Mário Moreno/ fevereiro 28, 2019/ Artigos

O Cântico do livramento

Nas Escrituras existem diversos aspectos inexplicáveis e entre eles está o “cantar”. Isso parece algo muito comum e por vezes sem qualquer envolvimento espiritual, a não ser que seja feito num local apropriado, uma sinagoga, congregação ou igreja.

Cantar é algo que está profundamente associado às orações judaicas e isso fica ainda mais claro quando tomamos o livro de Tehilim – Salmos – que é um “manual” de cânticos que por vezes assumem conotações proféticas impressionantes.

Nós cantamos enquanto oramos – o também quando oramos, cantamos! Para o judeu e o judaísmo o “cantar” faz parte não somente da liturgia judaica como também de seu padrão devocional; para nós cantar é parte de nossa comunhão com o Altíssimo!

Nas Escrituras temos diversas manifestações que ocorrem através do cântico, mas uma em particular tem marcado minha vida: o cântico do livramento. Explico: há uma canção muito conhecida dentro do judaísmo que se chama “Hodu l´Adonai” – Cantai ao Senhor – e ela tem origem num evento especial em minha vida que está relatado no livro de II Crônicas e que diz: “Então veio o espírito do IHVH no meio da congregação, sobre Jaaziel, filho de Zacarias, filho de Benaia, filho de Jeiel, filho de Matanias, levita, dos filhos de Asafe, e disse: Dai ouvidos todo o Judá, e vós, moradores de Jerusalém, e tu, ó rei Josafá. Assim o IHVH vos diz: Não temais, nem vos assusteis por causa desta grande multidão; pois a peleja não é vossa, senão de Elohim. Amanhã descereis contra eles: eis que sobem pela ladeira de Ziz, e os achareis no fim do vale, diante do deserto de Jeruel. Nesta peleja não tereis que pelejar: parai, estai em pé, e vede a salvação do IHVH para convosco, ó Judá e Jerusalém; não temais, nem vos assusteis; amanhã saí-lhes ao encontro, porque o IHVH será convosco. Então Josafá se prostrou com o rosto em terra; e todo o Judá e os moradores de Jerusalém se lançaram perante o IHVH, adorando ao IHVH. E levantaram-se os levitas, dos filhos dos coatitas, e dos filhos dos coratitas, para louvarem ao IHVH El de Israel, com voz muito alta. E pela manhã cedo se levantaram e saíram ao deserto de Técoa; e, saindo eles, pôs-se em pé Josafá, e disse: Ouvi-me, ó Judá, e vós, moradores de Jerusalém: Crede no IHVH vosso Elohim, e estareis seguros; crede nos seus profetas, e sereis prosperados. E aconselhou-se com o povo, e ordenou cantores para o IHVH, que louvassem a Majestade santa, saindo diante dos armados, e dizendo: Louvai ao IHVH, porque a sua benignidade dura para sempre. E, ao tempo que começaram com júbilo e louvor, o IHVH pôs emboscadas contra os filhos de Amom e de Moabe e os das montanhas de Seir, que vieram contra Judá, e foram desbaratados. Porque os filhos de Amom e de Moabe se levantaram contra os moradores das montanhas de Seir, para os destruir e exterminar; e, acabando eles com os moradores de Seir, ajudaram uns aos outros a destruir-se” II Cr 29.14-23 – grifo nosso.

Esta passagem mostra quando o povo de Israel estava sendo ameaçado e em grande desvantagem e teve como seu recurso final clamar ao Eterno que orienta o rei Josafá a ordenar que os levitas cantassem o cântico conhecido como “Hodu l´Adonai”. No verso 21 diz que o rei aconselhou-se com o povo e então ordenou aos levitas que iniciassem o cântico… O que parece é que havia um “consenso” entre o povo de que este cântico carregava um poder sobrenatural e ao ser entoado – em ocasiões de dificuldade extrema – produzia efeito inesperados!

Quando os levitas – e certamente acompanhados pelo povo – começaram a entoar este cântico, o Eterno imediatamente move-se e os inimigos são desbaratados e exterminados! E isso acontece sem a interferência dos exércitos do rei, mas certamente com a interferência de seres celestiais – mensageiros – que foram enviados com a missão de não somente desbaratar (dividir e separar) os exércitos inimigos como também matá-los. Os céus iniciaram uma grande batalha pelo povo de Israel ao discernirem o que deveria ser feito e obedecerem! O louvor foi tão poderoso que moveu os céus a favor do povo que cantava um cântico de exaltação ao Eterno! Então a “fórmula” é bem simples: enquanto exaltamos ao Eterno em momentos de extrema dificuldade, Ele então libera seres celestiais a fim de nos trazer o livramento necessário!

Onde tudo começou!

Mas onde isso começou nas Escrituras? A primeira ocorrência destas palavras – Hodu l´Adonai – aparecem no seguinte texto: “Então naquele mesmo dia entregou Davi em primeiro lugar o Salmo seguinte, para louvarem ao IHVH, pelo ministério de Asafe e de seus irmãos: Louvai ao IHVH, invocai o seu nome, fazei conhecidos entre os povos os seus feitos” I Cr 16.7-8.

David recebeu algo do Eterno – um Salmo – para louvar ao Eterno e estas palavras dentro do Salmo vieram a transformar-se numa grande arma de vitória para o povo de Israel! No mesmo contexto destas palavras, David novamente repete: “Então jubilarão as árvores dos bosques perante o IHVH; porquanto vem a julgar a terra. Louvai ao IHVH, porque é bom; pois a sua benignidade dura perpetuamente” I Cr 16.33-34.

Ao lermos estes versos percebemos que o contexto nos fala novamente de “julgamento” e esta situação está ligada a “Louvai ao IHVH”!

Nas Escrituras temos uma continuidade desta situação através do livro dos Salmos onde está relatado acerca disso:

Regozijai-vos no IHVH, vós, justos, pois aos retos convém o louvor. Louvai ao IHVH com harpa, cantai a ele com saltério de dez cordas” Sl 33.1-2.

Mais uma vez no contexto é um Salmo de juízo e redenção que ocorre quando tomamos a postura correta, a de ter uma atitude de louvor – não simplesmente cantarmos – o que faz com que os céus movam-se para interferir em nossa história! Perceba pelas palavras do salmista que está é uma postura somente para os justos – não os crentes – o que separa de forma definitiva estas duas categorias, pois a Escritura também nos ensina que: “Tu crês que há um só Elohim; fazes bem; também os diabos o creem, e estremecem” Tg 2.19.

Temos também esta batalha espiritual ligada ao anúncio das boas novas: “Louvai ao IHVH, e invocai o seu nome; fazei conhecidas as suas obras entre os povos” Sl 105.1. Esta é uma passagem muito singular, pois o termo “povos” aqui é “amim” e esta palavra está ligada a Israel; então o que o salmista diz é que devemos louvar ao Eterno e divulgar aos filhos de Israel espalhados por todo o mundo aquilo que o Eterno tem feito entre nós! Quem entenderia melhor o operar dos céus na vida de alguém que um judeu? Nós judeus sabemos por experiência que o Eterno anda em meio a seu povo e também ali opera de forma milagrosa e com a finalidade de mudar o rumo da vida dos seus, aproximando-os cada vez mais d´Ele!

O salmista continua ainda dizendo: “Louvai ao IHVH. Louvai ao IHVH, porque ele é bom, porque a sua benignidade é para sempre” Sl 106.1. Neste verso temos uma manifestação de louvor somente por Quem o Eterno é! Podemos resumir isso com uma palavra: gratidão! Isso em nossos dias tem sido tão difícil de ser manifesto, pois o povo do Eterno recebeu um ensino no qual está dito que Ele é responsável por nós e tem obrigação de nos abençoar! Nossa parte consiste em obedecermos às ordens de determinados líderes e o Eterno se encarrega de fazer o resto. Nada mais longe da realidade… Nós o louvamos não por aquilo que Ele pode nos dar, mas por que Ele é o nosso Criador, Senhor, Rei e expressamos gratidão por podermos retornar à eternidade e nos reunirmos novamente à nossa Origem inicial – o Criador – por entendermos que devemos serví-lo e não confrontá-lo e nem desobedece-lo!

Novamente o salmista repete estas palavras dizendo: “Louvai ao IHVH, porque ele é bom, porque a sua benignidade é para sempre” Sl 118.1; este salmos tem início com a expressão de gratidão ao Eterno e é justamente assim que ele termina: “Louvai ao IHVH, porque ele é bom, porque a sua benignidade é para sempre” Sl 118.29. Como entender esta postura tão intensa de gratidão expressa nos Salmos? Somente de uma forma: o poder que há na palavra falada que cria quando sai de nossos lábios. Vou explicar: todas as vezes que falamos algo estamos sim criando com as palavras de forma literal. Assim como o Eterno criou tudo pela palavra Ele também deu ao homem esta mesma atribuição, principalmente às pessoas que carregam o Espírito o Santo dentro de si; então quando falamos estamos na realidade liberando palavras que saem de nossos lábios com um poder semelhante ao que houve na Criação… O Criador está dentro de nós – através do Espirito o Santo – e por isso temos uma responsabilidade muito grande no que diz respeito às nossas palavras…

A última citação destas palavras no livro de Salmos é exatamente idêntica: “Louvai ao IHVH, porque ele é bom; porque a sua benignidade é para sempre” Sl 136.1. Só que desta vez, o contexto está ligado à grandeza do Eterno, o salmista relata em citações curtas a história de Israel no âmbito da redenção citando fatos ocorridos na história de nosso povo! Novamente, as palavras que precedem a descrição da redenção são: “Hodu l´Adonai ki tov…”

A redenção final

Isaías capítulo 12 nos informa: “E dirás naquele dia: Graças te dou, ó IHVH, porque, ainda que te iraste contra mim, a tua ira se retirou, e tu me consolaste. Eis que Elohim é a minha salvação: eu confiarei e não temerei porque o Adonai IHVH é a minha força e o meu cântico, e se tornou a minha salvação. E vós com alegria tirareis águas das fontes da salvação. E direis naquele dia: Dai graças ao IHVH, invocai o seu nome, tornai manifestos os seus feitos entre os povos, contai quão excelso é o seu nome. Cantai ao IHVH, porque fez cousas grandiosas: saiba-se isto em toda a terra. Exulta e canta de gozo, ó habitante de Sião, porque grande é o Santo de Israel no meio de ti” Is 12.1-6.

O profeta vê a redenção final e a liga com estas palavras: “Dai graças ao IHVH – Hodu l´Adonai” falando sobre tirar águas das fontes da Salvação… A redenção final está conectada não somente a louvar ao Eterno mas também a Ieshua!

Nossos sábios dizem que Isaías é o profeta que mais fala acerca do Ungido – o Messias – e em suas profecias existem muitas “pistas” não somente de quem Ele seria como também da forma como agiria e até mesmo de sua morte! Por isso neste capítulo vemos que o profeta vê que chegaríamos num dia quando poderíamos agradecer ao Eterno mesmo pela ira e tratamento duro que nos foi dado, pois o resultado final do trabalhar do Criador em nossa vida seria a salvação em Ieshua! A salvação somente foi possível graças a uma atitude de amor do Pai que nos enviou Aquele que nos reconduziria de volta a Ele mesmo: Ieshua! Novamente as Escrituras dizem isso com palavras diretas porém marcantes: “Porque Elohim amou a eternidade de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” Jo 3.16 – tradução literal do hebraico. Neste verso temos o Criador enviando Seu Filho para remir a eternidade que está dentro de cada ser humano; o Ungido não veio para salvar o “mundo”; Ele veio para salvar – redimir – a fagulha da eternidade que está dentro de cada homem, aqueles que desejam reunir-se novamente ao seu Criador e que acreditam nas Palavras que estão registradas nas Escrituras.

Por isso entendemos o poder deste cântico – Hodu l´Adonai – e hoje podemos dizer que a nossa redenção deu-se também por que no passado nossos pais cantaram e louvaram ao Eterno profetizando a nossa salvação! Eles também oraram por nós, mas havia uma poderosa confiança em seus corações que  fazia com que pudessem enxergar a nossa salvação antes dela acontecer, e por isso louvaram ao Eterno!

E quando o adversário de nossas almas levantava-se contra eles – e também contra nós – a oração e o louvor ao Eterno por seus grandes feitos não saía de seus lábios e novamente os céus agiam e nos traziam livramento…

Durante minha caminhada de quarenta anos de serviço ao Eterno tenho experimentado por diversas vezes grandes vitórias entoando este cântico nos âmbitos físicos e também espiritual. O que posso dizer é que as orientações das Escrituras estão realmente vivas e tem funcionado em cada momento de dificuldade que vivi… experimentei livramento em muitas ocasiões louvando; vi a libertação e a redenção de pessoas usando esta poderosa arma de guerra – a nível de batalha espiritual – e o que dizer dos momentos de júbilo quando pude agradecer e ver mais milagres acontecendo na sequencia?

Poderia testemunhar acerca de muitos eventos como este, mas vou resumir dizendo que há muito descobrimos que os princípios das Escrituras são eternos e que quando usados da forma correta seus resultados são extraordinários! Experimente você também!

Que o Eterno D-us de Israel possa trazer esclarecimento sobre você; entenda o poder que existe na Escritura e ande em obediência e estará sujeito e a receber muitos milagres e livramentos em sua vida em nome de Ieshua!

Baruch ha Shem!

Mário Moreno.