Lições de Liderança

Mário Moreno/ junho 5, 2020/ Artigos

Lições de Liderança

A Parasha Matot começa com as leis dos votos. A Torah nos diz: “Moshe falou aos chefes das tribos dos filhos de Israel, dizendo: ‘Isto é o que Hashem ordenou. Se um homem faz um juramento ou faz um juramento de se proibir, ele não deve violar sua palavra … ” A Torah então discute como uma pessoa deve honrar sua palavra, ou anular corretamente seu voto.

Curiosamente, Moshe não ensinou essas leis para o povo judeu, mas ele disse aos hareos rashei, os chefes das tribos, para ensiná-los. Por que é que ele fez isso?

Depois que Rav Yaakov Kamenetzky, ztl, escapou da Europa e assumiu uma posição temporária em Seattle, ele se tornou um Rav em Toronto. Os congregantes, na maioria descendentes de poloneses, tinham alguns costumes que diferiam da herança lituana de Rav Yaakov. Eles sugeririam um pouco que eles apreciariam se ele adotasse alguns de seus costumes. Uma vez, depois de perceber que ele não usava um cinto (cinto tradicional usado pelos judeus chassídicos durante as orações), eles deixaram um em seu assento!

Quando lhe perguntaram por que ele não usava Rabeinu Tam Tefillin como era a minhag dos chassidim, ele respondeu que não era o costume dos rabbanim lituanos.

“Mas o Chofetz Chaim usou Rabbeinu Tam!”, responderam eles.

“O Chofetz Chaim só colocou em Rabbeinu Tam mais tarde na vida quando ele tinha 90 anos”, respondeu Rav Yaakov.

De fato, quando Rav Yaakov completou 90 anos, ele de repente começou a usar Rabbeinu Tam.

De acordo com fontes confiáveis, não foi porque essa era a idade que os Chofetz Chaim usavam, ao contrário, porque ele sugeriu isso ao falar com seu baalei batim de Toronto.

Meu avô, Rav Binyamin Kamenetzky, explicou o seguinte. Moshe está ensinando os líderes um princípio importante. A palavra de uma pessoa é ouro. Ele deve honrá-lo e manter sua resolução, aconteça o que acontecer. Mas quem é capaz de ensinar isso pelo exemplo? Apenas um líder que pratica isso na vida real.

Um líder deve manter sua palavra. Moshe disse aos líderes das tribos, que eles devem dar um exemplo aos seus constituintes. A única maneira de ensinar integridade é praticando-a. Um líder deve fazer mais do que apenas liderar. Ele deve ser capaz de praticar o que ele prega. Só então, ele pode genuinamente transmitir essas lições aos seus discípulos.

Este texto nos mostra alguns aspectos muito interessantes. Vamos apreciar os ensinamentos contidos aqui.

Em primeiro lugar temos Moshe ensinando aos líderes da nação um princípio que ele mesmo poderia ter ensinado ao povo. Por que ele fez isso? Não foi somente para que os líderes tivessem aquele conhecimento em “primeira mão”, mas também para que os líderes tivessem a oportunidade de ensinarem o povo algo que receberam de Moshe. Isso se daria de duas formas: a teórica e a prática. Eles estavam recebendo autoridade para ensinarem.

Em segundo lugar percebemos que os líderes poderiam praticar o “discipulado”, ou seja, ensinar seus liderados usando duas ferramentas essenciais: o conhecimento e a prática. Ambos caminham juntos e só surtem efeito quando aplicados cada um em sua medida correta. O conhecimento vem primeiro. Devemos apresentar o princípio aos nossos liderados explicando-lhes seus significados e assim então poderemos praticar o que ensinamos para que haja uma fixação positiva do que foi ensinado.

Num primeiro momento parece algo muito simples, mas nem sempre é assim. Quem ensina precisa primeiro viver o conteúdo de suas prédicas para depois conseguir ensinar. Há uma tremenda diferença entre “ensinar” e “derramar conteúdo” para alguém. O ensino depreende vida; o derramar conteúdo somente um conhecimento frio que é transmitido mas nem sempre assimilado.

Para que alguém aprenda algo de fato – nos moldes do discipulado – é preciso investir tempo na vida desta pessoa primeiro ensinando-lhe os princípios – através do conteúdo das Escrituras – e depois vivendo isso juntamente com ela, de forma simples, natural. O que pretendemos ensinar precisa ser algo natural em nossa vida. Se desejamos ensinar alguém a orar, precisamos ensinar o que é oração e seus desdobramentos e mostrar como, onde e porque orar em nosso dia a dia.

A questão é simples, porém difícil para muitos de ser vivida… Por isso ENSINAR de ato é para poucos.

Uma das coisas que Ieshua fez foi justamente isso: ensinou de uma forma tão eficiente que após sua morte e ressurreição seus discípulos puderam replicar e vivenciar seus ensinos de forma tão perfeita que foram reconhecidos por isso: “E dali a um pouco chegaram os que estavam presentes, e disseram a Pedro: Verdadeiramente, também tu és deles: porque tua fala te manifesta” Mt 23.76. Neste exemplo podemos ver que a “fala” de Kefa – Pedro – o denunciava, ou seja, ele já FALAVA como Ieshua, seu mestre!

Este tipo de ensino é tão eficiente e impactante que faz com que os discípulos assimilem características de seu mestre que são únicas e que apontam para a origem do discipulado. Ieshua disse isso: “Basta-lhe ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo ser como seu senhor” Mt 10.25.

Finalizando entendemos o que Moshe fez ao delegar aos seus líderes a condição de ensinarem e transmitirem ao restante da nação parte daquilo que haviam recebido. Ieshua fez o mesmo com seus discípulos e aqui temos uma continuidade de padrões demonstrando que aquilo que a tradição judaica ensinava Ieshua também fazia o mesmo. Por isso entendemos que Moshe é uma “sombra” na Torah de Ieshua; ele apontava para aquilo que o Messias faria em seu ministério e este é somente um de muitos exemplos que podem ser citados fazendo-se esta conexão. Somente lembrando: Moshe disse que isso seria assim quando disse: “O IHVH teu Elohim te despertará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis” Dt 18.15.

Entendemos a importância do ensino seguido do exemplo. É isso que dá credibilidade não somente a quem ensina como também aquele que aprende e retransmite o conteúdo. A fonte – procedência – do conteúdo ensinado é muito importante. Falsos mestres já circulam em nosso meio e por isso precisamos receber ensino genuíno que possa ser retransmitido e vivido de forma fácil e prática.

Que o Eterno nos ajude a vivermos como Ieshua a cada dia!

Baruch ha Shem!

Tradução e adaptação: Mário Moreno.

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