Mário Moreno/ novembro 28, 2017/ Artigos

Isaías 9.6

Estamos vivendo um tempo em que os “contestadores” estão por toda a parte… Contestar é lícito e é necessário para que vivamos uma vida saudável, porém a contestação deve ter bases e motivos para ocorrer. Contestar apenas por contestar é um exercício de pura futilidade e pode levar estas pessoas a influenciarem aos menos preparados a deixarem sua fé original, justamente por não terem o conhecimento necessário.

Vamos hoje falar sobre um texto que tem sido alvo de alguns “irmãos” que argumentam sobre a falta de bases de interpretação bíblica e reduzem os textos a simples “fatos históricos” sem qualquer conexão com o Ungido. Um dos textos que estão sendo contestados é este:

Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz”.

A maioria dos intérpretes coloca este como um texto que aponta para o Ungido; porém temos agora, além do judaísmo tradicional, outras pessoas que contestam esta interpretação ligando este texto ao rei Ezequias e colocando-o como mais um relato histórico. Vamos analisar os fatos.

A historicidade do texto

Este texto refere-se ao tempo em que o profeta Isaías profetizava para Judá e os reis que ali estavam. O profeta nasce no ano de 765 a.c. e seu ministério começa no ano de 740 a.c., ou seja, ele deu início a seu ministério aproximadamente aos 25 anos. Segundo relatos históricos ele morreu aos 92 anos de idade, pela mão do rei Manassés. Isso nos informa que seu ministério durou nada menos do que 67 anos!

O rei Ezequias nasceu no ano de 745 a.c. e quando isso aconteceu Isaías ainda não havia iniciado seu ministério – a diferença de idade entre ambos é de 20 anos! Ezequias inicia seu reinado em 716 a.c. aos 29 anos. Nesta época Isaías tinha então 49 anos. Podemos então perguntar: a profecia de Isaías 9.6 que diz: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz” poderia dizer respeito a um jovem de 29 anos? Se a profecia diz respeito a ele, qual seria então a sua aplicação, pois o texto nos fala de “um menino nos nasceu, um filho se nos deu”.

Historicamente falando, parece que a interpretação da profecia ligando-a a Ezequias é pouco provável….

A questão profética

Isaías não era um historiador, sua chamada era para ser profeta. Por isso o conteúdo de seus escritos são tidos como revelações acerca daquilo que ocorreria, por isso ele é colocado dentro do cânon como “profeta”. De outra forma seus escritos deveriam ser incluídos entre os “históricos”.

Sendo assim devemos então ler seus escritos sempre vislumbrando esta faceta do “profeta”, que é aquele que vê algo antes de acontecer. Por isso podemos então concluir que apesar de conter algo de histórico em seu livro, o conteúdo do livro de Isaías é profecia.

Desta forma não podemos deixar de citar que o profeta – sendo aquele que vê antes – agora vislumbra parte da história – nunca se preocupando com a cronologia da mesa – que faz referência ao tempo futuro em que uma criança nasceria e isso mudaria por completo a história do povo de Israel. Isso é profecia! Se fosse história ele não profetizaria, apenas NARRARIA os fatos ocorridos, pois esta é a função do historiador!

A exegese do texto

Vamos agora falar sobre o texto em si. “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz”.

A quem ele se refere? Existem pistas que apontam par alguma direção na história que nos remeta a uma interpretação em particular? Vejamos:

– Vamos falar sobre o “contexto” do referido texto. Esta é uma importante premissa, pois não podemos tirar um texto de seu contexto a fim de dar-lhe uma interpretação particular. Então, se o texto diz respeito a Ezequias, algo neste capítulo deve pelo menos apontar para este personagem.

A pergunta crucial é: em que verso(s) anterior ou posterior temos uma referência a Ezequias? A resposta é: nenhum!

Agora, vamos falar sobre a referência ao Messias – Ungido. Existe alguma pista que nos ligue a esta pessoa? Vamos examinar o texto:

Mas a terra, que foi angustiada, não será entenebrecida. Ele envileceu, nos primeiros tempos, a terra de Zebulom, e a terra de Naftali; mas nos últimos a enobreceu junto ao caminho do mar, além do Jordão, a Galiléia dos gentios. O povo que andava em trevas, viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra de morte resplandeceu a luz. Tu multiplicaste este povo, a alegria lhe aumentaste: todos se alegrarão perante ti, como se alegram na ceifa e como exultam quando se repartem os despojos. Porque tu quebraste o jugo que pesava sobre ele, a vara que lhe feria os ombros, e o cetro do seu opressor como no dia dos midianitas, porque toda a armadura daqueles que pelejavam com ruído, e os vestidos que rolavam no sangue serão queimados, servirão de pasto ao fogo. Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, El forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz. Do incremento deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de David e no seu reino, para o firmar e o fortificar em juízo e em justiça, desde agora para sempre; o zelo do IHVH dos Exércitos fará isto” Is 9.1.7.

Agora, vejamos algumas “coincidências” entre o texto profético de Isaías e o Ungido:

– Em primeiro lugar é citada a Galiléia dos gentios como lugar que seria “enobrecido” por esta pessoa. Ezequias fez isso? E o que fez Ieshua? Ele começou seu ministério por esta região e fez dela algo tão sublime que Ele mesmo recebeu o codinome de “Galileu”!

– O profeta declara: “O povo que andava em trevas, viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra de morte resplandeceu a luz”. A pergunta é: Ezequias foi esta luz? E quanto a Ieshua? Será que Ele foi isso? Esta relação de Ieshua como luz é citada muitas vezes na Brit Hadasha. Vamos citar apenas algumas:

“Ali estava a luz verdadeira, que alumia a todo homem que vem ao mundo” Jo 1.9;

“Falou-lhes, pois, Ieshua outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” Jo 8.12;

“Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas” Jo 12.46.

– Uma outra palavra que se cumpriu após a morte de Ieshua: “Tu multiplicaste este povo, a alegria lhe aumentaste: todos se alegrarão perante ti, como se alegram na ceifa e como exultam quando se repartem os despojos”. Isso aconteceu com Ezequias? Não; porém logo após a morte de Ieshua houve uma multiplicação do povo que creu no Ungido trazendo-lhes uma alegria até então desconhecida.

– E finalmente, temos um outro texto que ainda está se cumprirá no milênio: “Do incremento deste principado e da paz não haverá fim, sobre o trono de David e no seu reino, para o firmar e o fortificar em juízo e em justiça, desde agora para sempre; o zelo do Senhor dos Exércitos fará isto”. Pergunto: Ezequias fez isso? A resposta é: “não”. Porém Ieshua fará isso no milênio quando reinará de fato sobre Israel.

Conclusão

Creio que estas poucas considerações serviram para demonstrar a fragilidade do argumento que liga e interpreta Isaías 9.6 como um texto puramente histórico e que diz respeito ao Rei Ezequias. Esta interpretação carece de FATOS, e sendo assim não podemos aceitar que SOMENTE ESTE VERSO fale sobre Ezequias em detrimento do restante do contexto, conforme foi demonstrado acima.

Gostaria ainda de ressaltar que existem sim textos nos profetas que falam sobre a história. Eles são pequenos relatos históricos, mas estão entremeados à profecia! Mas isso não é a regra e sim a exceção. O que não podemos fazer é desacreditar da palavra profética apenas porque achamos que um certo grupo interpreta um texto e uma determinada forma. Negar a fluidez do texto de Isaías num contexto messiânico é no mínimo uma besteira muito grande a ser dita! Essa posição é para aqueles que desejam negar este caráter profético e messiânico existente em Isaías, pois quando fazemos uma pesquisa histórica descobrimos que estes relatos proféticos se encaixam na vida de um homem: Ieshua! E para alguns isso é inaceitável! Quantos desejariam negar isso… e o fazem com o intuito de defenderem-se daquilo que está mais do que evidente. É com tentar “tapar o sol com uma peneira”…

Que o Eterno nos dê o Seu Espírito e também nos dê honestidade para que possamos ver, e quando necessário aceitarmos que estamos errados!

Baruch há Shem!

Mário Moreno.