O Templo de D-us
O Templo de D-us
A destruição do Templo em Jerusalém no ano 70 d. C. tem um grande significado, pois afetou o judaísmo e o cristianismo de formas até hoje não compreendidas. Para os judeus tradicionais a destruição do Templo trouxe, obviamente mais conseqüências. O que não é tão óbvio é o papel que o Templo desempenhou na mente e nas vidas dos judeus messiânicos. Muitos “cristãos” não consideram ser os primeiros judeus messiânicos judeus de fato, mas a Bíblia nos mostra claramente que isso não é verdade.
At 21.18-20 – E no dia seguinte, Paulo entrou conosco em casa de Tiago, e todos os anciãos vieram ali… Bem vês, irmão, quantos milhares de judeus há que crêem, e todos são zeladores da lei… Temos quatro homens que fizeram voto; toma estes contigo, e santifica-te com eles, e faze por eles os gastos (sacrifícios do templo) para que rapem a cabeça, e todos ficarão sabendo que nada há daquilo de que foram informados acerca de ti, mas que também tu mesmo andas guardando a lei. Então Paulo, tomando consigo aqueles homens, entrou no dia seguinte no templo, já santificado com eles, anunciando serem já cumpridos os dias da purificação; e ficou ali até se oferecer por cada um deles a oferta (sacrifício). As oferendas do Templo eram sacrificiais por natureza. O voto mencionado aqui é o voto do nazireu, e é reconhecido pelas cabeças raspadas. O motivo para fazerem o voto do nazireado era para servir no Templo junto com os Kohanim (sacerdotes) e os levitas. Seus deveres incluíam trabalhar na área do altar onde os sacrifícios eram oferecidos. Se o Templo não tivesse um grande significado para os judeus messiânicos, então porque eles fizeram o voto do nazireado?
Por que o Templo era necessário
O D-us de Abraão era unicamente identificado por sua ausência de aparência exterior. Isto reflete sua natureza como sendo um D-us que iria finalmente tabernacular no homem e não viver numa construção física feita com esforço humano. Desde o princípio, seu mais notável atributo é o de influenciar mudanças na natureza humana, como nos é mostrado nos “Dez mandamentos”. Eles vão contra a natureza da humanidade, requerendo-nos que nos esforcemos para mudar nosso caminhar e que reatemos nossos laços uns com os outros.
D-us sempre desejou tabernacular com o homem. Na antiguidade, ele escolheu homens que ouviram sua voz e o obedeciam sacrificialmente. Noé foi o mais notável patriarca no qual D-us habitou antes do dilúvio. Ele usou Noé para “salvar” a humanidade. O próximo patriarca digno de nota com o qual D-us habitou foi Abraão, o qual de bom grado ouvira a voz do “D-us que era único” e o obedeceu. Passando por alguns notáveis, chegamos a Moshe, um profeta extraordinário com o qual D-us habitou e que foi usado por Ele para trazer-nos os primeiros oráculos da divindade sem rosto, e desde essa época, sem nome.
Moshe recebeu ordens para construir um tabernáculo que seria simplesmente uma manifestação de uma habitação que era, na realidade, uma cópia daquilo que estava nos céus. Era portátil e continha duas câmaras internas, uma das quais chamada de “santo dos santos”. Dentro desse lugar santíssimo foi colocada a Arca da aliança. Na arca haviam dois querubins cobrindo o “local de misericórdia”. Quando D-us falou a Moshe ou ao Koen Gadol (sumo sacerdote), foi do espaço vazio entre os querubins, sobre o local de misericórdia.
Foram dadas instruções a Moshe para escrever a Torah (Lei) do Senhor e que deveria ser transmitida através das gerações. A razão para fazer-se isso é que Moshe ouvira do Senhor termos inconfundíveis, falado “face a face” com o Senhor.
Neste ínterim, o povo precisaria lembrar-se diariamente que o Senhor era o único e verdadeiro D-us e que Ele estava com eles. O tabernáculo serviria para isso. O povo olharia para o tabernáculo e veria com seus olhos algo que representava o Reino de D-us. Isto era estranho para aqueles que observavam de longe, mas o povo de Israel sabia o significado daquele lugar.
O tabernáculo, e mais tarde o Templo, tornaram-se o foco central de suas vidas. Todos estavam continuamente cientes da presença do Senhor e do sumo sacerdote, que era seu representante autorizado. Não que não houvessem outros que carregassem o manto profético entre o povo. Às vezes, D-us escolhe indivíduos para neles tabernacular, que falem as palavras de D-us ao povo. Isaías, Jeremias, Elias e Eliseu estavam entre os mais notáveis destes profetas.
Finalmente, o rei Davi quis construir uma casa real para o Senhor, mas por causa de seus pecados o Senhor lhe disse que não lhe seria permitido construir o Templo. Salomão, seu filho, foi aquele escolhido por D-us para construir sua morada.
As finalidades do Templo
- Expiação pelo pecado – o sacrifício pelo pecado foi a única oferta pelo pecado que nós fizemos à D-us e que também foi totalmente cumprida na morte de Ieshua.
- Sacrifícios – ofertas de gratidão, ofertas queimadas, ofertas votivas, ofertas pelo pecado, redenção do primogênito, ofertas de dedicação, primícias, dízimos, e muitos mais eram os sacrifícios feitos no Templo. Animais eram sacrificados antes de serem consumidos.
- Justiça – o sistema judicial em Israel deriva-se da autoridade do sacerdote (suprema corte) localizada no Templo em Jerusalém. Quando irmãos tinham um conflito, a autoridade máxima para resolver as disputas entre a comunidade era o sumo sacerdote no Templo. Quando o Templo foi destruído, não havia mais lugar de autoridade que restasse para resolver esses assuntos.
- Registros oficiais – a linhagem de todas as famílias das tribos de Israel eram guardadas no Templo. Quando o Templo foi destruído, não havia mais registros hereditários. Sem os registros das linhagens, seria impossível dizer quem certamente descendia de quem. Considerando-se que todas as disputas eram decididas no Templo, é fácil ver quão importantes eram estes registros.
- Oráculos de D-us – entre os deveres do sacerdócio estava o ofício da profecia oracular. O sumo sacerdote era consultado por indivíduos que solicitavam-lhe direção ou instrução de D-us.
- Bênçãos e dedicações – Nós íamos ao Templo para dedicar nossos filhos ao Senhor. Não havia maior alegria que um pai poderia ter que a de ver seus filhos dedicados ao serviço do Senhor.
- Estudo da Torah – apenas no Templo nós poderíamos achar aqueles em quem confiávamos para serem instrutores da Torah e das práticas do Templo. Apenas ali poderíamos ter nossas perguntas respondidas acerca dos aspectos mais difíceis do estudo da Torah e suas observâncias.
- Benevolência – aqueles que precisavam de ajuda sempre iam ao Templo e recebiam benevolência. Depois que o Templo foi destruído, onde iria uma pessoa que precisa de assistência?
Havia outras funções que o Templo desempenhava na vida judaica, tais como casamento, feriados e outros eventos comunitários, mas os listados acima são os de maior significância.
Nenhum destes sacrifícios ou eventos cessaram depois que cremos em Ieshua.
Agora que podemos ver quão importante foi o Templo em nossas vidas diárias, como poderemos nós cumprir os requisitos da Torah sem o Templo?
Como foi mostrado no início deste documento, questões sobre como viver uma vida judaica sem o Templo, foram e ainda são importantes para os judeus messiânicos tanto como para os judeus tradicionais. Os judeus do primeiro século não entenderam que o Senhor queria tabernacular neles como fora dito pelos profetas na antigüidade.
Na época deste documento, nós estamos nos preparando para observar a festa de Chanukah 5758, ou o Festival da rededicação. Meus pensamentos giram em torno de um novo dia quando o Templo será reconstruído. Se a dedicação do segundo Templo foi tão importante, quanto nos alegraremos quando o próximo Templo for construído?
A destruição do Segundo Templo
De acordo com o livro do Rabino Joseph Telushkin “Jewish Literacy”, no capítulo 67, Roma não invadiu Israel à força. Eles foram convidados a vir à Israel para dar assistência ao rei Hircano II em 63 a C. para ajudá-lo a manter o trono contra seu irmão Aristóbulo, que convocou alguns de seus seguidores para uma insurreição. Isto gerou uma guerra civil que trouxe grande preocupação a Hircano. Roma tinha acabado de anexar a Síria, então Hircano pode ajuda a Roma. Eles ficaram felizes em responder ao pedido, e isto torna Hircano pouco mais do que um fantoche.
O resultado dessa ação fizera Roma ser capaz de colocar no poder quem quer que eles quisessem, tanto para reinar quanto para o sumo sacerdócio. Herodes, o Grande sucedeu Hircano em 37 a C. Ele foi colocado no poder por César e foi duas vezes expulso de Israel por não ajudar o povo. Herodes e César substituíram o sacerdote por alguém de sua escolha e que expressa a inimizade com Ieshua, que foi manifesta quando Ele disse: “Minha casa será chamada de casa de oração, mas vós a transformastes num covil de ladrões”, e também porque o sumo sacerdote estava tão ansioso para vê-lo ser executado.
No ano de 66 os judeus revoltaram-se contra Roma e venceram uma batalha decisiva contra o grande exército romano. Isto foi catastrófico. Quando os romanos voltaram, eles eram aproximadamente 60.000 homens com tropas fortemente armadas e que virtualmente saquearam a terra de Israel e a cidade de Jerusalém. Tochas atearam fogo ao Templo que queimou até ao chão, apenas restando o Muro Ocidental (HaKotel), também conhecido como Muro das Lamentações. Isto é o que resta do segundo Templo até o dia de hoje.
Muitos foram incitados por esta perda. Por volta do ano 100 d. C. os rabinos encontraram-se para compilar a Mishnah, visando explicar os fatos testemunhais dos procedimentos e serviços do Templo e responder as questões levantadas a respeito de como cumprir a Torah onde as respostas eram obscuras. Exemplo dessa natureza seguem abaixo:
A Mishnah cobriu não somente como o Templo funcionou durante o tempo do sacerdócio, mas também responder questões da seguinte natureza:
- Quando uma criança não esperava até o fim do Sabbath para nascer – como se ela tivesse escolha – estão a mãe e a parteira quebrando o mandamento de descansar no Sabbath devido ao parto? A resposta a esta questão é facilmente discernível. Se houver uma escolha, então um deve esperar até depois do Sabbath, entretanto ninguém demonstrou como comunicar esta questão ao bebê.
- Uma outra não tão clara questão ocupa-se com as vacas leiteiras. Uma vaca leiteira está sendo ordenhada todo o dia e não pode “pular” o sábado, somente porque você quer guardar o sábado. Entretanto ordenhar uma vaca no Sabbath, enquanto considerado trabalho, está inutilizado pelo mandamento que fala sobre mostrar misericórdia no Sabbath. Seria cruel o resultado de “pular” a ordenha no sábado. Igualmente, se um animal cai num fosso ou num buraco no Sabbath deve ser resgatado, ou então trará resultados danosos para a vida. Para muitos devotos judeus estas questões precisam de soluções. O que parece ser para você um claro caso de reducionismo, não pareceria tão claro quando considerados todos os fatos.
- O Yom Kippur (Dia da Expiação) é um dos mais sagrados dias no judaísmo. Nele somos comandados a jejuar. A Torah diz-nos que todos os que não jejuarem no dia de Yom Kippur deverão ser cortados do meio do povo. Uma questão emerge, considerando-se aqueles que estão doentes, por exemplo, com diabetes. Aqueles que sofrem esta enfermidade não podem deixar de comer devido ao tratamento e a natureza da situação. Os rabinos assim concluíram que aquelas pessoas que estiverem doentes e que correrem o risco de complicações devido ao jejum foram liberadas do mandamento de jejuar no Yom Kippur.
O livro de Hebreus, escrito para judeus messiânicos em função da destruição do Templo, e também na mesma época começa declarando que Ieshua veio de maneira similar à dos profetas antes dele, e que seu ministério é maior do que o dos profetas e dos anjos. Evidentemente, os crentes messiânicos estavam gravitando na direção de qualquer doutrina disponível que pudesse preencher o vazio desta perda. Desde que o sumo sacerdote não estava mais disponível para preencher a função do profeta oracular; doutrinas de anjos começaram a preencher as esperanças do povo. No capítulo 5 o escritor (creio ser o rabino Shaul; isto é, Paulo), debate o trabalho do sumo sacerdote apontando para como o Messias entrou no lugar santíssimo para o nosso próprio benefício, e ainda dizendo que Ele foi sacerdote da ordem de Melquisedeque. O capítulo 8 contém um sumário do que está sendo dito:
“Ora, a suma do que temos dito é que temos um sumo sacerdote tal, que está assentado nos céus à destra do trono da majestade, ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o qual o IHVH fundou, e não o homem. Porque todo o sumo sacerdote é constituído para oferecer dons e sacrifícios; por isso era necessário que este também tivesse alguma coisa que oferecer” Hb 8.1-3.
No capítulo 9, o escritor debate as coisas que eram encontradas no lugar santo do Templo. E vai adiante.
Em cerca de 230 d. C., os rabinos encontraram-se novamente para resolver mais complicações sobre as práticas apropriadas da Torah com a falta do Templo e vários outros aspectos do judaísmo. Os rabinos discutiram os prós e os contras e chegaram a algumas conclusões. Todo o processo está gravado no “Talmude de Jerusalém”. As duas maiores escolas da época, Shammi e Hillel estavam envolvidas nas discussões com a segunda e terceira gerações de estudantes, de rabinos famosos tais como Simeão, o Justo. Na comunidade judaica tradicional, os fariseus trouxeram-nos as traduções orais e foram responsáveis por conduzir-nos através destes dilemas.
O Talmude de Jerusalém foi muito importante para TODOS os judeus que viveram em Israel, mais durante a diáspora, quando os judeus foram impelidos de sua terra natal, como então poderíamos criar um nível de vidas “separadas” que nos identificassem com os judeus? Como poderiam judeus da Polônia reconhecerem os judeus do Texas? Como saberíamos quando celebrar as festas? Deveríamos nós observar o início do Sabbath e dos feriados sincronizados com Jerusalém e o calendário judaico ou devemos nós usar o calendário local e as datas locais para observar estes dias?
Em cerca de 500 d. C. os rabinos acharam necessário um novo encontro para esclarecer as áreas obscuras que diziam respeito a o que fazer na Diáspora. O processo foi o mesmo usado pelo Talmude de Jerusalém, e todas as coisas foram sendo estupidamente registradas como antes, mas desta vez isto chama-se “Talmude Babilônico”, porque muitas das questões tinham a ver com a dispersão dos judeus de sua terra natal. O termo “Galuf” refere-se aos judeus que não viviam em Israel e regulava a vida dos judeus na Diáspora.
A razão primária para escrever-se o Talmude é para responder-se à ausência do Templo.
O livro de Hebreus responde a destruição e a tendência no judaísmo messiânico acerca de diversas doutrinas, por causa da destruição do Templo. Se os judeus messiânicos foram afetados tão profundamente pela perda do Templo, seria ridículo assumir que não tenha tido efeito nos cristãos gentios este fato. A natureza das consequências da perda do Templo para os gentios messiânicos não é tão difícil de ser observada por olhos treinados, mas isso foi aparentemente providencial, pois a mão de D-us estava guiando ambos, judeus e gentios messiânicos através desta perda. É duvidoso que muitas das “modernas” tradições cristãs seriam como são hoje em dia se o Templo e o sacerdócio tivessem sobrevivido.
Estamos esperando o dia quando o Templo será reconstruído e novamente os sacrifícios serão oferecidos sobre o altar santo. Se isso pertencesse ao passado, a Mishnah seria uma ferramenta inválida neste processo de reconstrução, não apenas do Templo mas também do sacerdócio. Naquele glorioso dia, D-us reinará sobre nós, e também sobre toda a terra. Todas as nações virão ao Senhor para adorá-lo em Jerusalém e participar da Festa dos Tabernáculos. O leão morará com o cordeiro e a criança brincará sobre a toca da áspide. Nenhum mal virá a ninguém em HaOlam Habah (a era do porvir). Baruch HaShem!
Mário Moreno.