Mário Moreno/ novembro 23, 2017/ Artigos

O que é misericórdia?

Quando Moshe viu o Eterno de costas, ele também ouviu uma proclamação que definia o Eterno de Israel como Misericordioso: “IHVH, o IHVH El, misericordioso e piedoso, tardio em irar-se e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniquidade, e a transgressão e o pecado” (Ex. 34:6). O que este registro nos mostra? Veremos uma das facetas do Eterno, que demonstram seu caráter e a forma como Ele trata seus filhos.

Portanto, sempre que observamos as raízes das palavras em Hebraico, podemos encontrar conexões incríveis!

Por exemplo, o verbo Le Rachem (לרחם), que significa “ter misericórdia ou pena”, está conectado com outras palavras, como “querido” ou “amado” (Rachim – רחים), que claro significa para o povo semita alguém que você ama é caracterizado pela misericórdia. Você não pode amar sem ser misericordioso.

Este aspecto fica claro em alguns textos das Escrituras:

“E El Todo-poderoso vos dê misericórdia diante do varão, para que deixe vir convosco vosso outro irmão, e Benjamim; e eu, se for desfilhado, desfilhado ficarei” (Gn 43.14).

“Porém ele disse: Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti, e apregoarei o nome do IHVH diante de ti: e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem me compadecer” Ex 33.19.

“E perdoa ao teu povo, que houver pecado contra ti, todas as suas prevaricações com que houverem prevaricado contra ti; e faze-lhes misericórdia perante aqueles que os têm cativos, para que deles tenham compaixão” I Rs 8.50.

“Porém o IHVH teve misericórdia deles, e se compadeceu deles, e tornou para eles, por amor do seu concerto com Abraão, Isaque e Jacó: e não os quis destruir, e não os lançou ainda da sua presença” II Rs 13.23.

“Porque, em vos convertendo ao IHVH, vossos irmãos e vossos filhos acharão misericórdia perante os que os levaram cativos, e tornarão a esta terra; porque o IHVH vosso Elohim é piedoso e misericordioso, e não desviará de vós o seu rosto, se vos converterdes a ele” II Cr 30.9.

Estes exemplos são suficientes para nos mostrar que o Eterno estava agindo nestas situações tendo compaixão de seu povo por lhe serem queridos, amados. Esta atitude demonstra que o amor está sendo demonstrado mesmo quando há algum erro que comprometa o relacionamento entre as partes. Quando a justiça pode ser aplicada a uma situação, mas o sentimento de amor e as promessas feitas anteriormente levam-no a pensar de uma forma diferente. Creio que a pergunta que deve ser feita é: “Vale a pena usar a justiça e acabar com tudo?” Por vezes o uso da misericórdia impede que haja a quebra de relacionamentos e faz com que as promessas, votos e projetos que seriam esquecidos e abortados possam vir a realizar-se graças a uma única atitude: ter misericórdia.

O mais intrigante é que a raiz da palavra misericórdia também está conectada com a gravidez. Em Hebraico, o útero, órgão que abriga o embrião desde a sua concepção até o nascimento, é chamado de Rechem (רחם). Então o milagre da concepção e proteção do embrião é definido em termos de misericórdia.

Agora entendemos por que usar de misericórdia! A misericórdia faz com que aquilo que foi gerado possa nascer; não há abortos aqui!

A misericórdia permite que aquilo que começou a ser gerado no útero possa alcançar sucesso vindo posteriormente a nascer!

O ventre abriga os ovários que, no tempo da maturação dos óvulos permita a liberação e quando há a fecundação, uma nova vida inicia-se! Mas isso só foi possível por que houve a liberação de uma emoção: o amor! Ele permitiu que duas pessoas se juntassem para extrapolar este sentimento e tornarem-se uma só; uma unidade perfeita que agora inicia o processo de “geração” de uma nova vida!

A misericórdia permite que esse processo não seja interrompido; ela faz com que o perdão tome o lugar do juízo e de suas consequências!

O efeito do perdão é abrangente e traz consigo algo muito belo: “E sobretudo, tende ardente amor entre vós, porque o amor cobrirá a multidão de pecados” I Pe 4.8.

Apenas lembrando que o que “cobria” o pecado na Tanach era o sangue de um inocente que havia morrido em lugar do pecador! O amor aqui só foi possível através do perdão, que é uma manifestação da misericórdia. Então podemos dizer que quando amo alguém e uso de misericórdia para com essa pessoa estou liberando sobre ela o sangue do animal que morria – geralmente o cordeiro – para que sua vida não cesse, mas continue.

Quando agimos desta forma já não há mais pecado e nem acusação! A misericórdia através do amor triunfa e faz com que os sonhos possam voltar a serem gerados e os que tiveram início poderão realmente atingirem sua maturidade e tornarem-se reais! A materialização do sonho é uma das maiores vitórias que alguém pode alcançar, pois isso é de fato algo que nasceu nas “entranhas” daquela pessoa e no momento da materialização é como se um filho estivesse nascendo!

Assassinato!

Quando não utilizamos a misericórdia de forma correta e aplicamos a justiça de forma incorreta matamos os sonhos de muitas pessoas e isso pode ocorrer em diversas esferas da vida humana.

Podemos então concluir que uma pessoa que age desta forma é comparada a um assassino e portanto não tem lugar no Poder soberano de Elohim! O livro de Apocalipse nos fala sobre isso dizendo: “Mas aos medrosos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre, que é a segunda morte” Ap 21.8 – grifo nosso.

Esta atitude de “matar os sonhos de alguém” deixando de exercer a misericórdia na vida daquela pessoa é feito através de palavras que após liberadas causam uma mal terrível na vida da pessoa que está ouvindo e se houverem mais pessoas envolvidas deixará de ser um homicídio para se tornar um genocídio!

A justiça pode ser aplicada por nós quando isso for expressamente ordenado pelos céus, mas via de regra o Eterno usa outras pessoas para aplicarem a justiça por nós para que não usemos nem de maior nem de menor força na aplicação da “pena” àquela pessoa ou grupo.

Então os que agem desta forma – matando os sonhos – e se tornando “assassinos” ou “assassino” devem tomar um cuidado extremo para não se tornarem “serial killer” – matadores em série – e serem alvos do juízo do Eterno, pois quando se trata do Eterno a aplicação da justiça ocorre quando os parâmetros de misericórdia já se esgotaram e a pessoa precisa de uma correção a fim de ter a oportunidade de retornar para o padrão d´Ele. Caso isso não ocorra, a punição é final e fatal: a morte eterna.

Conclusão:

O que fazer então diante de uma situação em que se deve escolher entre a justiça e a misericórdia? Creio que a resposta já nos foi dada pela própria Escritura.

Aplicar esse conceito e trazer a oportunidade de fazer com que a vida possa seguir adiante é uma responsabilidade nossa.

Que o Eterno nos ajude a nos tornarmos pessoas que possam de fato usufruir do caráter do Altíssimo e com isso influenciar nossa geração para o bem!

Baruch há Shem!

Mário Moreno.