Mário Moreno/ setembro 5, 2017/ Rosh Hashaná

O Ano Novo

O fundo histórico

E falou o IHVH a Moshe, dizendo: Fala aos filhos de Israel, dizendo: No mês sétimo, ao primeiro do mês, tereis descanso, memorial com sonido de trombetas, santa convocação. Nenhum trabalho servil fareis, mas oferecereis oferta queimada ao IHVH” Lv 23.23-25.

Um dos fatos fascinantes sobre o feriado de Rosh Hashanah, é que ele é considerado o “Ano Novo”. A verdade é que esta data ocorre no sétimo mês no calendário anual. Será que alguém fez um cálculo desastroso?

O ano bíblico começa na primavera do mês de Nissan: “Este mesmo mês vos será o princípio dos meses; este vos será o primeiro dos meses do ano” Ex 12.2. Há uma certa lógica nisso. É o início da época da colheita.

Entretanto os rabinos dão um significado especial ao primeiro Shabat do ano (é o primeiro dos feriados nacionais) que eles consideram como o Ano Novo “espiritual”. Aqui o nome muda também. Biblicamente conhecido como Iom Teruah (O Dia do Sonido / Festa das Trombetas), o segundo dia de Tishrei começou a ser chamado de Rosh Hashanah, o principal dia do ano.

O propósito deste feriado é relembrado numa palavra – reunião. Desde que aos feriados chamam-nos a comunhão, para termos uma fé pura em D-us, Rosh Hashanah vem para representar o dia do arrependimento. É o dia quando o povo de Israel avalia sua condição espiritual e faz as mudanças necessárias para garantir que o recém-nascido ano será agradável diante de D-us.

O dia de Rosh Hashanah é tão importante que, de fato, o que prefacia o mês hebreu de Elul traz um sentido santo em si só. Os rabinos enfatizam que o quarto dia de Elul até o primeiro dia de Tishrei (Iom Kippur) deva ser um período especial de preparação. Isto esta baseado na crença de que foi no primeiro dia de Elul que Moshe subiu ao Monte Sinai para receber o segundo conjunto das Tábuas da Lei e que ele desceu no Iom Kippur.

Nas sinagogas o shofar, um chifre de carneiro, é tocado para alertar ao fiel que a hora do arrependimento se aproxima. Muitos ortodoxos tomam banhos especiais (mikveh), simbolizando a pureza destes dias.

Desde que o tema em Rosh Hashanah é arrependimento, a observação do feriado traz uma característica sombria, já quando sugere-se a esperança por causa do perdão de D-us. Na casa dos judeus tradicionais, o entardecer inicia-se com um jantar festivo com os pratos costumeiros. Então termina-se na sinagoga com o culto da noite. Uma boa parte do dia seguinte é gasto em oração e adoração.

A liturgia, música e orações enfatizam o tema periódico do arrependimento, voltando-se sempre para D-us. Desde que este dia é um shabat, a maioria do povo judeu deixa os trabalhos ou estudos para observar este dia corretamente.

Nos grupos tradicionais, o entardecer de Rosh Hashanah é gasto num banho com água (no oceano, lago ou ribeirão) observando-se os antigos cultos, Tashlich. A palavra deriva-se de Miquéias 7.19 onde o profeta diz: “…e tu lançarás todos os seus pecados nas profundezas do mar”.

Para ilustrar esta bela verdade, o povo lança pedaços de pão ou seixos na água e se regozijam nas promessas de D-us do perdão.

Com estes temas em mente é costume na comunidade judaica enviar cartões de felicitações para a família e amigos com desejos de um Ano Novo abençoado.

O costume mais notório é o toque do shofar, a trombeta mencionada nos textos bíblicos. O shofar é tocado na sinagoga com quatro diferentes notas: tekia (clangor), shevarie (notas tristes), teruah (alarme) e tekia gedohah (o grande clangor). Estas notas nos trazem lições espirituais. Os rabinos observam que o shofar era usado antigamente para aclamar um rei. Então, também em Rosh Hashanah todo o Israel é chamado para aparecer diante do Rei dos Reis em antecipação a um julgamento pessoal. Também freqüentemente na Bíblia o shofar era tocado para reunir as tropas para a batalha. Neste caso, o shofar é nosso despertamento, um alarme que nos chama para um tempo determinado.

O cumprimento profético

Como em todas as festas bíblicas, é tão profético quanto histórico o significado de Rosh Hashanah. Muitos rabinos clássicos vêem uma conexão entre Rosh Hashanah como um dia santo de livramento e o Ungido que será o agente do livramento. Por exemplo, num escrito do oitavo século encontramos o seguinte comentário:

“O Ungido ben Davi (filho de Davi), Elias e Zorobabel, paz sobre eles, virão sobre o Monte das Oliveiras. E o Ungido ordenará Elias no toque do shofar. A luz dos seis dias da criação retornarão e serão vistas, a luz da lua será como a luz do sol, e D-us enviará completa cura sobre o Israel ainda doente. O segundo toque que Elias dará fará os mortos ressuscitarem. Eles sairão das sepulturas e cada um reconhecerá seu companheiro, e também seu marido e esposa, pai e filho, irmão e irmã. E virão ao Ungido dos quatro cantos da terra, do leste e do oeste, do norte e do sul. Os filhos de Israel voarão nas asas das águias e virão para o Ungido…” (Ma’ase Daniel como citado em Patai, pg. 143).

Enquanto a ênfase histórica do feriado é o arrependimento, o tema profético aponta para o dia futuro quando o completo livramento espiritual ocorrerá sob o Ungido.

Todos os detalhes de Rosh Hashanah tornam-se mais interessantes quando consideramos a Brit Hadasha e a vida de Ieshua. O volume de evidências bíblicas levam-nos a concordar com aqueles que dizem que o nascimento do Ungido ocorreu no outono, não no inverno. Se isto é verdade, nós podemos determinar de forma aproximada a época em que Ieshua iniciou seu ministério público. Como Lucas escreve em seu Evangelho “E o mesmo Ieshua começava a ser de quase trinta anos, sendo (como se cuidava) filho de José, e José de Heli” 3.23; o texto diz que Ieshua “tinha cerca de trinta anos”, então foi imerso e fez sua primeira pregação no outono daquele ano.

Consideremos os temas paralelos de Rosh Hashanah. Seria surpreendente que Ieshua tomasse uma imersão / mikveh especial no outono daquele ano: “Então veio Ieshua da Galiléia ter com João, junto do Jordão, para ser imerso por ele. Mas João opunha-se-lhe, dizendo: Eu careço de ser imerso por ti, e vens tu a mim? Ieshua, porém, respondendo, disse-lhe: Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então ele o permitiu. E, sendo Ieshua imerso, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Elohim descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” Mt 3.13-17?

Há alguma relação entre os quarenta dias de provação pelo adversário? “Então foi conduzido Ieshua pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome; e, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Elohim, manda que estas pedras se tornem em pães. Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Elohim. Então o diabo o transportou à cidade santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és o Filho de Elohim, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, e tomar-te-ão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra. Disse-lhe Ieshua: Também está escrito: Não tentarás o IHVH teu Elohim. Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. Então disse-lhe Ieshua: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao IHVH teu Elohim adorarás, e só a ele servirás. Então o diabo o deixou; e, eis que chegaram os anjos, e o serviam” (Mt 4.1-11). E qual foi a mensagem que Ieshua imediatamente proclamou depois dos quarenta dias? “Arrependei-vos dos vossos pecados, pois o reino de Elohim está próximo”.

Que época melhor seira aquela para o Ungido iniciar seu ministério do que o início do ano novo espiritual? A evidência histórica aponta para o mês de Elul que serviu como um tempo perfeito de preparação para a maior mensagem que viria para Israel: Voltem-se para D-us, o Ungido chegou!

Há uma rica verdade profética associada com esta Festa das Trombetas. Isto caracteriza um tempo de colheita e preparação espiritual, um futuro cumprimento de Rosh Hashanah é também visto aqui. Falando sobre a futura redenção dos crentes no Ungido, comumente chamada “arrebatamento”. Paulo revela uma interessante conexão com o feriado:

I Ts 4.16-18 “Porque o mesmo Senhor descerá dos céus com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Elohim; e os que morreram no Ungido ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras”.

Este feriado é uma figura perfeita do arrebatamento dos crentes! No futuro todos os crentes em Ieshua serão arrebatados a encontrar com Ele nas nuvens. Os mortos no Ungido ressuscitarão primeiro, e serão seguidos imediatamente pelos crentes vivos na época. Não surpreendentemente, o sinal do arrebatamento será o toque do shofar. De fato, a referência aqui é o toque especial que é dado em Rosh Hashanah. A palavra normalmente traduzida por “alarido” no verso 16 vem do hebraico “teruah”, melhor traduzido neste contexto por “alarme”, o toque do shofar. Referências similares ao shofar como sinal do “rapto” podem ser achadas em outros lugares da Brit Hadasha: “E agora digo isto, irmãos: que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Elohim, nem a corrupção herdar a incorrupção. Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória? Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a Elohim que nos dá a vitória por nosso Senhor Ieshua o Ungido. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor” I Co 15.50-58.

Outro importante cumprimento do Rosh Hashanah é o arrebatamento dos crentes judeus remanescentes na segunda vinda do Ungido. Tão distante quanto o sétimo século antes do Ungido, o profeta Isaías escreveu:

Is 27.12,13 “E será naquele dia que o IHVH debulhará seus cereais desde as correntes do rio, até ao rio do Egito; e vós, ó filhos de Israel, sereis colhidos um a um. E será naquele dia que se tocará uma grande trombeta, e os que andavam perdidos pela terra da Assíria, e os que foram desterrados para a terra do Egito, tornarão a vir, e adorarão ao IHVH no monte santo em Jerusalém”.

Aquilo que esta passagem está se referindo é um dia de resgate dos crentes restantes está claro e nós ainda esperamos por este toque do shofar para cumprir isto. Igualmente, Ieshua o Ungido, quando questionado acerca do futuro de Israel, confirmou este como um dia final da promessa em seu próprio ensinamento:

Mt 24.31 – “E ele enviará os seus anjos com rijo clamor de trombeta, os quais ajuntarão os seus escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus”.

Crentes em Ieshua Ha Mashiach têem uma profunda apreciação por este rico feriado, Rosh Hashanah! Ele serviu historicamente como um tempo de preparação espiritual e arrependimento, ambos os temas sobre os quais devemos aprender. Profeticamente, nós somos lembrados da promessa de D-us para resgatar e restaurar seu povo escolhido, Israel, no último dia. O som do shofar é também uma recordação da abençoada esperança que todo o crente messiânico possui: nós podemos entrar na presença do Ungido a qualquer hora: “Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Elohim e nosso Salvador Ieshua o Ungido” Tito 2.13. Devemos dar atenção para o som do shofar e tudo o que Rosh Hashanah tem para nos ensinar.

Um guia prático para os crentes no Ungido

Há várias maneiras práticas de observarmos o Rosh Hashanah. Nas sinagogas a preparação começa no mês que precede, Elul, com o toque do shofar no shabat. Orações especiais são feitas em arrependimento, chamadas selikhot. Para os judeus messiânicos e os gentios esta época deve ser observada com o mesmo espírito. Talvez um deseje comprar um shofar e tocá-lo a cada manhã durante o mês que precede o Rosh Hashanah. Isto pode ser usado para intensificar o verdadeiro espírito do feriado focando-se no arrependimento e no andar puro com D-us.

Uma noite especial pode ser planejada logo no primeiro dia de Tisrhi. Assim como a maioria dos feriados judaicos, muito da preparação é gasto com a refeição do feriado. A mesa é posta com o melhor aparelho de jantar, toalha de mesa e os dois candelabros. O branco é comum para os feriados baseados na promessa de D-us que tornaria nossos pecados escarlates tão brancos quanto a neve: “Vinde então, e argüi-me, diz o IHVH: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã” Is 1.18. Isso deve incluir a toalha de mesa, e também as roupas pessoais. Para os crentes é uma bela declaração de nossa pureza em Ieshua! É tradição acender as velas com uma bênção apropriada que é levemente diferente da bênção usual do shabat.

Baruch atah Adonai Elohenu melech há-olham,

Asher kideshanu b’mitzvohtav, v’tzi-vanu l’hadleek ner shel yom tov.

Depois das velas, nós abençoamos o vinho e o pão redondo com uvas passas, que é o challah. Ambos nos lembram o importante tema de Rosh Hashanah – que nós experimentaremos a doçura e a totalidade de um ano novo com a bênção de D-us.

As comidas para o jantar também seguem esta norma. Devemos ter as tradicionais tziemes (cenouras com mel), assim como também o bolo de mel para a sobremesa. Num dos costumes mais descritivos, nós mergulhamos as maças no mel para experimentarmos sua incrível doçura, que vem de nosso Pai do céu. Deve ser notada que a saudação tradicional do feriado é l’shana tova u-metukah (que você tenha um bom e doce ano). Os pratos principais devem ser o peru ou carne de peito. Um prato simbólico é o peixe cozido servido com cabeça. Isto ilustra a promessa de D-us que chegará o tempo quando Israel não será mais cauda, mas sim cabeça: “E o IHVH te porá por cabeça, e não por cauda; e só estarás em cima, e não debaixo, se obedeceres aos mandamentos do IHVH teu Elohim, que hoje te ordeno, para os guardar e cumprir” Dt 28.13.

Depois do jantar é tempo de celebrar com adoração e meditação. Normalmente isso se dá no culto na sinagoga. A compra de tickets para depois é necessário, pois os judeus não passam o prato para a coleta de ofertas no culto.

Os crentes em Ieshua em Rosh Hashanah, devem estar nos cultos em sua congregação messiânica local. Ali eles celebrarão os vários costumes do feriado entre outros crentes. Que alegria ouvir o som do shofar, experimentar comunhão na oração e adorar com música a plenitude do Ungido. Se não há um grupo messiânico próximo, talvez deva-se fazer um culto doméstico. Isto deve incluir vários elementos que chamem a atenção para este dia especial.

Desde que este dia é um shabat, o dia seguinte pode ser especial começando-se o trabalho normalmente. Habitualmente há um culto especial em Rosh Hashanah para continuar a adoração corporativa ao Rei. Depois do culto matutino, habitualmente no fim da tarde, a cerimônia especial chamada Tashlikh continua. Que culto cheio de significado este pode ser para os crentes – lançar migalhas de pão simbolizando os pecados, dentro de um rio ou lago!

O shofar pode ser tocado e uma guitarra também, enquanto os cânticos de louvores são cantados, para celebrar a verdade de Mq 7.19: “Tornará a apiedar-se de nós; sujeitará as nossas iniquidades, e tu lançarás todos os seus pecados nas profundezas do mar”.

Mario Moreno.