Mário Moreno/ junho 25, 2019/ Artigos

O falar em línguas

Este é um assunto muito controvertido e infelizmente desacreditado por muitos!

Tudo começa com a desinformação e a falta de conhecimento da grande maioria das pessoas sobre as Escrituras e sobre o assunto. Tal situação chega a um ponto tão crítico que pessoas chegam a afirmar que as “línguas estranhas” referem-se a línguas estrangeiras – de outras nações. Tal noção além de absurda é também completamente infundada, pois para isso não precisamos da atuação do Espírito o Santo, pois temos habilidades naturais que nos permitam fazer isso. Esta situação ainda passa por uma falta de habilidade na leitura das Escrituras que muitas pessoas têm e que provoca as mais estranhas observações e “interpretações”; é precisos dizer que toda pessoa precisa de uma educação – conhecimento – em sua própria língua – em nosso caso o português – para não somente ler como também interpretar qualquer tipo de documento. Sendo assim faz-se necessário dizer que a opinião de uma pessoa que não tem conhecimento das Escrituras não deve ser levada em consideração e muito menos debatida, pois não se debate com alguém que deseja afirmar seu posicionamento acerca de algo sem o conhecimento da questão em si.

Onde surgiram as “línguas estranhas”?

Esta é uma boa pergunta, e sua resposta pode ser surpreendente. Esta expressão vem do hebraico “lashon aher” que traduzida literalmente seria “outra língua”. Esta estrutura aparece em primeiro lugar no livro do profeta Isaías no capítulo 11 verso 28: “Pelo que por lábios estranhos e por outra língua, falará a este povo”. O que é mais interessante é que na raiz desta palavra temos significados como: “após, atrás, depois, posteriormente” o que indica que esta forma de comunicação era antiga mas também seria dada a Israel num momento futuro.

Esta estrutura em hebraico aparece novamente numa citação de Sha´ul – Paulo – em I Co 14:21: “Está escrito na Torah: Por gente doutras línguas e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o IHVH”.

Então Sha´ul considerava que o que aconteceu em Atos 2 foi o cumprimento desta profecia e também alinhou esta modalidade de comunicação espiritual com um presente – dádiva – do Espírito o Santo como está escrito em I Co 12.10: “e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o dom de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas”.

Podemos então afirmar de forma segura que o “falar em línguas” é uma promessa dada pelo Eterno ao povo de Israel desde sempre e que num tempo determinado seria cumprida com a finalidade de resgatar-se algo que havia sido perdido num tempo passado.

Inclusive no contexto de I Co 14 as línguas são chamadas de “sinal” para os infiéis – incrédulos – e esta palavra “sinal” vem do termo hebraico “´ot” que significa “milagre”! Então isso não tem nada a ver com um “idioma” que é aprendido numa escola qualquer; estas línguas estão ligadas a uma operação miraculosa do Espírito o Santo na vida de uma pessoa que passa a falar um idioma desconhecido da humanidade porém interpretado e conhecido pelo Espírito o Santo que usa isso como uma forma de comunicação entre os céus e a terra.

Ieshua falou sobre isso?

Muitos dizem que Ieshua nunca falou em línguas estranhas – o que é verdade – mas ele profetizou e prometeu que seus discípulos assim o fariam. “E estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome, lançarão fora demônios; falarão novas línguas” Mc 16.17. Sabendo da astúcia de alguns que poderão dizer: “Este texto não existe nos originais” mas vou dizer aqui que o existe sim texto no original em hebraico para dissipar qualquer dúvida:

Dito isso podemos então entender que o que aconteceu com os discípulos em Atos 2 foi somente o cumprimento da profecia de Isaías e também das palavras de Ieshua, ou seja, o presente – dom – de línguas é uma realidade atestada pelas palavras do Eterno e de Ieshua e negar a sua existência é o mesmo que chamar o Eterno e Ieshua de mentirosos!

Gostaria de salientar que Ieshua não precisava falar em línguas por um motivo muito simples: ele é o Ungido – Messias – e não precisaria apresentar isso como uma forma milagrosa de atuação do Espírito o Santo; ao Ungido foram dados outros milagres que comprovariam sua missão e por isso Ele não necessitava falar em outras línguas.

O que aconteceu em Jersualém?

Ieshua havia ordenado a seus discípulos que ficassem em Jerusalém e lhes prometeu que então seriam “revestidos” de um poder sobrenatural. Isso aconteceu e uma das manifestações visíveis e audíveis deste milagre foram as línguas estranhas conforme relato:

E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, que se pôs sobre cada um deles” At 2.2.

E todos foram cheios do espírito santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito o Santo lhes concedia que falassem” At 2.4.

“…e cretenses, e árabes, todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandes obras de Elohim” At 2.11.

Os textos nos mostram que aconteceram milagres aos olhos dos presentes: as “línguas” foram “vistas” por todos que ali estavam, o que nos remete ao milagre que aconteceu no Sinai quando o Eterno deu as Dez Palavras para Israel e ali a voz do Eterno foi vista pelos judeus ali presentes. Esta situação então nos mostra a importância dos milagres ocorridos em Jerusalém, pois o que aconteceu ali reconecta as pessoas que ali estavam com os acontecimento no Sinai quando os céus desceram sobre o monte e a presença do Eterno foi vista e a voz d´Ele foi ouvida por todos e isso foi um “divisor” de águas na história do povo de Israel.

O outro milagre que ocorreu ali foi que as pessoas “ouviam falar das grandes obras de Elohim em suas próprias línguas”. Vamos contextualizar esta frase. Os judeus se subiam a Jerusalém três vezes ao ano para servir ao Eterno nas Festas de Pessach, Shavuot e Sucot e isso era obrigatório a eles. Em Atos temos o relato da Festa de Shavuot, então judeus e várias localidades do Império Romano estavam presentes em Jerusalém. Estas pessoas fazem parte do grupo de dispersos oriundos do Cativeiro Assírio e também do Babilônico que passaram a viver em terras estrangeiras após estes eventos e ali nasceram seus filhos que agora estão em Jerusalém para cumprir o mandamento da Festa de Shavuot. Estas pessoas nascidas nas mais diferentes localidades do Império Romano quando ouviram as línguas estranhas estavam ouvindo-as na língua da localidade em que nasceram e o texto relata algumas localidades como exemplo: “Partos e medas, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, e Judéia, e Capadócia, e Ponto, e Ásia e Frígia, e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos (tanto judeus como prosélitos), e cretenses, e árabes” At 2.9-11.

Isso nos mostra que a abrangência do milagre nos ouvidos das pessoas foi tremenda! Cada um ouvia em sua própria língua! Isso acontece hoje nos grandes eventos mundiais onde existe a “tradução simultânea” para as pessoas de várias nacionalidades ali presentes; então o Espírito o Santo atuou como o “Intérprete” das línguas estranhas nos ouvidos daquelas pessoas ali presentes.

A finalidade disso foi demonstrar o cumprimento da profecia de Joel e também da promessa de Ieshua:

E há de ser que depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos mancebos terão visões. E também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito” Jl 2.28-29.

E eis que sobre vós envio a promessa de meu pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder” Lc 24.49.

Temos então a certeza de que tudo aquilo que fora profetizado nas Escrituras se cumpriu de forma plena e mudou o rumo da vida daquelas pessoas de forma  definitiva.

A promessa aos judeus messiânicos

Sha´ul dá continuidade a esta linha de raciocínio informando que esta promessa seria extensiva às congregações de judeus messiânicos que estivessem espalhadas por todos os lugares. Ele chama os “presentes” – dons – de “manifestações do Espírito”: “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil. Porque a um, pelo espírito, é dada a palavra da sapiência; e a outro, pelo mesmo espírito, a palavra do conhecimento; e a outro, pelo mesmo espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo espírito, os dons de sarar; e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o dom de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas. Mas um só e o mesmo espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer” I Co 12.7-11.

Podemos ver que no contexto temos a frase “variedade de línguas” referindo-se tanto à profecia de Isaías quanto ao evento em Jerusalém na Festa de Shavuot. O que chama a atenção aqui é que agora Sha´ul coloca a “interpretação das línguas” também como uma capacitação do Espírito o Santo dada ao homem para que estas línguas possam ser interpretadas para o benefício dos ouvintes.

Isso fica claro nas palavras de Sha´ul: “E eu quero que todos vós faleis línguas estranhas; mas muito mais que profetizeis, porque o que profetiza é maior do que o que fala línguas estranhas, a não ser que também interprete, para que a congregação receba edificação” I Co 14.5. Sha´ul incentiva os irmãos a falarem em línguas e isso nos mostra que tais pessoas tinham não somente o conhecimento acerca da unção do Espírito o Santo como também usavam-na nas suas reuniões na congregação.

Quando os irmãos judeus messiânicos estavam reunidos nas congregações tais manifestações eram normais, corriqueiras e não banais e sem sentido. Ocorreram casos em que a correção era necessária mas isso não era uma “regra” o que nos dá a entender que estes irmãos apesar de estarem na diáspora também conheciam o Espírito o Santo e suas manifestações – mover.

Cada pessoa contribuía dentro da congregação com aquilo que tinha de “unção”: “Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem disciplina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação” I Co 14.26. Percebemos que o serviço a Ieshua na congregação poderia ser muito diversificado e teria uma finalidade básica: a edificação do Corpo do Ungido ali presente, ou seja, as pessoas que ali estavam reunidas com a finalidade de servir a Ieshua.

As línguas hoje

Com o passar do tempo tivemos uma descaracterização e diversos usos abusivos das línguas estranhas e isso criou muitos problemas e bloqueios dentro do meio evangélico e judaico messiânico.

Falando primeiro dos abusos tivemos – e ainda temos – casos em que a manifestação das línguas estranhas é no mínimo exagerada – sem qualquer controle por parte daquele que se utiliza deste dom. Esta prática trouxe e tem trazido um certo “bloqueio” por parte de alguns grupos que passaram a ver isso como uma “heresia” e não um exagero! Devemos diferenciar as duas coisas, pois as línguas estranhas não são algo ruim ou uma inserção nas Escrituras de um ensino mundano ou pagão. A forma como este presente do Espírito – dom – tem sido utilizado é que precisa de ajustes, mas a sua utilização é bíblica e muito necessária não somente nas nossas congregações como também na vida pessoal de cada crente em Ieshua.

Adentramos também no exagero da “negação” deste dom como algo que não está de acordo com o mover do Espírito, o que é realmente um absurdo. Pessoas que negam esta manifestação milagrosa e até a atribuem às trevas. Não é preciso ir muito longe para comprovarmos isso, pois as redes sociais estão cheias de material – opiniões de pessoas – que negam não somente a veracidade deste dom como também atribuem a sua utilização a demônios.

As manifestações do Espírito o Santo tem uma finalidade: serem úteis como ferramentas para a congregação e trazerem edificação. Quem nega isso em qualquer medida nega também o mover do Espírito e consequentemente a sua eficácia em dirigir o Corpo do Messias guardando-o e preparando-o para o grande encontro com Ele.

Quero dizer que sou contra os exageros em ambos lados e quero deixar uma advertência aos críticos de plantão: cuidado com suas palavras contra aqueles que tem buscado servir a Ieshua, pois temos casos em que pessoas tem buscado isso de forma sincera e muitas vezes erram por faltar-lhes conhecimento; temos também a má utilização dos dons, mas isso acontece numa proporção muito menor e mesmo nestes casos o julgamento pertence somente ao próprio Espírito o Santo e não cabe nós usarmos as redes sociais com leviandade criticando aquilo que outros estão fazendo.

A solução para isso passa por dois caminhos distintos: a primeira é a do conhecimento das Escrituras que infelizmente é praticamente inexistente em nosso meio o que gera pessoas com um sub-conhecimento e uma maxiopinião sobre todos os assuntos relativos às Escrituras. Gente orgulhosa. Arrogante; soberba e sem qualquer noção da verdade.

Em segundo lugar a prática do exercício dos dons precisa ser realizada com equilíbrio e dentro do mover do Espírito para que resultados palpáveis possam ser alcançados.

Enfim, espero que o Corpo do Messias possa alcançar um grau maior de maturidade a partir de seus líderes e que esta situação possa influenciar o Corpo do Messias levando-o ao crescimento e fazendo com que isso ajude na Restauração e na Redenção da Humanidade trazendo assim o Ungido para cumprir as profecias que ainda restam das Escrituras.

Vamos falar em línguas e buscar os dons espirituais e usá-los de forma a promovermos a edificação de nossos irmãos.

Baruch ha Shem!

Mário Moreno.