Mário Moreno/ julho 12, 2018/ Artigos

O Tempo do Trigo

“Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou”

(Cohelet/Eclesiastes 3:2).

A passagem supracitada é bastante pertinente para a ocasião de Chag haShavu’ot (a Festa das Semanas), pois a Torah afirma:

“Sete semanas contarás; desde o dia em que começares a meter a foice na seara, começarás a contar as sete semanas” (Devarim/Deuteronômio 16:9).

E ainda:

“Também guardarás a festa das semanas, que é a festa das primícias da ceifa do trigo, e a festa da colheita no fim do ano” (Shemot/Êxodo 34:22).

Chag Shavu’ot era conhecida por esse nome (festa das semanas) porque a colheita do princípio da primavera, cujo principal elemento era a cevada, durava justamente cerca de sete semanas.

Após isso, começava a colheita do trigo, cujas primícias eram entregues na ocasião de Chag Shavu’ot (festa das semanas).

Sendo assim, Shavu’ot marca o fim de um ciclo, e o começo de outro ciclo. E a simbologia do número 7, que na Bíblia está associado à plenitude, reforça essa ideia. Após as sete semanas, um novo ciclo se inicia com a colheita do trigo.

O interessante é que a palavra hebraica para a cevada é seorah (שערה), cuja raiz (שער) significa “cabelo” ou “pelo”. O nome é derivado do fato de que as espigas de cevada são bastante fibrosas, o que concede à planta uma aparência de ser peluda.

Porém, essa raiz (שער) também pode ser lida como “uma meta ou objetivo de uma caminhada”.

Na Brit Chadashá, o trigo é frequentemente usado como figura de linguagem para se referir aos justos, e a colheita do trigo faz alusão ao dia do juízo, no qual todo homem será provado. Abaixo, um exemplo disso:

“Ele, porém, lhes disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos para o queimar; mas, o trigo, ajuntai-o no meu celeiro” (Matitiyahu/Mateus 13:29-30).

Durante a colheita da cevada, o trigo que já foi plantado está atingindo a sua maturação. Como visto, a raiz do termo cevada também pode ser lida como “meta, ou objetivo de um caminho”.

Ou seja, durante o caminho espiritual, começa-se a observar o crescimento do trigo e do joio, porém cada vez mais o trigo irá se diferenciar do joio, até que esteja completamente diferente desse último, momento em que ocorre o juízo, tipificado pela colheita. E Shavu’ot simboliza exatamente o princípio da colheita do trigo.

A reflexão de Shavu’ot, como o próprio nome indica, não é a colheita que está por vir, mas sim a contagem das semanas que culminaram nela. Ou seja, Chag Shavu’ot é uma verdadeira celebração do processo da caminhada de uma vida reta na Torah com Ieshua.

Não é à toa que Ieshua diz aos seus talmidim (discípulos) que esses deveriam esperar até Shavu’ot, para então proferirem a Sua mensagem:

“E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Ierushalaim, até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24:49).

A vinda do poder do Espírito o Santo coincide exatamente o período de amadurecimento do trigo. Ou seja, é preciso que amadureçamos na nossa caminhada na Torah com Ieshua, para que possamos dar frutos.

Muitos de nós temos aprendido muita coisa, a cada dia, acerca da Torah. Todavia, frequentemente o nosso conhecimento ou mesmo o nosso discurso não condiz com a realidade de nossa prática.

Temos vivido aquilo que é pregado? Temos nos apressado em colocar em prática aquilo que descobrimos nas Escrituras? Temos nos prontificado a, rapidamente, eliminarmos aquilo que descobrimos que não tem origem bíblica? Essas são perguntas que precisamos nos fazer, se desejamos amadurecer ao ponto de recebermos o poder do Espírito o Santo para darmos frutos para Ieshua.

Muitas vezes, nós não compreendemos o porquê não conseguimos transmitir a mensagem adiante, gerando mais frutos. Mas a verdade é que quem não vive e não se apressa a seguir a Torah do Ungido jamais irá dar bons frutos. Tal pessoa pode ter os argumentos teológicos perfeitos para defender a fé; porém, a palavra proferida será sempre vazia, porque não está repleta do poder do Espírito o Santo.

Uma passagem é frequentemente citada das Escrituras na ocasião de Shavu’ot:

“E nós somos testemunhas acerca destas palavras, nós e também o Espírito o Santo, que Elohim deu àqueles que lhe obedecem” (Ma’assei HaSh’lichim/Atos 5:32).

A verdade, contudo, é que o Espírito o Santo – que é o poder de Elohim para gerar frutos – não é concedido àqueles que sabem intelectualmente qual é a verdade das Escrituras, mas sim àqueles que vivem as Escrituras.

Muito se pode ver de pessoas que procrastinam o cumprimento daquilo que já sabem ser a verdade. Tardam  – e às vezes não obedecem de forma alguma – em cumprir as mitsvot (mandamentos) de Elohim, sob inúmeros pretextos de estarem esperando as condições ou a ocasião adequada para agirem.

Porém, não é essa a forma adequada de se viver as Escrituras. É preciso que vençamos as nossas desculpas, a nossa comodidade e as vozes internas que nos inibem de vivermos em obediência. Fazer isso é morrer para si mesmo, de forma que o Ungido viva em nós. E aí, o que ocorre é o que Ieshua nos disse:

“Amen, amen e vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto” (Iochanan/João 12:24).

Shavu’ot diz respeito a ciclos e este ciclo está relacionado com os justos – não com os “crentes” – e para estres existem diversos aspectos proféticos que são abertos para serem vividos e desfrutados por eles, lavando-os cada dia mais próximo de seu Senhor.

Que esta festa possa para nós marcar um novo ciclo, em que nossos corações estejam tão dispostos a fazer, quanto já estamos a ouvir.

Adaptação: Mário Moreno.