O mês de Tevêt

Mário Moreno/ dezembro 19, 2017/ Artigos

O mês de Tevêt

Segundo o Sêfer Yetzirá, cada mês do ano judaico tem uma letra do alfabeto hebraico, um signo do Zodíaco, uma das doze tribos de Israel, um sentido e um membro controlador do corpo que correspondem a ele. Tevêt é o décimo dos doze meses do calendário judaico. Tevêt começa com o “período” (tekufá) do inverno (cujos três meses – Tevêt, Shevat e Adar – correspondem às três tribos do acampamento de Dan – Dan, Asher e Naftali – situadas no lado norte do acampamento). Tevêt começa com os últimos dias de Chanucá (que tem seu ponto culminante no oitavo dia – Zot Chanucá). Seu décimo dia – o décimo dia do décimo mês (“o décimo será sagrado para D’us”) – é um dia de jejum, em comemoração ao cerco de Jerusalém, o início da destruição do Templo. Os quatro dias de jejum que comemoram a destruição do Templo são (por ordem de ano): 17 de Tamuz (o 4º mês), 9 de Av (o 5º mês), 3 de Tishrei (o 7º mês), e 10 de Tevêt (o 10º mês). Destes quatro dias (em seus respectivos meses) diz o profeta: “O jejum do quarto [mês] e o jejum do quinto, e o jejum do sétimo, e o jejum do décimo [no futuro] serão para a Casa de Iehuda júbilo, felicidade e dias festivos.”

A soma dos quatro números – 4, 5, 7 e 10 – é 26, o valor do inefável Nome de misericórdia de D’us, Havayá (os quatro dias dos quatro meses são 17 [de Tamuz], 9 [de Av], 3 [de Tishrei], e 10 [de Tevêt]. 17 mais 9 = 26; 3 mais 10 = 13, o valor da palavra echad [“um”]. 26 e 13 são portanto o valor numérico de Havayá echad [“Havayá é um”]. 26 mais 13 = 39. 26 [o valor dos meses] mais 39 [o valor dos dias] = 65 = Adnut).

Os quatro números possuem uma progressão numérica ordenada, com diferenças finitas de 1, 2, 3. Os seguintes três números na progressão – 14, 19, 25 – totalizam 58 – chen (“graça”). Juntamente com 26 – Havayá – os primeiros sete números da progressão (“todos os setes são queridos”) totalizam Chanoch (cujo nome, da palavra para “educação” e “iniciação“, é um acrônimo para “a graça de Havayá“, a sétima (“querido”) querida geração a partir de Adam.

Todos os dias de jejum, quando observados corretamente, atraem a graça Divina da suprema fonte de misericórdia, o Nome Havayá de D’us. A epítome desse processo (na ordem do ano, como nas palavras do profeta acima citado) está em Dez de Tevêt (no segredo do “fim [último dia de jejum do ano] está encravado no início [dos eventos que levam à destruição]”). Pela Divina graça, o terceiro, eterno Templo, é construído, primeiro no coração de Israel, para depois se tornar fisicamente manifesto na terra.

Letra: ayin

A letra ayin significa “olho“. O mês de Tevêt é o mês da retificação e anulação do “olho mau“. A própria palavra Tevêt vem de tov, “bom”, referindo-se a tov ayin, “o olho bom” (a fonte de poder da bênção, como está escrito: “o olho bom abençoará”). Esta retificação começa quando eles são completados no oitavo dia).

Todo o processo destrutivo começa com o “olho mau” do ódio, o ódio do profano para com o sagrado (o segredo de dez, o número sagrado, como foi mencionado acima). Do ódio vem a ira, o fogo da destruição. A letra do meio de ka’as, “ira“, é a letra ayin. O ka’as negativo deve primeiro ser retificado a seu correspondente positivo, como será explicado agora.

 

Mazal: “gedi” (Capricórnio – cabra)

Nossos Sábios nos ensinam que aos dez anos de idade (uma alusão ao décimo mês, o nível de dez em geral) uma criança “pula como um cabrito.” (Midrash Kohêlet) A natureza lúdica de saltar para cima e para baixo “como um cabrito” reflete um estágio importante no processo de crescimento. O mês de Tevêt, o mês da tribo de Dan, tem relação com o processo de crescimento, de um estado de imaturidade a um estado de maturidade. A imaturidade é caracterizada pelo “olho mau”, ao passo que a maturidade, pelo “olho bom”. gedi = 17 = tov, “bom” (“o olho bom”). Deve-se brincar (e saltar como um cabrito) a fim de retificar e suavizar a ira latente na alma animalesca.

Tribo: Dan

A tribo de Dan representa o estado inicial de imaturidade na alma que “cresce” durante o mês de Tevêt. Dan significa “julgar”. Inicialmente, ele julga a realidade e os outros criticamente, com julgamento severo (“o olho mau”). Esta é a natureza de alguém espiritualmente imaturo. Dan é comparado a uma serpente, que morde com o veneno da ira. O “olho mau” é o olho da serpente.

A retificação de Dan é seu engajamento na batalha da ira sagrada contra a ira do mal. Nossos Sábios nos ensinam que somente alguém originário da alma-raiz de Dan pode pular espontaneamente e matar a serpente má – “alguém como ele, matou-o”.

Nachash (“serpente”) = 358 = Mashiach. O poder sagrado de Dan reflete uma centelha de Mashiach. No Zôhar, aprendemos que o comandante-em-chefe do exército de Mashiach virá da tribo de Dan.

Sentido: Ira (ka’as ou rogez)

O sentido da sagrada ira (a retificação do mês de Tevêt) é a capacidade da alma de despertar a

própria boa inclinação e enfurecer-se pela má inclinação. Isso Nossos Sábios nos ensinam em seu comentário sobre o versículo em Tehilim: “Enfureça-se e não peque.”

A ira positiva expressa o profundo cuidado e preocupação da alma que a realidade torna boa. Embora mesmo nessa ira exista um certo elemento de imaturidade (pois maturidade absoluta, aquela do Criador da realidade, vê [com o ayin de Tevêt (tudo como bom), apesar disso, sobre isso se afirma: “pois Israel é [comporta-se como] um rapaz, e [portanto] Eu [D’us] o amo.”

Na Chassidut aprendemos que a pessoa deve dirigir seu olho esquerdo (mau) para si mesma (com a sagrada ira de seu bem inato contra seu mal inato), para rebaixar e subjugar seu ego, enquanto simultaneamente dirige seu olho direito (bom) para a realidade exterior (por cujo poder ele ajuda a realidade a aperfeiçoar-se).

Controlador: fígado (kaved)

Nossos Sábios ensinam que “o fígado é furioso”. A função do fígado é purificar o sangue com o qual está saturado. Na Cabalá, o fígado corresponde à serpente primordial, cuja retificação é personificada por Dan. (Os três “governantes” do corpo e alma são o cérebro, o coração e o fígado, que correspondem a Adam, Eva e a serpente, respectivamente). A serpente, na Cabalá, representa o estado inicial de imaturidade da alma, como caracterizado pelo atributo não retificado da ira. O veneno da serpente é quente (veja acima, o mês de Cheshvan), como o fogo da ira. Quando convertido para o bem, o fogo (e o sangue do fígado) servem para aquecer o mês frio de Tevêt.

Kaved = 26 = Havayá. Isso reflete o segredo mencionado acima, que a soma dos quatro meses que “jejuam” pela destruição do Templo (pelo veneno da serpente primordial), que culminam em Tevêt, juntos totalizam 26. Ao jejuar pela destruição, a pessoa retifica seu fígado – suaviza a própria ira – e portanto “adoça” a ira de D’us (com Israel, a causa da destruição) e desperta a misericórdia de Havayá para reconstruir o Templo.

Share this Post