Mário Moreno/ junho 23, 2020/ Artigos

O jardim e a Noiva

Você sabe quem é a Noiva do Ungido? Existem diversas interpretações sobre esse assunto, mas de fato quem é ela e para onde ela vai? Vejamos.

Quem é a Noiva?

A tradição judaica nos informa: “Em uma variação interessante deste tema da personificação alegórica, a Torah também é identificada como uma ketubah, um contrato de casamento, escrito para o casamento de D-us e Israel, onde D-us representa o noivo e Israel, a noiva”.

O que fica explícito nas Escrituras é que Israel é a Noiva do Eterno e quando Ieshua vem, sua missão é resgatar os judeus e isso também fica muito claro nas Escrituras.

Em sua caminhada, Ieshua se depara com “gentios” e as boas novas depois também são pregadas aos judeus que estão dispersos e também para aqueles que tem raízes judaicas em suas famílias, mas que foram assimilados e são vistos como “gentios”. Sha´ul nos fala sobre isso em Romanos capitulo 11 e estabelece então que estes que retornam ao judaísmo através de Ieshua são os “enxertados”; eles são judeus de sangue, mas não tiveram uma vivência judaica como os demais que não se assimilaram, mas continuam sendo judeus.

Então, quem é a Noiva? Os judeus que não perderam sua judaicidade e permaneceram fiéis e depois reconhecem Ieshua como o Ungido e os judeus que são considerados como “gentios” mas que retém um DNA judaico e que agora passam a crer em Ieshua. Em Romanos 11 são chamados de “oliveira boa” e “oliveira brava”, ou seja, duas plantas iguais – oliveira – separadas pela localização e não por sua espécie!

Sha´ul vai mais longe e declara: “E, se sois do Ungido, então, sois descendência de Avraham e herdeiros conforme a promessa” Gl 3.29. Na visão dele, todos aqueles que recebem Ieshua como senhor de suas vidas são na realidade “descendência de Avraham”, ou seja, judeus. Então a chamada “Igreja gentílica” é na realidade uma “Congregação judaica” que se assimilou e precisa ser restaurada! Quando lemos as Escrituras percebemos que entre os “gentios” temos uma herança judaica muito forte e presente. Então que “gentios” são estes?

Conexão

O que conecta a Noiva ao Jardim? A tradição judaica diz: “E o Senhor vestiu 10 trajes [durante a redenção] para simbolizar as 10 vezes em que chamou Israel de Sua noiva”.

Vejamos as dez ocorrências sobre a Noiva…

“Já entrei no meu jardim, minha irmã, noiva minha…” (Ct 5:1).

“Vem comigo do Líbano, noiva minha, vem comigo” (Ct 4:8).

“Jardim fechado és tu, minha irmã, noiva minha, manancial recluso, fonte selada” (Ct 4:12).

“Que belo é o teu amor, ó minha irmã, noiva minha” (Ct 4:10).

“Os teus lábios, noiva minha, destilam mel…” (Ct 4:11).

“Arrebataste-me o coração, minha irmã, noiva minha…” (Ct 4:9).

“A voz de júbilo e de alegria, e a voz de noivo, e a de noiva…” (Jr 33:11).

“…Tão certo como eu vivo, diz o Senhor, de todos estes te vestirás

como de um ornamento e deles te cingirás como noiva” (Is 49:18).

“…como o noivo se alegra da noiva, assim de ti se alegrará o teu D-us” (Is 62:5).

“…como noiva que se enfeita com as suas joias” (Is 61:10).

E destas dez ocorrências podemos entender que à Noiva está reservada uma coroa que lhe será dada por seu Noivo amado…

Uma passagem em Cantares reveste-se de um significado muito especial quanto à Noiva:

Vem comigo do Líbano, minha esposa, vem comigo do Líbano: olha desde o cume de Amana, desde o cume de Senir e de Hermom, desde as moradas dos leões, desde os montes dos leopardos. Tiraste-me o coração, minha irmã, minha esposa: tiraste-me o coração com um dos teus olhos, com um colar do teu pescoço. Que belos são os teus amores, irmã minha! ó esposa minha! quanto melhores são os teus amores do que o vinho! e o aroma dos teus bálsamos do que o de todas as especiarias! Favos de mel manam dos teus lábios, minha esposa! mel e leite estão debaixo da tua língua, e o cheiro dos teus vestidos é como o cheiro do Líbano. Jardim fechado és tu, irmã minha, esposa minha, manancial fechado, fonte selada. Os teus renovos são um pomar de romãs, com frutos excelentes: o cipreste e o nardo, O nardo, e o açafrão, o cálamo, e a canela, com toda a sorte de árvores de incenso, a mirra e aloés, com todas as principais especiarias. És a fonte dos jardins, poço das águas vivas, que correm do Líbano! Levanta-te, vento norte, e vem tu, vento sul: assopra no meu jardim, para que se derramem os seus aromas: ah! se viesse o meu amado para o seu jardim, e comesse os seus frutos excelentes! Já vim para o meu jardim, irmã minha, minha esposa: colhi a minha mirra com a minha especiaria, comi o meu favo com o meu mel, bebi o meu vinho com o meu leite: comei, amigos, bebei abundantemente, ó amados” Ct 4.8-5.1.

Vamos entender algumas coisas aqui…

A “Noiva” vem do Líbano. Mas o que seria o “Líbano”? A raiz desta palavra está ligada a “branco”. “O verbo לבן (laben) significa “ser ou tornar-se branco”. É usado principalmente figurativamente, em um sentido ético; para purificar (Dn 11:35, Is 1:18), mas também literalmente se tornando branco (Jl 1:7)”.

Veja os desdobramentos desta raiz:

“O substantivo feminino לבנה (lebanah), que significa lua (Ct 6:10, Is 24:23).

O substantivo feminino לבנה (lebonah) ou לבונה (lebonah), que significa incenso (um pó branco; Êx 30:24, Jr 6:20).

O substantivo masculino לבנה (lebneh), que significa álamo (Gn 30:37 e Os 4:13).

O substantivo feminino לבנה (lebenah), que significa tijolo (Gn 11:3, Ez 4:1, Êx 24:10).

O verbo denominador לבן (laban), que significa “fazer tijolos”. Os dois últimos são usados ​​sucessivamente em Gênesis 11:3, onde os construtores da torre dizem: “Façamos tijolos e os queimemos completamente“.

O substantivo masculino מלבן (malben), que significa molde de tijolo (II Sm 12:31) ou quadrângulo (Jr 43:9).”

Estes desdobramentos da raiz nos mostram que a Noiva vem de um lugar que é “branco” – pureza; ela está ligada à lua (e a lua representa Israel). A Noiva cheira a incenso – as orações dos santos – e ela também relaciona-se com um “tijolo” – as pedras vivas que constroem o tabernáculo do Altíssimo! O texto nos informa que a Noiva olha desde o cume das montanhas e dos montes eternos… A Noiva vem de lugares exaltados onde está assentada com o Ungido! “Mas Elohim, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossos pecados, nos vivificou juntamente com o Ungido, e nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nos lugares celestiais, no Ungido Ieshua; para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça, pela sua benignidade para conosco no Ungido Ieshua” Ef 2.4-7.

Algo interessante ocorre agora: a Noiva “arrebata” o coração do Noivo! “Tiraste-me o coração, minha irmã, minha esposa: tiraste-me o coração com um dos teus olhos, com um colar do teu pescoço” Ct 4.9.

Mas como ela fez isso? “Eis que és formosa, amiga minha, eis que és formosa: os teus olhos são como os das pombas entre as tuas tranças: o teu cabelo é como o rebanho de cabras que pastam no monte de Gileade” Ct 4.1. O olhar da Noiva é doce e singelo – inocente – e por isso cativou o seu Amado! Ela não olha para Ele com qualquer interesse, mas com olhos de amor!

Dizemos sobre os olhos que eles são a “janela da alma”; então quando os olhares do Noivo e da Noivo se encontram há um transbordar de amor entre eles. O Noivo chega a dizer: “Desvia de mim os teus olhos, porque eles me perturbam. O teu cabelo é como o rebanho das cabras que pastam em Gileade” Ct 6.5. Mas o que perturba o Noivo? O olhar da Noiva clama para que eles estejam juntos o mais rápido possível!

O Noivo ainda diz: “Que belos são os teus amores, irmã minha! ó esposa minha! quanto melhores são os teus amores do que o vinho! e o aroma dos teus bálsamos do que o de todas as especiarias!” Ct 4.10. O amor que a Noiva manifesta pelo Noivo é tão especial que ele os chama de “belos”. Este termo em hebraico também significa “brilhar, irradiar; brilho, esplendor”. A pergunta é: como o amor pode ter tais características? Há somente uma resposta: a sua conexão com o Eterno Criador. Mas como podemos afirmar isso? A resposta é: “Quem não ama, não tem conhecido a Elohim, porque Elohim é amor” I Jo 4.8. Então a característica central da Noiva que faz com que o Noivo a ame é sua comunhão com o Criador! Um outro detalhe é a conexão que a Noiva tem com o incenso (balsamo e especiarias). Isso está ligado à oração, pois a Noiva cultiva uma vida de oração diária que a conecta diretamente com os céus!

Temos ainda: “Favos de mel manam dos teus lábios, minha esposa! mel e leite estão debaixo da tua língua, e o cheiro dos teus vestidos é como o cheiro do Líbano” Ct 4.11.

Estas palavras nos mostram que a “fala” da Noiva deveria ser doce e agradável. Interessante que as palavras “mel e leite’ estão ligadas à terra de Canaã, ou seja, elas indicam a não somente a origem da Noiva como também a sua personalidade. A Noiva fala sobre a doçura da terra e da abundância daquilo que ela lhe dá! Esta característica fica ainda mais clara quando tomamos a tradição judaica que nos ensina assim:

“Quando o povo judeu cumprir todas as mitsvot da Torá, D’us concederá Sua generosa bênção para Sua terra. Nossos sábios nos contam várias histórias sobre este tema.

Um sábio, Rami ben Yechezkel certa vez visitou Bnei Brak. Estava andando por um campo, perto da cidade, quando notou três figueiras repletas de frutos doces e maduros. Estes caíram na terra, e estavam tão doces que o mel fluía deles. Neste exato momento, algumas cabras, que pastavam por perto vieram correndo, e comeram os figos que estavam no chão. Os úberes das cabras estavam tão cheios que o leite gotejou na terra, exatamente em cima do mel dos figos.
Rami ben Yechezkel ficou emocionado. “Veja” – gritou – “isto é exatamente o que Hashem nos prometeu – uma terra com abundância de leite e mel!”

Percebemos aqui que esta “abundância” que a terra dá está ligada à obediência aos mandamentos das Escrituras. A Noiva fala sobre isso. E esta postura também está ligada a emunah – fé – pois está dito: “O homem bom, do bom tesouro do seu coração, tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração, tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca” Lc 6.45.

Um outro detalhe importante aqui: a Noiva tem um cheiro: bálsamo e especiarias. Será que existe alguma conexão na Brit Hadasha aliada ao “cheiro”? Vejamos: “E graças a Elohim, que sempre nos faz triunfar no Ungido e, por meio de nós, manifesta em todo lugar o cheiro do seu conhecimento. Porque para Elohim somos o bom cheiro do Ungido, nos que se salvam e nos que se perdem” II Co 2.14-15. Sha´ul quando diz estas palavras certamente se refere a Noiva como aquela que carrega em si o bom cheiro – perfume – do Ungido e que faz com que ela seja “desejável” a Ele.

Vejamos novamente o que diz a tradição judaica sobre isso: “Do Messias está escrito que ele cheira e julga”.

Para o olho destreinado, essa ideia do Messias a julgar pelo cheiro parece bem-humorada. Se o Messias não julgar por Seus olhos, nem Seus ouvidos, Ele julgará pelo… nariz dele?!

O rabino Yitzchak Ginzburg explica: “A palavra para “deleite” (v’haricho) tem a mesma raiz que a palavra “cheiro” (rayach). Os Sábios interpretaram isso como significando que o Mashiach será capaz de julgar através do sentido do olfato. De acordo com a tradição, os quatro sentidos da visão, audição, paladar e tato eram todos manchados devido à sua participação no pecado de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal no jardim do Éden.

Finalizando sobre este verso podemos dizer que as conexões da Noiva vão desde suas palavras até o seu “cheiro” – perfume! A Noiva cheira a santidade, a perfeição e a eternidade! Ela não busca ter conexões terrenas, mas mantém-se ligada à sua origem: os céus.

A conexão com o Jardim

Jardim fechado és tu, irmã minha, esposa minha, manancial fechado, fonte selada” Ct 4.12.

Estas palavras nos remetem a algo ainda mais curioso, pois as ocorrências da palavra “jardim” (gan) tem uma ocorrência curiosa, a saber:

  • Gn 2.8 – Jardim do Éden;
  • II Rs 25.4, Jr 39.4 e Jr 52.7 – Jardim do rei;
  • Ez 28.13 – Jardim de Elohim e
  • Ct 4.12 – Jardim fechado – referindo-se à Noiva.

A Noiva então está ligada ao Jardim do Éden, ao Jardim do rei e ao Jardim de Elohim!

Mas o que é mais impressionante é que os versos ligados ao “jardim do rei” nos remetem a algo muito sério. Estes versos são exatamente iguais e falam sobre um ataque dos caldeus a Israel e os homens fogem pelo caminho do jardim do rei para fora da cidade! O objetivo daquele povo era arrancar os judeus de sua cidade e essa fuga acontece através deste caminho do jardim do rei. Podemos traçar um paralelo entre Adan e Chava fugindo da presença do Eterno saindo pelo caminho do jardim do rei para um outro lugar fora daquela “cidade” eterna!

O texto a seguir – Ez 28.13 – trata de um personagem que foi também expulso do Jardim de Elohim por causa de sua transgressão. Então temos a descrição de “dois” personagens que foram colocados ara fora do Jardim do Éden: um humano – casal – e outro um ser espiritual que estavam naquele jardim e depois foram banidos dali.

Um outro detalhe interessante aqui é que a lista dos versos começa no Éden, passa pelo “jardim do rei” que foi rota de fuga, conecta-se com outra figura expulsa do Jardim do Criador e finaliza com a Noiva!

No caso da Noiva temos uma particularidade: ela não somente está ligada ao Jardim; ela é o Jardim!

Devemos nos lembrar que o Eterno colocou o homem no Jardim para que ele pudesse cuidá-lo; em nossos dias o Jardim foi colocado em nós para que possamos cuidá-lo!

Como entender isso? Esta é uma realidade muito profunda e para a grande maioria desconhecida…

Vejamos o que nos ensina a tradição judaica sobre isso: “Rabino Yose ensinou: “D-us tem uma árvore de almas floridas no Paraíso. Esta árvore é cercada pelos quatro ventos do mundo. Dos ramos desta árvore brotam por todas as almas, porque crescem esta árvore, como está escrito: ‘sou uma árvore verde em flor; sua fruta sai de mim‘ (Oséias 14:9). E das raízes desta árvore brotam as almas de todos os justos cujos nomes são inscritos lá. A partir disso, aprendemos que todas as almas são o fruto do Santo, bendito seja Ele”.

Como podemos comprovar essa afirmação da tradição judaica? Vejamos o que está escrito sobre isso: “Quem tem ouvido, ouça o que o espírito diz às congregações: Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida que está no meio do paraíso de Elohim” Ap 2.7.

Vamos entender isso de forma mais profunda: O Gan Eden a habitação dos justos – santos – e ali não pode haver nada diferente da perfeição. O que levou à expulsão do jardim foi a quebra deste ciclo de perfeição através da desobediência. Chamamos isso de pecado, e sua influência foi tão poderosa que chegou a transformar a natureza dos seres espirituais que assim agiram transformando-os em verdadeiros monstros que lutam para tentar vencer o Eterno e os seus. Já no homem esta influência foi tão negativa aponto de mudar suas estruturas físicas em seu corpo e na sua capacidade de raciocínio e pensamento além de encurtar sua vida sobre a terra.

E onde a Noiva entra neste processo? A Noiva é justamente o homem que se reconecta com o seu Criador através de Ieshua. Quando isso acontece a vida eterna passa a residir dentro desta pessoa: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e pera sempre não perecerão, e ninguém as arrebatará de minha mão” Jo 10.27-28.

Mas ainda é necessário todo um processo de aperfeiçoamento para que o homem possa enfim alcançar a perfeição: “E isto digo, conhecendo o tempo, que é já hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto de nós do que quando aceitamos a fé” Rm 13.11 e além disso temos também: “Assim que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também desnvolvei a vossa salvação com temor e tremor” Fp 2.12.

Estes aspectos nos mostram que o retorno ao Jardim do Éden só é possível através de Ieshua. Por isso mais uma vez Sha´ul diz: “Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a congregação e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com o lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo congregação gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” Ef 5.25.

Esta é também uma questão controversa pois nem todos creem que assim será. Mas vamos citar um exemplo disso no ministério de Ieshua: “E disse a Ieshua: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu poder soberano. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” Lc 23.42-43. Esta é uma declaração notável, pois nos mostra que uma pessoa quando está conectada com o Ungido – Messias – ao morrer vai para o Gan Éden – Paraíso.

E depois?

O que acontecerá com Noiva quando ela retornar ao seu lugar de origem?

Este é de fato um grande mistério, pois existem diversas vertentes e cada qual interpreta os textos sagrados de acordo com sua conveniência. Mas e o judaísmo, o que diz sobre isso?

“O Rebe de Lubavitcher costumava apontar que uma lei básica da física (conhecida como Primeira Lei da Termodinâmica) é que nenhuma energia é “perdida” ou destruída; assume apenas outra forma. Se é esse o caso da energia física, quanto mais uma entidade espiritual como a alma, cuja existência não é limitada pelo tempo, espaço ou qualquer outro delineador do estado físico. Certamente, a energia espiritual que no ser humano é a fonte de visão e audição, emoção e intelecto, vontade e consciência não deixa de existir apenas porque o corpo físico deixou de funcionar; ao contrário, passa de uma forma de existência (a vida física, expressa e agida através do corpo), para uma forma de existência superior e exclusivamente espiritual.

Embora existam inúmeras estações na jornada de uma alma, elas geralmente podem ser agrupadas em quatro fases gerais:

  • a existência totalmente espiritual da alma antes que ela entre no corpo;
  • vida física;
  • vida pós-física em Gan Eden (o “Jardim do Éden”, também chamado de “Céu” e “Paraíso”);
  • o “mundo vindouro” (olam haba) que segue a ressurreição dos mortos”.

Continua também falando sobre a eternidade: “…Quando a alma se afasta do corpo, ela se coloca diante da corte celestial para dar um “julgamento e contabilidade” de sua vida terrena.9 Mas a corte celestial faz apenas a parte “contábil”; a parte do “julgamento” – que somente a própria alma pode fazer.10 Somente a alma pode julgar a si mesma; somente ele pode conhecer e sentir a verdadeira extensão do que realizou ou deixou de realizar no decorrer de sua vida física. Livre das limitações e ocultação do estado físico, ele agora pode ver Divindade; agora ele pode olhar para sua própria vida e experimentar o que realmente era. A experiência da alma da Divindade que trouxe ao mundo com suas mitsvot e ações positivas é o prazer requintado de Gan Eden (o “Jardim do Éden” – Paraíso); sua experiência da destrutividade que produziu através de seus lapsos e transgressões é a dor excruciante de Gehinnom”.

Então podemos perceber que até mesmo o judaísmo chassídico crê que ao morrer as pessoas que viveram uma vida de obediência às Escrituras receberão uma recompensa final.

O período conhecido como “era messiânica” – conhecida por nós como “Milênio” também está cercado de mistério, pois não está declarado de forma taxativa e clara o que ocorrerá. Todos aqueles que morreram desde Adan até o último antes do milênio retornarão para a terra? Todos eles “reinarão” com o Ungido aqui? Existirão outras pessoas na terra que não passaram pela morte e que viverão eternamente? Estas perguntas não tem uma resposta final e precisamos esperar até que tudo aconteça e então saberemos de tudo de forma precisa.

A continuidade disso – depois do julgamento final – também nos é desconhecido.

Dentro deste contexto está a Noiva. Lembrando que hoje parte dela está na eternidade e a outra parte na terra. São dois povos? Não, na realidade é uma mesma família que em parte já se reuniu na eternidade e uma outra parte está trabalhando para chegar lá!

A estada da Noiva na terra pressupõe uma jornada em que ela desenvolve a sua salvação, ou seja, ela se prepara suportando todas as agruras desta vida para enfim receber a sua recompensa: a consumação da salvação. Sha´ul no diz isso de várias formas: “Mas, se somos atribulados, é para vossa consolação e salvação; a qual se opera, suportando com paciência as mesmas aflições que nós também padecemos” II Co 1.16. Neste texto ele declara de forma taxativa que o que padecemos aqui é como um processo de refinamento para a salvação. Portanto devemos continuar vivendo num padrão de obediência às Escrituras para que possamos continuar na direção certa: “Assim que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também obrai a vossa salvação com temor e tremor” Fp 2.12.

Entendemos que nossa conexão com Ieshua é real em todos os sentidos e Kefa diz algo sensacional sobre isso: “Ao qual, não o havendo visto, o amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso, alcançando o fim da vossa fé, a salvação das almas” I Pe 1.8-9. Ele entende que o alvo final da nossa confiança em Ieshua é justamente a Salvação!

Por isso a Noiva espera pela consumação de sua salvação, o resto pode ser considerado como um “ganho extra” para qualquer pessoa. Imagine a honra de poder retornar à nossa origem – a eternidade – e enfim poder contemplar Aquele que nos Resgatou e também o Criador do Universo! Esta é a nossa esperança e desejo último!

Concluindo…

A Noiva está na terra e sua identidade não é plenamente conhecida, pois em meio aos crentes em Ieshua e entre os judeus que esperam o Ungido existem aqueles que são “joio”; tem aparência de serem “trigo” – mas suas atitudes e palavras mostram o contrário.

A identidade da Noiva somente é plenamente conhecida nos céus… Por isso precisamos ter um coração e uma postura tal que sejamos contados entre aqueles que são de fato “A Noiva”… O Jardim nos espera e quem sabe quando chegará o momento de adentrarmos em seus portões…

Baruch ha Shem!

Mário Moreno.