Maldição ou bênção
Maldição ou bênção?
Você sabia que quando um verso da Torah é lido ao contrário ele pode transformar uma maldição numa bênção? Veja o que diz a tradição judaica.
…Teremos agora a ordem de Moshe quanto ao pronunciamento das bênçãos sobre os obedientes à Torah e das maldições aos desobedientes! Tal pronunciamento contaria com “testemunhas” de ambos os lados que também pronunciariam as palavras de bênção e maldição. “Falou mais Moisés, juntamente com os sacerdotes levitas, a todo o Israel, dizendo: Guarda silêncio e ouve, ó Israel! Hoje vieste a ser povo do IHVH teu Elohim. Portanto obedecerás à voz do Senhor teu D-us, e cumprirás os seus mandamentos e os seus estatutos que hoje te ordeno. E Moisés deu ordem naquele dia ao povo, dizendo: Quando houverdes passado o Jordão, estes estarão sobre o monte Gerizim, para abençoarem o povo: Simeão, e Levi, e Judá, e Issacar, e José, e Benjamim; e estes estarão sobre o monte Ebal para amaldiçoar: Rúben, Gade, e Aser, e Zebulom, Dã e Naftali” (Dt 27:9-13). Estes montes – Gerizim e Ebal (palavra que significa “montanha nua”; “rocha”) estão lado a lado e por isso foram escolhidos para que ali se pronunciassem estas palavras, pois todo o povo poderia ouvi-las, de forma que a mensagem seria bem entendida por todos!
O foco deste texto está na palavra “maldito” ou “maldição”. Esta palavra vem do termo hebraico ´arar e significa “prender (por encantamento), cercar com obstáculos, deixar sem forças para resistir”. Nossa primeira conclusão é que quem infringe um destes mandamentos será preso (por encantamento), será cercado com obstáculos e será deixado sem forças para resistir!
Entre as “maldições” destacamos uma que segue abaixo.
“O teu boi será morto aos teus olhos, porém dele não comerás; o teu jumento será roubado diante de ti, e não voltará a ti; as tuas ovelhas serão dadas aos teus inimigos, e não haverá quem te salve” (Dt 28:31).
Para o Rabi Sheneur Zalman, a maldições não eram o desejo final de D’us. Ao contrário, D’us ama seu povo e quer regá-los com bênçãos. Estas maldições são somente superficiais, e ocultas dentro delas há bênçãos que o povo judeu eventualmente merecerá.
Um exemplo de bênçãos ocultas pode ser achado no seguinte passuk: “Shorechá tavuach le’enêcha velô tochal mimênu, chamorechá gazul milefanêcha velô yashuv lach, tsonechá netunot leoyevêcha veên lechá moshía.” – “Seus bois serão abatidos perante os seus olhos e não comerás dele, seu burro será roubado de ti e não retornará, seu rebanho será dado aos seus inimigos e não terás nenhum salvador” (28:31).
Quando este passuk é lido de trás para frente, ele está cheio de bênçãos:
“Moshía lechá ve’ên leoyevêcha”– “Ele ajudará a vocês e não aos seus inimigos”– “yashuv lach tsonechá netunot” – “o seu rebanho que foi dado para outros retornará para você”– “velô milefanêcha gazul Chamorêcha” – “Teu burro não será roubado de ti” – “mimênu tochal velô le’enêcha tavuach shorêcha“– “Você comerá dele e seu boi não será abatido perante os teus olhos”.
Então, considerando esse fato, vejamos algo mais…
Quando falamos sobre “conquistas”, como isso ocorreria na vida de uma pessoa que teme ao Eterno?
…Veja o texto abaixo, que diz: “Guarda-te que não te esqueças do IHVH teu Elohim, deixando de guardar os seus mandamentos, e os seus juízos, e os seus estatutos que hoje te ordeno; para não suceder que, havendo tu comido e fores farto, e havendo edificado boas casas, e habitando-as, e se tiverem aumentado os teus gados e os teus rebanhos, e se acrescentar a prata e o ouro, e se multiplicar tudo quanto tens, se eleve o teu coração e te esqueças do IHVH teu Elohim, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão; que te guiou por aquele grande e terrível deserto de serpentes ardentes, e de escorpiões, e de terra seca, em que não havia água; e tirou água para ti da rocha pederneira; que no deserto te sustentou com maná, que teus pais não conheceram; para te humilhar, e para te provar, para no fim te fazer bem; e digas no teu coração: A minha força, e a fortaleza da minha mão, me adquiriu este poder. Antes te lembrarás do IHVH teu Elohim, que ele é o que te dá força para adquirires riqueza; para confirmar a sua aliança, que jurou a teus pais, como se vê neste dia. Será, porém, que, se de qualquer modo te esqueceres do IHVH teu Elohim, e se ouvires outros deuses, e os servires, e te inclinares perante eles, hoje eu testifico contra vós que certamente perecereis. Como as nações que o IHVH destruiu diante de vós, assim vós perecereis, porquanto não queríeis obedecer à voz do IHVH vosso Elohim” (Dt 8:11-20).
O detalhe aqui é que o Eterno fala novamente ao homem para que ele não se esqueça! É notável como o homem tem a capacidade de esquecer-se rapidamente das coisas que já passaram! É justamente por isso que o Senhor lhes ordena que façam diferente, trazendo sempre à memória os fatos ocorridos entre eles! O Eterno diz ao seu povo que o distanciamento d´Ele produziria o materialismo, que é a confiança nas coisas visíveis como meio de sustentação da vida, e isso certamente traria um “relaxamento” natural nos israelitas, produzidos pelo conforto e pela riqueza!
Um outro aspecto é que o Eterno deu a Israel uma “unção” para o sucesso; porém isso deveria ser visto como uma dádiva advinda da obediência do povo, levando-os sempre ao aperfeiçoamento de sua obediência e não ao “relaxamento” de sua relação com o Eterno! O verso 18 nos diz: “Antes te lembrarás do IHVH teu Elohim, que ele é o que te dá força para adquirires riqueza; para confirmar a sua aliança, que jurou a teus pais, como se vê neste dia”. No texto em hebraico há uma outra palavra que não está no texto em português que é o termo koah e que significa “força, poder, habilidade, capacidade, poderio, solidez”. Então temos a palavra “força” vem do termo hebraico hayil que significa “poder, força, vigor; capaz, valente, virtuoso, valor; exército, riquezas, bens, posses”. Tudo aquilo que Israel possuía agora era proveniente de algo que lhe fora dado pelo Eterno. E isso está traduzido na palavra “força” que é o vigor físico e mental para trabalhar e obter o sucesso financeiro e material necessário para a manutenção de uma vida digna! Isso não significa que todo o israelita deveria ser rico, mas que o Eterno já havia disponibilizado aos seus filhos um vigor, um poder que os impeliria ao trabalho e faria com que aqueles que trabalhassem bem e continuassem a caminhar dentro do padrão de obediência dado pelo Eterno alcançariam então muitas posses materiais! Esta palavra tem em sua própria raiz esta conotação de alcançar bens materiais, e isso aconteceria porque o Eterno estaria confirmando a aliança feita com os patriarcas. A aquisição de riquezas através da obediência sempre levara algum tempo, e enquanto estas pessoas caminhavam na direção da “riqueza” elas eram ensinadas pelo Eterno a lidarem com o dinheiro de forma a não permitirem que o mesmo se tornasse o seu D-us! Perceba que o objetivo final disso é fazer com que a aliança do Eterno seja confirmada em nossas vidas! Ou seja, aquele que recebe isso tem neste fato a confirmação do pacto feito com derramamento de sangue através de Avraham e que agora se manifesta em nossas vidas!
Detalhe: esta “unção” estaria disponível somente aos que obedecessem à Torah! Então, os demais – incrédulos e desobedientes – estariam automaticamente excluídos de serem beneficiados por esta palavra! E mais: isso – a capacidade para ter sucesso – viria de D-us para seu povo como um “presente” que faria parte de uim “pacote”, onde isso é somente parte do muito que o Eterno deseja nos dar…
Pense bem, será que vale a pena tornar-se obediente ao Eterno em todos os aspectos de nossas vidas? Há um preço a ser pago; mas há também uma recompensa a ser recebida: a glória e a presença do D-us de Israel que certamente se manifestará em e através de novas de várias formas possíveis e imagináveis!
Que todos nós possamos buscar ao Eterno para nos tornarmos obedientes – não pelas riquezas ou sucesso – mas principalmente por aquilo que julgamos ser principal: a shekiná (presença) em nós e a certeza de que cada crente torna-se um instrumento de guerra para derrotar as trevas em nome de Ieshua!
Mário Moreno.