levar um estilo de vida bastante humilde. Por isto ele disse que as raposas tinham tocas e os pássaros tinham ninhos, mas o Filho do Homem não tinha um lugar para recostar a cabeça.

4 – ONDE MORAVA E TRABALHAVA IESHUA?

Pelo Talmud, fica bem evidente que na maioria das vezes um rabino do Primeiro Século ensinava de uma sinagoga local. As sinagogas eram normalmente chamadas de Beit Midrash (Casa de Estudo). Os alunos que desejavam aprender daqueles rabinos freqüentemente viajavam grandes distâncias e, se fossem aceitos como talmidim (discípulos), eles dedicavam as suas vidas não só a estudar, mas também a viver com o seu rabino. Por outro lado, muitos dos sábios do Judaísmo do Primeiro Século eram itinerantes, viajando de cidade em cidade, de sinagoga em sinagoga, ensinando a Torah e fazendo talmidim (discípulos). O ministério de Ieshua certamente era itinerante, embora ele também utilizasse Kfar Nachum (Cafarnaum) como sua base. Tanto que nos Evangelhos vemos Kfar Nachum (Cafarnaum) sendo chamada de “Sua própria cidade” (Matitiyahu / Mateus 9:1). Em Kfar Nachum (Cafarnaum), muito provavelmente ele se hospedava em um quarto na casa de Kefah (Pedro). Contudo, ele certamente rejeitou a oferta de se tornar um rabino residente de Kfar Nachum (vide Lucas 4:43).

A maior parte do ministério de Ieshua consistiu das viagens dentre Ierushalaim e Galil (Galiléia). Mas por que? Porque como todo judeu observante da Torah em Israel, ele tinha que ir a Ierushalaim e ao Templo para cada uma das três festas de peregrinação: Pessach, Shavuot (Pentecostes) e Sucot (Tabernáculos).

O Talmud relata que os sábios aproveitavam as grandes multidões de peregrinos para ensinar um grande número de pessoas nas alas do Templo durante os festivais. Até mesmo aqueles rabinos que normalmente ficavam em uma só localidade faziam isto, por entenderem que era uma grande oportunidade de ensinar às massas. É por isto que vemos nos Evangelhos Ieshua freqüentemente ensinando nas alas do Templo, sempre durante as Moedim (Festas Bíblicas).

5 – QUAL EXATAMENTE ERA A FUNÇÃO DE UM RABINO?

A função de um rabino no início do Judaísmo era a de transmitir os ensinamentos (ou seja, a Torah) para a próxima geração. O livro de Pirkei Avot (“A Ética dos Pais”) começa com estas palavras “Moshe (Moisés) recebeu a Torah do Sinai e a transmitiu a seu talmid (discípulo) Iehoshua (Josué) e aos anciãos; os anciãos aos profetas, e os profetas os homens da grande assembléia (geração de Ezra / Esdras)” (Avot 1:1).

O padrão de professor-discípulo para transmissão da Torah e do conhecimento de D-us foi estabelecido desde de o início da história, e temos como primeiro exemplo mais concreto a Moshe e Yehoshua (Moisés e Josué). Aos professores de cada geração era confiada a tarefa de fazer talmidim (discípulos) e formar futuros professores para a próxima geração. Geração após geração, de professor a aluno, os ensinamentos da Torah eram transmitidos. Um rabino do Judaísmo do Primeiro Século era dedicado exatamente a esta função (como é considerado função de um rabino até hoje): ensinar a Torah de D-us. O propósito de sua vida era explicar a Torah em termos práticos e comunicar o conhecimento de D-us para a geração seguinte.

6 – OS TRÊS CRITÉRIOS PARA UM RABINO

O Pirkei Avot continua “Os Homens da Grande Assembleia disseram três coisas “Seja deliberado em seu julgamento, forme muitos talmidim (discípulos), e faça uma cerca para a Torah”. Esta era a função de um rabino do Primeiro Século.

I – Ser deliberado no julgamento: A função de um rabino era ser cuidadoso ao tomar uma decisão legal ou ao interpretar as Escrituras.

Ele tinha que cuidadosamente examinar todas as evidências. Quando lhe era perguntado algo sobre as Escrituras, ou quando tinha que tomar uma decisão como ancião ou juiz em uma corte, ou até mesmo ao tomar decisões sobre a observância da Torah (halacha), um rabino tinha que ser cuidadoso e deliberado. Um rabino levava as Escrituras a sério, e as estudava diligentemente para ser deliberado em seu julgamento.

II – Formar muitos talmidim (discípulos): A função de um rabino era a de formar muitos talmidim (discípulos). Ele tinha que passar as instruções a muitos alunos. Se ele não o fizesse, não haveria continuidade de geração em geração. Sem talmidim (discípulos), o estudo da Torah e o conhecimento do bem desapareceriam em uma passagem de geração, e a próxima geração cairia em apostasia. A função de um rabino era a de formar talmidim (discípulos) que por sua vez se tornariam professores e formariam outros discípulos, para que a Torah não se perdesse.

III – Fazer uma Cerca para a Torah: A tarefa de um rabino era a de proteger a Torah, ou seja, proteger os mandamentos para que o povo não caísse em pecado. Por exemplo, para que uma pessoa não cometesse adultério, os sábios fizeram uma cerca, dizendo que um homem não deveria ficar sozinho com uma mulher que não fosse sua esposa, para que não caísse na tentação do adultério. Alguns dizem que Ieshua condenou o princípio da cerca, mas na realidade o que Ieshua condenou foi o excessivo legalismo, e o peso que havia nos exageros sobre as leis de cerca. Como em tudo na vida, o ser humano tem a tendência a cometer exageros, e as leis de cerca, que eram um conceito válido e muito interessante, tornaram-se um peso muito grande.

Em seu ministério, Ieshua foi um rabino completo, cumprindo os três critérios acima. Ele foi deliberado em sue julgamento, tomando decisões brilhantes a respeito da interpretação da Torah. Ele formou muitos talmidim (discípulos), mais do que qualquer outro rabino jamais o fez. Além dos Doze Apóstolos, ele tinha centenas de alunos devotos, e milhares de pessoas que ouviam aos seus ensinamentos. Ele fez cercas para a Torah, por exemplo quando disse que alguém que sequer olha para uma mulher com desejo já cometeu com ela adultério no coração. Ou quando disse para não fazermos juramentos, mas que o nosso sim seja sim e o não seja não. Nestes dois exemplos, ele fez cercas para os mandamentos de adultério, e para alguns mandamentos relacionados ao falar (i.e. não levantar falso testemunho, leis acerca de juramentos, não tomar o nome de D-us em vão, etc.). Vemos então que Ieshua era um rabino completo.

7 – ENTENDENDO AS PALAVRAS DO RABINO IESHUA

Quando começamos a estudar os ensinamentos e metodologias de ensino dos primeiros rabinos, fazemos uma descoberta fantástica. Logo percebemos que muitas das palavras e ensinamentos de Ieshua refletem os ensinamentos de outros rabinos anteriores ou contemporâneos a ele. A metodologia, hermenêutica, argumentação, pressuposições teológicas, e até mesmo os assuntos abordados nos ensinamentos de Ieshua são fundamentalmente rabínicos. Até mesmo a sua forma de ensinar utilizando parábolas era um método de ensino comum no Primeiro Século. Muitas de suas parábolas são derivadas de parábolas de outros rabinos anteriores a ele, que Ieshua aproveitou e/ou reformulou para transmitir Sua mensagem. Em poucas palavras, como rabino, ele utilizou as ferramentas de um rabino para transmitir Suas idéias. Ele utilizou tanto técnicas rabínicas quanto materiais rabínicos, tal qual já demonstramos brevemente no segundo artigo desta série. A literatura judaica nos permite comparar Suas palavras com as palavras dos rabinos que vieram antes dEle, ou mesmo dos rabinos contemporâneos a Ele. Assim, conseguimos compreender melhor algumas expressões idiomáticas obscuras e elementos do estilo judaico que Ieshua empregou, ao fazermos tais comparações. Através da literatura judaica, conseguimos entender melhor os pontos de conflito entre Ieshua e o sistema do Judaísmo que existia no Primeiro Século. E o melhor de tudo é que, conseqüentemente, conseguimos entender melhor a Ieshua e à Sua mensagem, dentro do seu contexto original.

8 – CONCLUSÃO

Ieshua é um rabino. Seus ensinamentos são fundamentalmente rabínicos. Para entendermos melhor quem Ele foi e o que Ele ensinou, é necessário explorarmos o material e as metodologias rabínicas de Sua época.

Extraído da internet (baseado em diversas fontes da Internet) e melhorado por

Mário Moreno.

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